Saturday, 10 March 2012

Ecos de uma Guerra que (ainda?!) nao acabou... (Actualizado)




... Ou dos "filhos tresmalhados da patria" (... de uma "terra queimada", de uma sociedade doente, onde nunca houve segregacionismo, nem racismo, nem discriminacao social, nem intolerancia etnica e/ou tribal, nem "rixas de bar de beco" ao longo de alinhamentos racicos, nem corrupcao,  nem manifestacoes e greves de fome de estudantes em frente 'as "nossas embaixadas", nem nunca se cometeram abusos da liberdade de imprensa, nem violacoes da etica jornalistica ou dos direitos humanos, nem qualquer outro tipo de crimes...) para os quais "nao havera' perdao", nem compreensao ou consideracao, tao pouco "amnistia" por terem tido o "atrevimento" de se manifestar pela PAZ quando "nao deviam"!...



... Ou ainda, de algumas "medidas de caracter profilatico" para a geracao Rejeitada, Perdida e Mordida pela "raiva mal contida" de todos os Mad Dogs of War: dos "Nos os que lutamos!" (mesmo que nao tenham lutado!), aos "Nos os que ficamos!" (mesmo que nao tenham ficado!), passando pelos "Nos os unicos e verdadeiros intelectuais!" (mesmo que nunca o tenham sido!) ...


(…)

Muitos que são nossos compatriotas, estiveram connosco nalguns momentos ou foram depois para fora estudar ou se instalaram-se lá, hoje vêm com ideias diferentes das nossas, desajustadas do momento que nós estamos a viver.

Os angolanos, nestas tarefas de reconstrução e Desenvolvimento, estão juntos e devem continuar a cimentar a unidade nacional e a compreensão, não se deixando levar por ideias de indivíduos que não conhecem a nossa história, não sabem por onde nós passamos.

Os angolanos passaram por grandes dificuldades, foram agredidos várias vezes por potências ocidentais e pequenas potênciais africanas, que puseram o país de rastos, financiaram agentes subversivos, destruíram, mataram, provocaram atrocidades em várias partes do território nacional.

Diria que o país estava quase a chegar ao fundo do poço. Estamos a reerguermo-nos pelo facto de, por causa da guerra, termos ficado mais pobres e as famílias ficaram desestruturadas.

Não é justo e honesto que algum angolano que se diga digno deste nome venha pensar em nova desestabilização, em novas perturbações para nos travar nesta senda da reconstrução e desenvolvimento."

JES
[aqui]


COMENTARIO:

Isto lembra-me do recentemente aqui abordado "que alguem lhes conte uma historia, umazinha so'" da autoria de alguem com o "poder real" que a posicao de membro do 'circulo restrito' dos conselheiros de JES lhe confere... e de "umazinha" estoria que ouvi na mansao de cinco empregados e outros tantos carros da "minha amiga" na ultima vez que la' estive, sobre uns "tristemente celebres" 3 dias em que Luanda esteve a "ferro e fogo" no re-eclodir do conflito que se seguiu as eleicoes de 1992: segundo a tal estoria, ficaram todos 'embarrados' em suas casas sem poderem sair a rua e o "grande trauma" que aqueles 3 dias de "guerra em Luanda" lhes causou foi terem ficado "sem nada para comer excepto umas cabecas de lagosta que tinham sobrado do ultimo jantar que tinham tido antes daqueles dias"!...

... O que, penosamente, me invocou a memoria daquele periodo duro em Luanda em que, durante cerca de 3 anos, eu e o meu filho, excepto quando podiamos recorrer a mesa ou a arca frigorifica do Tio Pepe ou do nosso amigo Victor Alexandre, raramente tinhamos outras “iguarias” para comer excepto cabecas de carapau!...

E isso num periodo em que os filhinhos de papai e de mamae, e os eternos betinhos da Vila Alice, que hoje se arrogam a suprema falta de pudor e de caracter de virem a praca publica acusar-me das coisas mais disparatadamente abominaveis e proclamar que "lhes devo tudo o que sou na vida", ou que "me conhecem e 'a minha vida privada melhor do que eu propria(!)", nem sequer se dignavam dirigir-me palavra!... Tendo continuado ao longo dos anos a manter para comigo os comportamentos que descrevo no comentario a este post e agora prosseguem fazendo muita questao de "fingir" que nao leem este blog!...

Mas, naquele periodo, aconteceu uma vez um pequeno “milagre”: um dia pedi boleia com o meu filho a um militar (por sinal mestico) do Kinaxixi para a Xicala. Ele levou-nos e, postos la’, ofereceu-se para nos ir buscar mais tarde e dar-nos de novo boleia para casa, o que aceitei. E assim foi: levou-nos para casa e ficou a saber onde moravamos, embora eu nao o tivesse convidado a entrar. No dia seguinte apareceu-me a porta, fardado como no dia anterior, com uma caixa de mantimentos: arroz, leite, oleo, sabao, etc... Fiquei sem palavras! Ele disse-me que “nao tinha nada que agradecer” e foi-se embora...
Nunca mais o vi, nao me lembro do nome dele e espero apenas que, caso nao tenha morrido ou enlouquecido numa qualquer frente de combate e caso venha a ler isto, saiba que eu nunca me esqueci!...
E como poderia?! Aqueles eram dias em que o guarda do talho do Kinaxixi onde de vez enquando ‘saia’ frangos e ovos, um dia, depois de eu ter aguentado a bicha e os empurroes durante horas, disse-me que “nao me deixava entrar se eu nao fosse para a cama com ele”!!! O mesmo tendo acontecido com o da loja da carne (nem sequer era talho...), onde uma vez por semana ia de madrugada por a minha pedra na bicha, muitas vezes para que outras pessoas passassem a minha frente e no fim acabar por voltar para casa de maos a abanar!...

