Friday, 15 February 2008

MARIA, DALILA & A PURGA

Apenas nos ultimos dias tive oportunidade de ler a polemica entrevista que Maria Eugenia Neto, viuva de Agostinho Neto, concedeu recentemente ao semanario Expresso. Algumas das suas afirmacoes naquela entrevista levaram a investigadora Dalila Cabrita Mateus, autora do livro “A Purga” sobre o 27 de Maio de 1977 em Angola, a mover-lhe uma accao judicial: “Apresentei uma queixa-crime ontem à noite (quinta-feira à noite) no DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) porque me senti difamada”, disse à Agência Lusa Dalila Cabrita Mateus. “Senti-me ofendida porque (Maria Eugénia Silva Neto) chamou-me mentirosa e desonesta. É o meu nome e o meu trabalho que está em causa”, sublinhou.”
(Mais detalhes aqui)

Entretanto, sem comentarios adicionais (a nao ser para notar o lamentavel erro do Expresso, que legenda uma fotografia de Nito Alves com estes dizeres: “Nito Alves, o lider da ‘Revolta Activa’…”), aqui ficam algumas passagens da entrevista em causa:

Ainda e’ portuguesa?
Sou, nao quis mudar de nacionalidade.

Tem dupla nacionalidade?
Sim, ofereceram-me a nacionalidade (angolana).

Tem passaporte portugues?
Tenho.

No bilhete de identidade de Angola vem mencionada a raca. Concorda?
Ha’ pessoas que ficam muito ofendidas, mas nao sei se isso e’ uma ofensa.

Quando entra em Portugal qual e’ que usa?
Uso sempre o angolano, e’ mais facil. O meu passaporte e’ diplomatico.

A senhora e’ militante do MPLA?
Sou mais que militante.

Mas nunca se inscreveu!
Sou uma militante acerrima, mas sem estar inscrita.

Havia casais mistos em Lisboa?
Eram rarissimos.

E em Luanda?
Tambem havia poucos.

Pensava fazer algum curso?
Nao houve hipotese, quis sempre estar ao pe’ dele. Sentia-me insegura, nunca tinha saido debaixo da saia da minha mae.


Como foi a chegada a Luanda?
Uma apoteose. Muito bonito. Um mar de gente no aeroporto.

Ultrapassou as vossas expectativas?
Sim. Pelo menos as dele.

Isso foi muito obra do MPLA do interior.
Sim, ele nunca deixou a 1a. Regiao nas maos de ninguem. Ele tinha um grande orgulho nos “meninos” da sua 1a. Regiao. E’ por essa razao que isso do Nito Alves e’ um grande drama historico.

O MPLA sofreu algumas convulsoes: Chipenda, a Revolta Activa…
Embora essa palavra ja’ nao se use, isso tudo e’ obra do imperialismo, porque nao interessava que Agostinho Neto chegasse la’ forte, e que ficasse a frente, so’, daquele pais. Estupidos! Ele era o homem da paz, da concordia e da amizade entre os povos, nao sei porque tinham medo.

Os Pinto de Andrade eram instrumentalizados pelo imperialismo?
Acho que sim. Quando fizeram a Revolta Activa, tiveram contactos com petroliferas e tudo! Nao sou eu que o digo, sao alguns deles que o dizem – inclusive o Belli-Bello.

Conheceu o Nito Alves, claro…
Nao o conheci profundamente. Nunca tive contactos pessoais.

Mas o Presidente tinha.
Sim, ele era do Bureau Politico.

Tinha sido da confianca pessoal de Neto.
Foi so’ no Congresso (de Lusaka, em 1974) que o conheceu.

E representou o MPLA no Congresso do Partido Comunista da Uniao Sovietica, em 1976.
Foi a asneira que ele fez.

Asneira porque?
Porque mostrou o que era: um canalha! O Presidente confiou nele, deu-lhe prestigio por ter sido resistente da 1a Regiao. Chegou la’ e disse aos Sovieticos: agora sou eu!

Isso deu forca ao Nito Alves?
Claro. Os sovieticos, em lugar de porem o retrato do Presidente Neto no congresso. puseram o do Nito Alves. Compraram-no logo.

Conhecia o Jose’ Vandunem?
Nao conheci.

E a ex-militante do PCP Sita Valles?
Nao, o senhor conheceu-os a todos, nao?

