Thursday, 3 November 2011

Gostei de Ler... (1)



[...embora nao concorde necessariamente com todos os pontos do artigo, pelo que aqui transcrevo apenas alguns extractos em relacao aos quais nao tenho muitas reservas]




(...)
Como não podia deixar de ser, há uma série de elementos positivos no discurso do Chefe de Estado. Os dados apresentados demonstram que os governantes angolanos começam já a olhar para as estatísticas e para a evolução dos números, o que é francamente positivo. Começou-se tarde, mas como diz o ditado, mais vale tarde que nunca.
Agora, é preciso ir mais longe, fazendo duas coisas com os números. Em primeiro lugar, é preciso contratar consultores independentes para analisar a evolução desses números. Não nos podemos basear apenas nos elementos facultados pelos Ministérios e, menos ainda, cingir-nos somente à análise que é feita nessas instituições. Sabe-se que os funcionários públicos (em todo o mundo) têm o mau costume de ler os dados somente em função da sua própria conveniência e da sua manutenção nos postos que ocupam.
Em segundo lugar, é preciso começar a estabelecer metas em relação a cada sector de actividade. Por exemplo, se por um lado é preciso que os cidadãos saibam quanto já foi gasto desde 1992 no sector da energia eléctrica (que é dos maiores quebra-cabeças para o governo angolano), por outro lado é preciso a partir de agora definir etapas e quantificar o espaço geográfico que vai beneficiar de energia eléctrica em cada uma dessas etapas. Isso facilita a alocação de recursos, mas possibilita também o controlo sobre o cumprimento dos programas. Pois isso deve ocorrer em relação a cada sector de actividade e a cada unidade administrativa (província, município, comuna). De outro modo, continuaremos sem saber a quantas andamos e permitimos que continuemos a ser enganados.
(…)
Ou será que se deve dizer que vivemos em ditadura, por haver jornais que publicam mentiras por encomenda e ninguém os processa?
(…)
Enquanto o governo não apostar na melhoria da qualidade de ensino, os melhores empregos vão continuar a ser facultados maioritariamente aos angolanos que se formam fora de Angola e a estrangeiros. O caminho para o desenvolvimento passa inevitavelmente por uma grande preocupação com a qualidade de ensino (mais do que com a quantidade).
(…)
Temos de saber ouvir os jovens, ouvir os mais velhos, ouvir a camada feminina e ouvir também os adolescentes, que têm preocupações que, se não atendidas, poderão mais tarde causar transtornos sociais de monta.
(…)
Finalmente, gostei de ouvir o Presidente dizer que devem ser os angolanos a controlar a economia do nosso país. Gostei sim. Mas temos de ter consciência que isso só será possível quando os profissionais angolanos forem formados sem esquemas, sem favorecimentos, sem «partilha de suores», sem pautas que passem por baixo das carteiras e sem perseguição àqueles docentes que não alinham nesses esquemas. Só quando os diplomas das universidades angolanas valerem alguma coisa poderemos caminhar rumo à independência e ao progresso.
(…)
Reina a incompetência, combate-se a competência e promove-se a mediocridade. Esta é a regra nos serviços públicos. Enquanto este mal não for cortado, haverá reivindicações e mais reivindicações, podemos estar seguros. Enquanto entrarmos num ministério e depararmos invariavelmente com gente ociosa em reuniões de fofoca e intriga, vamos manter-nos na dependência lá de fora. E enquanto tivermos em ministérios gente (por mais licenciaturas e doutoramentos que exibam) que, ao invés de traçar e executar políticas públicas, programa e realiza workshops e conferências, então continuaremos a caminhar a meio gás.
Deixei para o fim um outro assunto demasiado sério, que entre nós já existe desde a segunda metade da década de 1970. Refiro-me à perseguição que se faz a quem trabalha segundo as regras. Não é assunto novo, tanto que oiço falar dele desde os meus tempos de juventude, ainda quando andava pelas bandas do Bairro Operário e do Valódia.
(…)
Gostei de ter ouvido o Presidente dizer que «o país precisa da contribuição de todos». É preciso, pois, que aqueles que cumprem as regras sejam acarinhados e motivados – não mais perseguidos, como vem sendo comum acontecer. E quem prefere a ausência de regras tem de começar a ser enviado para a gestão dos próprios negócios.

