Monday 16 November 2009

O DIA EM QUE O LEAO (NAO) COMEU PELA PRIMEIRA VEZ A ESTRELA…



Masque (2003) - Amidou Dossou, Benin

Foi o dia em que alguem, algures entre a Maianga e a Cidade Alta, resolveu que a literatura angolana precisava de algo assim como uma “biblioteca asseptica”: “ja’ era preciso um trabalho assim, uma especie de condensado para que as novas geracoes entendam como a personalidade dos povos de Angola se foi afirmando atraves da literatura…” – tera’ (alegadamente) sentenciado o mais elevado dos espiritas.

Gbé hin azin bo aï djrè (2006) - Cyprien Tokoudagdaba, Benin

Ai instalou-se a tragedia…

Mas, infelizmente, invocados os espiritos (maiores e menores; mais ou menos elevados), a razao nao voltou a sala: engalfinharam-se todos, ao longo de alinhamentos racicos, numa guerra aberta, numa rixa de bar de beco onde so’ faltou puxar canivetes e, no melhor dos casos, em trocas de azedos galhardetes com lugar de destaque nas parangonas…
Ate’ que, aparentemente, acabaram por se decidir mansamente por um fugaz pacto de regime, ou de elites, pois so’ assim ficariam todos copiosamente servidos dos espolios da guerra, em plena comunhao: onde e’ promovido, contemplado, nomeado, agraciado, galardoado, premiado, ou tambem achincalhado, alguem de um lado do bilo, alguem do outro lado tambem tem de o ser… e.g., se num ano e' premiada uma cantora lirica negra, no ano seguinte tem de ser uma "ex-balarina classica" branca; se no espaco de uma semana morrem dois 'epigonos', um de cada lado da barricada e nos antipodas um do outro em termos de mundovisao, ha' que conceder-lhes ex-aequo et bono uma "indelevel heranca intelectual"... e por ai fora.

Récade(2004)- Cyprien Tokoudagdaba, Benin

Assim, nesse ambiente de paz podre, como ovo de cobra se pariu a hipocrita neofita “ideologia dos (pretensos) afectos”, cuja vitima mais notoria tem sido a possibilidade (supostamente conquistada no pos-guerra com os novos tempos de construcao democratica) de qualquer debate intelectual minimamente objectivo, racional e construtivo sobre as questoes de fundo subjacentes a tal disputa - espante-se, pois, a multidao, de que a Historia de Angola, e da Africa em geral, seja pouco mais do que uma eterna sucessao de aparentemente "inexplicaveis", ou "exclusivamente incitadas pelo ocidente", guerras fratricidas...

Acontece, porem, que ha’ pelo meio desse campo de batalha umas estranhas (estrangeiras?) criaturas que nunca nele voluntariamente se meteram, nem nunca se propuseram envolver-se em nenhuma guerra com qualquer dos lados da contenda, mesmo porque para tal nunca foram invocadas ou convocadas e, acima de tudo, nao teem nem nunca tiveram qualquer apetencia pelos espolios em questao.

… OU DE COMO OS SONHOS ANDAM EM PARAFUSO
(PARA USO DESUSO E ABUSO) …

Dangbé (2005)- Cyprien Tokoudagdaba, Benin

Mas… como diz a multidao de cobra ao pescoco e presa ao chao: “sai debaixo, porque onde bilam os elefantes, o capim e’ que paga”, ou seja, as tais estranhas criaturas [“pobres e insignificantes”, segundo uma certa ‘onca chorona’ contra quem, em tempos nao assim tao longinquos mas que agora a todos convem varrer para debaixo do tapete, um dos lados chegou a emitir um abaixo-assinado acusando-a de “sistematicas praticas social e racialmente discriminatorias” (o que a levou, num passe de magica, do dia para a noite, a trocar as sapatilhas de ballet classico pela mascara MwanaPwo para assim se afirmar "mais negra e mais angolana” - no que, diga-se de passagem, a sua famosa, exotica e prestimosa bunDONA muito a tem ajudado - do que os seus criticos todos juntos e, mais ainda, do que a propria Angolanidade… ao ponto de agora ate' se permitir deliberar e ordenar sobre quem "merece" ou nao ser Angolano - o que, de resto, ultimamente vem "fazendo genero" entre certas criaturas de nacionalidade e/ou identidade duvidosa... -, e, agora que se diz "mae da danca contemporanea em Africa (...!)", se calhar ate' da propria Africanidade!), numa certa academia de musica e danca classica – onde, incidentalmente, ha’ vinte e tal anos, numa das unicas tres ocasioes em que me lembro de a ter visto na vida (ja' agora, as duas outras foram, respectivamente, em Luanda, nas imediacoes do Liceu Feminino, quando pela primeira vez lhe reparei no traseiro e, em Lisboa, durante um evento da embaixada de Angola com a presenca de JES, em que ela, como dedicada cortesã e servidora do poder, apresentava uma danca especialmente dedicada a S.Excia.), nao pude deixar de reparar nela num dia em que, como por vezes fazia depois da minha aula de piano com o meu professor kaTchokwe que tinha sido treinado por uma mestra Sovietica, quando geralmente ja’ nao se encontrava mais ninguem no edificio, me entregava ao livre exercicio de “jazzin' up” os acordes classicos que com ele tinha praticado, ela apareceu a porta da sala onde o fazia, acompanhada por um ou dois dos seus ‘leoes’, com o ar inquisitorial-nazi de quem pergunta e diz “qu'essa merda?! porra!!!”, mas, perante o meu olhar sereno, acabou por se retirar com os seus acompanhantes sem uma palavra…]!

