Saturday, 3 March 2012

Da "ditadura da idade" e outros mambos enferrujados nao reciclaveis [*] - (actualizado)




Pior do que envelhecer, e' nao saber (ou nao querer, ou nao ser capaz de) envelhecer com dignidade, verticalidade, integridade e graciosidade e ter inteligencia, sensibilidade, responsabilidade e coragem suficientes para tentar deixar um 'legado' , humilde e diminuto que seja, digno desse nome as geracoes seguintes e vindouras, fazendo sempre questao de respeitar 'todo o mundo' - quem quer que seja e qualquer que seja a sua idade e sobretudo em publico (!) - para nao passar pela "humilhacao" de se ser desrespeitada/o...


Enfim, nao ter a minima nocao do que significa ser-se um/a "role model"!...


E isso e' tao valido para as pessoas - homens ou mulheres - como para as ideias, de esquerda ou de direita, ou para as instituicoes, e entre estas especialmente os partidos politicos, da situacao ou da oposicao!...





'A Mesa de um Café Londrino…


… Sentei-me, no sabado antepassado (portanto, antes de ter lido o artigo que motivou esta mukanda), com a minha amiga Zheena – uma Mulher da Etiopia (pais reputado como sendo produtor de algum do melhor cafe do mundo) nos seus 65-70 anos, mas muito confortavel com a sua idade, o seu corpo e a sua sexualidade.

Ela encomendou um pote de cha’ e eu um café macchiato. Olhamos deliciadas para os bolos – nao do tipo bolos de arroz ou pasteis de nata, mas bolos mesmo, feitos em casa, handmade, dos quais se pode pedir uma ou duas fatias – mas decidimos nao indulgir na gulodice… Enquanto esperavamos que nos viessem servir a uma das mesas de real wood (reciclavel), sentadas em cadeiras tradicionalmente estofadas, ‘enjoyamos’ o espaco que nos rodeava: uma exposicao de ceramica artesanal contemporanea nas prateleiras ao lado da nossa mesa, numa das paredes um ‘fresco’ em tamanho gigante retratando algumas das figuras maiores da musica anglosaxonica com destaque para Louis Armstrong e noutras paredes fotos autografadas de artistas que por ali passaram, posters e cartazes de eventos culturais e mais, muito mais!...

Ah, e tudo isso enquanto nos chegavam aos ouvidos acordes vindos de uma outra sala onde um grupo de musicos ensaiava – na noite anterior, disseram-nos, tinha la’ estado a actuar um dos melhores pianistas contemporaneos deste pais… e nao, nao era nenhum upper class café numa qualquer rua ou bairro upmarket de Londres – tratava-se apenas de um cafe'-estudio-galeria numa back street de uma area de Londres nao particularmente trendy: Kentish Town!


Depois de servidas por dois extremamente afaveis empregados, um Eritreu e uma Irlandesa, entre os nossos cha’ e café, a Zheena, sem nunca mencionar a sua idade, falou-me do seu processo de envelhecimento: da mudanca gradual dos seus habitos alimentares e do seu efeito no seu metabolismo; de como precisava de voltar ao gym que ela deixou de frequentar ha’ cerca de um ano, onde depois do exercicio fisico relaxava na spa – e nao, tal como eu, ela nao e’ rica!

Bom, claro que nem todos os cafes de Londres sao assim, mas este e’ apenas um de muitos exemplos do que esta cidade tem para oferecer em materia de cafes, que ja’ vao sendo mais do que os pubs, os quais, tal como varias outras instituicoes tradicionais ("velhas") deste pais, teem vindo gradualmente a fechar, ou a reconverter-se (reciclar-se). E mesmo que nao sejam em tao grande numero como, por exemplo, os de Paris, sei, por experiencia propria, que aquele precioso fim de tarde naquele café de Londres com a Zheena ter-nos-ia custado os olhos da cara em Paris – e isto se nao nos impedissem de la’ entrar, senao ostensivamente (afinal os parisienses sao supostamente peritos em “finesse”…), muito provavelmente, dada a sua igualmente famosa snobbery, pela frieza do tratamento que (nao) nos dispensariam!...

