Tuesday, 28 August 2007

"Significancias Lusosfericas" et Luanda's (G)Litterati's Top Fives



"SIGNIFICANCIAS LUSOSFERICAS"


"...Combater a pobreza?! Que mal e' que a pobreza fez a alguem para ser combatida?..." (MRM)

"...Eu e' que devia ser beneficiado pela 'accao afirmativa' porque sou parte da minoria..." (MC)

"...Compram arte africana, o que quer que isso seja..." (JEA)

"...O povo nao sabe o que e' bom..." (ACGM)




LUANDA'S (G)LITTERATI TOP-5 PET HATES

1. Substituicao das estatuas das Marias da Fonte e do Blindado pela da Rainha Nzinga (por esta alegadamente nao ter passado de uma "escravocrata" negra)

2. Transformacao do "Palacio/Casa de Escravos de D. Ana Joaquina" (que efectivamente nao passou de uma escravocrata mestica)

3. Registo da raca nos B.I.

4. Qualquer mencao a palavra "identidade"

5. "Complexos de colonizado" - o que quer que isso seja

***

SAME (G)LITTERATI TOP-5 MUCH LOVES

1. Portugal (?)

2. Lusofonia (?)

3. Um certo Brasil (que exclui os seus Movimentos Negros reivindicativos)

4. Uma certa Africa do Sul, em particular Cape Town (que nao inclui as suas Townships)

5. "Pretos descomplexados" - o que quer que isso seja

***

SAME (G)LITTERATI TOP-5 INDIFFERENCES

1. Racismo praticado nos Bancos e outras empresas instaladas em Angola

2. Todas as causas da sociedade civil que nao constem dos seus top-5 pet hates

3. Qualquer abordagem do fenomeno corrupcao que nao se limite a ridicularizacao dos "sinais exteriores de riqueza" dos seus alvos criteriosamente seleccionados

4. A Diaspora Angolana pos-independencia em geral

5. Africa e os Africanos em geral

***

SAME (G)LITTERATI TOP-5 INCOGNITAS

1. Qualquer abordagem socio-economica da relacao raca/classe social

2. Qualquer conceito de "identidade cultural" (incluindo a que os une a volta das mesmas causas)

3. O mundo pos-Guerra Fria

4. Comunidade Negra Norte-Americana (de facto, todas e quaisquer Comunidades Negras)

5. "Pretas complexa(da)s" - o que quer que isso seja

***

GLITTERING CONCLUSION:

Not All That Glitters Is Gold...



"SIGNIFICANCIAS LUSOSFERICAS"


"...Combater a pobreza?! Que mal e' que a pobreza fez a alguem para ser combatida?..." (MRM)

"...Eu e' que devia ser beneficiado pela 'accao afirmativa' porque sou parte da minoria..." (MC)

"...Compram arte africana, o que quer que isso seja..." (JEA)

"...O povo nao sabe o que e' bom..." (ACGM)




LUANDA'S (G)LITTERATI TOP-5 PET HATES

1. Substituicao das estatuas das Marias da Fonte e do Blindado pela da Rainha Nzinga (por esta alegadamente nao ter passado de uma "escravocrata" negra)

2. Transformacao do "Palacio/Casa de Escravos de D. Ana Joaquina" (que efectivamente nao passou de uma escravocrata mestica)

3. Registo da raca nos B.I.

4. Qualquer mencao a palavra "identidade"

5. "Complexos de colonizado" - o que quer que isso seja

***

SAME (G)LITTERATI TOP-5 MUCH LOVES

1. Portugal (?)

2. Lusofonia (?)

3. Um certo Brasil (que exclui os seus Movimentos Negros reivindicativos)

4. Uma certa Africa do Sul, em particular Cape Town (que nao inclui as suas Townships)

5. "Pretos descomplexados" - o que quer que isso seja

***

SAME (G)LITTERATI TOP-5 INDIFFERENCES

1. Racismo praticado nos Bancos e outras empresas instaladas em Angola

2. Todas as causas da sociedade civil que nao constem dos seus top-5 pet hates

3. Qualquer abordagem do fenomeno corrupcao que nao se limite a ridicularizacao dos "sinais exteriores de riqueza" dos seus alvos criteriosamente seleccionados

4. A Diaspora Angolana pos-independencia em geral

5. Africa e os Africanos em geral

***

SAME (G)LITTERATI TOP-5 INCOGNITAS

1. Qualquer abordagem socio-economica da relacao raca/classe social

2. Qualquer conceito de "identidade cultural" (incluindo a que os une a volta das mesmas causas)

3. O mundo pos-Guerra Fria

4. Comunidade Negra Norte-Americana (de facto, todas e quaisquer Comunidades Negras)

5. "Pretas complexa(da)s" - o que quer que isso seja

***

GLITTERING CONCLUSION:

Not All That Glitters Is Gold...