Claro que nunca fui para a cama com nenhum deles (... a verdade e’ que nunca fui para a cama com homem nenhum em troca do que quer que seja e o facto e’ que nenhum homem, morto ou vivo, ate’ hoje pode dizer que me deu o que quer que seja – e muito menos dinheiro ou qualquer bem material – em troca do que quer que seja!...) e, em ambos os casos, voltei para casa com nada mais do que um misto de incontidas lagrimas de humilhacao mais "revolta e uma vontade grande ter ter respostas"!...

E, ja’ agora, porque umas memorias levam a outras, deixo aqui o registo daquele amigo que tambem nos deu algumas vezes boleia para a praia e que, no Natal de 83/84 nos convidou, a mim e ao meu filho, a passarmos a consoada em sua casa, num dos predios no cimo da Cabral Moncada, com a mulher e os filhos dele – desculpem ter-me esquecido do vosso nome, mas ao casal (por sinal mestico/branca): mais uma vez muito obrigada!

E porque se fala tanto nos "que foram para fora estudar", deixo aqui este registo sobre a minha ida para Portugal como 'pobre e insignificante' estudante bolseira do INABE, sendo que o 'criatura rejeitada' ate' vem bem a proposito, porque a verdade dos factos e' que:

A minha primeira candidatura a bolsa no ano lectivo 1983/84 foi rejeitada, tendo-me sido dito que "nao tinha sido aprovada pelo Departamento de Quadros do Partido". Encontrava-se entao a frente do INABE Francisca do Espirito Santo (FES).

Perante aquela recusa, no ano lectivo seguinte (1984/85) a minha tia pediu especialmente a Manuel Quarta Punza - que conhecia bem a minha familia e a mim em particular de quando ele tinha sido Comissario Provincial do Uige e eu tinha ficado hospedada em sua casa numa minha ida aquela provincia em missao de servico da JMPLA - ajuda para desbloquear a situacao. Este intercedeu junto de um outro responsavel do INABE (por sinal de origem Bakongo) e so' entao a minha candidatura foi aprovada.

Fui entao a Portugal em meados de 1985 na expectativa de comecar o curso naquele ano, mas posta la' confrontei-me com o facto de que, ao contrario de todos os outros bolseiros para aquele ano, nao havia qualquer 'record' da aprovacao da minha bolsa, nem na Embaixada de Angola, nem na Secretaria de Estado da Cooperacao Portuguesa... Tive entao que regressar novamente a Angola para, junto do INABE, resolver a questao e so' assim, no final daquele ano, pude comecar os meus estudos em Portugal com a tal bolsa de #50 angolares e porrada se refilares# literalmente arrancada a ferros!...

E... depois disso ainda tive que enfrentar isto!... E... agora mais isto:

(...) [*] Essa logica torna-se mais complexa ainda quando o poder politico (que aqui se confunde com o estado, ou nao estivessemos em presenca de um "partido-estado" no poder...) se julga e se comporta como "proprietario", nao so' do pais e de todos os seus recursos e riquezas, como tambem de "todo o mundo" que nasceu, cresceu ou viveu sob 'a sua bandeira' (embora se permita votar ao abandono absoluto o 'pioneiro' que pela primeira vez icou tal bandeira!...) , e muito particularmente dos "estudantes bolseiros" que, implicita e explicitamente, assume que "jamais teriam uma formacao media ou superior" nao fossem as suas (famigeradas porque discricionarias, discriminatorias, mal geridas, desencaminhadas, desviadas e, por entre doses de manipulacao, humilhacao e chantagem politica e emocional q.b., em muitos casos, pouco mais do que, a varios titulos, destrutivas!) "bolsas de estudo"... enquanto "os que ficaram" tudo fazem para os estigmatizar e discriminar relativamente a auto-proclamada e novo-enriquecida "prata da casa"!...

Uma logica que, claramente, nao ve o estado (e o partido politico que o detem/sustenta) como "pessoa de bem" para todos e nao apenas para alguns - os "da sua familia, compadrio, confianca, amizade, militancia e/ou conveniencia" - certamente nao para aquela/es que tiveram a veleidade e o "atrevimento politico" de se expressarem e manifestarem a favor da paz "quando nao deviam"!

Assim, porque o poder politico (repitamo-lo: neste caso, o estado) nao e', nem pode ser, "pai grande" para "todo o mundo", os "minions patrioteiros" que "chupam" abundantemente da sua mesa, sacos azuis, envelopes castanhos, cabazes e pactos de regime passam a criar tambem os seus proprios "sub-sistemas de patronagem", tentando a todo o custo grangear "prestigio pessoal" perante a sociedade forjando "a golpes de (Aka)martelo" relacoes manipulativas de subserviencia e dependencia material, financeira e psicologica com os "filhos ilegitimos da patria", i.e. aqueles que o estado, por razoes politicas e afins, faz questao de marginalizar e penalizar (... chegando para tanto a negar-lhes passaportes nacionais, a cercear-lhes/ sabotar-lhes oportunidades academicas e profissionais por si duramente conquistadas, a arruinar-lhes a reputacao, destruir-lhes a personalidade, assassinar-lhes o caracter e a depriva-los dos seus bens e haveres, nomeadamente casas, e da sua mais elementar dignidade humana, transformando-os assim em autenticos mendigos indigentes, enquanto lhes atiram a cara, ainda que falsamente e mesmo que o contrario seja efectivamente o verdadeiro, que "debicaram no seu prato"!), fazendo-os depois "pagar ad-eternum com juros hiper-inflacionados em mercado aberto na praca publica a hipoteca da amizade e familia manipuladas pelo contexto"! Era desse processo que falava, ha' uns tempos, aqui...