E isto apenas para dar a quem “nao conhece muitos mundos fora dos livros”, a ‘dica’ (ou 'bica' se preferir...) de que nao sao so’ os "Europeus" (continentais) que 'enjoyam' a cultura do café (‘o espaco’) e que… no mundo anglofono, para alem de Londres, talvez alguns dos melhores cafes do mundo se situam em cidades Americanas como New York!... Alias, so' com um grande stretch of the imagination se pode considerar a "cultura do cafe'" como uma "marca civilizacional" da Europa tao 'longeva' quanto a Grecia Antiga: isso porque o cafe' (tanto o espaco como o produto) e' pretty much um produto da colonizacao da Africa pela Europa... da qual, diga-se, a Grecia de 500 nao participou, ou seja, o seu PIB nunca foi alimentado por nenhuma colonia ou ex-colonia - o que tambem podera' ter algo a ver com o desespero em que se encontra neste momento porque, ao contrario de Portugal, por exemplo, nao tem uma "antiga joia da coroa" em Africa a que recorrer!...

E… porque, desde que a conheco, ela tem sabido granjear o meu respeito, eu jamais chamaria ‘a Zheena, nos seus sabios, sadios e confortaveis cerca de 70 anos de idade, “velhota, velhaca e bruaca”… beyond repair!...


"O MIT QUE CONHECO"

Podera' nao ser exactamente "a prova de balas", mas...

... E' um MIT que sabe que nao se pode permitir "envelhecer desgracadamente" sob pena de perder as suas credibilidade e respeitabilidade...

... E' um MIT que sabe que tem que respeitar e integrar o "sangue novo" da "juventude" para que nao falte vida 'as ideias que nele nascem, se desenvolvem e se reproduzem e para que estas nao morram de "morte matada"!...

... E' um MIT que nao tolera a arrogancia ignorante, nem a desonestidade intelectual, ou a cobardia, o plagiarismo e/ou o mimetismo, o oportunismo e menos ainda a total falta de etica e deontologia profissionais!!!...

...E', acima de tudo, um MIT suficientemente forte, robusto, maduro, idoneo, democratico e civilizado, para albergar e acomodar academicos dos mais diversos espectros politico-ideologicos!...


Esse e' o MIT do Chomsky (o linguista, filosofo, cognicientista e historiador - aquele que diz que "o papel historico dos intelectuais, se olharmos tao longe quanto pudermos no passado, infelizmente tem sido o de apoiar os sistemas de poder e justificar as suas atrocidades"... - nao necessariamente o 'activista politico-ideologico de esquerda' que, manifestamente, e' o unico que a "nossa catedratica-cientista" conhece!...) - digno, responsavel, respeitavel e perfeitamente reciclavel!



[*] 'Mukanda' a proposito de algumas passagens de um artigo publicado a paginas tantas da edicao do Semanario Angolense da semana passada, da autoria de alguem, certamente pertencente a geracao Y, mas definitivamente nao 'a minha e muito menos ao meu "espaco geo-politico" - este, o meu, pode encontrar-se mais facilmente aqui, do que em qualquer "ideia da Europa"!...

Embora nao possa deixar de notar a "coincidencia" das afirmacoes feitas nesse artigo com alguns dos argumentos mais "profundos" dos "eurocepticos" da direita Britanica que agora, perante o "colapso" da Grecia - e, dizem eles, for that matter da propria "ideia da Europa", qualquer que ela seja - proclamam: "nos bem vos avisamos!"...

E mais perturbador ainda do que isso e', para alem da "endogeneizacao" do euro-centrismo no mundo ocidental (e global?... muito proprio de uma mui zelosa "mae da negritude branca pos-colonial"!...), o "greci-centrismo" no mundo europeu (e ocidental?...) patenteado nesse artigo: e' que a Grecia Antiga pode bem ser "o berco (ou mae, se se preferir) da civilizacao europeia", mas a Europa Contemporanea ja' e' "o berco" de varias geracoes de cidadaos ("barbaros"?) das mais variadas origens civilizacionais de todo o mundo (... Portugal e'-o de certeza, sempre o foi e continuara' a se-lo, particularmente desde que se viu forcado a recorrer a sua "velha" joia da coroa em Africa, Angola, para se salvar da "tragedia Grega"... pelo que, se alguns politicos Portugueses dizem que "nos nao somos a Grecia!", terao certamente as suas (muitas, boas e novas) razoes!...) - e a assumpcao dessa realidade tambem faz parte de uma "ideia da Europa" inclusiva, multi-cultural, multi-etnica e multi-racial, que nao se ve retratada nas ideias de Steiner copied and pasted para esse artigo!... O que talvez se perceba com um melhor conhecimento da biografia e bibliografia de Steiner (e, em particular, o que Assaf Sagiv designou “George Steiner’s Jewish Problem”) e porque que ele considera a “ideia da Europa” como “um conto de duas cidades: Atenas e Jerusalém”...