Requin (2004) - Cyprien Toukoudagba, Benin

Resulta que a dita “ideologia dos (pretensos) afectos” apenas tem conseguido criar, alimentar e reproduzir “ogros”, ou seja, monstros, vultos e glitterati esquizofrenicos, coadjuvados, quais sombras omnipresentes, omnipotentes e omniscientes, por seus ghost writers, "assistentes de criacao" e "conselheiros tecnicos indigenas" mais suas infaliveis coortes de sycophantas, sedentos de poder absoluto e dominacao exclusiva das parangonas e determinados a destroçar a catanada todos os sonhos que desconseguem usar, abusar e desusar…
E a razao... essa, enquanto o ambiente na sala continua de cortar a catanada, permanece angustiosamente inatingivel num qualquer labirinto entre a lua e a estrela, enquanto a ‘onca chorona’, transmudada na sua outra pele de cobra (Rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs), continua, com toda a destreza e leveza que lhe sao conhecidas, dominando as parangonas e debicando dos pratos patrocinadores do
p(h)oder do estado onde tudo lhe e’ servido de bandeja, com ou sem desfalque: o reino e a vontade!

Mas… como tambem dizem os coitados de chupa no pe’: “o p(h)oder corrompe e o
p(h)oder absoluto corrompe absolutamente”, mas… ta’ tudo bem!




[… mas a musica ja’ nos desce mais 'as maos…]


Ilustracoes (excepto a ultima): Gaïa – Art Moderne et Contemporain d’Afrique (2007)

*****

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Masque (2003) - Amidou Dossou, Benin

Foi o dia em que alguem, algures entre a Maianga e a Cidade Alta, resolveu que a literatura angolana precisava de algo assim como uma “biblioteca asseptica”: “ja’ era preciso um trabalho assim, uma especie de condensado para que as novas geracoes entendam como a personalidade dos povos de Angola se foi afirmando atraves da literatura…” – tera’ (alegadamente) sentenciado o mais elevado dos espiritas.

Gbé hin azin bo aï djrè (2006) - Cyprien Tokoudagdaba, Benin

Ai instalou-se a tragedia…

Mas, infelizmente, invocados os espiritos (maiores e menores; mais ou menos elevados), a razao nao voltou a sala: engalfinharam-se todos, ao longo de alinhamentos racicos, numa guerra aberta, numa rixa de bar de beco onde so’ faltou puxar canivetes e, no melhor dos casos, em trocas de azedos galhardetes com lugar de destaque nas parangonas…
Ate’ que, aparentemente, acabaram por se decidir mansamente por um fugaz pacto de regime, ou de elites, pois so’ assim ficariam todos copiosamente servidos dos espolios da guerra, em plena comunhao: onde e’ promovido, contemplado, nomeado, agraciado, galardoado, premiado, ou tambem achincalhado, alguem de um lado do bilo, alguem do outro lado tambem tem de o ser… e.g., se num ano e' premiada uma cantora lirica negra, no ano seguinte tem de ser uma "ex-balarina classica" branca; se no espaco de uma semana morrem dois 'epigonos', um de cada lado da barricada e nos antipodas um do outro em termos de mundovisao, ha' que conceder-lhes ex-aequo et bono uma "indelevel heranca intelectual"... e por ai fora.

Récade(2004)- Cyprien Tokoudagdaba, Benin

Assim, nesse ambiente de paz podre, como ovo de cobra se pariu a hipocrita neofita “ideologia dos (pretensos) afectos”, cuja vitima mais notoria tem sido a possibilidade (supostamente conquistada no pos-guerra com os novos tempos de construcao democratica) de qualquer debate intelectual minimamente objectivo, racional e construtivo sobre as questoes de fundo subjacentes a tal disputa - espante-se, pois, a multidao, de que a Historia de Angola, e da Africa em geral, seja pouco mais do que uma eterna sucessao de aparentemente "inexplicaveis", ou "exclusivamente incitadas pelo ocidente", guerras fratricidas...