8 comments:

Anonymous said...

Olá Koluki, tudo bem?
Ainda estou a reflectir sobre tudo isto, mas tenho uma questão que gostaria que fosse melhor esclarecida e discutida - quando se fala em “identidade africana”, de quê se está a falar precisamente?

Koluki said...

Ola’ Antonio, ha’ quanto tempo!
Eu estou bem (apenas “amarrada” de momento por problemas tecnicos do Blogger…) e espero que esteja tudo bem tambem ai na banda.
A questao da identidade e’, para mim, simultaneamente bastante simples e bastante complexa. Numa versao simples, eu diria que a identidade africana pode ser expressa por esta formula:
Identidade = Identidade – Assimilacao Forçada (Cultural, Ideologica, Espiritual…)
Esta formula permite a inclusao de fenomenos de “assimilacao nao forcada”, i.e. aquela que decorre do normal intercambio inter-pessoal, cientifico, tecnologico, etc., entre seres humanos de diferentes ‘backgrounds’ geograficos ou culturais.
Numa versao um pouco mais complexa, para uma definicao de Identidade Africana teremos que ter em conta, para alem de uma base cultural primacial comum, ou dominante – a cultura Bantu – experiencias historicas comuns entre os Africanos, em particular da chamada ‘Africa Negra’, dos quais os mais proeminentes sao a escravatura e o colonialismo pelos Europeus, este com maiores ou menores niveis de ‘apartheid’ racial.
Essa identidade manifesta-se, obviamente, de formas diversas, tanto quanto sao diversos os povos Africanos, as suas formacoes etnico-culturais e as formas, duracao e intensidade em que estas foram afectadas pelas experiencias historicas que acima mencionei – um elemento de diferenciacao que assume um papel crucial neste contexto sao as diferentes formas de colonizacao adoptadas pelos tres principais colonizadores: o ‘indirect rule’ pelos Ingleses (que permitiu a manutencao quase ‘intacta’ das instituicoes administrativas e culturas – incluindo os nomes africanos – locais e tradicionais la’ onde se verificou, tendo sido as excepcoes a regra as suas chamadas ‘settler colonies’, i.e. aquelas onde eles efectivamente se instalaram em numeros significativos como colonos, tais como o Kenia e o Zimbabwe), o sistema de ‘assimilacao’ pelos Portugueses (que praticamente fez, ou pelo menos tentou fazer, tabua raza das instituicoes e culturas indigenas – de notar que, no contexto colonial, a palavra indigena, que aqui uso no sentido de ‘nato’, ‘natural’ ou ‘local’, significava literalmente “atrasado”) e o que pode ser caracterizado como um misto desses dois sistemas pelos Franceses.
Mas e’ obvio que ela existe e caracteriza as relacoes entre os Africanos em geral, tanto no continente como na diaspora, independentemente das suas particulares origens etnicas, estratificacao socio-economica e ate’ dos episodicos conflitos inter-etnicos no continente – grande parte dos quais directa ou indirectamente fomentados por factores exogenos.
So, my brother, at least as far as I’m concerned, that’s what African Identity is all about.

Koluki said...

ADENDA

Enquanto o problema tecnico (que me esta' a impedir de postar normalmente e de acrescentar anexos aos posts) se mantem, deixo aqui mais uma das minhas cronicas de ha' 5 anos atras no SA (a ultima daquela serie). Ela foi parcialmente em resposta a um outro colunista do mesmo semanario que, embora nao citando o meu nome, mas de forma suficientemente directa e inequivoca, me acusava de ter "complexos de colonizado"... ao mesmo tempo que invectivava contra a estatua da Rainha Nzinga:


FACTOS E FICÇÕES - Ana Paula Santana (koluki@yahoo.co.uk)