Uma realidade, alias, que, curiosamente, foi tambem assinalada nesse tipo de processos de "construcao social" em Cuba, como aqui se pode constatar: "(...) Ferrer points out that this system was also designed to encourage the subservience, indebtedness and gratitude of former slaves to the rebel leaders. While it certainly had this effect, libertos also seized the revolutionary language of freedom, liberty, and justice to demand a more inclusive role in the anti-colonial struggle."

[Aqui]

Et pourtant... "ainda ha' muitas feridas por sarar"... (o que me remete para ESTA outra historia - umazinha, umazinha so'), como por exemplo as "feridas" resultantes dos disparos das armas que FAPLA e FA(P)LA "justa e honestamente" comerciavam entre si para alimentarem a guerra, segundo "inconfidencias" vindas recentemente a publico, ou o uso de "mercenarios" de paises ocidentais e sul-africanos do "nosso lado" da guerra, por entre este tipo de denuncias por Cubanos como Carlos Moore, outras versoes da "historia" como as apresentadas aqui e aqui e o papel que nela tiveram 'firmas' como a Executive Outcomes e outros "internacionalistas" que finalmente conseguiram levar ao 'golpe de misericordia' a Jonas Savimbi... et pourtant!... Ou ainda, de como, no imediato pos-guerra (... ou mesmo ainda antes disso?...) se estabeleceram estreitas relacoes de cooperacao entre os exercitos Angolano e Sul-Africano, enquanto "pobres e insignificantes criaturas rejeitadas" como eu continuam a ser acusadas de "crimes de lesa-patria" e a ser linchadas em praca publica por terem tido o "atrevimento politico" de ir, contratados e pagos pela UE, trabalhar para a SADC com representantes de "paises inimigos" como as Mauricias e a Africa do Sul "sem autorizacao do governo de Angola"!...

Et pourtant... "ainda ha' muitas feridas por sarar"!...

Nao chegou a apropriacao dos espolhos da guerra e dos dividendos da paz: a partilha das minas de diamantes e pocos de petroleo, das terras e empresas, dos bancos e comissoes, das quintas e fazendas, das embaixadas e representacoes, dos premios e galardoes, dos conselhos de administracao e ministerios, das contas, accoes e propriedades offshore, dos yates e avioes, dos porches e lamborghinis, das praias e das clinicas, que "justa e honestamente" fizeram e continuam a fazer entre si e dos quais fazem questao de afastar "todo o mundo" que nao pertenca aos "circulos restritos" das suas familias, clas e feudos, para sarar tais "feridas"?!



"(...) Guerra que terminou há precisamente dez anos, com a morte do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, cujo papel na história continua a ser motivo de discórdia entre os angolanos, embora haja uns quantos “amigos da onça” que, uma década depois, ainda venham com sentimentos paternalistas de virtualidades que só eles conseguem ver, talvez à custa da penosa situação por que passam os sistemas de segurança social dos seus países e que afectam as pensões de reforma que lhes são atribuídas, embora pouco ou nada tenham trabalhado para as justificar.
E das pedras ressurgem, quais fénix, as Marias, Joãos, Anas, Ruis e tantos outros, que apesar de escondidos pelo comprometimento na desgraça nacional, vão, sempre que podem, procurando reenquadrar a sua veia paternalista e sobranceria, como aconteceu esta semana quando tentaram , nova e ridiculamente, reduzir o conflito em Angola a uma questão étnica, pondo em cheque a paz conquistada pelos angolanos e que se tem revelado o bem mais precioso de um país que andou errante durante décadas.
(…)
Mesmo na diversidade de opiniões e na debate democrático gente dessa estirpe não é bem vinda porque só traz ao de cimo recordações que, decididamente, queremos enterrar para construirmos o país com que sonharam os nossos ancestrais, verdadeiramente livre, independente e soberano!"

(Victor Silva - Editorial do Novo Jornal # 214 - 24/02/12)

COMENTARIO: Embora 'aparentemente' esta carga de artilharia, disparada pelo director de um "projecto editorial demasiado independente", seja dirigida 'exclusivamente' a alguns portugueses em Portugal, entre os quais umas certas 'Anas' sem apelido (... onde e' que eu ja' li algo 'vagamente' parecido com isto?...), por 'qualquer razao obscura' ela reverte-me, qual "obus no meu quintal", a este "statelessness state of mind"...


"(…) Com essa expectativa a acentuar-se cada vez mais, à medida que nos formos aproximando da data das eleições, os partidos políticos arremessarão todas as armas ao seu alcance para desferir “golpes mortais” aos seus adversários. Assistiremos, desta forma, a um aumento desbragado do tom da propaganda venenosa de uns contra outros.
A campanha eleitoral será palco de críticas arrasadoras, acusações e contra-acusações. A contra informação terá aqui campo aberto para o “linchamento” de políticos que, perante uma opinião pública desprevenida, poderão ver sentenciado o fim da sua carreira. Viveremos momentos de grande ebulição política, própria das lutas partidárias em tempo de eleições.
Depois de termos participado em duas campanhas eleitorais, nada, desse ponto de vista, nos deve, no entanto, surpreender. Vergamo-nos, há vinte anos, a uma primeira campanha verdadeiramente explosiva, que acabou por descambar num “incêndio político” de proporções catastróficas."

(Gustavo Costa, in Novo Jornal # 207 - 06/01/12)

COMENTARIO: Embora eu nao tenha, nem nunca tenha pretendido ter, qualquer "carreira politica", nao deixei por isso de ser "linchada"!...


(...)