Nao, mas tenho procurado ler alguma coisa sobre o assunto.
O problema e’ que a maior parte das coisas que se le sao mentiras. Mesmo o primeiro livro do Iko Carreira. Ele diz que encontraram 200 culpados e que foram ao Presidente Neto, que homologou as listas – mas que estas desapareceram. Perguntei ao Iko onde estava o documento do Presidente a dizer que ninguem liquida ninguem sem a minha assinatura – e ele baixou a cabeca. Passou esse documento quando comecou a saber dos disparates que andavam a fazer.

Mas o seu marido tinha ido a televisao dizer que nao haveria perdao…
Nao! Essa e’ a frase em que os malandros pegam. Ele disse: eles mataram. Eles, eram os cabecilhas! Quem matou nao tinha sido a juventude.

Isso nao e’ nada claro no discurso televisivo.
Nao e’ claro para quem nao quiser. Eles mataram. Os miudos nao tinham morto. Eles, eram os cabecilhas, que nao teem perdao. Muitas maozinhas estiveram interessadas em fazer confusao.

O seu marido referia-se apenas aos cabecilhas?
Claro. Claro.

Mas isso nao foi entendido assim.
Porque nao quiseram entender. Quando foi da morte do Nito Alves, quiseram que ele assinasse – nao sei se assinou. Estava tao revoltado que me disse: “Aos miudos, que eram quase todos recuperaveis, mataram sem a minha assinatura; este que e’ culpado, querem que assine.” O Armenio Ferreira disse-me que ele nao assinou, foram 15 generais que assinaram.

Sabe que a Sita Valles estava gravida quando foi presa?
Nao quero entrar nesses pormenores. Nao estava dentro disso, nem fui eu que mandei fazer atrocidades… Mas olhe que nunca ninguem perguntou: e se eles tivessem ganho? O que nao teriam feito? Se, logo de inicio, mataram seis (os melhores e mais fieis ao Presidente Neto e os queimaram no Roque Santeiro), imagine o que nao iriam fazer. Nos tinhamos sido todos limpos!

Uma coisa e’ o Nito Alves, outra coisa sao os 30 mil mortos!
Isso e’ mentira. Essa senhora e’ desonesta, e’ mentirosa (referencia a Dalila Mateus, co-autora do livro “Purga em Angola”).

Entao quantas pessoas morreram?
No sei, nao estava dentro de nada. Mas isso e’ mentira.

Ja’ passaram 30 anos e ainda nao se sabe quantos foram os mortos!
Estou-lhe a dizer que nao sei. Nao estava dentro desses assuntos. Nem o meu marido devia estar, porque isso era uma coisa militar.

Conheceu Jonas Savimbi?
Nao muito bem.

Acha que foi mau para Angola?
Acha que foi bom?

Nao sei, estou a perguntar-lhe…
Acho que foi um criminoso terrivel. O meu marido, num discurso em Cabinda (em 1978, salvo erro), decretou o perdao para toda a gente: fraccionistas, Revolta Activa, todos. Inaugurou entao uma era de paz. Mas aqui em Portugal, durante estes anos todos, estao sempre a repisar no mesmo assunto. Nao falam nos crimes que se cometeram na Guine’, em que se cortou o Ansumane Mane’ aos bocados… Angola esta’ sempre na berlinda. E com um odio, de nao estar la’, ou de nao usufruir das riquezas. E’ uma coisa impressionante. E agora surge o livro dessa senhora… Ja’ no outro (“A Luta Pela Independencia”), tive uma discussao, porque nao deu a realidade dos pais fundadores… Li o outro, deste nem quero saber!

Ha’ democracia em Angola?
Olhe, o que eu acho e’ que quando havia partido unico as pessoas falavam muito mais do que hoje. De tal maneira eles tinham liberdade que ate’ montaram um golpe de Estado – e nas calmas…

Porque que o seu marido morreu na URSS?
Ele nao queria ir. Mas nao quero falar nisso.

Nao tinha confianca?
Nao devia ter.

Poderia ser bem tratado em Luanda?
Nao. Estava para la’ ir uma medica inglesa, mas nao chegou a tempo.

Quais eram as alternativas?
Ha’ tantas alternativas no mundo! E Angola tinha dinheiro, pagava!

Quem decidiu que iria para a URSS?
Foi o medico dele – e concerteza o partido tambem esteve de acordo. Mas nao sei, sao coisas em que nao meti o nariz.