= 13. Sala Sentlê! =

É verdade amigos, tenho que me despedir. Escrevo-vos de Gaborone, onde as tarefas que me esperam nos próximos tempos não me permitem continuar estas conversas quinzenais. Não posso deixar de agradecer ao Graça Campos por me ter convidado a participar e ao colectivo do Semanário Angolense por me ter deixado partilhar um pouco desta excitante empresa de construção de um espaço alternativo, forte e independente na imprensa nacional. Tenho também que agradecer profundamente a todos os amigos (conhecidos e desconhecidos) que me enviaram mensagens de felicitações e encorajamento. Estou certa de que este valioso espaço no SA será bem aproveitado e continuará a dar oportunidade a outros para expressarem as suas idéias sobre o que vai pela terra e pelo mundo. Deixei Londres, há cerca de três semanas, entregue à sua onda de greves e ao seu Tony Blair a tentar emular o machismo da Lady Thatcher e, ao mesmo tempo, articular uma boa razão para dispender na projectada guerra ao Iraque os fundos necessários à melhoria dos seus serviços públicos; aos seus muitos, quase diários, “celebrity and royal scandals”; à sua chuva miudinha e tempo cinzento e àquela sensação de estarmos parados no espaço, escrutinando o mundo a girar à nossa volta e o tempo a fugir de nós a toda a hora.
Neste meu regresso a Gabs, alguns meses depois de cá ter estado a trabalhar durante pouco mais de um ano, noto que ela continua a impressionar quem chega pela sua limpeza, cosmopolitismo e espírito empreendedor. Perdi a explosão púrpura dos jacarandás (diz-nos Alice Walker que Deus fica muito irritado – pior, fica “pissed off” – se a humanidade não repara na cor púrpura) que todos os Setembros prenuncia o início da época das chuvas, mas o vermelho das acácias e a profusão de cores das buganvílias continuam o seu perene, despudorado, romance com o dourado do sol. O imenso calor tende a fazer recolher os habitantes a espaços interiores durante a maior parte do tempo, deixando o exterior entregue quase exclusivamente a uma imensa variedade de répteis e insectos (que não perdem uma oportunidade para nos entrar pela casa adentro) e ao som do silêncio ou dos pássaros.
Os Batswana continuam demasiado ocupados a dar à Àfrica algumas das suas poucas razões de orgulho para se permitirem desenvolver quaisquer complexos (muito menos o de “colonizado”, o que quer que seja que isso signifique). Embora esteja convencida de que ao Motswana médio escapará a relevância, ou mesmo o significado, que este tipo de questões assume em Angola, acredito que qualquer deles subscreverá a idéia de que muito mal está um país quando a mera sugestão da importância de uma clara definição de uma identidade cultural nacional, não necessáriamente tributária da situação política colonial, atrai sobre quem se atreva a fazê-lo a rasteira acusação de ser “complexado(a)”. Aliás, suspeito que se Freud estivesse vivo, dedicaria o resto da sua vida à reinvenção total da Psicanálise, por forma a nela acomodar a vacuidade que a palavra “complexos” (sem qualquer indicação de em relação a quê, ou sobre se de inferioridade, de superioridade, de Édipo, ou de Electra…) parece ter assumido no léxico de alguns sectores da nossa sociedade.
Numa conjuntura histórica em que práticamente todos os sectores acadêmicos, técnicos e intelectuais internacionais começam a dar cada vez mais peso a factores culturais endógenos como variáveis explicativas de experiências de desenvolvimento sustentado em todo o mundo, o Botswana emerge como um “caso especial”: estamos perante um povo que construiu a sua cidade capital práticamente a partir do zero (Gaborone, que significa “nossa casa”, só começou a ser construída um ano antes da independência, obtida em 1966, quando o país já se encontrava sob um regime de auto-determinação); um povo que, a par do Inglês e de outras línguas locais, fala e escreve o seu principal idioma nacional, Setswana, em todas as instâncias da sua vida privada, social e profissional - desde os aviões da companhia aérea nacional, aos aeroportos, aos sinais de trânsito, aos painéis de publicidade, aos meios de comunicação social, às escolas e faculdades, ao parlamento, aos tribunais, às empresas, ou aos bancos.
Estamos perante um país cujo modo de governo é baseado no tradicional sistema de “Kgotla”, em que a autoridade suprema é investida numa legislatura que, compreendendo a Assembléia Nacional e o Presidente, age em mandatória consultação com a “Câmara dos Chefes Tradicionais”, a qual supervisiona e decide sobre todos os aspectos da acção governativa que afectem os valores, costumes e tradições nacionais. O próprio conceito de desenvolvimento inclusivo e harmonia social, “Kagisano”, que norteia a sua estratégia económica é derivado da cultura nacional - dele emanam os princípios de democracia, auto-suficiência e unidade que servem de contexto geral para a definição dos objectivos da nação.
Estamos perante um país que pôs no centro do seu programa de diversificação económica e desenvolvimento industrial o “empowerment” dos seus cidadãos, através de programas concretos, fundos específicos e mecanismos institucionais que promovem a sua efectiva implementação e o desenvolvimento de uma classe empresarial nacional em todos os sectores da economia, tendo-se o governo compromotido a estender as suas preferências a consultores nacionais e a comprar acções em empresas de proprietários locais que estejam a enfrentar dificuldades financeiras; um país cujo código de investimento estrangeiro estipula, por exemplo, que as empresas estrangeiras que envolvam accionistas locais podem beneficiar de uma diminuição do mínimo investimento que lhes é exigido para metade, ou um terço, dependendo do sector em que queiram investir, sendo que em alguns sectores as empresas estrangeiras são obrigadas a sub-contratar empresas locais, enquanto o governo se dispõe a reembolsar 50% dos custos de formação dos empregados locais e a pagar um montante entre 40 e 85%, dependendo da localização da empresa numa área urbana ou rural, dos custos de cada posto de trabalho criado na indústria manufactureira.
Perante tudo isso, não será certamente de espantar, especialmente aos olhos dos países ocidentais, que basearam as suas estratégias de crescimento económico nos direitos dos seus cidadãos e nas suas culturas e valores tradicionais (e que talvez partilhem com certos segmentos das elites urbanas angolanas um perfeito entendimento da importância fulcral da língua e da cultura como instrumentos de poder e dominação, bem como um indisfarçável nervosismo à simples menção do conceito de “identidade africana”), que o Botswana seja: o país com as taxas de crescimento mais impressivas e consistentes em África (cerca de 9% p.a. ao longo das últimas três décadas) e comparáveis às de “tigres asiáticos” como a Tailândia e a Coreia do Sul; o país com uma das políticas de combate ao SIDA mais coerentes e agressivas na região (a taxa de incidência sobre o seu comparativamente diminuto agregado populacional tem afectado negativamente o seu índice de desenvolvimento humano e constitui a maior ameaça ao futuro do país); o segundo país mais competitivo da SADC, depois das Maurícias; o país com as taxas de corrupção mais baixas em África e com uma melhor reputação nessa área do que países como França, Itália, Grécia ou Portugal; o país com taxas de juro reais comparáveis às dos principais mercados mundiais de capitais e até superiores, durante vários períodos, às do UK, EUA e África do Sul; ou o país com as melhores posições em África em termos de robustez económica e solvabilidade, acima da África do Sul ou de países como a Coreia do Sul e a Malásia.
Complexo de colonizado? Definitivamente, esse é um conceito que não existe em nenhuma das línguas nacionais deste povo, mestre da estética da alma: pacato e de uma tocante cortezia e humildade, mas confiante, orgulhoso, soberano e internacionalmente respeitado. Despeço-me em Setswana: Sala Sentlê! (Fiquem Bem, na língua de Camões; Stay Well, na língua de Shakespeare).

