Wednesday 28 September 2011

..."para quem sabe ler relatorios"...




"O quadro geral em Angola continua a melhorar. Afirmar isto não é bajular."


- De facto, ha' cinco anos, comecei por afirmar neste meu artigo que "seria necessária alguma dose de má fé para se não reconhecer e creditar devidamente os méritos do governo na obtenção do que se convencionou chamar “estabilização macroecónomica”." E afirmar isso tambem "nao e' bajular"...

- E... afirmar que "a economia angolana ainda tem um longo caminho a percorrer ate' se tornar minimamente competitiva, tanto a nivel regional como global", como o fiz naquele mesmo artigo e "reafirmei" ha' alguns dias aqui, tambem nao e' "cometer nenhum crime de lesa-patria"!


"Vejam os últimos relatórios sobre o crescimento e a competitividade das economias no mundo divulgados pelo Fórum Económico Mundial..."





"Vejam os sectores em que Angola era fraca e agora é forte. Não se olhe apenas para o “ranking”, onde o universo de países pode ser maior ou menor, o que altera a posição de cada um. Veja-se o “score”, o valor do aumento ou diminuição da avaliação."


- Colocando temporariamente de parte a "evidencia" de o "ranking" ser directamente determinado pelo "score" e de este ser determinado por todos os "pillars" considerados na avaliacao e indexacao, torna-se muito dificil, para nao dizer impossivel, fazer tal exercicio com alguma credibilidade, uma vez que Angola so' comeca a aparecer com alguma consistencia nesses relatorios nos ultimos dois anos. Assim, proponho um exercicio alternativo, muito simples e talvez mais revelador:

- Angola, o pais que, ao longo da ultima decada, tem batido todos os 'records' de Investimento Directo Estrangeiro em Africa e em boa parte do mundo, de 2010-2011 para 2011-2012, sobe apenas dois lugares na tabela, superando o Burundi apenas por um centesimo no 'score' e "ajudada" pela entrada no 'ranking' do Haiti - o pais mais pobre e mais devastado do mundo nos ultimos tempos...

- Angola, o pais que proclama, e por isso tem sido aclamado internacionalmente, ter "o quadro macroeconomico mais estavel e mais forte" da regiao e do continente nos ultimos anos, de um relatorio para o outro continua atras do Zimbabwe (o pais mais instavel a todos os niveis na regiao e no continente durante a ultima decada e por isso internacionalmente condenado e sancionado), o qual, entretanto, no mesmo periodo, consegue subir quatro lugares no 'rank', situando-se 7 posicoes acima da de Angola...

- Quando consideradas as variacoes na avaliacao, a posicao de Angola tambem nao compara favoravelmente: vejam-se, por exemplo, essas variacoes para pequenas economias como a Swazilandia (-8) ou o Lesotho (-7), ja' para nao falar em economias maiores como a Namibia (-9) ou a Tanzania (-7), as quais no entanto permanecem varias posicoes acima da de Angola (-1)...





"Mesmo em termos de “ranking”, para quem sabe ler relatórios, em relação à competitividade há claramente áreas em que Angola estava na cauda da tabela há alguns anos e agora está a meio, ultrapassando muitos países."


- O ultimo "ranking" inclui 142 paises, encontrando-se Angola na posicao 139 - ou seja, em termos de "ranking", ceteris paribus, Angola "ate' desceu" um lugar na tabela desde o ultimo relatorio onde se encontrava na posicao 138, como alias a variacao de -1 o indica... se isso e' estar "a meio da tabela", entao, definitivamente "nao sei ler relatorios" e tenho mesmo (!) "a mania do sabetudismo"!


"O estágio de desenvolvimento em que Angola está agora colocada pelo Fórum Económico Mundial é diferente do passado."


- O estabelecimento do "estagio de desenvolvimento" pelo FEM e' baseado primeiramente no nivel do PIB per capita o que nada diz sobre o "nivel de desenvolvimento" dos paises quando considerados criterios mais abrangentes, estruturais e estruturantes como a distribuicao desse mesmo PIB ou os seus indices de desenvolvimento humano, por exemplo.