O medico dele era…
… na altura era o dr. Eduardo dos Santos.

A senhora acompanhou-o ate’ Moscovo?
Mas nao adiantou nada – nao fui para a sala de operacoes e mesmo que fosse nao percebia nada.

Tem alguma reserva ou desconfianca?
Nao posso dizer nada, mas o que sei e’ que, nesta epoca, uma pessoa nao acordar de uma operacao e’ um bocado esquisito…

Foi operado concretamente a que?
Eles dizem que foi ao pancreas. Se foi ou nao…

Diz-se que tinha uma cirrose ja’ adiantada.
Sei la’ se e’ verdade!



Diz-se tambem que bebia muito.
Isso e’mentira! Isso e’ o que dizem. Como nao tinham mais nada em que pegar…

Mas olhe que e’ comum dizerem isso. Mesmo dento do MPLA…
Eu sei que e’. Mas e’ mentira. Eles sao terriveis. Nunca vi o meu marido bebado. Nem eu, nem os meus filhos. E como e’ que uma pessoa bebada podia ter tanto trabalho, preocupacoes e tomar aquelas decisoes tremendas? Os politicos sao assim. Quando ele bebia uisque, bebia um bocadinho e o copo cheio de agua.

Foi o seu unico amor?
Foi. Era um homem com um caracter tao nobre, tao humano, com um sentido de justica tal, que me penetrou profundamente. Tudo aquilo que ha’ de melhor em mim e’ tocado pela profundidade daquela poesia. Um homem daqueles, que escreve a Sagrada Esperanca, nao pode ser um criminoso. E eu nao estaria aqui a apoiar um criminoso. Se aconteceu essa desgraca, isso nao foi ele. Ha’ uma frase que ele disse no Palacio: “Aqui onde me puseram, onde nem ouco a chuva.” Isso, em termos africanos, quer dizer muito.
Ele queria sair, mas estava amarrado.
Apenas nos ultimos dias tive oportunidade de ler a polemica entrevista que Maria Eugenia Neto, viuva de Agostinho Neto, concedeu recentemente ao semanario Expresso. Algumas das suas afirmacoes naquela entrevista levaram a investigadora Dalila Cabrita Mateus, autora do livro “A Purga” sobre o 27 de Maio de 1977 em Angola, a mover-lhe uma accao judicial: “Apresentei uma queixa-crime ontem à noite (quinta-feira à noite) no DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) porque me senti difamada”, disse à Agência Lusa Dalila Cabrita Mateus. “Senti-me ofendida porque (Maria Eugénia Silva Neto) chamou-me mentirosa e desonesta. É o meu nome e o meu trabalho que está em causa”, sublinhou.”
(Mais detalhes aqui)

Entretanto, sem comentarios adicionais (a nao ser para notar o lamentavel erro do Expresso, que legenda uma fotografia de Nito Alves com estes dizeres: “Nito Alves, o lider da ‘Revolta Activa’…”), aqui ficam algumas passagens da entrevista em causa:

Ainda e’ portuguesa?
Sou, nao quis mudar de nacionalidade.

Tem dupla nacionalidade?
Sim, ofereceram-me a nacionalidade (angolana).

Tem passaporte portugues?
Tenho.

No bilhete de identidade de Angola vem mencionada a raca. Concorda?
Ha’ pessoas que ficam muito ofendidas, mas nao sei se isso e’ uma ofensa.

Quando entra em Portugal qual e’ que usa?
Uso sempre o angolano, e’ mais facil. O meu passaporte e’ diplomatico.

A senhora e’ militante do MPLA?
Sou mais que militante.

Mas nunca se inscreveu!
Sou uma militante acerrima, mas sem estar inscrita.

Havia casais mistos em Lisboa?
Eram rarissimos.

E em Luanda?
Tambem havia poucos.

Pensava fazer algum curso?
Nao houve hipotese, quis sempre estar ao pe’ dele. Sentia-me insegura, nunca tinha saido debaixo da saia da minha mae.


Como foi a chegada a Luanda?
Uma apoteose. Muito bonito. Um mar de gente no aeroporto.

Ultrapassou as vossas expectativas?
Sim. Pelo menos as dele.

Isso foi muito obra do MPLA do interior.
Sim, ele nunca deixou a 1a. Regiao nas maos de ninguem. Ele tinha um grande orgulho nos “meninos” da sua 1a. Regiao. E’ por essa razao que isso do Nito Alves e’ um grande drama historico.