P.S.: E que viva para sempre a memória da rainha N’Zinga – um dos expoentes maiores da nacionalidade Angolana!

Anonymous said...

Muito obrigado pelo esclarecimentos e por mais este brilhante artigo!

AC

Anonymous said...

É claro que a idenidade africana existe e só a nega quem não a tem. Mas agora meio a sério, meio a brincar, dá para entender melhor porque que há dias perdemos EM CASA com Botswana no FUTEBOL!! Tudo uma questão de autoestima e autoconfiança, n’est pa?

Koluki said...

... Quem nao a tem, ou quem nao quer, nem nunca a quis ter!
Quanto ao futebol, meu caro, je ne sais pas... nao estava la' nao vi o jogo... mas tudo o que sei e' que talvez nao haja pais que venere mais a sua equipa nacional de futebol do que o Botswana... por isso: peut-etre!

Anonymous said...

Koluki,
Para aproveitar esta maré de esclarecimentos, estou muito curioso em saber se tem lido os artigos assinados por um tal Wa Zani publicados aqui no nosso único jornal diário oficial. Se sim e se não for pedir muito, gostava de ler os seus comentários na generalidade. Antecipadamente grato.
AC

Koluki said...

AC,

Para lhe ser perfeitamente honesta, acho que isso e’ pedir muito e preferiria nem sequer tocar nesse assunto, mas vindo o pedido de si nao me e’ facil lhe eskindivar…

Sim, tenho lido os ditos artigos (… ‘de opiniao’ e que serao tudo menos ‘cronicas’…) – felizmente vou tendo acesso um tanto previligiado a imprensa nacional, oficial ou nao, tanto online como atraves de exemplares que vou recebendo da banda p.m.p. ou por e-mail – e devo dizer-lhe que nunca li tanto dislate junto e por atacado, tanto ‘denialismo’, nem tanta desonestidade intelectual a mistura com as carradas de arrogancia ignorante com que alguns nos venhem habituando…

Mas, sinceramente, admiro a ‘coragem e atrevimento’ de quem ainda se dispoe a fazer o papel de ‘ideologo de servico’ nesta altura do campeonato em Angola e no mundo – parece que voltamos em forca ao famigerado tempo do “bater no ferro enquanto ainda esta’ quente”! Lembram-se?