- O segundo criterio adoptado pelo FEM e' baseado na composicao do PIB e na medida em que os paises sao 'factor driven', usando a percentagem de produtos mineiros no total das exportacoes. Assim, o "estagio de desenvolvimento" de Angola e' considerado como "de transicao do estagio 1 ('factor driven') para o estagio 2 ('efficiency driven')" ou, 'lido' de outro modo, Angola ainda nao e' uma economia "eficiente" - e nisso "nao sendo diferente do passado", ou seja, nao tendo mudado de estagio de um relatorio para o outro.


"O gráfico que compara a média de crescimento angolano à média dos países da África Subsaariana entre 2002 e 2010 é revelador do potencial conseguido."


- Para quem "saiba entender" de "crescimento economico", um fundamental e basico "facto estilizado" revela que economias que recebam um "boost" de investimento a partir de um nivel do PIB relativamente baixo (caso da Angola do pos-guerra - como aqui, entre outros lugares, o discuto) tendem a crescer a taxas relativamente mais elevadas do que economias com PIBs mais altos, ou que nao recebam tal "boost": tem a ver com algo designado "rendimentos decrescentes do capital" -
ja' Marx explicava!...

[...e eu, como nao passo de uma muito esforcada, mas modesta professora primaria, fico-me por aqui!...]

Portanto...

"Não vale (mesmo!) a pena esticar a corda"!


{Comentarios a esta materia}


P.S.: Apenas uma breve referencia ao Premio Nobel da Economia deste ano, anunciado depois da publicacao deste post, e ao que escrevi no artigo em questao sobre o papel das expectativas dos agentes economicos:

"(...) É neste contexto que, no quadro da teoria das expectativas racionais, se diz que, atravéz da ilusão monetária (ou do “fetichismo da moeda”, na versão marxista) e do desfasamento temporal entre as medidas de estabilização macroeconómica, “pode-se enganar alguns agentes económicos por algum tempo, mas não todos ao mesmo tempo, nem o tempo todo”… Na verdade, os factores que mais têm contribuido para uma melhoria das expectativas dos investidores estrangeiros e as condições mais favoráveis das linhas de crédito concedidas a Angola (para além, obviamente, das esperadas altas taxas de retorno do investimento nos sectores extractivo e terciário) são a paz, que parece consolidada, e as expectativas de estabilidade política e normalidade institucional que se esperam obter com a realização das eleições; não necessáriamente a “estabilidade macroeconómica” num país que, infelizmente, ainda se conta entre os mais corruptos do mundo e com um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano, numa economia em que nem a própria classe dirigente parece ter confiança, a julgar pelos seus investimentos imobiliários e outros no estrangeiro e pela expatriação de capitais obtidos de forma pouco transparente para os mais famosos paraísos fiscais do mundo. (...)"



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"Aproveitando a deixa", e porque estamos em "mare' de SADC", decidi compilar o 'ranking' dos paises membros da SADC incluidos no ultimo relatorio do FEM [*]:















[*] O que podera' tambem servir de 'quadro ilustrativo' para o aquilatamento das pretensoes e expectativas sobre o papel de Angola na SADC no curto/medio prazo, em particular vis-a-vis a Africa do Sul, como aqui, entre outros lugares, se expressa.




"O quadro geral em Angola continua a melhorar. Afirmar isto não é bajular."


- De facto, ha' cinco anos, comecei por afirmar
neste meu artigo que "seria necessária alguma dose de má fé para se não reconhecer e creditar devidamente os méritos do governo na obtenção do que se convencionou chamar “estabilização macroecónomica”." E afirmar isso tambem "nao e' bajular"...

- E... afirmar que "a economia angolana ainda tem um longo caminho a percorrer ate' se tornar minimamente competitiva, tanto a nivel regional como global", como o fiz naquele mesmo artigo e "reafirmei" ha' alguns dias aqui, tambem nao e' "cometer nenhum crime de lesa-patria"!


"Vejam os últimos relatórios sobre o crescimento e a competitividade das economias no mundo divulgados pelo Fórum Económico Mundial..."





"Vejam os sectores em que Angola era fraca e agora é forte. Não se olhe apenas para o “ranking”, onde o universo de países pode ser maior ou menor, o que altera a posição de cada um. Veja-se o “score”, o valor do aumento ou diminuição da avaliação."