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Enfim, nao ter a minima nocao do que significa ser-se um/a "role model"!...


E isso e' tao valido para as pessoas - homens ou mulheres - como para as ideias, de esquerda ou de direita, ou para as instituicoes, e entre estas especialmente os partidos politicos, da situacao ou da oposicao!...





'A Mesa de um Café Londrino…


… Sentei-me, no sabado antepassado (portanto, antes de ter lido o artigo que motivou esta mukanda), com a minha amiga Zheena – uma Mulher da Etiopia (pais reputado como sendo produtor de algum do melhor cafe do mundo) nos seus 65-70 anos, mas muito confortavel com a sua idade, o seu corpo e a sua sexualidade.

Ela encomendou um pote de cha’ e eu um café macchiato. Olhamos deliciadas para os bolos – nao do tipo bolos de arroz ou pasteis de nata, mas bolos mesmo, feitos em casa, handmade, dos quais se pode pedir uma ou duas fatias – mas decidimos nao indulgir na gulodice… Enquanto esperavamos que nos viessem servir a uma das mesas de real wood (reciclavel), sentadas em cadeiras tradicionalmente estofadas, ‘enjoyamos’ o espaco que nos rodeava: uma exposicao de ceramica artesanal contemporanea nas prateleiras ao lado da nossa mesa, numa das paredes um ‘fresco’ em tamanho gigante retratando algumas das figuras maiores da musica anglosaxonica com destaque para Louis Armstrong e noutras paredes fotos autografadas de artistas que por ali passaram, posters e cartazes de eventos culturais e mais, muito mais!...

Ah, e tudo isso enquanto nos chegavam aos ouvidos acordes vindos de uma outra sala onde um grupo de musicos ensaiava – na noite anterior, disseram-nos, tinha la’ estado a actuar um dos melhores pianistas contemporaneos deste pais… e nao, nao era nenhum upper class café numa qualquer rua ou bairro upmarket de Londres – tratava-se apenas de um cafe'-estudio-galeria numa back street de uma area de Londres nao particularmente trendy: Kentish Town!


Depois de servidas por dois extremamente afaveis empregados, um Eritreu e uma Irlandesa, entre os nossos cha’ e café, a Zheena, sem nunca mencionar a sua idade, falou-me do seu processo de envelhecimento: da mudanca gradual dos seus habitos alimentares e do seu efeito no seu metabolismo; de como precisava de voltar ao gym que ela deixou de frequentar ha’ cerca de um ano, onde depois do exercicio fisico relaxava na spa – e nao, tal como eu, ela nao e’ rica!

Bom, claro que nem todos os cafes de Londres sao assim, mas este e’ apenas um de muitos exemplos do que esta cidade tem para oferecer em materia de cafes, que ja’ vao sendo mais do que os pubs, os quais, tal como varias outras instituicoes tradicionais ("velhas") deste pais, teem vindo gradualmente a fechar, ou a reconverter-se (reciclar-se). E mesmo que nao sejam em tao grande numero como, por exemplo, os de Paris, sei, por experiencia propria, que aquele precioso fim de tarde naquele café de Londres com a Zheena ter-nos-ia custado os olhos da cara em Paris – e isto se nao nos impedissem de la’ entrar, senao ostensivamente (afinal os parisienses sao supostamente peritos em “finesse”…), muito provavelmente, dada a sua igualmente famosa snobbery, pela frieza do tratamento que (nao) nos dispensariam!...

