Monday 29 March 2010

Just Poetry (XIV)

ROSA EM TEMPO DE CHUVA

Rosa de há tempos
quando voltaste
uma rede de amor
amuletos de sedução
no balaio de certezas
carne em festa e
um certo coração,

rosa de agora que ficaste
a magia esquecida
entre os dedos sofrida
energia detida
em frasco de perfume,

quero-te rosa,
mas, a esterilidade do gesto
e a superficialidade do toque
um fogo quase afogado
encubado,

rosa, quero que voltes
mas não fiques,
cumpre a tua missão
de nuvem carregada e
dá-me a tua chuva. Apenas.

{A.S. in S.O.S.}



A Rosa era uma jovem mulher negra. E tenho para mim que o seu apelido era Bonita. Dizia-se que tinha estado em Portugal a estudar e de la’ voltado assim: feita Joana Maluca dos anos 80. Rosa Bonita e Joana Maluca, duas mulheres-simbolo do pior tipo de violencia que pode ser exercido sobre a mulher: a sua coisificacao sexual enquanto deficiente mental; Rosa Bonita e Joana Maluca, duas mulheres-testemunho do pior mal de que pode enfermar toda uma cidade, toda uma sociedade: a total indiferenca, quando nao "divertimento", com que os seus casos eram “olhados”…
Enquanto a Joana Maluca “exercia o seu mister” nas ruas e bordeis do Bairro Operario dos anos 60 e 70, servindo os contingentes de tropa portuguesa que ali eram despejados em camioes, a Rosa Bonita “exercia-o” nas ruas e hoteis da Baixa Luandense, servindo os cooperantes estrangeiros do pos-independencia.
Mas, se da Joana Maluca dos meus tempos de miuda eu tinha medo, fugia dela quando a via, da Rosa Bonita nao: era muito simpatica, trazia sempre um sorriso nos labios e uma flor no cabelo. Vi-a varias vezes gravida – nao sei o que foi feito dos filhos…
Um dia quis ter uma conversa com ela. Uma conversa como um banho de chuva que lhe lavasse o corpo e a alma e soltasse o seu perfume original. Uma conversa que a fizesse voltar a si. Apenas.


ROSA EM TEMPO DE CHUVA

Rosa de há tempos
quando voltaste
uma rede de amor
amuletos de sedução
no balaio de certezas
carne em festa e
um certo coração,

rosa de agora que ficaste
a magia esquecida
entre os dedos sofrida
energia detida
em frasco de perfume,

quero-te rosa,
mas, a esterilidade do gesto
e a superficialidade do toque
um fogo quase afogado
encubado,

rosa, quero que voltes
mas não fiques,
cumpre a tua missão
de nuvem carregada e
dá-me a tua chuva. Apenas.

{A.S. in S.O.S.}



A Rosa era uma jovem mulher negra. E tenho para mim que o seu apelido era Bonita. Dizia-se que tinha estado em Portugal a estudar e de la’ voltado assim: feita Joana Maluca dos anos 80. Rosa Bonita e Joana Maluca, duas mulheres-simbolo do pior tipo de violencia que pode ser exercido sobre a mulher: a sua coisificacao sexual enquanto deficiente mental; Rosa Bonita e Joana Maluca, duas mulheres-testemunho do pior mal de que pode enfermar toda uma cidade, toda uma sociedade: a total indiferenca, quando nao "divertimento", com que os seus casos eram “olhados”…
Enquanto a Joana Maluca “exercia o seu mister” nas ruas e bordeis do Bairro Operario dos anos 60 e 70, servindo os contingentes de tropa portuguesa que ali eram despejados em camioes, a Rosa Bonita “exercia-o” nas ruas e hoteis da Baixa Luandense, servindo os cooperantes estrangeiros do pos-independencia.
Mas, se da Joana Maluca dos meus tempos de miuda eu tinha medo, fugia dela quando a via, da Rosa Bonita nao: era muito simpatica, trazia sempre um sorriso nos labios e uma flor no cabelo. Vi-a varias vezes gravida – nao sei o que foi feito dos filhos…
Um dia quis ter uma conversa com ela. Uma conversa como um banho de chuva que lhe lavasse o corpo e a alma e soltasse o seu perfume original. Uma conversa que a fizesse voltar a si. Apenas.


2 comments:

V Benesi said...

"...cumpre a tua missão/de nuvem carregada e/dá-me a tua chuva. Apenas." Que linda imagem! Poesia pura.

Beijos mAna

Koluki said...

Beijos e uma rosa para si Mana.