Apenas dois exemplos de “etica ideologica” em accao:

1. Jose’ Agostinho, dirigente da JMPLA e musico dos primordios da Dipanda, cantou uma cancao com esta letra:

(…)
E’ preciso fazer a guerra
Para acabar com a guerra
E’ bom ver disparar
E disparar tambem
E’ bom ver morrer
E’ bom quase morrer
Para melhor compreender
E perceber
Que e’ preciso fazer a guerra
Para acabar com a guerra

(…)


2. As criancas da OPA (Organizacao dos Pioneiros Angolanos - do MPLA), com idades compreendidas entre os 5/6 e 12/13 anos, no mesmo periodo cantavam um hino que rezava assim:

(…)
Eu vou morrer em Angola
Com armas de guerra na mao
Granada sera’ meu caixao
Enterro sera’ na patrulha

(…)

- Ora, dir-se-ha’ que, em ambos os casos, se tratavam de “normais” cancoes de guerra – nada inedito, extraordinario, nem “eticamente reprovavel”: afinal, todas as guerras acabam por criar os seus proprios “cancioneiros” auto-justificativos. E, dependendo de quem justifica a guerra pos-independencia e com que pressupostos ideologicos o faz, dir-se-ha’ ate’ que a cancao de Jose’ Agostinho acabou, a posteriori, por ser “vindicada” pelo desfecho que aquela guerra teve faz agora 10 anos!...

Portanto, ate’ ai, podera’ dizer-se que, do ponto de vista ideologico, “ta’ tudo bem”!...


Mas, e’ do ponto de vista humanistico que comecam os problemas:

- Sera’, antes de mais, a guerra em si mesma, qualquer guerra, “eticamente justificavel” em todas as circunstancias? E, especialmente, quando entre "irmaos" num pais que se pretend(ia)e "Um So' Povo e Uma So' Nacao"?!
- Em ambos os casos, tratavam-se de cancoes destinadas a “condicionar psicologicamente” as criancas e os jovens para a aceitacao da e a participacao na guerra. E, sendo certo que longe estavam ainda os tempos das actuais campanhas internacionais contra o uso de “criancas soldado” em qualquer guerra, nao era a cancao da OPA contraria aos principios da Declaracao Universal dos Direitos da Crianca ja’ entao internacionalmente consagrados e desenvolvidos ao longo das decadas?

Essas apenas duas das questoes fundamentais que, numa primeira abordagem, apelam ao conceito de “etica humanistica” como moralmente superior ao de “etica ideologica”.


Mas, passada essa primeira abordagem, o terreno escorragadio em que se move a “etica ideologica”, veio a revelar-se ainda mais perturbador em ambos os casos:

- Jose’ Agostinho acabou por ser executado pouco depois da Dipanda, na orgia de “violencia revolucionaria” que se seguiu ao 27 de Maio de 1977… e aqui nao poso deixar de me “espantar”, mais uma vez, com a minha “ingenuidade” em relacao aos acontecimentos e personagens a volta daquela tragedia: so’ muito recentemente me foi confirmado que esse foi efectivamente o seu destino, porque naqueles dias disseram-nos, a alguns de nos entao militantes da Jota (... ou seria da "Mocidade Portuguesa"?...), que ele tinha morrido de “uma indigestao ou alergia causada por uns camaroes improprios para consumo que tinha comido”… e eu sempre acreditei nisso… ate’ muito recentemente!...


- Do “destino” de muitos pioneiros da OPA, e especialmente daqueles que realmente andaram de armas na mao (verdadeiras ou de pau) e muitos dos quais foram servir de "carne para canhao" nas frentes de combate, talvez o caso mais paradigmatico seja o do “menino da bandeira”, Diniz Kanhanga, aqui relatado!... Enquanto outros, como este, viriam a ser vitimados por certas "medidas artisticas de caracter profilatico (ou "pornografico"?)"!...

Enfim, em ambos os casos estamos perante facetas da historia de duas geracoes ("de idiotas"?) kruxifikadas pela "violencia revolucionaria" de uma certa "etica ideologica"...


E isso para falar apenas de dois exemplos da “etica ideologica” aplicada ao “nosso contexto”, porque poderiamos discuti-la mais alargadamente nos contextos da ideologia Nazi, ou da Stalinista, ou ainda da que (qualquer que seja a designacao que se lhe de) subjaz as mais recentes guerras do Iraque e Afeganistao… so’ para citar esses “exemplos maiores”!...


K.
[aqui]



VISÃO SOB AS BOTAS DO MONSTRO DA FRONTEIRA



I.

Através do sorriso, o norte
moldado à sorte no recorte
do instante, à morte
vens do poente,
à merce do cenário, a corte



assim te vejo rompendo
entre nevoeiros de amanhecer
ou quando te vens
em poeiras crepusculares.



II.

Não sabes que dos teus dedos
escorre a bomba do neutrão
chupada nos beiços da multidão
entrincheirada nos currais,



não sabes que os teus olhos
já se raiaram de sangue
sob o capacete,
é que o chão abre-se
sugando o líquido das veias
sob as botas.



III.

Sobre a tua opulência cristalizada
erguem-se os meus punhos
diversos dos que viste abertos
quando aqui chegaste



pelo cimo do teu esgar bilioso
abre-se a linha dos meus lábios
em canção de hoje



e amanhã, quando partires apressado,
lembrar-te-ás das minhas ancas
festejando o amanhecer.


[A.S. in S.O.S.]




[All images by Nancy Spero]


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MANIFESTO PELO DIREITO A VIDA


"Contemplar um crime em silêncio é cometê-lo"
José Martí





... Ou dos "filhos tresmalhados da patria" (... de uma "terra queimada", de uma sociedade doente, onde nunca houve segregacionismo, nem racismo, nem discriminacao social, nem intolerancia etnica e/ou tribal, nem "rixas de bar de beco" ao longo de alinhamentos racicos, nem corrupcao,  nem manifestacoes e greves de fome de estudantes em frente 'as "nossas embaixadas", nem nunca se cometeram abusos da liberdade de imprensa, nem violacoes da etica jornalistica ou dos direitos humanos, nem qualquer outro tipo de crimes...) para os quais "nao havera' perdao", nem compreensao ou consideracao, tao pouco "amnistia" por terem tido o "atrevimento" de se manifestar pela PAZ quando "nao deviam"!...



