Saturday, 26 May 2012

"O Meu 27 de Maio"



This is coast country, humid and God-fearing, where female recklessness runs too deep for short shorts or thongs or cameras.
Sometimes the cut is so deep no woe-is-me tale is enough. Then the only thing that does the trick, that explains the craziness heaping up, holding down, and making women hate one another and ruin their children is an outside evil.

[Toni Morrison in Love]





  Com o meu ultimo post sobre o 27 de Maio, tinha decidido nao mais voltar a assinalar essa data neste blog como o vinha fazendo todos os anos desde o seu inicio. Mas, embora o possa parecer, nao e’ por isso que o faco na vespera – decidi mesmo nao voltar a faze-lo, pelo menos nao neste blog (... e talvez apenas "so' depois de toda a poeira assentar", como aqui argumentava Justino Pinto de Andrade...).

Acontece que, nos ultimos meses, a violencia, e em particular a sexual, contra a mulher, tem-se imposto neste blog como um tema recorrente (e.g. aqui e aqui). Por isso decidi fazer este derradeiro post sobre a orgia de violencia que se abateu sobre milhares de cidadas e cidadaos angolanos desde aquela data e que ainda hoje se faz sentir.

E’ que, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas! Umas directas, outras indirectas ou colaterais.
E mesmo entre as directas, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas!
Umas, as mais rememoradas e mencionadas nas varias obras que veem aos poucos sendo publicadas, provinham dos “circulos restritos” de que aqui se fala. Outras, nunca ou raramente mencionadas, seja em obras de referencia, seja na imprensa corrente (constituindo esta a unica excepcao do meu conhecimento), foram, aberta ou veladamente, catalogados como, senao “lumpens”, os "semi-analfabetos" e "incivilizados" que “vieram do muceque ou do maqui”…

E o 27 de Maio fez vitimas homens e… vitimas mulheres!

E se, entre as vitimas homens, a estratificacao social tem ditado quem tera' sido “more victim than thou” e merecedor de atencao especial por parte dos historiadores e cronistas, ja’ das vitimas mulheres, como um todo e nao apenas com o foco numa ou outra personagem - e aqui Sita Valles (de quem, por sinal, me lembro bem de uma reuniao que os membros do SEDME tiveram com ela na sede da JMPLA em Luanda em 1976/77) vem facilmente a memoria por obra dos livros e artigos que sobre o seu caso ja’ se debrucaram -, a estratificacao por genero tem vindo a ditar que delas e da violencia a que foram sujeitas pouco ou nada se diga.
Mas  muito ha’ a dizer sobre a violencia a que essas vitimas foram sujeitas – e nao me proponho aqui faze-lo em seu nome. Pretendo apenas registar o pouco (muito?) que sei e que me parece dever ser dito:

Nomeadamente que houve mulheres prisioneiras que foram violadas consecutivamente por mais de dez homens numa so’ noite… ou dia.
Nomeadamente, que houve mulheres que foram violadas ou vitimas de outras formas de violencia sexual fora das cadeias apenas por serem namoradas ou mulheres de prisioneiros do 27 de Maio ou de prisioneiros associados a outros agrupamentos politicos…
Nomeadamente, que mulheres ha’ que apenas por terem tido um relacionamento com um prisioneiro do 27 de Maio ou terem familiares nele envolvidos de uma ou outra forma, continuam a ser vitimas das mais diversas formas de violencia sexual e psicologica, directa ou indirectamente, real ou virtualmente!...
E estas ultimas, as vitimas colaterais, continuam a ser vitimas nao apenas dos algozes directos do 27 de Maio, mas tambem das suas sobreviventes vitimas directas: homens ou mulheres!...
 



 Dizia aqui Carlinho Zassala sobre a “sociedade doente” k'estamos kum ela:  "(…) Os problemas que mencionei existem em Angola em grande escala. O problema da guerra causou muitos traumatismos, há pessoas que não gostam que se diga isso, mas o 27 de Maio também causou muitos traumatismos nas pessoas."