- Colocando temporariamente de parte a "evidencia" de o "ranking" ser directamente determinado pelo "score" e de este ser determinado por todos os "pillars" considerados na avaliacao e indexacao, torna-se muito dificil, para nao dizer impossivel, fazer tal exercicio com alguma credibilidade, uma vez que Angola so' comeca a aparecer com alguma consistencia nesses relatorios nos ultimos dois anos. Assim, proponho um exercicio alternativo, muito simples e talvez mais revelador:

- Angola, o pais que, ao longo da ultima decada, tem batido todos os 'records' de Investimento Directo Estrangeiro em Africa e em boa parte do mundo, de 2010-2011 para 2011-2012, sobe apenas dois lugares na tabela, superando o Burundi apenas por um centesimo no 'score' e "ajudada" pela entrada no 'ranking' do Haiti - o pais mais pobre e mais devastado do mundo nos ultimos tempos...

- Angola, o pais que proclama, e por isso tem sido aclamado internacionalmente, ter "o quadro macroeconomico mais estavel e mais forte" da regiao e do continente nos ultimos anos, de um relatorio para o outro continua atras do Zimbabwe (o pais mais instavel a todos os niveis na regiao e no continente durante a ultima decada e por isso internacionalmente condenado e sancionado), o qual, entretanto, no mesmo periodo, consegue subir quatro lugares no 'rank', situando-se 7 posicoes acima da de Angola...

- Quando consideradas as variacoes na avaliacao, a posicao de Angola tambem nao compara favoravelmente: vejam-se, por exemplo, essas variacoes para pequenas economias como a Swazilandia (-8) ou o Lesotho (-7), ja' para nao falar em economias maiores como a Namibia (-9) ou a Tanzania (-7), as quais no entanto permanecem varias posicoes acima da de Angola (-1)...





"Mesmo em termos de “ranking”, para quem sabe ler relatórios, em relação à competitividade há claramente áreas em que Angola estava na cauda da tabela há alguns anos e agora está a meio, ultrapassando muitos países."


- O ultimo "ranking" inclui 142 paises, encontrando-se Angola na posicao 139 - ou seja, em termos de "ranking", ceteris paribus, Angola "ate' desceu" um lugar na tabela desde o ultimo relatorio onde se encontrava na posicao 138, como alias a variacao de -1 o indica... se isso e' estar "a meio da tabela", entao, definitivamente "nao sei ler relatorios" e tenho mesmo (!) "a mania do sabetudismo"!


"O estágio de desenvolvimento em que Angola está agora colocada pelo Fórum Económico Mundial é diferente do passado."


- O estabelecimento do "estagio de desenvolvimento" pelo FEM e' baseado primeiramente no nivel do PIB per capita o que nada diz sobre o "nivel de desenvolvimento" dos paises quando considerados criterios mais abrangentes, estruturais e estruturantes como a distribuicao desse mesmo PIB ou os seus indices de desenvolvimento humano, por exemplo.

- O segundo criterio adoptado pelo FEM e' baseado na composicao do PIB e na medida em que os paises sao 'factor driven', usando a percentagem de produtos mineiros no total das exportacoes. Assim, o "estagio de desenvolvimento" de Angola e' considerado como "de transicao do estagio 1 ('factor driven') para o estagio 2 ('efficiency driven')" ou, 'lido' de outro modo, Angola ainda nao e' uma economia "eficiente" - e nisso "nao sendo diferente do passado", ou seja, nao tendo mudado de estagio de um relatorio para o outro.


"O gráfico que compara a média de crescimento angolano à média dos países da África Subsaariana entre 2002 e 2010 é revelador do potencial conseguido."


- Para quem "saiba entender" de "crescimento economico", um fundamental e basico "facto estilizado" revela que economias que recebam um "boost" de investimento a partir de um nivel do PIB relativamente baixo (caso da Angola do pos-guerra - como aqui, entre outros lugares, o discuto) tendem a crescer a taxas relativamente mais elevadas do que economias com PIBs mais altos, ou que nao recebam tal "boost": tem a ver com algo designado "rendimentos decrescentes do capital" -
ja' Marx explicava!...

