(...)
como te atreves a querer
que te dê a mão
se ainda agora
a ofereci em troca de pão?
(...)
[A.S. - extracto de "Ralhete" in S.O.S. - lembro-me de, pelos dias em que escrevi esse poema, em tempos de guerra e escassez generalizada em Luanda, uma vez ter perguntado ao meu filho, entao com dois/tres anitos de idade, se "a barriga dele estava cheia", ele respondeu-me que "sim", perguntei-lhe "de que?" e ele: "a barriga esta' cheia de fome"...]
Esta e' uma imagem aterradora e revoltante, que ha' varios anos vem ilustrando as recorrentes fomes em Africa, e especialmente no 'seu Corno' - como ESTA, que actualmente vem mobilizando as atencoes e doacoes de todo o mundo face aquela que e' considerada a pior seca na regiao nos ultimos 60 anos.
Trata-se de uma imagem que tem sido igualmente politicamente manipulada pelas piores razoes e para as mais duvidosas causas possiveis. Por essa razao, apenas muito relutantemente me decidiria a posta-la neste blog. Mas, perante a noticia que abaixo se pode ler, ocorre-me que ela pode ilustrar tambem da forma mais macabra possivel os absurdos, dramas, traumas e dilemas com que as maes em condicoes de extrema pobreza frequentemente se teem que confrontar, e.g.: "matar a crianca, ou deixa-la morrer viva 'as garras dos abutres"?!...
Nao que a mae em questao na noticia seja 'desculpavel', mesmo porque nada faz supor que ela estaria no mesmo estado de extrema pobreza que a mae da crianca na imagem - a qual, muito provavelmente estaria ja' ela propria morta -, mas o seu acto ilustra bem os extremos a que os disturbios mentais associados a tais condicoes podem conduzir e que nenhuma imagem sera' capaz de retratar...
Mas, em qualquer dos casos, a dura, nua e crua realidade da sad bottom line da extrema pobreza e' bem retratada por esta imagem:
Criança Morre por Pedir Comida a Mãe
Uma criança de apenas 2 anos de idade perdeu a vida quando este chorava, queixando-se a sua mãe de fome. A mãe, agastada, pega nela e sufoca-a até à morte. A horrível cena ocorreu na localidade fronteiriça de Santa Clara, na província de Cunene, 40 km a Sul de Ondjiva, segundo fonte policial que não especificou a data.
“O facto ocorreu quando o menor queixava-se de fome e a mãe, na impossibilidade de suprir a necessidade do seu filho, entendeu sufoca-lo de forma a fazer com que se calasse, tendo assim provocado a morte imediata da criança’’, contou o porta-voz do comando provincial da Polícia naquela província, Carlos dos Santos.
O oficial disse ainda que a mãe, interrogada, «alegou que praticou tal acção, porque o pai não comparticipava nas despesas para sustentar o seu filho».
Com dois anos de idade, a criança em vida chamava-se Daniel Pena Elias Satoca.
[aqui]
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