... Ou ainda, de algumas "medidas de caracter profilatico" para a geracao Rejeitada, Perdida e Mordida pela "raiva mal contida" de todos os Mad Dogs of War: dos "Nos os que lutamos!" (mesmo que nao tenham lutado!), aos "Nos os que ficamos!" (mesmo que nao tenham ficado!), passando pelos "Nos os unicos e verdadeiros intelectuais!" (mesmo que nunca o tenham sido!) ...


(…)

Muitos que são nossos compatriotas, estiveram connosco nalguns momentos ou foram depois para fora estudar ou se instalaram-se lá, hoje vêm com ideias diferentes das nossas, desajustadas do momento que nós estamos a viver.

Os angolanos, nestas tarefas de reconstrução e Desenvolvimento, estão juntos e devem continuar a cimentar a unidade nacional e a compreensão, não se deixando levar por ideias de indivíduos que não conhecem a nossa história, não sabem por onde nós passamos.

Os angolanos passaram por grandes dificuldades, foram agredidos várias vezes por potências ocidentais e pequenas potênciais africanas, que puseram o país de rastos, financiaram agentes subversivos, destruíram, mataram, provocaram atrocidades em várias partes do território nacional.

Diria que o país estava quase a chegar ao fundo do poço. Estamos a reerguermo-nos pelo facto de, por causa da guerra, termos ficado mais pobres e as famílias ficaram desestruturadas.

Não é justo e honesto que algum angolano que se diga digno deste nome venha pensar em nova desestabilização, em novas perturbações para nos travar nesta senda da reconstrução e desenvolvimento."

JES
[aqui]


COMENTARIO:

Isto lembra-me do recentemente aqui abordado "que alguem lhes conte uma historia, umazinha so'" da autoria de alguem com o "poder real" que a posicao de membro do 'circulo restrito' dos conselheiros de JES lhe confere... e de "umazinha" estoria que ouvi na mansao de cinco empregados e outros tantos carros da "minha amiga" na ultima vez que la' estive, sobre uns "tristemente celebres" 3 dias em que Luanda esteve a "ferro e fogo" no re-eclodir do conflito que se seguiu as eleicoes de 1992: segundo a tal estoria, ficaram todos 'embarrados' em suas casas sem poderem sair a rua e o "grande trauma" que aqueles 3 dias de "guerra em Luanda" lhes causou foi terem ficado "sem nada para comer excepto umas cabecas de lagosta que tinham sobrado do ultimo jantar que tinham tido antes daqueles dias"!...

... O que, penosamente, me invocou a memoria daquele periodo duro em Luanda em que, durante cerca de 3 anos, eu e o meu filho, excepto quando podiamos recorrer a mesa ou a arca frigorifica do Tio Pepe ou do nosso amigo Victor Alexandre, raramente tinhamos outras “iguarias” para comer excepto cabecas de carapau!...

E isso num periodo em que os filhinhos de papai e de mamae, e os eternos betinhos da Vila Alice, que hoje se arrogam a suprema falta de pudor e de caracter de virem a praca publica acusar-me das coisas mais disparatadamente abominaveis e proclamar que "lhes devo tudo o que sou na vida", ou que "me conhecem e 'a minha vida privada melhor do que eu propria(!)", nem sequer se dignavam dirigir-me palavra!... Tendo continuado ao longo dos anos a manter para comigo os comportamentos que descrevo no comentario a este post e agora prosseguem fazendo muita questao de "fingir" que nao leem este blog!...

Mas, naquele periodo, aconteceu uma vez um pequeno “milagre”: um dia pedi boleia com o meu filho a um militar (por sinal mestico) do Kinaxixi para a Xicala. Ele levou-nos e, postos la’, ofereceu-se para nos ir buscar mais tarde e dar-nos de novo boleia para casa, o que aceitei. E assim foi: levou-nos para casa e ficou a saber onde moravamos, embora eu nao o tivesse convidado a entrar. No dia seguinte apareceu-me a porta, fardado como no dia anterior, com uma caixa de mantimentos: arroz, leite, oleo, sabao, etc... Fiquei sem palavras! Ele disse-me que “nao tinha nada que agradecer” e foi-se embora...
Nunca mais o vi, nao me lembro do nome dele e espero apenas que, caso nao tenha morrido ou enlouquecido numa qualquer frente de combate e caso venha a ler isto, saiba que eu nunca me esqueci!...
E como poderia?! Aqueles eram dias em que o guarda do talho do Kinaxixi onde de vez enquando ‘saia’ frangos e ovos, um dia, depois de eu ter aguentado a bicha e os empurroes durante horas, disse-me que “nao me deixava entrar se eu nao fosse para a cama com ele”!!! O mesmo tendo acontecido com o da loja da carne (nem sequer era talho...), onde uma vez por semana ia de madrugada por a minha pedra na bicha, muitas vezes para que outras pessoas passassem a minha frente e no fim acabar por voltar para casa de maos a abanar!...

Claro que nunca fui para a cama com nenhum deles (... a verdade e’ que nunca fui para a cama com homem nenhum em troca do que quer que seja e o facto e’ que nenhum homem, morto ou vivo, ate’ hoje pode dizer que me deu o que quer que seja – e muito menos dinheiro ou qualquer bem material – em troca do que quer que seja!...) e, em ambos os casos, voltei para casa com nada mais do que um misto de incontidas lagrimas de humilhacao mais "revolta e uma vontade grande ter ter respostas"!...

