THE STATUS OF RACE IN LUSOPHONE SOCIAL SCIENCE
Ever since Gilberto’s Freyre’s utopic account of racial intimacy in Masters and Slaves, first published in 1933, social science research projects on Portuguese-speaking contexts have largely centered upon positivist queries concerning the existence or absence of racial harmony in Portuguese-speaking settings. The consequence of this approach is that the idea of racial contact – via miscegenation, discrimination and religious syncretisms – has dominated how analysts have shaped questions about the social world in the Lusophone setting.
In fact, the legacy of this trend is so profuse that the researcher concerned with issues of race is often drawn to this setting because of its association with explicit examples of racializing phenomena. More complicating, Lusophone scholarship, for better or for worse, has historically not been in dialogue with conversations occurring in non-Portuguese spaces and is often thus isolated in the social sciences as the field bound to race-centered inquiry.
Today, differently, a curious shift is occurring in the way that social phenomenon is framed in the Lusophone setting. Recent scholarship is de-centering race as the organizational principle for defining the social. This shift, however, is not about a disavowal of race or racism. Instead, questions are shifting to examine their productive capacities, what their presence variably signifies and enables, or how sentiments attached to raciality help interpret emergent social phenomena more broadly.
[Read more here and here]
*****
Das apresentacoes anunciadas para esta Conferencia, a seguinte pareceu-me particularmente interessante por se debrucar sobre um territorio dito lusofono, aparentemente esquecido no mundo da lusotopia:
“Questões de casta: Além do lusotropicalismo de Goa”
Neste trabalho eu invocarei a formulação inicial de Freyre em relação ao lusotropicalismo em Goa, em 1951—durante sua turnê oficial pelas colonias portuguesas. Eu trato a formulação do autor brasileiro como um decodificador dos elementos integrantes de sua teorizações, e como ferramenta analítica do impacto da substância ideológica, consequentemente criada na representação da altamente estratificada sociedade goesa. Mais especificamente, para o nosso debate acerca de lusofonia e antropologia, eu trarei Goa, os goeses e as idéias produzidas sobre Goa, dentro e fora dela, tanto no passado quanto no presente.
É difícil descrever Goa atualmente como uma sociedade lusófona. O português não é mais a língua oficial e muito poucos o falam, apesar de sua importância como o idioma dos arquivos coloniais e, durante séculos, o idioma da administração goesa. Contudo, a história de Goa foi registrada não só por escribas portugueses, ou por catedráticos portugueses e goeses pro-Portugal, mas também por muitos outros, de ativistas indianos a catedráticos do período pos-colonial e catedráticos estrangeiros (Boxer, Pearson, Axelrod, Newman, etc.).
Comércio, poder, comunidades, religião e conversão são temas recorrentes das narrativas destes pensadores, ao passo que ferramentas estruturais como raça, gênero e classe, com poucas exceções, encontram-se relativamente ausentes da literatura.*
Inicialmente, minha longa jornada pelos arquivos coloniais de Goa tinha o propósito de analisar práticas médicas durante o regime colonial. Tal jornada terminou por revelar a centralidade dos tópicos mencionados acima, entre outros: raça, racismo, relacões raciais, miscigenação, lei, segregação, gênero, religião, casta, privilégio, status, bem como a sinergia entre eses elementos. A priori, estes tópicos não se fazem notar nos registros históricos. Sua importância se faz presente em modos distintos, tanto nas narrativas de Goa colonial quanto nas representações contemporâneas da história de Goa — as quais, também em modos distintos, contribuem para a dissenção contemporânea, como os arquivos da internet e a recente literatura testificam.
Meu interesse na experiência colonial de Goa, com suas extensões à experiência colonial luso-africana, bem como um interesse no impacto do lusotropicalismo levaram-me a explorar a relação recíproca entre as doutrinas de Gilberto Freyre e as representações de miscigenação e segregação na sociedade e cultura de Goa.
