Monday 28 July 2008

A PROPOSITO DE ‘(DES)VELADAS AMEACAS DE MORTE’…





A INVEJA, DE PECADO CAPITAL À MÁSCARA DA JUSTIÇA

A tradição cristã classificou a inveja como um dos pecados capitais, o vício oposto à virtude da caridade. Tomás de Aquino, no entanto, pergunta por que o sentimento de tristeza tem que ser mau e pecaminoso. Acontece que a maldade não radica no sentir, ou na paixão, mas no que dela pode advir. Não é mau se entristecer, diz São Tomás de Aquino, porque os outros têm aquilo que me falta. A inveja é vício, em todo o caso, na medida em que compele o homem a agir - a agir mal - para remediar essa tristeza. O reprovável não é se sentir aflito pelo bem do outro. O sentimento é incontrolável; o pecado, ao contrário, está na ação que induz essa aflição, a qual é consentida, livre, e pode ser má.

Todos os filósofos têm condenado o vício da inveja, que, como assinala Descartes, não só prejudica os demais como também ao próprio indivíduo. O invejoso fica "com a pele roxa", quer dizer, entre amarelada e preta, como sangue coagulado. Por isso a inveja se chama livor (líveo, "estar livído, pálido") em latim". A inveja é tristeza que se torna ódio, "e o ódio nunca pode ser bom", diz, por sua vez, Spinoza, um ódio que afeta o homem de tal forma que ele não só se entristece pela felicidade do outro, senão que também "goza com seu mal". O filósofo mais duro é Kant, que qualifica a inveja como um "dos vícios da misantropia, diretamente oposto à filantropia", um vício que se manifesta no ódio ao semelhante. Esses vícios misantropos, no juízo de Kant, "constituem a repugnante família da inveja, a ingratidão e a alegria pelo mal alheio". Ainda que reconheça nele o impulso "natural" do ser humano à inveja, não condena tal impulso, mas o "abominável vício de uma paixão humana que se atormenta a si mesma e que se dirige, ao menos como desejo, a destruir a felicidade alheia; portanto, opõe-se tanto ao dever do homem a si mesmo quanto ao dever do homem para com os demais".

Em resumo, o mal não é sentir inveja, o mal é cultivá-la; a inveja é má, pois engendra ódio, e o ódio é destrutivo: destrói o próprio indivíduo e destrói a sociedade.

[Texto integral aqui]





A INVEJA, DE PECADO CAPITAL À MÁSCARA DA JUSTIÇA

A tradição cristã classificou a inveja como um dos pecados capitais, o vício oposto à virtude da caridade. Tomás de Aquino, no entanto, pergunta por que o sentimento de tristeza tem que ser mau e pecaminoso. Acontece que a maldade não radica no sentir, ou na paixão, mas no que dela pode advir. Não é mau se entristecer, diz São Tomás de Aquino, porque os outros têm aquilo que me falta. A inveja é vício, em todo o caso, na medida em que compele o homem a agir - a agir mal - para remediar essa tristeza. O reprovável não é se sentir aflito pelo bem do outro. O sentimento é incontrolável; o pecado, ao contrário, está na ação que induz essa aflição, a qual é consentida, livre, e pode ser má.

Todos os filósofos têm condenado o vício da inveja, que, como assinala Descartes, não só prejudica os demais como também ao próprio indivíduo. O invejoso fica "com a pele roxa", quer dizer, entre amarelada e preta, como sangue coagulado. Por isso a inveja se chama livor (líveo, "estar livído, pálido") em latim". A inveja é tristeza que se torna ódio, "e o ódio nunca pode ser bom", diz, por sua vez, Spinoza, um ódio que afeta o homem de tal forma que ele não só se entristece pela felicidade do outro, senão que também "goza com seu mal". O filósofo mais duro é Kant, que qualifica a inveja como um "dos vícios da misantropia, diretamente oposto à filantropia", um vício que se manifesta no ódio ao semelhante. Esses vícios misantropos, no juízo de Kant, "constituem a repugnante família da inveja, a ingratidão e a alegria pelo mal alheio". Ainda que reconheça nele o impulso "natural" do ser humano à inveja, não condena tal impulso, mas o "abominável vício de uma paixão humana que se atormenta a si mesma e que se dirige, ao menos como desejo, a destruir a felicidade alheia; portanto, opõe-se tanto ao dever do homem a si mesmo quanto ao dever do homem para com os demais".

Em resumo, o mal não é sentir inveja, o mal é cultivá-la; a inveja é má, pois engendra ódio, e o ódio é destrutivo: destrói o próprio indivíduo e destrói a sociedade.

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