Acontece, porem, que ha’ pelo meio desse campo de batalha umas estranhas (estrangeiras?) criaturas que nunca nele voluntariamente se meteram, nem nunca se propuseram envolver-se em nenhuma guerra com qualquer dos lados da contenda, mesmo porque para tal nunca foram invocadas ou convocadas e, acima de tudo, nao teem nem nunca tiveram qualquer apetencia pelos espolios em questao.

… OU DE COMO OS SONHOS ANDAM EM PARAFUSO
(PARA USO DESUSO E ABUSO) …

Dangbé (2005)- Cyprien Tokoudagdaba, Benin

Mas… como diz a multidao de cobra ao pescoco e presa ao chao: “sai debaixo, porque onde bilam os elefantes, o capim e’ que paga”, ou seja, as tais estranhas criaturas [“pobres e insignificantes”, segundo uma certa ‘onca chorona’ contra quem, em tempos nao assim tao longinquos mas que agora a todos convem varrer para debaixo do tapete, um dos lados chegou a emitir um abaixo-assinado acusando-a de “sistematicas praticas social e racialmente discriminatorias” (o que a levou, num passe de magica, do dia para a noite, a trocar as sapatilhas de ballet classico pela mascara MwanaPwo para assim se afirmar "mais negra e mais angolana” - no que, diga-se de passagem, a sua famosa, exotica e prestimosa bunDONA muito a tem ajudado - do que os seus criticos todos juntos e, mais ainda, do que a propria Angolanidade… ao ponto de agora ate' se permitir deliberar e ordenar sobre quem "merece" ou nao ser Angolano - o que, de resto, ultimamente vem "fazendo genero" entre certas criaturas de nacionalidade e/ou identidade duvidosa... -, e, agora que se diz "mae da danca contemporanea em Africa (...!)", se calhar ate' da propria Africanidade!), numa certa academia de musica e danca classica – onde, incidentalmente, ha’ vinte e tal anos, numa das unicas tres ocasioes em que me lembro de a ter visto na vida (ja' agora, as duas outras foram, respectivamente, em Luanda, nas imediacoes do Liceu Feminino, quando pela primeira vez lhe reparei no traseiro e, em Lisboa, durante um evento da embaixada de Angola com a presenca de JES, em que ela, como dedicada cortesã e servidora do poder, apresentava uma danca especialmente dedicada a S.Excia.), nao pude deixar de reparar nela num dia em que, como por vezes fazia depois da minha aula de piano com o meu professor kaTchokwe que tinha sido treinado por uma mestra Sovietica, quando geralmente ja’ nao se encontrava mais ninguem no edificio, me entregava ao livre exercicio de “jazzin' up” os acordes classicos que com ele tinha praticado, ela apareceu a porta da sala onde o fazia, acompanhada por um ou dois dos seus ‘leoes’, com o ar inquisitorial-nazi de quem pergunta e diz “qu'essa merda?! porra!!!”, mas, perante o meu olhar sereno, acabou por se retirar com os seus acompanhantes sem uma palavra…]!

Requin (2004) - Cyprien Toukoudagba, Benin

Resulta que a dita “ideologia dos (pretensos) afectos” apenas tem conseguido criar, alimentar e reproduzir “ogros”, ou seja, monstros, vultos e glitterati esquizofrenicos, coadjuvados, quais sombras omnipresentes, omnipotentes e omniscientes, por seus ghost writers, "assistentes de criacao" e "conselheiros tecnicos indigenas" mais suas infaliveis coortes de sycophantas, sedentos de poder absoluto e dominacao exclusiva das parangonas e determinados a destroçar a catanada todos os sonhos que desconseguem usar, abusar e desusar…
E a razao... essa, enquanto o ambiente na sala continua de cortar a catanada, permanece angustiosamente inatingivel num qualquer labirinto entre a lua e a estrela, enquanto a ‘onca chorona’, transmudada na sua outra pele de cobra (Rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs), continua, com toda a destreza e leveza que lhe sao conhecidas, dominando as parangonas e debicando dos pratos patrocinadores do
p(h)oder do estado onde tudo lhe e’ servido de bandeja, com ou sem desfalque: o reino e a vontade!

Mas… como tambem dizem os coitados de chupa no pe’: “o p(h)oder corrompe e o
p(h)oder absoluto corrompe absolutamente”, mas… ta’ tudo bem!




[… mas a musica ja’ nos desce mais 'as maos…]


Ilustracoes (excepto a ultima): Gaïa – Art Moderne et Contemporain d’Afrique (2007)

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