O MPLA sofreu algumas convulsoes: Chipenda, a Revolta Activa…
Embora essa palavra ja’ nao se use, isso tudo e’ obra do imperialismo, porque nao interessava que Agostinho Neto chegasse la’ forte, e que ficasse a frente, so’, daquele pais. Estupidos! Ele era o homem da paz, da concordia e da amizade entre os povos, nao sei porque tinham medo.

Os Pinto de Andrade eram instrumentalizados pelo imperialismo?
Acho que sim. Quando fizeram a Revolta Activa, tiveram contactos com petroliferas e tudo! Nao sou eu que o digo, sao alguns deles que o dizem – inclusive o Belli-Bello.

Conheceu o Nito Alves, claro…
Nao o conheci profundamente. Nunca tive contactos pessoais.

Mas o Presidente tinha.
Sim, ele era do Bureau Politico.

Tinha sido da confianca pessoal de Neto.
Foi so’ no Congresso (de Lusaka, em 1974) que o conheceu.

E representou o MPLA no Congresso do Partido Comunista da Uniao Sovietica, em 1976.
Foi a asneira que ele fez.

Asneira porque?
Porque mostrou o que era: um canalha! O Presidente confiou nele, deu-lhe prestigio por ter sido resistente da 1a Regiao. Chegou la’ e disse aos Sovieticos: agora sou eu!

Isso deu forca ao Nito Alves?
Claro. Os sovieticos, em lugar de porem o retrato do Presidente Neto no congresso. puseram o do Nito Alves. Compraram-no logo.

Conhecia o Jose’ Vandunem?
Nao conheci.

E a ex-militante do PCP Sita Valles?
Nao, o senhor conheceu-os a todos, nao?

Nao, mas tenho procurado ler alguma coisa sobre o assunto.
O problema e’ que a maior parte das coisas que se le sao mentiras. Mesmo o primeiro livro do Iko Carreira. Ele diz que encontraram 200 culpados e que foram ao Presidente Neto, que homologou as listas – mas que estas desapareceram. Perguntei ao Iko onde estava o documento do Presidente a dizer que ninguem liquida ninguem sem a minha assinatura – e ele baixou a cabeca. Passou esse documento quando comecou a saber dos disparates que andavam a fazer.

Mas o seu marido tinha ido a televisao dizer que nao haveria perdao…
Nao! Essa e’ a frase em que os malandros pegam. Ele disse: eles mataram. Eles, eram os cabecilhas! Quem matou nao tinha sido a juventude.

Isso nao e’ nada claro no discurso televisivo.
Nao e’ claro para quem nao quiser. Eles mataram. Os miudos nao tinham morto. Eles, eram os cabecilhas, que nao teem perdao. Muitas maozinhas estiveram interessadas em fazer confusao.

O seu marido referia-se apenas aos cabecilhas?
Claro. Claro.

Mas isso nao foi entendido assim.
Porque nao quiseram entender. Quando foi da morte do Nito Alves, quiseram que ele assinasse – nao sei se assinou. Estava tao revoltado que me disse: “Aos miudos, que eram quase todos recuperaveis, mataram sem a minha assinatura; este que e’ culpado, querem que assine.” O Armenio Ferreira disse-me que ele nao assinou, foram 15 generais que assinaram.

Sabe que a Sita Valles estava gravida quando foi presa?
Nao quero entrar nesses pormenores. Nao estava dentro disso, nem fui eu que mandei fazer atrocidades… Mas olhe que nunca ninguem perguntou: e se eles tivessem ganho? O que nao teriam feito? Se, logo de inicio, mataram seis (os melhores e mais fieis ao Presidente Neto e os queimaram no Roque Santeiro), imagine o que nao iriam fazer. Nos tinhamos sido todos limpos!

Uma coisa e’ o Nito Alves, outra coisa sao os 30 mil mortos!
Isso e’ mentira. Essa senhora e’ desonesta, e’ mentirosa (referencia a Dalila Mateus, co-autora do livro “Purga em Angola”).

Entao quantas pessoas morreram?
No sei, nao estava dentro de nada. Mas isso e’ mentira.

Ja’ passaram 30 anos e ainda nao se sabe quantos foram os mortos!
Estou-lhe a dizer que nao sei. Nao estava dentro desses assuntos. Nem o meu marido devia estar, porque isso era uma coisa militar.

