É preciso acreditar
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A minha paixão por Luanda começou em criança, na Vila Alice, um bairro que combinava burgueses com ferroviários, funcionários públicos, comerciantes, famílias tradicionais, passantes, revolucionários, artistas, mestres, e até militares que enlouqueciam nos campos de batalha. O bairro, diziam, tinha as meninas mais bonitas de Luanda. E os desportistas mais esforçados, que mais tarde brilharam no basquetebol ao serviço do clube do bairro vizinho: Vila Clotilde.
Dividi a infância com as ruas do Bairro Operário, onde a minha avó me ensinou a amar a terra e a viver com os poros encostados ao chão de areia e onde fugi da primeira “berrida” da Polícia Militar. Foi ali que conheci outra Luanda, mais autêntica, menos vaidosa e, apesar de tudo, mais livre. A cidade para além da fronteira do asfalto, mas com as ruas poeirentas abertas à cultura e cada casa encerrando mistérios de combinas nacionalistas ou acolhendo amores fatais.
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E Luanda sabe a mangas madurinhas, a cajus sumarentos e a figos da índia derrubados à fisga. Luanda sabe a maresia e aos almoços de sábado debaixo da mandioqueira de um quintalão do Bairro Operário, do Marçal, do Sambizanga, do Catambor. Luanda tem tantos gostos e tantos encantos que precisava de mil páginas para descrevê-los. E de mais espaço ainda para lhe fazer a declaração de amor que merece.
Esta é a cidade que sobreviveu ao rolar dos séculos e continua viva e jovem como no primeiro dia em que foi posta a primeira pedra numa casa qualquer na base do monte de S. Miguel, à vista da Ilha do Cabo e aos pés da Baía. É preciso preservar a brisa fresca que começa a soprar ao fim da tarde e envolve a cidade num manto de luar. Temos de guardar as pedras que marcam os séculos e os caminhos que os luandenses de outras eras percorreram, levando a cidade até às portas do paraíso. Temos de curar as feridas no seu corpo, provocadas pela pressão humana. É uma missão difícil mas que vai encher de orgulho todos os que a levarem a cabo.
[aqui]
Imaginar o impossível
Imaginem que os nossos partidos políticos trabalhassem sempre para conseguirem consensos, sem abandonar a luta.
Imaginem que os deputados se portassem como verdadeiros representantes da Nação legitimados pelo voto popular e representantes dos que confiaram na sua mensagem política.
Imaginem que alguns dos nossos investigadores e intelectuais passavam a vida à procura de soluções para os graves problemas que ainda enfrentamos.
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Imaginem que a comunicação social só dava notícias confirmadas, rigorosas, verdadeiras e jamais atentava contra a honra e o bom-nome de pessoas e instituições, em vez de fazer julgamentos na praça pública, publicar manchetes que são autênticos assassinatos de carácter.
[…]
Imaginem que os saudosistas dos impérios coloniais um dia acordam e resolvem pedir desculpas pelo sofrimento infinito que causaram aos povos colonizados, em vez de continuarem a portar-se como capatazes, armados com o chicote da mentira, da calúnia e da infâmia.
Imaginem que Angola era tratada e respeitada por certos jornalistas que montaram banca no negócio da intriga, como nós, apesar de tudo, os respeitamos, ainda que partindo do princípio de que não têm dimensão para considerarmos as suas infelizes existências.
[aqui]
*[E so' por isso (well... e, em retrospectiva, tambem por isto e pelo comentario relacionado que aqui fiz) decidi retira-lo da lista dos acusados!...]
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