Sunday 16 November 2008

A PROPOSITO DO 11 DE NOVEMBRO

Não tinha ainda dez anos quando tomei consciência de que não era português, ao contrário do que me era dito pelo meu professor na escola primária de Calulo e pelas matérias que era obrigado a estudar. Muito cedo também percebi o significado da discriminação, pois os negros e os mulatos mais pobres não podiam estudar na escola oficial, mas apenas na da missão católica. Com o meu pai aprendi que Angola seria um dia um país independente e também o ideal de liberdade, traduzido na ideia de que os homens e os passarinhos não podem ser colocados em prisões e gaiolas.

Algum tempo depois (1959) tive conhecimento das prisões de lutadores pela independência efectuadas pela PIDE em Luanda. Foram eles os meus primeiros heróis vivos. Lembro-me igualmente da satisfação e do orgulho sentidos quando, na manhã de 4 de Fevereiro de 1961, cheguei ao Liceu Salvador Correia e soube do ataque às cadeias da PIDE, sentimento que tinha de esconder da maioria dos meus assustados colegas portugueses. A partir daí, acompanhei os avanços e recuos da luta independência e sofri com as fraquezas do movimento de libertação, traduzidas em traições e deserções, na deficiência das estratégias de combate, nas divisões regionais e raciais, no desconhecimento das mudanças que iam acontecendo no país, nas divergências entre as lideranças e, sobretudo, na falta de uma visão de longo prazo que pudesse mobilizar de forma mais efectiva os angolanos e os amigos de Angola para a grande causa.

O 25 de Abril em Portugal constituiu uma preciosa ajuda, mas as fraquezas que vinham de trás permitiram que a transição para a independência se processasse de forma caótica, a economia se degradasse (principalmente nas áreas rurais), as instituições entrassem em colapso, as divisões entre os angolanos se agudizassem e, como corolário, que a guerra civil tivesse lugar. Fui alimentando o sonho de uma Angola próspera, pacífica, solidária, inclusiva e principalmente com muita justiça social num quadro de final do século XX.

A realidade foi dolorosamente diferente. Mas acho inadmissível que figuras da oposição atribuam exclusivamente ao Governo a responsabilidade dos males que nos afligiram e que alimentam a ideia de que muitos angolanos estão “fartos” da independência. A primeira vez que eu vi uma referência a isso foi num artigo publicado de um oposicionista do regime que rapidamente se transformou numa anedota. Segundo ele, um grupo de sobas da Baixa de Kassanji teria dito isso a Agostinho Neto numa reunião no Quela (Malanje), pouco tempo antes da sua morte. Eu estava presente nessa reunião, e não ouvi nada semelhante a isso. Já o disse várias vezes, mas não me canso de repetir. Perguntei inúmeras vezes, a camponeses angolanos se isso era verdade e a resposta tem sido sempre a mesma, pois ninguém está disposto a abrir mão das que consideram ter sido as três maiores conquistas da independência: a recuperação das terras dos seus ancestrais, o fim do trabalho obrigatório ou compulsivo e o respeito pela sua dignidade, traduzida no termo das prisões arbitrárias ou das agressões físicas, ou até em factos mais simples como o aperto de mão com que são saudados pelas autoridades administrativas.

Não tinha ainda dez anos quando tomei consciência de que não era português, ao contrário do que me era dito pelo meu professor na escola primária de Calulo e pelas matérias que era obrigado a estudar. Muito cedo também percebi o significado da discriminação, pois os negros e os mulatos mais pobres não podiam estudar na escola oficial, mas apenas na da missão católica. Com o meu pai aprendi que Angola seria um dia um país independente e também o ideal de liberdade, traduzido na ideia de que os homens e os passarinhos não podem ser colocados em prisões e gaiolas.

Algum tempo depois (1959) tive conhecimento das prisões de lutadores pela independência efectuadas pela PIDE em Luanda. Foram eles os meus primeiros heróis vivos. Lembro-me igualmente da satisfação e do orgulho sentidos quando, na manhã de 4 de Fevereiro de 1961, cheguei ao Liceu Salvador Correia e soube do ataque às cadeias da PIDE, sentimento que tinha de esconder da maioria dos meus assustados colegas portugueses. A partir daí, acompanhei os avanços e recuos da luta independência e sofri com as fraquezas do movimento de libertação, traduzidas em traições e deserções, na deficiência das estratégias de combate, nas divisões regionais e raciais, no desconhecimento das mudanças que iam acontecendo no país, nas divergências entre as lideranças e, sobretudo, na falta de uma visão de longo prazo que pudesse mobilizar de forma mais efectiva os angolanos e os amigos de Angola para a grande causa.

O 25 de Abril em Portugal constituiu uma preciosa ajuda, mas as fraquezas que vinham de trás permitiram que a transição para a independência se processasse de forma caótica, a economia se degradasse (principalmente nas áreas rurais), as instituições entrassem em colapso, as divisões entre os angolanos se agudizassem e, como corolário, que a guerra civil tivesse lugar. Fui alimentando o sonho de uma Angola próspera, pacífica, solidária, inclusiva e principalmente com muita justiça social num quadro de final do século XX.

A realidade foi dolorosamente diferente. Mas acho inadmissível que figuras da oposição atribuam exclusivamente ao Governo a responsabilidade dos males que nos afligiram e que alimentam a ideia de que muitos angolanos estão “fartos” da independência. A primeira vez que eu vi uma referência a isso foi num artigo publicado de um oposicionista do regime que rapidamente se transformou numa anedota. Segundo ele, um grupo de sobas da Baixa de Kassanji teria dito isso a Agostinho Neto numa reunião no Quela (Malanje), pouco tempo antes da sua morte. Eu estava presente nessa reunião, e não ouvi nada semelhante a isso. Já o disse várias vezes, mas não me canso de repetir. Perguntei inúmeras vezes, a camponeses angolanos se isso era verdade e a resposta tem sido sempre a mesma, pois ninguém está disposto a abrir mão das que consideram ter sido as três maiores conquistas da independência: a recuperação das terras dos seus ancestrais, o fim do trabalho obrigatório ou compulsivo e o respeito pela sua dignidade, traduzida no termo das prisões arbitrárias ou das agressões físicas, ou até em factos mais simples como o aperto de mão com que são saudados pelas autoridades administrativas.

2 comments:

umBhalane said...

Ora aqui está um artigo equilibrado de uma leitura histórica, que ou não se lê, ou não existe pura e simplesmente na imprensa Moçambicana!

Koluki said...

Agradeco pelo autor.