Saturday, 22 September 2007

POLITICA, FUTEBOL E...






... ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A ACTUAL CONJUNTURA ECONÓMICA ANGOLANA*

A par da política e do futebol, a economia apresenta-se sempre como uma das áreas da vida social que mais se prestam a debates apaixonados, particularmente em períodos de grandes expectativas e de críticas decisões. Neste momento, o debate, ou melhor, as atenções da opinião pública, sobre a economia do país parecem centrar-se em três vectores fundamentais:

1. A solidez, ou falta dela, da corrente “estabilização macroeconómica”;
2. O “delírio criativo” que parece assolar o sector bancário nacional;
3. As opções estratégicas de desenvolvimento do país que, idealmente, deveriam ancorar-se no anunciado “plano de desenvolvimento para os próximos 25 anos” mas que, por esse estar ainda a ser alinhavado e dada a premência das questões a ele subjacentes, fazendo juz à afirmação de Keynes segundo a qual “no longo prazo estaremos todos mortos”, emergem um pouco de todas e quaisquer discussões sobre a vida diária do cidadão comum – e estas, mesmo que originadas no foro da economia, acabam por incluir a política e o futebol.

As considerações que se seguem, no entanto, pretendem ser estritamente económicas e versarão um pouco sobre cada um dos três vectores acima enunciados.
(...)

I. INFLAÇÃO E NÍVEL DE VIDA, OU O VELHO “FETICHISMO DA MOEDA”

Seria necessária alguma dose de má fe para se não reconhecer e creditar devidamente os méritos do governo na obtenção do que se convencionou chamar “estabilização macroecónomica”. No entanto, seria igualmente mal avisado tomar-se essa estabilização como um dado adquirido, total e irreversível. Quanto mais não seja porque ela parece resumir-se a pouco mais do que um melhor desempenho monetário e uma impressiva contenção da inflacão, ambos ancorados na chamada “política do Kwanza forte” (com o devido respeito, protestos da “equipa económica” não obstante…), obtida através de medidas que, sendo técnicamente sustentadas, não deixam, contudo, de ser conjunturais, tais como a injecção massiva de dólares no mercado e a manipulação “laboratorial” da taxa de câmbio (política que, paradoxalmente, não difere muito em termos substantivos da dos longos anos de câmbio fixo em que tivémos “por artes mágicas” USD1=KZ30).
(...)

II. DESEMPREGO, EXPECTATIVAS E O “FUTURO AMARELO”

Embora, em resultado da valorização do Kwanza, em condições normais se pudesse vaticinar um potencial aumento da propensão marginal a poupar, induzido por uma maior confiança dos agentes económicos (indiciada, aliás, pelo recentemente publicitado aumento dos depósitos em moeda nacional), as baixas taxas de juro que se esperam obter com a baixa inflação não irão incentivar a poupança líquida – certamente não no curto a médio prazo – o que é agravado por essa potencial tendência não ser acompanhada por uma diminuição da propensão marginal ao consumo, quer devido a algumas das nossas características culturais, quer porque esta é sempre tanto maior quanto menor fôr o rendimento disponível dos cidadãos – 98% dos quais vive com menos de 2 dólares por dia, o que, mesmo que por absurdo quisessem endividar-se para investir, não lhes chega para suportar as taxas de juro comerciais, mesmo que mais baixas e acessíveis sem compadrios.
(...)

III. ESTIMULAR E DIVERSIFICAR A ECONOMIA REAL, OU A CRIAÇÃO DE UM CICLO VIRTUOSO DE RIQUEZA

Quando tudo isso estiver a ser obtido, aí sim, quer a política, quer o futebol, passarão a fazer o mais pleno sentido para o cidadão (em particular a cidadã) comum e o governo (qualquer governo) terá licença de todos nós para soprar os seus trombones tão alto quanto quizer: porque em casa onde há pão, ninguém ralha e todos ganham votos, marcam golos e têm razão!

(Ler artigo integral AQUI)

*Artigo por mim publicado no SA em Janeiro de 2006







... ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A ACTUAL CONJUNTURA ECONÓMICA ANGOLANA*

A par da política e do futebol, a economia apresenta-se sempre como uma das áreas da vida social que mais se prestam a debates apaixonados, particularmente em períodos de grandes expectativas e de críticas decisões. Neste momento, o debate, ou melhor, as atenções da opinião pública, sobre a economia do país parecem centrar-se em três vectores fundamentais:

1. A solidez, ou falta dela, da corrente “estabilização macroeconómica”;
2. O “delírio criativo” que parece assolar o sector bancário nacional;
3. As opções estratégicas de desenvolvimento do país que, idealmente, deveriam ancorar-se no anunciado “plano de desenvolvimento para os próximos 25 anos” mas que, por esse estar ainda a ser alinhavado e dada a premência das questões a ele subjacentes, fazendo juz à afirmação de Keynes segundo a qual “no longo prazo estaremos todos mortos”, emergem um pouco de todas e quaisquer discussões sobre a vida diária do cidadão comum – e estas, mesmo que originadas no foro da economia, acabam por incluir a política e o futebol.

As considerações que se seguem, no entanto, pretendem ser estritamente económicas e versarão um pouco sobre cada um dos três vectores acima enunciados.
(...)