[...e eu, como nao passo de uma muito esforcada, mas modesta professora primaria, fico-me por aqui!...]

Portanto...

"Não vale (mesmo!) a pena esticar a corda"!


{Comentarios a esta materia}


P.S.: Apenas uma breve referencia ao Premio Nobel da Economia deste ano, anunciado depois da publicacao deste post, e ao que escrevi no artigo em questao sobre o papel das expectativas dos agentes economicos:

"(...) É neste contexto que, no quadro da teoria das expectativas racionais, se diz que, atravéz da ilusão monetária (ou do “fetichismo da moeda”, na versão marxista) e do desfasamento temporal entre as medidas de estabilização macroeconómica, “pode-se enganar alguns agentes económicos por algum tempo, mas não todos ao mesmo tempo, nem o tempo todo”… Na verdade, os factores que mais têm contribuido para uma melhoria das expectativas dos investidores estrangeiros e as condições mais favoráveis das linhas de crédito concedidas a Angola (para além, obviamente, das esperadas altas taxas de retorno do investimento nos sectores extractivo e terciário) são a paz, que parece consolidada, e as expectativas de estabilidade política e normalidade institucional que se esperam obter com a realização das eleições; não necessáriamente a “estabilidade macroeconómica” num país que, infelizmente, ainda se conta entre os mais corruptos do mundo e com um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano, numa economia em que nem a própria classe dirigente parece ter confiança, a julgar pelos seus investimentos imobiliários e outros no estrangeiro e pela expatriação de capitais obtidos de forma pouco transparente para os mais famosos paraísos fiscais do mundo. (...)"



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SADC Macroeconomic Convergence and Stability Policy

Afinale...

"A Economia do Bolso Vazio"

Do que as Mulheres Africanas Realmente Precisam

Ainda Sobre Aquele Meu Curso em Portugal





ADENDA


"Aproveitando a deixa", e porque estamos em "mare' de SADC", decidi compilar o 'ranking' dos paises membros da SADC incluidos no ultimo relatorio do FEM [*]:















[*] O que podera' tambem servir de 'quadro ilustrativo' para o aquilatamento das pretensoes e expectativas sobre o papel de Angola na SADC no curto/medio prazo, em particular vis-a-vis a Africa do Sul, como aqui, entre outros lugares, se expressa.

8 comments:

Observador Atento said...

E que viva a MACROECONOMIA A PROVA DE BALAS!!!

Koluki said...

VIVA!
... O que quer que isso seja!...

Anonymous said...

Olá

Perdoem-me o sarcasmo mas com o devido respeito parece-me que o único rank em que o nosso país tem boas chances de obter um bom score é o da pornografia!

rsrsrs

bfs

Anonymous said...

Também podíamos falar do rank das misses mas não quero misturar e confundir os scores, rsrsrsrs.....

Koluki said...

Ola' Anonimo,

Embora nao possa deixar de partilhar o seu sarcasmo (lol) preferia deixar o nome do "nosso pais" de fora desse ranking... Falar em "alguns angolanos", embora sejam muitos e, a julgar por certas "kampanhas", parecam ser 'todos', talvez seja mais apropriado!

Quanto as misses, tambem acho que nao vale a pena "puxar muito a corda", especialmente perante a recente vitoria da nossa Leila Universal, porque para a "botarem abaixo" ja' bastam os neo-nazis...

Continuacao de bom fim de semana!

Anonymous said...

Compreendo-a cara amiga e respeito o seu cuidado, mas eu estou de fora e como em Angola há “liberdade de imprensa” para se fazerem campanhas de difamação impunemente, julgo também ter direito á minha livre opinião, não é assim?
Afinal de contas trata-se de um país onde o “mais alto galardao” é entregue a uma “pornógrafa-em-chefe”, não é verdade?

Kandandos!

Koluki said...

OK, ok, ok...

Kandandus e volte sempre!

;-D

Rui M. said...

Pois é minha senhora, é a velha estória do “Rei Vai Nu”…
Parabéns pela visão, porque em Angola parece que anda tudo “semiótico”, eheheheheh!