E o prubulema k'estamus kum ele e’ que as vitimas directas sobreviventes do 27 de Maio nunca foram, ou se submeteram, a assistencia psicoterapeutica (ressalvando, obviamente, os casos dos que porventura o tenham feito a titulo privado e confidencial), nem nunca obtiveram qualquer acknowledgement oficial do seu “estatuto de vitimas” e apenas muito recentemente (e em grande medida sob o impulso dos livros que nos ultimos anos teem vindo a ser publicados sobre aquele acontecimento) comecaram a falar abertamente das suas experiencias e memorias do carcere, sendo que, durante todo o periodo de mais de 30 anos que entretanto decorreu, tentaram sublimar das mais diversas formas a sua condicao…

Uma dessas formas, para alem do recurso, entre outros escapismos, ao alcool e/ou as drogas, tem sido a "projeccao" da violencia a que foram sujeita/os sobre outra/os que ela/es veem “enviusada, miope e semioticamente” como tendo ficado “imunes” as sevicias pelas quais passaram nas cadeias ou nos campos de “reeducacao”…
Ou que colocam “na pele” dos seus algozes, apelidando-as de “servidor/as do poder” ou "agentes da tenebrosa DISA" para melhor e mais violenta e impunemente as agredirem... Ao mesmo tempo que compartilham os mesmos funges, pomadas e sacos azuis com os verdadeiros servidores do poder, quanto mais nao seja porque, o mais das vezes sao todos "parentes" uns dos outros!...
No que toca aos homens, este (... por entre o seu cinico 'rio de lagrimas de krokodilo'...) e' apenas um “case in point”.




No que toca as mulheres, creio que algumas passagens de alguns dos meus outros posts (como este ...  este ... este ... este ... ou este) poderao indicar casos concretos, sendo que alguns deles apontam para o facto de que nao foram apenas as vitimas, directas ou indirectas, do 27 de Maio, mas tambem mulheres ligadas a outros agrupamentos politicos, que passaram por esse tipo de vitimizacao enquanto prisioneiras ou fora das prisoes…

Nao pretendo, no entanto, pessoalizar aqui mais do que necessario essa questao.
Direi apenas que, no que toca 'as mulheres vitimas directas (ou pelo menos a algumas delas), a tal “projeccao” e “transferencia” da sua vitimizacao se tem consubstanciado, em alguns casos, para alem da propria violencia fisica, na tentativa, nomeadamente atraves da calunia, da difamacao e da estigmatizacao por entre abundantes doses de "chantagem emocional" e outras formas de "blackmail", de desumanizacao e “castracao” da feminilidade, sexualidade, jovialidade, espontaneidade, identidade, dignidade, criatividade, sensibilidade e auto-estima de outras mulheres, especialmente se mais novas do que elas: foi o que a violencia sexual a que foram sujeitas enquanto prisioneiras ainda na flor da idade lhes “castrou”… infelizmente!


["A Mulher Eunuco": obra iconica de Germaine Greer - uma academica que assumiu e tem auto-analisado publicamente o facto de ter sido violada na sua juventude]
 
E assim, essas mulheres vao reproduzindo autofagicamente, particularmente junto dos que lhes sao mais proximos, o ciclo vicioso de violencia, quando nao fisica, psicologica e emocional, que tende a perpetuar-se de geracao em geracao e que vai corroendo amizades, familias e a propria sociedade...
 
 Muita gente ter-se-ha’ perguntado “a que proposito” e, ademais, sendo eu supostamente, tal como hoje, uma “servidora do poder” por ocasiao do 27 de Maio de 1977, ‘todo o mundo’ se permite “falar do 27 de Maio”, tendo uma certa “mae da negritude branca lusofona pos-colonial” (para quem, tal como com outras "academicas" e "investigadoras", aparentemente o 27 de Maio nao passou de um picnic onde se vai "pick and chose" as "reality bites" que melhor possam servir ao paladar das suas "bocas intelectualoides"...)   inclusivamente se dado “ao trabalho” de nomear, no Semanario Angolense, quem, em sua “douta opiniao”, foram os primeiros “literatos” (homens, of course!...) a expressar-se nas suas obras, aberta ou veladamente, sobre os acontecimentos 'a volta daquela data…

Nao sei quem foi, nem tal me parece relevante (nao estou, nunca estive, nem aqui nem em qualquer outro lugar, “em competicao” com quaisquer "outro/as" pela “posse” de uma “memoria” que nao creio alguem sadiamente, de boa fe' e consciencia limpa pretenda empunhar como “um trofeu exclusivo”!…) : sei, isso sim, que, implicitamente, o fiz (e nao, nao o fiz "em Ingles"!) aqui
(... "E’ licito perguntar: que futuro poderao construir os traumatizados cidadaos nascidos desse tipo de relacoes, em conjunto com todos aqueles cujos pais a guerra e a intolerancia politica teem vitimado? Por que tipo de sociedade civil pretendemos lutar?"...)
e, explicitamente, entre outros lugares, numa entrevista que concedi a uma jornalista/escritora brasileira no inicio dos anos 90 (... a qual, by the way, foi censurada...), sendo que, privadamente sempre o fiz, desde que justificado, desde o proprio 27 de Maio de 1977.
E por isso tenho sabido pagar o preco!...

