Monday, 25 February 2008

JOAQUIM PINTO DE ANDRADE E GENTIL VIANA (R.I.P.)

[N.B.: Nao era esta, exactamente, a homenagem que me merecem e que planeara em memoria desses dois Mais Velhos. No entanto, tendo sido confrontada com dois blog posts, um deles reproduzido no GVO e onde claramente se confunde a figura de Joaquim com a de Vicente, ou de Justino, Pinto de Andrade... e outro onde este texto da Lusa e' reproduzido sem qualquer indicacao da fonte citada... achei por bem publica-lo aqui.]


Lisboa, 23 Fev (Lusa) - Joaquim Pinto de Andrade e Gentil Ferreira Viana, dois "históricos" do MPLA e protagonistas do movimento dissidente Revolta Activa, morreram hoje, em Luanda e Lisboa, respectivamente. Joaquim Pinto de Andrade, nascido em 1926, morreu vítima de doença prolongada, na sua residência do Bairro Azul, em Luanda, confirmou à Lusa fonte próxima da família.

Gentil Viana, 72 anos, que residia há mais de três décadas em Portugal, faleceu também vítima de doença prolongada, em Lisboa, onde se encontrava hospitalizado, disse à Lusa Vitor Ramalho, amigo do falecido. Os dois "históricos" hoje falecidos estiveram entre os impulsionadores da tendência política Revolta Activa, no seio do MPLA, em que participaram também o irmão de Joaquim Pinto de Andrade, Mário - primeiro presidente do MPLA -, Carlos "Liceu" Vieira Dias, Maria do Céu Carmo Reis e outros intelectuais angolanos.

Esta tendência contestatária da liderança de Agostinho Neto procurava afirmar-se como "independente, plural, não engajada com nenhum dos blocos" em disputa em Angola no pós independência, segundo disse à Lusa Vítor Ramalho, que partilhou durante muitos anos um escritório de advogados com Gentil Viana. Com a Revolta Activa afirmava-se então no MPLA a "Revolta de Leste", liderada por Daniel Chipenda, além do grupo leal a Neto. Em 1975, juntamente com muitos outros intelectuais do MPLA, Gentil Viana é preso e só dois anos depois conseguiria a liberdade.

Numa luta na prisão foi ferido com gravidade num olho, tendo ficado praticamente cego de uma vista. Para a sua libertação, disse à Lusa Vítor Ramalho, intercedeu pessoalmente o general Tito, o líder da então Jugoslávia, país que o acolheu logo após a saída da prisão. Questionado sobre o seu destino de eleição, Viana acaba por se decidir por Portugal, onde se tinha licenciado em Direito nos anos 60, e mais tarde fugido - com outros intelectuais como o moçambicano Joaquim Chissano e o escritor Pepetela - para iniciar um longo périplo que o levaria a Paris, Gana, Congo Brazzaville, Argélia, China, e mais tarde para a guerrilha em Angola.

Divorciado de uma professoria universitária moçambicana residente em Portugal, Gentil Ferreira Viana foi pai de cinco filhos, dois dos quais já falecidos e os outros três residentes em Angola. Neto de um português, Viana voltou a Angola por duas vezes, depois de se estabelecer em Lisboa em 1977 - a primeira logo após os Acordos de Bicesse (1991) e a última há poucos anos. Conta Vítor Ramalho que Viana voltou das viagens a Angola "amargurado pela sua terra", mas "sem guardar ressentimentos a quem quer que fosse".

"Era um conciliador, um homem marcante para quem o conheceu bem. É preciso saber honrar este homem que foi precursor do que há de mais profundo na política. Era respeitado por todas as sensibilidades, um grande amigo de Portugal e dos portugueses", afirma Ramalho. O corpo de Gentil Viana ficará em câmara ardente na Casa de Angola, em Lisboa, a partir das 16:00 de domingo.

Na segunda-feira, o féretro segue para Luanda, cidade natal do político angolano, onde será sepultado. A vida de Gentil Viana cruzou-se, em vários momentos, com a de Joaquim Pinto de Andrade. O seu pai - Frederico Viana, filho de um português - e Pinto de Andrade "pai" foram ambos fundadores da Liga Nacional Africana, movimento político que nos anos 40 e 50 se afirmou como impulsionador da identidade africana nas então colónias.