E, ja’ agora, porque umas memorias levam a outras, deixo aqui o registo daquele amigo que tambem nos deu algumas vezes boleia para a praia e que, no Natal de 83/84 nos convidou, a mim e ao meu filho, a passarmos a consoada em sua casa, num dos predios no cimo da Cabral Moncada, com a mulher e os filhos dele – desculpem ter-me esquecido do vosso nome, mas ao casal (por sinal mestico/branca): mais uma vez muito obrigada!

E porque se fala tanto nos "que foram para fora estudar", deixo aqui este registo sobre a minha ida para Portugal como 'pobre e insignificante' estudante bolseira do INABE, sendo que o 'criatura rejeitada' ate' vem bem a proposito, porque a verdade dos factos e' que:

A minha primeira candidatura a bolsa no ano lectivo 1983/84 foi rejeitada, tendo-me sido dito que "nao tinha sido aprovada pelo Departamento de Quadros do Partido". Encontrava-se entao a frente do INABE Francisca do Espirito Santo (FES).

Perante aquela recusa, no ano lectivo seguinte (1984/85) a minha tia pediu especialmente a Manuel Quarta Punza - que conhecia bem a minha familia e a mim em particular de quando ele tinha sido Comissario Provincial do Uige e eu tinha ficado hospedada em sua casa numa minha ida aquela provincia em missao de servico da JMPLA - ajuda para desbloquear a situacao. Este intercedeu junto de um outro responsavel do INABE (por sinal de origem Bakongo) e so' entao a minha candidatura foi aprovada.

Fui entao a Portugal em meados de 1985 na expectativa de comecar o curso naquele ano, mas posta la' confrontei-me com o facto de que, ao contrario de todos os outros bolseiros para aquele ano, nao havia qualquer 'record' da aprovacao da minha bolsa, nem na Embaixada de Angola, nem na Secretaria de Estado da Cooperacao Portuguesa... Tive entao que regressar novamente a Angola para, junto do INABE, resolver a questao e so' assim, no final daquele ano, pude comecar os meus estudos em Portugal com a tal bolsa de #50 angolares e porrada se refilares# literalmente arrancada a ferros!...

E... depois disso ainda tive que enfrentar isto!... E... agora mais isto:

(...) [*] Essa logica torna-se mais complexa ainda quando o poder politico (que aqui se confunde com o estado, ou nao estivessemos em presenca de um "partido-estado" no poder...) se julga e se comporta como "proprietario", nao so' do pais e de todos os seus recursos e riquezas, como tambem de "todo o mundo" que nasceu, cresceu ou viveu sob 'a sua bandeira' (embora se permita votar ao abandono absoluto o 'pioneiro' que pela primeira vez icou tal bandeira!...) , e muito particularmente dos "estudantes bolseiros" que, implicita e explicitamente, assume que "jamais teriam uma formacao media ou superior" nao fossem as suas (famigeradas porque discricionarias, discriminatorias, mal geridas, desencaminhadas, desviadas e, por entre doses de manipulacao, humilhacao e chantagem politica e emocional q.b., em muitos casos, pouco mais do que, a varios titulos, destrutivas!) "bolsas de estudo"... enquanto "os que ficaram" tudo fazem para os estigmatizar e discriminar relativamente a auto-proclamada e novo-enriquecida "prata da casa"!...

Uma logica que, claramente, nao ve o estado (e o partido politico que o detem/sustenta) como "pessoa de bem" para todos e nao apenas para alguns - os "da sua familia, compadrio, confianca, amizade, militancia e/ou conveniencia" - certamente nao para aquela/es que tiveram a veleidade e o "atrevimento politico" de se expressarem e manifestarem a favor da paz "quando nao deviam"!

Assim, porque o poder politico (repitamo-lo: neste caso, o estado) nao e', nem pode ser, "pai grande" para "todo o mundo", os "minions patrioteiros" que "chupam" abundantemente da sua mesa, sacos azuis, envelopes castanhos, cabazes e pactos de regime passam a criar tambem os seus proprios "sub-sistemas de patronagem", tentando a todo o custo grangear "prestigio pessoal" perante a sociedade forjando "a golpes de (Aka)martelo" relacoes manipulativas de subserviencia e dependencia material, financeira e psicologica com os "filhos ilegitimos da patria", i.e. aqueles que o estado, por razoes politicas e afins, faz questao de marginalizar e penalizar (... chegando para tanto a negar-lhes passaportes nacionais, a cercear-lhes/ sabotar-lhes oportunidades academicas e profissionais por si duramente conquistadas, a arruinar-lhes a reputacao, destruir-lhes a personalidade, assassinar-lhes o caracter e a depriva-los dos seus bens e haveres, nomeadamente casas, e da sua mais elementar dignidade humana, transformando-os assim em autenticos mendigos indigentes, enquanto lhes atiram a cara, ainda que falsamente e mesmo que o contrario seja efectivamente o verdadeiro, que "debicaram no seu prato"!), fazendo-os depois "pagar ad-eternum com juros hiper-inflacionados em mercado aberto na praca publica a hipoteca da amizade e familia manipuladas pelo contexto"! Era desse processo que falava, ha' uns tempos, aqui...

Uma realidade, alias, que, curiosamente, foi tambem assinalada nesse tipo de processos de "construcao social" em Cuba, como aqui se pode constatar: "(...) Ferrer points out that this system was also designed to encourage the subservience, indebtedness and gratitude of former slaves to the rebel leaders. While it certainly had this effect, libertos also seized the revolutionary language of freedom, liberty, and justice to demand a more inclusive role in the anti-colonial struggle."