I. INFLAÇÃO E NÍVEL DE VIDA, OU O VELHO “FETICHISMO DA MOEDA”

Seria necessária alguma dose de má fe para se não reconhecer e creditar devidamente os méritos do governo na obtenção do que se convencionou chamar “estabilização macroecónomica”. No entanto, seria igualmente mal avisado tomar-se essa estabilização como um dado adquirido, total e irreversível. Quanto mais não seja porque ela parece resumir-se a pouco mais do que um melhor desempenho monetário e uma impressiva contenção da inflacão, ambos ancorados na chamada “política do Kwanza forte” (com o devido respeito, protestos da “equipa económica” não obstante…), obtida através de medidas que, sendo técnicamente sustentadas, não deixam, contudo, de ser conjunturais, tais como a injecção massiva de dólares no mercado e a manipulação “laboratorial” da taxa de câmbio (política que, paradoxalmente, não difere muito em termos substantivos da dos longos anos de câmbio fixo em que tivémos “por artes mágicas” USD1=KZ30).
(...)

II. DESEMPREGO, EXPECTATIVAS E O “FUTURO AMARELO”

Embora, em resultado da valorização do Kwanza, em condições normais se pudesse vaticinar um potencial aumento da propensão marginal a poupar, induzido por uma maior confiança dos agentes económicos (indiciada, aliás, pelo recentemente publicitado aumento dos depósitos em moeda nacional), as baixas taxas de juro que se esperam obter com a baixa inflação não irão incentivar a poupança líquida – certamente não no curto a médio prazo – o que é agravado por essa potencial tendência não ser acompanhada por uma diminuição da propensão marginal ao consumo, quer devido a algumas das nossas características culturais, quer porque esta é sempre tanto maior quanto menor fôr o rendimento disponível dos cidadãos – 98% dos quais vive com menos de 2 dólares por dia, o que, mesmo que por absurdo quisessem endividar-se para investir, não lhes chega para suportar as taxas de juro comerciais, mesmo que mais baixas e acessíveis sem compadrios.
(...)

III. ESTIMULAR E DIVERSIFICAR A ECONOMIA REAL, OU A CRIAÇÃO DE UM CICLO VIRTUOSO DE RIQUEZA

Quando tudo isso estiver a ser obtido, aí sim, quer a política, quer o futebol, passarão a fazer o mais pleno sentido para o cidadão (em particular a cidadã) comum e o governo (qualquer governo) terá licença de todos nós para soprar os seus trombones tão alto quanto quizer: porque em casa onde há pão, ninguém ralha e todos ganham votos, marcam golos e têm razão!

(Ler artigo integral AQUI)

*Artigo por mim publicado no SA em Janeiro de 2006


3 comments:

Anonymous said...

Bom, tenho que confessar que este passou-me despercebido na altura, talvez porque precisamente estávamos todos muito ocupados com os preparativos da participação de Angola no mundial de futebol. Mas, mais uma vez Sra. Prof. como é que quer que lhe evitemos constrangimentos quando nos apresenta à distância, tanto geográfica como temporal, estas visões tão claras e lúcidas sobre a nossa real situação? Imagine-se que nas últimas semanas os políticos e economistas da nossa praça andam por aqui a tentar explicar porquê que no último relatório do Banco Mundial Angola aparece na cauda dos paises lusófonos, quando estava aqui tudo predito neste seu artigo. Desculpe lá, mas se a palavra “visionária” se aplica a alguém é a si!
O único comentário que me atrevo a fazer aqui é que, em termos do espectro de cores do futuro do nosso país, há a maioria da população que vê o futuro preto, no meio ficam uns tantos que vivem de poesia e romance e vêem o futuro cor de rosa e depois há os do poleiro que vivem nas nuvens e vêem o futuro azul. Futuro amarelo? Só mesmo os chineses o devem ver.

Mais uma vez respeitosamente,

Kaluanda

Anonymous said...

Assino por baixo de todos os comentarios do compatriota Kaluanda aos seus artigos embora nao tenha tido o previlegio de os ler aquando da primeira publicacao. Deixam-nos muito a refletir. Parabens e obrigados!

Koluki said...

Kaluanda: mais uma vez obrigada pela atencao dispensada aos meus artigos. Nao me considero uma "visionaria", apenas alguem que nao permite o rigor analitico que a Ciencia Economica exige ser contaminado pela politica ou por "outros futebois"... porque e' sobretudo isso que "tolda" muitas vezes a visao de alguns dos nossos analistas, infelizmente.
Quanto as cores, obrigada por esse enriquecimento bastante adequado ao "arco-iris" da vida verdadeira dos Angolanos. A minha mencao ao "futuro amarelo" foi derivada por um lado ao que era noutros tempos chamado "perigo amarelo" e a um anuncio muito conhecido, tanto na Europa como em alguns paises Africanos, de uma grande multinacional de telecomunicacoes: "the future is bright, the future is Orange"!
Um grande abraco.

Canadiano: Muito obrigada tambem pelo seu comentario. De facto uma das razoes que me fez decidir (re)publicar aqui alguns dos meus artigos e' precisamente para dar oportunidade aqueles que nunca os leram (ou, como presumo ser o seu caso, por se encontrarem fora do pais, ou, como muitos dentro do pais, por terem feito, pelas razoes mais diversas, uma "profissao de fe'" de "jamais lerem o SA" e de "excomungarem" todos quantos dele participem de uma forma ou de outra...) de o poderem fazer.
Um abraco amigo.