E’ verao no hemisferio Norte quando o cacimbo aperta no Sul. E’ verao, e por aqui (no Norte) sucedem-se as feiras da epoca: feiras de rua, de bairro, de cidade, de regiao, onde se (re)descobrem prazeres e sonhos de infancia, de adolescencia, de juventude, de vida. E’ verao em Londres (embora, para nao variar, com muita chuva e mau tempo, e este ano ate' com trovoadas, raios e coriscos pelo meio…) e e’ tempo de feiras locais.
Tantas feiras acabaram por me transportar de volta ‘a “minha decada maldita”: a de 80. Era talvez 84 e eu estava a passar umas ferias em Paris – a segunda vez que visitava a “cidade luz”. Fi-lo com o tipo de “reverencia” que parece apenas servir para nos demonstrar o quanto aquela cidade so’ pode ser completamente “enjoyable” para quem tenha (muito) dinheiro!... Enfim, Paris: uma cidade na verdade (muito) pouco “enjoyable”, “fraternal”, “igualitaria” ou “irma”, et pourtant, na realidade (muito) pouco “romantica”, apesar de toda a propaganda em contrario…
Mas houve uma tarde durante aquelas ferias, em que eu e uma mulher angolana decidimos encontrar-nos para irmos em busca de um pouco do tal “romantismo” que todos temos como a “marca registada” daquela cidade, numa feira de verao nos seus arredores. Foi uma inesperada longa viagem de trem para uma feira muito propagandeada atraves de posters na cidade central, mas que… acabou por se revelar a total flop! Uma completa perda de tempo: nao encontramos la’ nada que pudesse justificar o entusiasmo que ali nos levara e muito menos o nosso (pouco) dinheiro que inutilmente gastaramos para la’ ir! E, ainda por cima, chovia quando la' chegamos!...
Voltamos entao ao centro da cidade, com toda a expectativa que la’ nos levara transformada em frustracao. Mas nao sem antes termos passado por uma estacao de metro em que encontramos um stand de venda de flores aparentemente abandonado… Sem sequer trocarmos muitas palavras, decidimos (inocentemente!), para nos ressarcirmos do desencanto da jornada, levar de la’ um ramo de flores. Mas…. eis que o stand nao estava nada abandonado (o seu dono, ou empregado, estava apenas a alguma distancia) e, de repente, enquanto nos deliciavamos com a frescura, o cheiro e a beleza das flores, vimo-nos perseguidas por ele, ameacando-nos de chamar a policia!... Ja’ nao me lembro bem se acabamos por pagar pelo ramo de flores e levamo-lo, ou se por o devolver pura e simplesmente…
Mas, por entre entusiasmos, frustracoes, aventuras, irreverencias e perseguicoes, foi uma divertida e memoravel jornada – para mim e para uma Mulher a quem nos ultimos tempos me tenho vindo a dirigir como se “nao a conhecesse de parte nenhuma”… muito tempo sem nos vermos – de facto, desde aquele dia – um certo distanciamento das instituicoes e a "separacao das aguas" por que gosto de me pautar em relacao ao poder politico oblige! Mas nao creio que, apesar do tempo, da distancia e das circunstancias, me tenha estado a dirigir a uma pessoa completamente diferente daquela que conheci naquela tarde de verao, na decada de 80, em Paris…
Ja’ entao conhecia as suas irmas, que daqui saudo, e o seu irmao – na altura pos-graduando de Economia naquele pais e agora a bracos com esses sempre tremendos desafios do desenvolvimento em Angola – que, mais tarde, no inicio da decada de 90, durante uma reuniao de membros da sociedade civil e da comunidade Angolana em Portugal, durante a qual tive a oportunidade de apresentar o projecto de actividades em prol da PAZ E DEMOCRACIA no nosso pais pelo grupo de estudantes que representava, ele se demonstrara solidario com a nossa causa, nao tendo no entanto deixado de me advertir dos ‘perigos politicos’ em que incorria … nao me preparou, porem (nada, nem ninguem, o faria!), para as escutas, vigias, perseguicoes e ameacas de morte, que continuam ate’ hoje a determinar o curso da minha vida!
Mas, voltando a Paris, no espirito de “igualdade, irmandade e fraternidade” que nos guiou naquela tarde de verao: Ola’ Carolina!
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