[Aqui]

Et pourtant... "ainda ha' muitas feridas por sarar"... (o que me remete para ESTA outra historia - umazinha, umazinha so'), como por exemplo as "feridas" resultantes dos disparos das armas que FAPLA e FA(P)LA "justa e honestamente" comerciavam entre si para alimentarem a guerra, segundo "inconfidencias" vindas recentemente a publico, ou o uso de "mercenarios" de paises ocidentais e sul-africanos do "nosso lado" da guerra, por entre este tipo de denuncias por Cubanos como Carlos Moore, outras versoes da "historia" como as apresentadas aqui e aqui e o papel que nela tiveram 'firmas' como a Executive Outcomes e outros "internacionalistas" que finalmente conseguiram levar ao 'golpe de misericordia' a Jonas Savimbi... et pourtant!... Ou ainda, de como, no imediato pos-guerra (... ou mesmo ainda antes disso?...) se estabeleceram estreitas relacoes de cooperacao entre os exercitos Angolano e Sul-Africano, enquanto "pobres e insignificantes criaturas rejeitadas" como eu continuam a ser acusadas de "crimes de lesa-patria" e a ser linchadas em praca publica por terem tido o "atrevimento politico" de ir, contratados e pagos pela UE, trabalhar para a SADC com representantes de "paises inimigos" como as Mauricias e a Africa do Sul "sem autorizacao do governo de Angola"!...

Et pourtant... "ainda ha' muitas feridas por sarar"!...

Nao chegou a apropriacao dos espolhos da guerra e dos dividendos da paz: a partilha das minas de diamantes e pocos de petroleo, das terras e empresas, dos bancos e comissoes, das quintas e fazendas, das embaixadas e representacoes, dos premios e galardoes, dos conselhos de administracao e ministerios, das contas, accoes e propriedades offshore, dos yates e avioes, dos porches e lamborghinis, das praias e das clinicas, que "justa e honestamente" fizeram e continuam a fazer entre si e dos quais fazem questao de afastar "todo o mundo" que nao pertenca aos "circulos restritos" das suas familias, clas e feudos, para sarar tais "feridas"?!



"(...) Guerra que terminou há precisamente dez anos, com a morte do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, cujo papel na história continua a ser motivo de discórdia entre os angolanos, embora haja uns quantos “amigos da onça” que, uma década depois, ainda venham com sentimentos paternalistas de virtualidades que só eles conseguem ver, talvez à custa da penosa situação por que passam os sistemas de segurança social dos seus países e que afectam as pensões de reforma que lhes são atribuídas, embora pouco ou nada tenham trabalhado para as justificar.
E das pedras ressurgem, quais fénix, as Marias, Joãos, Anas, Ruis e tantos outros, que apesar de escondidos pelo comprometimento na desgraça nacional, vão, sempre que podem, procurando reenquadrar a sua veia paternalista e sobranceria, como aconteceu esta semana quando tentaram , nova e ridiculamente, reduzir o conflito em Angola a uma questão étnica, pondo em cheque a paz conquistada pelos angolanos e que se tem revelado o bem mais precioso de um país que andou errante durante décadas.
(…)
Mesmo na diversidade de opiniões e na debate democrático gente dessa estirpe não é bem vinda porque só traz ao de cimo recordações que, decididamente, queremos enterrar para construirmos o país com que sonharam os nossos ancestrais, verdadeiramente livre, independente e soberano!"

(Victor Silva - Editorial do Novo Jornal # 214 - 24/02/12)

COMENTARIO: Embora 'aparentemente' esta carga de artilharia, disparada pelo director de um "projecto editorial demasiado independente", seja dirigida 'exclusivamente' a alguns portugueses em Portugal, entre os quais umas certas 'Anas' sem apelido (... onde e' que eu ja' li algo 'vagamente' parecido com isto?...), por 'qualquer razao obscura' ela reverte-me, qual "obus no meu quintal", a este "statelessness state of mind"...


"(…) Com essa expectativa a acentuar-se cada vez mais, à medida que nos formos aproximando da data das eleições, os partidos políticos arremessarão todas as armas ao seu alcance para desferir “golpes mortais” aos seus adversários. Assistiremos, desta forma, a um aumento desbragado do tom da propaganda venenosa de uns contra outros.
A campanha eleitoral será palco de críticas arrasadoras, acusações e contra-acusações. A contra informação terá aqui campo aberto para o “linchamento” de políticos que, perante uma opinião pública desprevenida, poderão ver sentenciado o fim da sua carreira. Viveremos momentos de grande ebulição política, própria das lutas partidárias em tempo de eleições.
Depois de termos participado em duas campanhas eleitorais, nada, desse ponto de vista, nos deve, no entanto, surpreender. Vergamo-nos, há vinte anos, a uma primeira campanha verdadeiramente explosiva, que acabou por descambar num “incêndio político” de proporções catastróficas."

(Gustavo Costa, in Novo Jornal # 207 - 06/01/12)

COMENTARIO: Embora eu nao tenha, nem nunca tenha pretendido ter, qualquer "carreira politica", nao deixei por isso de ser "linchada"!...


(...)

Apenas dois exemplos de “etica ideologica” em accao:

1. Jose’ Agostinho, dirigente da JMPLA e musico dos primordios da Dipanda, cantou uma cancao com esta letra:

(…)
E’ preciso fazer a guerra
Para acabar com a guerra
E’ bom ver disparar
E disparar tambem
E’ bom ver morrer
E’ bom quase morrer
Para melhor compreender
E perceber
Que e’ preciso fazer a guerra
Para acabar com a guerra

(…)


2. As criancas da OPA (Organizacao dos Pioneiros Angolanos - do MPLA), com idades compreendidas entre os 5/6 e 12/13 anos, no mesmo periodo cantavam um hino que rezava assim:

(…)
Eu vou morrer em Angola
Com armas de guerra na mao
Granada sera’ meu caixao
Enterro sera’ na patrulha

(…)

- Ora, dir-se-ha’ que, em ambos os casos, se tratavam de “normais” cancoes de guerra – nada inedito, extraordinario, nem “eticamente reprovavel”: afinal, todas as guerras acabam por criar os seus proprios “cancioneiros” auto-justificativos. E, dependendo de quem justifica a guerra pos-independencia e com que pressupostos ideologicos o faz, dir-se-ha’ ate’ que a cancao de Jose’ Agostinho acabou, a posteriori, por ser “vindicada” pelo desfecho que aquela guerra teve faz agora 10 anos!...