Quanto a mim, tudo ali se resume a um conjunto de motivacoes muito simples e muito mal camufladas sob um pretenso intelectualismo rebuscado incoerente e incongruentemente em citacoes avulsas de autores mais ou menos conhecidos e baseado no mais arcaico aparato conceptual racista, do qual, apesar das aparentes intencoes, o autor manifestamente nao se consegue libertar; em suma, trata-se muito simplesmente de: VIRAR O BICO AO PREGO! Isto e’:

- Faco parte de uma minoria que sempre beneficiou do status quo racial antes e depois da independencia? Pois vou nega-lo atraves da negacao da existencia desse mesmo status quo, ou da minimizacao dos seus efeitos na sociedade ou, melhor ainda, quanto muito vou fazer-me passar por “vitima” dele…

- Nao faco a menor ideia das consequencias socio-economicas e culturais do racismo porque nunca fui por elas afectado? Pois vou negar a existencia desse tal racismo e imputar a culpa das tais consequencias as suas vitimas e, melhor ainda, faze-las passar por “perpetradores”…

- Nao me revejo numa qualquer identidade cultural e muito menos numa identidade cultural africana? Pois vou negar a sua existencia e, melhor ainda, afirmar despudoradamente que o que esta’ em causa nao e’ uma ou varias identidades culturais, mas sim uma “identidade racial” baseada na “melanina”…

- Eu, ou os meus amigos, fomos apanhados com a boca na botija praticando as formas mais descaradas de vulturismo cultural, racismo e elitismo? Vou nega-lo absolutamente e, melhor ainda, acusar quem nos ‘desmascarou’ de ser “racista” e “complexado”…

Enfim, meu caro, dificilmente se encontrara’ em quaisquer anais literarios caso mais flagrante de esquizofrenia! Mas… e’ a “accao psicologica” no seu melhor! Afinal nao foi em vao que o regime colonial-fascista a praticou ‘a exaustao!

Felizmente, em relacao a todas essas questoes, tenho a alma limpa, a consciencia tranquila e “as costas largas”: nao precisaria sequer de usar como “bandeira”, como muita ‘boa gente’ o faz ‘a saciedade, a mesticagem racial existente na minha propria familia, comecando no meu filho, passando por alguns dos meus sobrinhos e acabando no meu cunhado branco louro de olhos azuis… ou os meus muitos amigos, tanto em Angola como fora dela, de todas as racas… ou a minha vasta experiencia de convivio cultural, academico e profissional com amigos e colegas de multiplas racas, identidades e nacionalidades em diversos paises e contextos culturais, sociais e economicos... ou o quanto sei, pelas mais diversas experiencias pessoais, do que estou a falar quando falo do racismo em Angola…

Basta-me dizer que ha’ anos venho estudando seriamente todas essas questoes e a unica coisa que vou aqui repetir, porque ja’ o disse e re-disse inumeras vezes neste blog em varios contextos e situacoes, tal como ha’ muito venho contestando o conceito de “crioulidade” e rebatendo alguns discursos nele baseados, e’ que: o conceito de raca e’ um constructo ideologico datado no tempo historico – no entanto, a pretensao de usar esse facto para o negar enquanto conceito operativo ao longo da historia das sociedades desde a sua criacao e, muito particularmente, para negar o racismo existente historicamente em Angola e as suas consequencias humanas, nao constitui apenas, a meu ver, pura desonestidade intelectual, mas chega a bordar a criminalidade!

E uma vez que tambem julgo saber que os tais artigos serao publicados em livro, o maximo que me permito aqui fazer como contribuicao para o seu sucesso e’ reeditar um post que ha’ tempos aqui publiquei com sugestoes de leitura para cientistas sociais, ou simplesmente para leitores leigos interessados (estao em Ingles, mas…), esperando que, caso o nosso “negro” (expressao que no mundo literario, especialmente no frances, designa alguem que escreve textos que outros assinam ou dos quais se fazem passar por autores…) nao leia apenas romances, novelas e contos (do vigario!), possa com eles “aprender a aprender; para saber, para saber-estar e para se saber situar”… antes de publicar.

Wa Zanuka!