Também pelos calabouços angolanos passou Joaquim Pinto de Andrade, presidente honorário do MPLA, que se manteve até há pouco tempo activo na política angolana. Esteve ligado ao "fugaz" Partido Reformador Democrático (PRD), que obteve um resultado pouco expressivo nas eleições de 1992. Foi durante umas férias em Portugal, em meados dos anos 90, que adoeceu com gravidade, tendo desde então passado longos períodos hospitalizado. Ainda jovem, abraçou o sacerdócio católico, que abandonou mais tarde para se casar com Vitória Almeida e Sousa, médica pediatra; tiveram dois filhos. Como contou à Lusa em Luanda Jerónimo Belo, amigo de Pinto de Andrade, morreu hoje na capital angolana "um grande nacionalista angolano". PDF/RB. Lusa/Fim
[N.B.: Nao era esta, exactamente, a homenagem que me merecem e que planeara em memoria desses dois Mais Velhos. No entanto, tendo sido confrontada com dois blog posts, um deles reproduzido no GVO e onde claramente se confunde a figura de Joaquim com a de Vicente, ou de Justino, Pinto de Andrade... e outro onde este texto da Lusa e' reproduzido sem qualquer indicacao da fonte citada... achei por bem publica-lo aqui.]


Lisboa, 23 Fev (Lusa) - Joaquim Pinto de Andrade e Gentil Ferreira Viana, dois "históricos" do MPLA e protagonistas do movimento dissidente Revolta Activa, morreram hoje, em Luanda e Lisboa, respectivamente. Joaquim Pinto de Andrade, nascido em 1926, morreu vítima de doença prolongada, na sua residência do Bairro Azul, em Luanda, confirmou à Lusa fonte próxima da família.

Gentil Viana, 72 anos, que residia há mais de três décadas em Portugal, faleceu também vítima de doença prolongada, em Lisboa, onde se encontrava hospitalizado, disse à Lusa Vitor Ramalho, amigo do falecido. Os dois "históricos" hoje falecidos estiveram entre os impulsionadores da tendência política Revolta Activa, no seio do MPLA, em que participaram também o irmão de Joaquim Pinto de Andrade, Mário - primeiro presidente do MPLA -, Carlos "Liceu" Vieira Dias, Maria do Céu Carmo Reis e outros intelectuais angolanos.

Esta tendência contestatária da liderança de Agostinho Neto procurava afirmar-se como "independente, plural, não engajada com nenhum dos blocos" em disputa em Angola no pós independência, segundo disse à Lusa Vítor Ramalho, que partilhou durante muitos anos um escritório de advogados com Gentil Viana. Com a Revolta Activa afirmava-se então no MPLA a "Revolta de Leste", liderada por Daniel Chipenda, além do grupo leal a Neto. Em 1975, juntamente com muitos outros intelectuais do MPLA, Gentil Viana é preso e só dois anos depois conseguiria a liberdade.

Numa luta na prisão foi ferido com gravidade num olho, tendo ficado praticamente cego de uma vista. Para a sua libertação, disse à Lusa Vítor Ramalho, intercedeu pessoalmente o general Tito, o líder da então Jugoslávia, país que o acolheu logo após a saída da prisão. Questionado sobre o seu destino de eleição, Viana acaba por se decidir por Portugal, onde se tinha licenciado em Direito nos anos 60, e mais tarde fugido - com outros intelectuais como o moçambicano Joaquim Chissano e o escritor Pepetela - para iniciar um longo périplo que o levaria a Paris, Gana, Congo Brazzaville, Argélia, China, e mais tarde para a guerrilha em Angola.

Divorciado de uma professoria universitária moçambicana residente em Portugal, Gentil Ferreira Viana foi pai de cinco filhos, dois dos quais já falecidos e os outros três residentes em Angola. Neto de um português, Viana voltou a Angola por duas vezes, depois de se estabelecer em Lisboa em 1977 - a primeira logo após os Acordos de Bicesse (1991) e a última há poucos anos. Conta Vítor Ramalho que Viana voltou das viagens a Angola "amargurado pela sua terra", mas "sem guardar ressentimentos a quem quer que fosse".

"Era um conciliador, um homem marcante para quem o conheceu bem. É preciso saber honrar este homem que foi precursor do que há de mais profundo na política. Era respeitado por todas as sensibilidades, um grande amigo de Portugal e dos portugueses", afirma Ramalho. O corpo de Gentil Viana ficará em câmara ardente na Casa de Angola, em Lisboa, a partir das 16:00 de domingo.

Na segunda-feira, o féretro segue para Luanda, cidade natal do político angolano, onde será sepultado. A vida de Gentil Viana cruzou-se, em vários momentos, com a de Joaquim Pinto de Andrade. O seu pai - Frederico Viana, filho de um português - e Pinto de Andrade "pai" foram ambos fundadores da Liga Nacional Africana, movimento político que nos anos 40 e 50 se afirmou como impulsionador da identidade africana nas então colónias.