Portanto, ate’ ai, podera’ dizer-se que, do ponto de vista ideologico, “ta’ tudo bem”!...


Mas, e’ do ponto de vista humanistico que comecam os problemas:

- Sera’, antes de mais, a guerra em si mesma, qualquer guerra, “eticamente justificavel” em todas as circunstancias? E, especialmente, quando entre "irmaos" num pais que se pretend(ia)e "Um So' Povo e Uma So' Nacao"?!
- Em ambos os casos, tratavam-se de cancoes destinadas a “condicionar psicologicamente” as criancas e os jovens para a aceitacao da e a participacao na guerra. E, sendo certo que longe estavam ainda os tempos das actuais campanhas internacionais contra o uso de “criancas soldado” em qualquer guerra, nao era a cancao da OPA contraria aos principios da Declaracao Universal dos Direitos da Crianca ja’ entao internacionalmente consagrados e desenvolvidos ao longo das decadas?

Essas apenas duas das questoes fundamentais que, numa primeira abordagem, apelam ao conceito de “etica humanistica” como moralmente superior ao de “etica ideologica”.


Mas, passada essa primeira abordagem, o terreno escorragadio em que se move a “etica ideologica”, veio a revelar-se ainda mais perturbador em ambos os casos:

- Jose’ Agostinho acabou por ser executado pouco depois da Dipanda, na orgia de “violencia revolucionaria” que se seguiu ao 27 de Maio de 1977… e aqui nao poso deixar de me “espantar”, mais uma vez, com a minha “ingenuidade” em relacao aos acontecimentos e personagens a volta daquela tragedia: so’ muito recentemente me foi confirmado que esse foi efectivamente o seu destino, porque naqueles dias disseram-nos, a alguns de nos entao militantes da Jota (... ou seria da "Mocidade Portuguesa"?...), que ele tinha morrido de “uma indigestao ou alergia causada por uns camaroes improprios para consumo que tinha comido”… e eu sempre acreditei nisso… ate’ muito recentemente!...


- Do “destino” de muitos pioneiros da OPA, e especialmente daqueles que realmente andaram de armas na mao (verdadeiras ou de pau) e muitos dos quais foram servir de "carne para canhao" nas frentes de combate, talvez o caso mais paradigmatico seja o do “menino da bandeira”, Diniz Kanhanga, aqui relatado!... Enquanto outros, como este, viriam a ser vitimados por certas "medidas artisticas de caracter profilatico (ou "pornografico"?)"!...

Enfim, em ambos os casos estamos perante facetas da historia de duas geracoes ("de idiotas"?) kruxifikadas pela "violencia revolucionaria" de uma certa "etica ideologica"...


E isso para falar apenas de dois exemplos da “etica ideologica” aplicada ao “nosso contexto”, porque poderiamos discuti-la mais alargadamente nos contextos da ideologia Nazi, ou da Stalinista, ou ainda da que (qualquer que seja a designacao que se lhe de) subjaz as mais recentes guerras do Iraque e Afeganistao… so’ para citar esses “exemplos maiores”!...


K.
[aqui]



VISÃO SOB AS BOTAS DO MONSTRO DA FRONTEIRA



I.

Através do sorriso, o norte
moldado à sorte no recorte
do instante, à morte
vens do poente,
à merce do cenário, a corte



assim te vejo rompendo
entre nevoeiros de amanhecer
ou quando te vens
em poeiras crepusculares.



II.

Não sabes que dos teus dedos
escorre a bomba do neutrão
chupada nos beiços da multidão
entrincheirada nos currais,



não sabes que os teus olhos
já se raiaram de sangue
sob o capacete,
é que o chão abre-se
sugando o líquido das veias
sob as botas.



III.

Sobre a tua opulência cristalizada
erguem-se os meus punhos
diversos dos que viste abertos
quando aqui chegaste



pelo cimo do teu esgar bilioso
abre-se a linha dos meus lábios
em canção de hoje



e amanhã, quando partires apressado,
lembrar-te-ás das minhas ancas
festejando o amanhecer.


[A.S. in S.O.S.]




[All images by Nancy Spero]


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"Contemplar um crime em silêncio é cometê-lo"
José Martí


2 comments:

Anonymous said...

Ana Paula, apenas um reparo. O Zé Agostinho morreu de facto em Lisboa vítima das consequências da sua alergia a mariscos. Nessa altura, o Zé Agostinho liderava um agrupamento musical que incluía o Mário Bento, o Mário Eduardo e outros, que muitas vezes acompanhei como amigo nas suas actuações. Posso garantir-lhe que o Zé Agostinho morreu em Lisboa e não nas circunstâncias que descreve, porque eu estava próximo e sou testemunha. Ninguém me contou. Filipe CS

Koluki said...

Caro Filipe,

Obrigada pelo testemunho. Nao posso, no entanto, deixar de confessar que fiquei agora naquela situacao de "ja' nao sei em quem acreditar"!... Porque, tal como nao tenho razoes para nao acreditar na sua palavra, tambem nao tinha razoes para nao acreditar na pessoa que me "confirmou" a versao que aqui apresento.
Seja como for, ficam aqui registadas as duas versoes - sem receios de se incorrer em "inverdades historicas" porque a verdade vem sempre ao de cima...