Conheceu Jonas Savimbi?
Nao muito bem.

Acha que foi mau para Angola?
Acha que foi bom?

Nao sei, estou a perguntar-lhe…
Acho que foi um criminoso terrivel. O meu marido, num discurso em Cabinda (em 1978, salvo erro), decretou o perdao para toda a gente: fraccionistas, Revolta Activa, todos. Inaugurou entao uma era de paz. Mas aqui em Portugal, durante estes anos todos, estao sempre a repisar no mesmo assunto. Nao falam nos crimes que se cometeram na Guine’, em que se cortou o Ansumane Mane’ aos bocados… Angola esta’ sempre na berlinda. E com um odio, de nao estar la’, ou de nao usufruir das riquezas. E’ uma coisa impressionante. E agora surge o livro dessa senhora… Ja’ no outro (“A Luta Pela Independencia”), tive uma discussao, porque nao deu a realidade dos pais fundadores… Li o outro, deste nem quero saber!

Ha’ democracia em Angola?
Olhe, o que eu acho e’ que quando havia partido unico as pessoas falavam muito mais do que hoje. De tal maneira eles tinham liberdade que ate’ montaram um golpe de Estado – e nas calmas…

Porque que o seu marido morreu na URSS?
Ele nao queria ir. Mas nao quero falar nisso.

Nao tinha confianca?
Nao devia ter.

Poderia ser bem tratado em Luanda?
Nao. Estava para la’ ir uma medica inglesa, mas nao chegou a tempo.

Quais eram as alternativas?
Ha’ tantas alternativas no mundo! E Angola tinha dinheiro, pagava!

Quem decidiu que iria para a URSS?
Foi o medico dele – e concerteza o partido tambem esteve de acordo. Mas nao sei, sao coisas em que nao meti o nariz.

O medico dele era…
… na altura era o dr. Eduardo dos Santos.

A senhora acompanhou-o ate’ Moscovo?
Mas nao adiantou nada – nao fui para a sala de operacoes e mesmo que fosse nao percebia nada.

Tem alguma reserva ou desconfianca?
Nao posso dizer nada, mas o que sei e’ que, nesta epoca, uma pessoa nao acordar de uma operacao e’ um bocado esquisito…

Foi operado concretamente a que?
Eles dizem que foi ao pancreas. Se foi ou nao…

Diz-se que tinha uma cirrose ja’ adiantada.
Sei la’ se e’ verdade!



Diz-se tambem que bebia muito.
Isso e’mentira! Isso e’ o que dizem. Como nao tinham mais nada em que pegar…

Mas olhe que e’ comum dizerem isso. Mesmo dento do MPLA…
Eu sei que e’. Mas e’ mentira. Eles sao terriveis. Nunca vi o meu marido bebado. Nem eu, nem os meus filhos. E como e’ que uma pessoa bebada podia ter tanto trabalho, preocupacoes e tomar aquelas decisoes tremendas? Os politicos sao assim. Quando ele bebia uisque, bebia um bocadinho e o copo cheio de agua.

Foi o seu unico amor?
Foi. Era um homem com um caracter tao nobre, tao humano, com um sentido de justica tal, que me penetrou profundamente. Tudo aquilo que ha’ de melhor em mim e’ tocado pela profundidade daquela poesia. Um homem daqueles, que escreve a Sagrada Esperanca, nao pode ser um criminoso. E eu nao estaria aqui a apoiar um criminoso. Se aconteceu essa desgraca, isso nao foi ele. Ha’ uma frase que ele disse no Palacio: “Aqui onde me puseram, onde nem ouco a chuva.” Isso, em termos africanos, quer dizer muito.
Ele queria sair, mas estava amarrado.

2 comments:

umBhalane said...

Muito ainda há para escrever sobre a história do MPLA e de Angola.

Como é natural.

Esta entrevista ainda me causa arrepios, quando já me julgava imune a eles.

O que até é bom, vendo bem.

A couraça dos anos ainda não me fez perder completamente a sensibilidade.

Koluki said...

Pois ainda bem que assim e'.
A sensibilidade, tal como a esperanca, ou talvez ate' mais do que esta, deve ser a ultima a morrer.
O problema e' que as vezes e' a nossa sensibilidade que nos faz morrer, de varias formas.