Termino, como vitima colateral do 27 de Maio, com este extracto de um comentario por mim feito ha’ varios anos e aqui reproduzido:

"(...)

A verdade existe sim e, como diz o ditado popular, tal como o azeite vem sempre ao de cima! 
Por isso nao me posso conformar com a ideia de que um acontecimento que teve um impacto tao traumatico e devastador sobre a sociedade angolana seja simplesmente enterrado com os seus principais protagonistas, quando centenas, senao milhares, de orfaos, viuvas e um grande numero de familias angolanas continuam sem saber o que e porque realmente aconteceu com os seus entes queridos, ou sequer onde estao os seus ossos, ja para nao falar na simples admissao oficial da sua liquidacao sumaria e na emissao das respectivas certidoes de obito, que sao basicos direitos humanos e de cidadania de todos nos!

Para mim, eh precisamente o respeito que devemos a TODOS os mortos do 27 de Maio que exige que a verdade e nada menos do que a verdade venha completamente ao de cima. E nao so o respeito pelos mortos: a construcao de um futuro de paz e harmonia para nos os ainda vivos e para as geracoes dos nossos filhos, netos e bisnetos exige que todos os fantasmas do nosso passado sejam completamente exorcisados e as suas cinzas completamente varridas, sob pena de as almas dos nossos mortos jamais virem a gozar da paz eterna que lhes eh devida!

Como nos aconselha o senso comum, ha que enterrar os nossos mortos condignamente, mas a nossa prioridade deve ser cuidar apropriadamente dos vivos, senao viveremos para sempre como mortos-vivos em eterno estado de luto num pais mal assombrado… Agora que a paz institucional entre o MPLA e a UNITA parece ser irreversivel, os acontecimentos do 27 de Maio e todos os contenciosos ainda pendentes da guerra que devastou o pais por decadas que pareciam nao ter fim deveriam sim ser objecto de algo assim como a ‘Comissao para a Verdade e Reconciliacao’ que tanto ajudou a Africa do Sul a enfrentar o seu futuro com optimismo e com espiritos mais ou menos pacificados. 
E tal evento, que deveria assumir foros de um verdadeiro Komba Ditokwa Nacional, deveria realizar-se mais cedo do que tarde!

(...)"


 

"(...)

e, sobretudo,
nao me perguntes
pelo que nao disse
pois a minha boca
ha' muito se fechou
'a forca do fusil
do homem quem em mim
te semeou!

(...)

[Extracto de "Ralhete" - A.S. in S.O.S. - ... e nao, NUNCA FUI VIOLADA!...]









  Com o meu ultimo post sobre o 27 de Maio, tinha decidido nao mais voltar a assinalar essa data neste blog como o vinha fazendo todos os anos desde o seu inicio. Mas, embora o possa parecer, nao e’ por isso que o faco na vespera – decidi mesmo nao voltar a faze-lo, pelo menos nao neste blog (... e talvez apenas "so' depois de toda a poeira assentar", como aqui argumentava Justino Pinto de Andrade...).

Acontece que, nos ultimos meses, a violencia, e em particular a sexual, contra a mulher, tem-se imposto neste blog como um tema recorrente (e.g. aqui e aqui). Por isso decidi fazer este derradeiro post sobre a orgia de violencia que se abateu sobre milhares de cidadas e cidadaos angolanos desde aquela data e que ainda hoje se faz sentir.

E’ que, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas! Umas directas, outras indirectas ou colaterais.
E mesmo entre as directas, o 27 de Maio fez vitimas… e vitimas!
Umas, as mais rememoradas e mencionadas nas varias obras que veem aos poucos sendo publicadas, provinham dos “circulos restritos” de que aqui se fala. Outras, nunca ou raramente mencionadas, seja em obras de referencia, seja na imprensa corrente (constituindo esta a unica excepcao do meu conhecimento), foram, aberta ou veladamente, catalogados como, senao “lumpens”, os "semi-analfabetos" e "incivilizados" que “vieram do muceque ou do maqui”…

E o 27 de Maio fez vitimas homens e… vitimas mulheres!

