Saturday, 16 July 2011

Burrice e/ou ignorância. Ou seria o contrário?






"A arrogância não é privativa da ignorância, mas pode ser localizada entre aqueles que, por circunstâncias variadas, tiveram maior acesso e oportunidades dentro de uma sociedade pautada pela aparência e pela hipocrisia."


Ignora quem desconhece algo; logo, somos ignorantes em relação àquilo que não aprendemos. Por outro lado, a ignorância só pode ser revertida graças ao processo de aprendizagem.

[...]

Não raro a prepotência arrogante é confundida com a ignorância; na verdade a abriga inúmeras vezes. O arrogante, normalmente, tem um comportamento agressivo, por lhe faltar, muitas vezes, o conhecimento, as condições reais de argumentação qualificada exigidas, por exemplo, em uma situação na qual seja necessário o convencimento de terceiros. Esconde, assim, o não-conhecimento. A ignorância, embora possa encastelar-se de maneira razoavelmente confortável na arrogância, com a mesma não se confunde; antes, a última é útil à primeira.

[...]

Contrário da solidariedade, contrário da aprendizagem, a arrogância se subsume a ela própria. Assim, de tal maneira e por isso a arrogância não é privativa da ignorância, mas pode ser localizada entre aqueles que, por circunstâncias variadas, tiveram maior acesso e oportunidades dentro de uma sociedade pautada pela aparência e pela hipocrisia.

[...]

A burrice é paralisante, de tal modo que não poucas vezes é confundida com a autonegligência. A pessoa se habitua à sua burrice porque aceitou passivamente o estigma do qual é partícipe. Assim, quem se entende burro, assim se entende por assumir sua passividade, embora, inegavelmente, isso atinja sua auto-estima. Esse incomodo, contudo, ainda não é suficiente para retirá-la da sua zona de conforto e pô-la em processo de aprendizagem, enfim, movê-la em direção a um objetivo pessoal ou social. Toda aprendizagem implica em um movimento, em um vir-a-conhecer, em um desafio que confronta a inação mental e física.

Há, portanto, de distinguir-se esses três eixos, confundidos no cotidiano. Ignorância, burrice e arrogância são três infelicitações que mais não fazem do que interferir negativamente no processo de aprendizagem, no relacionamento social e no acesso aos meios de cultura.

[...]

Talvez por aí possamos compreender melhor o que significa a crise de autoridade que vivenciamos, a carência de líderes e a inconsistência de nossos argumentos. Pensar em tais fatos pode nos levar a concretizar decisões que gravitam em uma densidade e uma tensão da qual queremos, confortavelmente, fugir.

Admitamos: somos todos um pouco burros, um pouco ignorantes, um pouco arrogantes. Mas tem gente que é bem mais. Não nos coformemos, contudo; embora a pós-modernidade pregue em tudo o individualismo, resistamos e banquemos La Passionaria. O mundo, de modo geral, agradece.


[Extractos daqui]


Post Relacionado: Kundera's Ignorance






"A arrogância não é privativa da ignorância, mas pode ser localizada entre aqueles que, por circunstâncias variadas, tiveram maior acesso e oportunidades dentro de uma sociedade pautada pela aparência e pela hipocrisia."


Ignora quem desconhece algo; logo, somos ignorantes em relação àquilo que não aprendemos. Por outro lado, a ignorância só pode ser revertida graças ao processo de aprendizagem.

[...]

Não raro a prepotência arrogante é confundida com a ignorância; na verdade a abriga inúmeras vezes. O arrogante, normalmente, tem um comportamento agressivo, por lhe faltar, muitas vezes, o conhecimento, as condições reais de argumentação qualificada exigidas, por exemplo, em uma situação na qual seja necessário o convencimento de terceiros. Esconde, assim, o não-conhecimento. A ignorância, embora possa encastelar-se de maneira razoavelmente confortável na arrogância, com a mesma não se confunde; antes, a última é útil à primeira.

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Contrário da solidariedade, contrário da aprendizagem, a arrogância se subsume a ela própria. Assim, de tal maneira e por isso a arrogância não é privativa da ignorância, mas pode ser localizada entre aqueles que, por circunstâncias variadas, tiveram maior acesso e oportunidades dentro de uma sociedade pautada pela aparência e pela hipocrisia.

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A burrice é paralisante, de tal modo que não poucas vezes é confundida com a autonegligência. A pessoa se habitua à sua burrice porque aceitou passivamente o estigma do qual é partícipe. Assim, quem se entende burro, assim se entende por assumir sua passividade, embora, inegavelmente, isso atinja sua auto-estima. Esse incomodo, contudo, ainda não é suficiente para retirá-la da sua zona de conforto e pô-la em processo de aprendizagem, enfim, movê-la em direção a um objetivo pessoal ou social. Toda aprendizagem implica em um movimento, em um vir-a-conhecer, em um desafio que confronta a inação mental e física.

Há, portanto, de distinguir-se esses três eixos, confundidos no cotidiano. Ignorância, burrice e arrogância são três infelicitações que mais não fazem do que interferir negativamente no processo de aprendizagem, no relacionamento social e no acesso aos meios de cultura.

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Talvez por aí possamos compreender melhor o que significa a crise de autoridade que vivenciamos, a carência de líderes e a inconsistência de nossos argumentos. Pensar em tais fatos pode nos levar a concretizar decisões que gravitam em uma densidade e uma tensão da qual queremos, confortavelmente, fugir.

Admitamos: somos todos um pouco burros, um pouco ignorantes, um pouco arrogantes. Mas tem gente que é bem mais. Não nos coformemos, contudo; embora a pós-modernidade pregue em tudo o individualismo, resistamos e banquemos La Passionaria. O mundo, de modo geral, agradece.


[Extractos daqui]


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