E isto apenas para dar a quem “nao conhece muitos mundos fora dos livros”, a ‘dica’ (ou 'bica' se preferir...) de que nao sao so’ os "Europeus" (continentais) que 'enjoyam' a cultura do café (‘o espaco’) e que… no mundo anglofono, para alem de Londres, talvez alguns dos melhores cafes do mundo se situam em cidades Americanas como New York!... Alias, so' com um grande stretch of the imagination se pode considerar a "cultura do cafe'" como uma "marca civilizacional" da Europa tao 'longeva' quanto a Grecia Antiga: isso porque o cafe' (tanto o espaco como o produto) e' pretty much um produto da colonizacao da Africa pela Europa... da qual, diga-se, a Grecia de 500 nao participou, ou seja, o seu PIB nunca foi alimentado por nenhuma colonia ou ex-colonia - o que tambem podera' ter algo a ver com o desespero em que se encontra neste momento porque, ao contrario de Portugal, por exemplo, nao tem uma "antiga joia da coroa" em Africa a que recorrer!...

E… porque, desde que a conheco, ela tem sabido granjear o meu respeito, eu jamais chamaria ‘a Zheena, nos seus sabios, sadios e confortaveis cerca de 70 anos de idade, “velhota, velhaca e bruaca”… beyond repair!...


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Podera' nao ser exactamente "a prova de balas", mas...

... E' um MIT que sabe que nao se pode permitir "envelhecer desgracadamente" sob pena de perder as suas credibilidade e respeitabilidade...

... E' um MIT que sabe que tem que respeitar e integrar o "sangue novo" da "juventude" para que nao falte vida 'as ideias que nele nascem, se desenvolvem e se reproduzem e para que estas nao morram de "morte matada"!...

... E' um MIT que nao tolera a arrogancia ignorante, nem a desonestidade intelectual, ou a cobardia, o plagiarismo e/ou o mimetismo, o oportunismo e menos ainda a total falta de etica e deontologia profissionais!!!...

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[*] 'Mukanda' a proposito de algumas passagens de um artigo publicado a paginas tantas da edicao do Semanario Angolense da semana passada, da autoria de alguem, certamente pertencente a geracao Y, mas definitivamente nao 'a minha e muito menos ao meu "espaco geo-politico" - este, o meu, pode encontrar-se mais facilmente aqui, do que em qualquer "ideia da Europa"!...

Embora nao possa deixar de notar a "coincidencia" das afirmacoes feitas nesse artigo com alguns dos argumentos mais "profundos" dos "eurocepticos" da direita Britanica que agora, perante o "colapso" da Grecia - e, dizem eles, for that matter da propria "ideia da Europa", qualquer que ela seja - proclamam: "nos bem vos avisamos!"...

E mais perturbador ainda do que isso e', para alem da "endogeneizacao" do euro-centrismo no mundo ocidental (e global?... muito proprio de uma mui zelosa "mae da negritude branca pos-colonial"!...), o "greci-centrismo" no mundo europeu (e ocidental?...) patenteado nesse artigo: e' que a Grecia Antiga pode bem ser "o berco (ou mae, se se preferir) da civilizacao europeia", mas a Europa Contemporanea ja' e' "o berco" de varias geracoes de cidadaos ("barbaros"?) das mais variadas origens civilizacionais de todo o mundo (... Portugal e'-o de certeza, sempre o foi e continuara' a se-lo, particularmente desde que se viu forcado a recorrer a sua "velha" joia da coroa em Africa, Angola, para se salvar da "tragedia Grega"... pelo que, se alguns politicos Portugueses dizem que "nos nao somos a Grecia!", terao certamente as suas (muitas, boas e novas) razoes!...) - e a assumpcao dessa realidade tambem faz parte de uma "ideia da Europa" inclusiva, multi-cultural, multi-etnica e multi-racial, que nao se ve retratada nas ideias de Steiner copied and pasted para esse artigo!... O que talvez se perceba com um melhor conhecimento da biografia e bibliografia de Steiner (e, em particular, o que Assaf Sagiv designou “George Steiner’s Jewish Problem”) e porque que ele considera a “ideia da Europa” como “um conto de duas cidades: Atenas e Jerusalém”...


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