Também pelos calabouços angolanos passou Joaquim Pinto de Andrade, presidente honorário do MPLA, que se manteve até há pouco tempo activo na política angolana. Esteve ligado ao "fugaz" Partido Reformador Democrático (PRD), que obteve um resultado pouco expressivo nas eleições de 1992. Foi durante umas férias em Portugal, em meados dos anos 90, que adoeceu com gravidade, tendo desde então passado longos períodos hospitalizado. Ainda jovem, abraçou o sacerdócio católico, que abandonou mais tarde para se casar com Vitória Almeida e Sousa, médica pediatra; tiveram dois filhos. Como contou à Lusa em Luanda Jerónimo Belo, amigo de Pinto de Andrade, morreu hoje na capital angolana "um grande nacionalista angolano". PDF/RB. Lusa/Fim

4 comments:

AGRY said...

A propósito desta postagem, decidi-me por visitar o blog que refere no seu texto.
Aí, deixei este brevissimo comentário:

Recomendo-te que visites o blog Koluki
http://koluki.blogspot.com/2008/02/joaquim-pinto-de-andrade-e-gentil-viana.html
do que conheço da autora, é uma pessoa culta e merecedora de toda a credibilidade. A sua postagem terá a ver com o rigor e os afectos em relação aos compatriotas lá mencionados
Abraço
Corro o risco de alguém me recordar que de boas intenções estar o inferno cheio.Fi-lo apenas para evitar atritos que não conduzem a lado nenhum

ELCAlmeida said...

Caríssimo, o que indica ter sido citado no GVO penso que é o apontamento por mim colocado. Em caso contrário peço desculpa por me meter onde não deveria ser chamado, se sim não me referia nem aao justino dem ao irmão Vicente mas a Joaquim, quando, e pesnos que se deveria querer referir a isso, quando, dizia, este esteve no Tribunal a apoioar Miala. Naturalmente não estava presente. Foram pessoas que estavam em Luanda na altura - e foi mais de uma pessoa a confirmá-lo - que o referiu. Note-se que nem Justino nem Vicente são vozes discretas na sua crítica ao actual sistema Governativo, nomeadamente o Vicente como bem os conheço e com eles convivi no meu pré e pós-Mestrado.
Cumprimentos e venham sempre as críticas justas e pertinentes como as que aqui, por norma deixa, que, por mim fico-lhe sempre grato. Só não erra quem não faz ou, no nosso caso, escreve e comenta.
Cumprimentos
Eugénio Almeida

Koluki said...

Agry: Obrigada pelo comentario.

EC Almeida: Espero que tenha reparado que sou mulher, portanto, "carissima"...
Quanto a questao do seu artigo, devo dizer-lhe que conheco (e muito bem e de ha' longos anos, tanto de Angola, como de Portugal) as pessoas envolvidas.
Acontece, porem, que me pauto, neste blog e em todos os espacos onde publico, pela absoluta discrecao (quantas vezes em detrimento da minha propria credibilidade...) em relacao as pessoas que conheco pessoalmente e as coisas que poderei ou nao ter ouvido delas.
Sou uma pessoa que acompanho a actualidade angolana de muito perto, mesmo quando ausente do pais e sei bem o quanto nem tudo o que se ouve, mesmo se sob "juras por Deus" e' necessariamente credivel, como de resto tambem devera' saber muito bem. Sabera' tambem que e' muito comum confundirem-se os Pinto de Andrade...
Admito, naturalmente, que errar e' humano e que tambem nao estou livre de errar. E' por essa razao que faco questao (ficou-me pelo menos esse "mau habito" da minha pratica jornalistica) de que as fontes, particularmente as que se referem a afirmacoes e/ou actos atribuidos a pessoas publicas sejam publicadas - dessa forma nao so' salvaguardamos a nossa credibilidade, como nos protegemos do erro, a que naturalmente ninguem se pode conderar imune.

Cumprimentos.

Anonymous said...

Espelho, espelho meu…

“Quando comecei nesta profissão (eu sei que foi há muito, muito tempo), ensinaram-me que no Jornalismo a única tarefa humilhante é a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência.
Hoje as coisas são diferentes. Muito diferentes. Hoje o que vale é a mentira, a deslealdade, o ódio pessoal, a ambição mesquinha, a inveja e a incompetência. Portanto...”
O presumível autor desse discurso tão bonito é um tal de OC, portanto…
Ele deve ter encontrado a inspiração na sua própria imagem no espelho!