(*) Sociólogo


[in SA, #439]


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J'Accuse!

Bêó



[...embora nao concorde necessariamente com todos os pontos do artigo, pelo que aqui transcrevo apenas alguns extractos em relacao aos quais nao tenho muitas reservas]




(...)
Como não podia deixar de ser, há uma série de elementos positivos no discurso do Chefe de Estado. Os dados apresentados demonstram que os governantes angolanos começam já a olhar para as estatísticas e para a evolução dos números, o que é francamente positivo. Começou-se tarde, mas como diz o ditado, mais vale tarde que nunca.
Agora, é preciso ir mais longe, fazendo duas coisas com os números. Em primeiro lugar, é preciso contratar consultores independentes para analisar a evolução desses números. Não nos podemos basear apenas nos elementos facultados pelos Ministérios e, menos ainda, cingir-nos somente à análise que é feita nessas instituições. Sabe-se que os funcionários públicos (em todo o mundo) têm o mau costume de ler os dados somente em função da sua própria conveniência e da sua manutenção nos postos que ocupam.
Em segundo lugar, é preciso começar a estabelecer metas em relação a cada sector de actividade. Por exemplo, se por um lado é preciso que os cidadãos saibam quanto já foi gasto desde 1992 no sector da energia eléctrica (que é dos maiores quebra-cabeças para o governo angolano), por outro lado é preciso a partir de agora definir etapas e quantificar o espaço geográfico que vai beneficiar de energia eléctrica em cada uma dessas etapas. Isso facilita a alocação de recursos, mas possibilita também o controlo sobre o cumprimento dos programas. Pois isso deve ocorrer em relação a cada sector de actividade e a cada unidade administrativa (província, município, comuna). De outro modo, continuaremos sem saber a quantas andamos e permitimos que continuemos a ser enganados.
(…)
Ou será que se deve dizer que vivemos em ditadura, por haver jornais que publicam mentiras por encomenda e ninguém os processa?
(…)
Enquanto o governo não apostar na melhoria da qualidade de ensino, os melhores empregos vão continuar a ser facultados maioritariamente aos angolanos que se formam fora de Angola e a estrangeiros. O caminho para o desenvolvimento passa inevitavelmente por uma grande preocupação com a qualidade de ensino (mais do que com a quantidade).
(…)
Temos de saber ouvir os jovens, ouvir os mais velhos, ouvir a camada feminina e ouvir também os adolescentes, que têm preocupações que, se não atendidas, poderão mais tarde causar transtornos sociais de monta.
(…)
Finalmente, gostei de ouvir o Presidente dizer que devem ser os angolanos a controlar a economia do nosso país. Gostei sim. Mas temos de ter consciência que isso só será possível quando os profissionais angolanos forem formados sem esquemas, sem favorecimentos, sem «partilha de suores», sem pautas que passem por baixo das carteiras e sem perseguição àqueles docentes que não alinham nesses esquemas. Só quando os diplomas das universidades angolanas valerem alguma coisa poderemos caminhar rumo à independência e ao progresso.
(…)
Reina a incompetência, combate-se a competência e promove-se a mediocridade. Esta é a regra nos serviços públicos. Enquanto este mal não for cortado, haverá reivindicações e mais reivindicações, podemos estar seguros. Enquanto entrarmos num ministério e depararmos invariavelmente com gente ociosa em reuniões de fofoca e intriga, vamos manter-nos na dependência lá de fora. E enquanto tivermos em ministérios gente (por mais licenciaturas e doutoramentos que exibam) que, ao invés de traçar e executar políticas públicas, programa e realiza workshops e conferências, então continuaremos a caminhar a meio gás.
Deixei para o fim um outro assunto demasiado sério, que entre nós já existe desde a segunda metade da década de 1970. Refiro-me à perseguição que se faz a quem trabalha segundo as regras. Não é assunto novo, tanto que oiço falar dele desde os meus tempos de juventude, ainda quando andava pelas bandas do Bairro Operário e do Valódia.
(…)
Gostei de ter ouvido o Presidente dizer que «o país precisa da contribuição de todos». É preciso, pois, que aqueles que cumprem as regras sejam acarinhados e motivados – não mais perseguidos, como vem sendo comum acontecer. E quem prefere a ausência de regras tem de começar a ser enviado para a gestão dos próprios negócios.

(*) Sociólogo


[in SA, #439]


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