Cristiana Bastos, Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Lisboa
Ever since Gilberto’s Freyre’s utopic account of racial intimacy in Masters and Slaves, first published in 1933, social science research projects on Portuguese-speaking contexts have largely centered upon positivist queries concerning the existence or absence of racial harmony in Portuguese-speaking settings. The consequence of this approach is that the idea of racial contact – via miscegenation, discrimination and religious syncretisms – has dominated how analysts have shaped questions about the social world in the Lusophone setting.
In fact, the legacy of this trend is so profuse that the researcher concerned with issues of race is often drawn to this setting because of its association with explicit examples of racializing phenomena. More complicating, Lusophone scholarship, for better or for worse, has historically not been in dialogue with conversations occurring in non-Portuguese spaces and is often thus isolated in the social sciences as the field bound to race-centered inquiry.
Today, differently, a curious shift is occurring in the way that social phenomenon is framed in the Lusophone setting. Recent scholarship is de-centering race as the organizational principle for defining the social. This shift, however, is not about a disavowal of race or racism. Instead, questions are shifting to examine their productive capacities, what their presence variably signifies and enables, or how sentiments attached to raciality help interpret emergent social phenomena more broadly.
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Das apresentacoes anunciadas para esta Conferencia, a seguinte pareceu-me particularmente interessante por se debrucar sobre um territorio dito lusofono, aparentemente esquecido no mundo da lusotopia:
“Questões de casta: Além do lusotropicalismo de Goa”
Neste trabalho eu invocarei a formulação inicial de Freyre em relação ao lusotropicalismo em Goa, em 1951—durante sua turnê oficial pelas colonias portuguesas. Eu trato a formulação do autor brasileiro como um decodificador dos elementos integrantes de sua teorizações, e como ferramenta analítica do impacto da substância ideológica, consequentemente criada na representação da altamente estratificada sociedade goesa. Mais especificamente, para o nosso debate acerca de lusofonia e antropologia, eu trarei Goa, os goeses e as idéias produzidas sobre Goa, dentro e fora dela, tanto no passado quanto no presente.
É difícil descrever Goa atualmente como uma sociedade lusófona. O português não é mais a língua oficial e muito poucos o falam, apesar de sua importância como o idioma dos arquivos coloniais e, durante séculos, o idioma da administração goesa. Contudo, a história de Goa foi registrada não só por escribas portugueses, ou por catedráticos portugueses e goeses pro-Portugal, mas também por muitos outros, de ativistas indianos a catedráticos do período pos-colonial e catedráticos estrangeiros (Boxer, Pearson, Axelrod, Newman, etc.).
Comércio, poder, comunidades, religião e conversão são temas recorrentes das narrativas destes pensadores, ao passo que ferramentas estruturais como raça, gênero e classe, com poucas exceções, encontram-se relativamente ausentes da literatura.*
Inicialmente, minha longa jornada pelos arquivos coloniais de Goa tinha o propósito de analisar práticas médicas durante o regime colonial. Tal jornada terminou por revelar a centralidade dos tópicos mencionados acima, entre outros: raça, racismo, relacões raciais, miscigenação, lei, segregação, gênero, religião, casta, privilégio, status, bem como a sinergia entre eses elementos. A priori, estes tópicos não se fazem notar nos registros históricos. Sua importância se faz presente em modos distintos, tanto nas narrativas de Goa colonial quanto nas representações contemporâneas da história de Goa — as quais, também em modos distintos, contribuem para a dissenção contemporânea, como os arquivos da internet e a recente literatura testificam.
Meu interesse na experiência colonial de Goa, com suas extensões à experiência colonial luso-africana, bem como um interesse no impacto do lusotropicalismo levaram-me a explorar a relação recíproca entre as doutrinas de Gilberto Freyre e as representações de miscigenação e segregação na sociedade e cultura de Goa.
Cristiana Bastos, Instituto de Ciências Sociais – Universidade de Lisboa
*{Cabe-me notar que este tipo de constatacao nao se aplica exclusivamente a literatura existente sobre Goa. A ela faco mencao, com referencia a outros quadrantes lusosfericos e aos seus efeitos reais e praticos no quotidiano socio-cultural, entre outros posts e comentarios neste blog, aqui, aqui, aqui e aqui}
*[First posted 04/04/09]
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