Tuesday 8 November 2011

Etu Mudietu...



Julgo que a ultima vez que estive com Luandino Vieira tera' sido durante umas longinquas ferias minhas em Luanda a que aqui me referia.
Depois disso, enquanto estive em Portugal, apenas a ocasional correspondencia, directa ou por terceiros e, desde que ‘me mudei’ para a Inglaterra, apenas a distancia e o silencio (excepto pela dedicatoria deste livro, que tambem me chegou as maos por terceiros).

Agora, ha’ umas semanas, o amigo Zetho Goncalves teve a amabilidade de me enviar, por email, o rio sem margem com o qual acabou por me (re)abrir o livro dos rios do Luandino Vieira, que (me) levou a dele receber por snailmail uma prenda antecipada de Natal: o conjunto dos livros ate’ agora publicados pela sua nova ‘micro-editora’
“Nos Somos”.

Tenho assim a oportunidade (rara) de poder ler nos proximos tempos, para alem do excelente livro do Zetho, do qual faco uma breve apresentacao abaixo, os seguintes titulos recentes de autores angolanos:

MOMENTOS (1958-2011)
Arnaldo Santos

POESIA (1961-1976)
António Jacinto

NÃO SAIAS SEM MIM À RUA ESTA MANHÃ
José Luís Mendonça

AFRICALEMA
José Luís Mendonça

MARCAS DA GUERRA PERCEPÇÃO ÍNTIMA & OUTROS FONEMAS DOUTRINÁRIOS
J.A.S. Lopito Feijóo K.




Retribuir em poema a poesia que subjaz à literatura angolana da tradição oral já recolhida e trasladada para a língua portuguesa – alguma, pouquíssima dela, aqui convocada e exposta -, é a razão primacial e o fim a que se propõe e destina este
Rio sem Margem.
(da Nota do Autor)


A ÁGUA

[Tradição oral Umbundu, Angola]

Não se deixa amarrar
com um cordel,
nem se deixa apertar
com um cinto

- a água.

Dorme caminhando,
e mesmo parada, ela anda

- a água.


O SONHO

[Tradição oral Kwanyana, Angola]

Parece verdadeiro,
o sonho que sonhaste.

Branco e luzidio
como um chifre de boi

- o sonho que sonhaste.


MOTIVOS DE CONVERSA

[Tradição oral Kikongo, Angola]

O veado
sem pele
e sem cornos

- quem o viu,
que ninguém se cala
com ele?

- Quando chove,
rebentam os troncos,
cresce o capim.

No pássaro
de cabeça decepada,
mil pombas se alimentam.

O veado
sem pele
e sem cornos

- quem o viu,
que ninguém se cala
com ele?


“Em todas as formas escritas da poesia”, escreve Octavio Paz em A outra voz, “o signo gráfico está sempre em função do oral.” Ora, sendo este um livro de poemas e não um tratado académico – que utiliza na sua fractura o alfabeto latino e se destina primeiramente a um público de língua portuguesa -, entendeu-se ser mais correcto grafar como se grafou o vocábulo “Tchokwé’”, e não “Cokwé”, posto ninguém ler os vocábulos “Cutato”, “Cabinda” ou “coqueiro”, por exemplo, como “Tchutato”, “Tchabinda” ou “tchóqueiro”, respectivamente.
(da Nota Final - este extracto e' particularmente relevante para as discussoes travadas aqui e aqui ha' ja' uns anitos...)



Julgo que a ultima vez que estive com Luandino Vieira tera' sido durante umas longinquas ferias minhas em Luanda a que
aqui me referia.
Depois disso, enquanto estive em Portugal, apenas a ocasional correspondencia, directa ou por terceiros e, desde que ‘me mudei’ para a Inglaterra, apenas a distancia e o silencio (excepto pela dedicatoria deste livro, que tambem me chegou as maos por terceiros).

Agora, ha’ umas semanas, o amigo Zetho Goncalves teve a amabilidade de me enviar, por email, o rio sem margem com o qual acabou por me (re)abrir o livro dos rios do Luandino Vieira, que (me) levou a dele receber por snailmail uma prenda antecipada de Natal: o conjunto dos livros ate’ agora publicados pela sua nova ‘micro-editora’
“Nos Somos”.

Tenho assim a oportunidade (rara) de poder ler nos proximos tempos, para alem do excelente livro do Zetho, do qual faco uma breve apresentacao abaixo, os seguintes titulos recentes de autores angolanos:

MOMENTOS (1958-2011)
Arnaldo Santos

POESIA (1961-1976)
António Jacinto

NÃO SAIAS SEM MIM À RUA ESTA MANHÃ
José Luís Mendonça

AFRICALEMA
José Luís Mendonça

MARCAS DA GUERRA PERCEPÇÃO ÍNTIMA & OUTROS FONEMAS DOUTRINÁRIOS
J.A.S. Lopito Feijóo K.




Retribuir em poema a poesia que subjaz à literatura angolana da tradição oral já recolhida e trasladada para a língua portuguesa – alguma, pouquíssima dela, aqui convocada e exposta -, é a razão primacial e o fim a que se propõe e destina este
Rio sem Margem.
(da Nota do Autor)


A ÁGUA

[Tradição oral Umbundu, Angola]

Não se deixa amarrar
com um cordel,
nem se deixa apertar
com um cinto

- a água.

Dorme caminhando,
e mesmo parada, ela anda

- a água.


O SONHO

[Tradição oral Kwanyana, Angola]

Parece verdadeiro,
o sonho que sonhaste.

Branco e luzidio
como um chifre de boi

- o sonho que sonhaste.


MOTIVOS DE CONVERSA

[Tradição oral Kikongo, Angola]

O veado
sem pele
e sem cornos

- quem o viu,
que ninguém se cala
com ele?

- Quando chove,
rebentam os troncos,
cresce o capim.

No pássaro
de cabeça decepada,
mil pombas se alimentam.

O veado
sem pele
e sem cornos

- quem o viu,
que ninguém se cala
com ele?


“Em todas as formas escritas da poesia”, escreve Octavio Paz em A outra voz, “o signo gráfico está sempre em função do oral.” Ora, sendo este um livro de poemas e não um tratado académico – que utiliza na sua fractura o alfabeto latino e se destina primeiramente a um público de língua portuguesa -, entendeu-se ser mais correcto grafar como se grafou o vocábulo “Tchokwé’”, e não “Cokwé”, posto ninguém ler os vocábulos “Cutato”, “Cabinda” ou “coqueiro”, por exemplo, como “Tchutato”, “Tchabinda” ou “tchóqueiro”, respectivamente.
(da Nota Final - este extracto e' particularmente relevante para as discussoes travadas aqui e aqui ha' ja' uns anitos...)

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