E se, entre as vitimas homens, a estratificacao social tem ditado quem tera' sido “more victim than thou” e merecedor de atencao especial por parte dos historiadores e cronistas, ja’ das vitimas mulheres, como um todo e nao apenas com o foco numa ou outra personagem - e aqui Sita Valles (de quem, por sinal, me lembro bem de uma reuniao que os membros do SEDME tiveram com ela na sede da JMPLA em Luanda em 1976/77) vem facilmente a memoria por obra dos livros e artigos que sobre o seu caso ja’ se debrucaram -, a estratificacao por genero tem vindo a ditar que delas e da violencia a que foram sujeitas pouco ou nada se diga.
Mas  muito ha’ a dizer sobre a violencia a que essas vitimas foram sujeitas – e nao me proponho aqui faze-lo em seu nome. Pretendo apenas registar o pouco (muito?) que sei e que me parece dever ser dito:

Nomeadamente que houve mulheres prisioneiras que foram violadas consecutivamente por mais de dez homens numa so’ noite… ou dia.
Nomeadamente, que houve mulheres que foram violadas ou vitimas de outras formas de violencia sexual fora das cadeias apenas por serem namoradas ou mulheres de prisioneiros do 27 de Maio ou de prisioneiros associados a outros agrupamentos politicos…
Nomeadamente, que mulheres ha’ que apenas por terem tido um relacionamento com um prisioneiro do 27 de Maio ou terem familiares nele envolvidos de uma ou outra forma, continuam a ser vitimas das mais diversas formas de violencia sexual e psicologica, directa ou indirectamente, real ou virtualmente!...
E estas ultimas, as vitimas colaterais, continuam a ser vitimas nao apenas dos algozes directos do 27 de Maio, mas tambem das suas sobreviventes vitimas directas: homens ou mulheres!...
 



 Dizia aqui Carlinho Zassala sobre a “sociedade doente” k'estamos kum ela:  "(…) Os problemas que mencionei existem em Angola em grande escala. O problema da guerra causou muitos traumatismos, há pessoas que não gostam que se diga isso, mas o 27 de Maio também causou muitos traumatismos nas pessoas."

E o prubulema k'estamus kum ele e’ que as vitimas directas sobreviventes do 27 de Maio nunca foram, ou se submeteram, a assistencia psicoterapeutica (ressalvando, obviamente, os casos dos que porventura o tenham feito a titulo privado e confidencial), nem nunca obtiveram qualquer acknowledgement oficial do seu “estatuto de vitimas” e apenas muito recentemente (e em grande medida sob o impulso dos livros que nos ultimos anos teem vindo a ser publicados sobre aquele acontecimento) comecaram a falar abertamente das suas experiencias e memorias do carcere, sendo que, durante todo o periodo de mais de 30 anos que entretanto decorreu, tentaram sublimar das mais diversas formas a sua condicao…

Uma dessas formas, para alem do recurso, entre outros escapismos, ao alcool e/ou as drogas, tem sido a "projeccao" da violencia a que foram sujeita/os sobre outra/os que ela/es veem “enviusada, miope e semioticamente” como tendo ficado “imunes” as sevicias pelas quais passaram nas cadeias ou nos campos de “reeducacao”…
Ou que colocam “na pele” dos seus algozes, apelidando-as de “servidor/as do poder” ou "agentes da tenebrosa DISA" para melhor e mais violenta e impunemente as agredirem... Ao mesmo tempo que compartilham os mesmos funges, pomadas e sacos azuis com os verdadeiros servidores do poder, quanto mais nao seja porque, o mais das vezes sao todos "parentes" uns dos outros!...
No que toca aos homens, este (... por entre o seu cinico 'rio de lagrimas de krokodilo'...) e' apenas um “case in point”.




No que toca as mulheres, creio que algumas passagens de alguns dos meus outros posts (como este ...  este ... este ... este ... ou este) poderao indicar casos concretos, sendo que alguns deles apontam para o facto de que nao foram apenas as vitimas, directas ou indirectas, do 27 de Maio, mas tambem mulheres ligadas a outros agrupamentos politicos, que passaram por esse tipo de vitimizacao enquanto prisioneiras ou fora das prisoes…

Nao pretendo, no entanto, pessoalizar aqui mais do que necessario essa questao.
Direi apenas que, no que toca 'as mulheres vitimas directas (ou pelo menos a algumas delas), a tal “projeccao” e “transferencia” da sua vitimizacao se tem consubstanciado, em alguns casos, para alem da propria violencia fisica, na tentativa, nomeadamente atraves da calunia, da difamacao e da estigmatizacao por entre abundantes doses de "chantagem emocional" e outras formas de "blackmail", de desumanizacao e “castracao” da feminilidade, sexualidade, jovialidade, espontaneidade, identidade, dignidade, criatividade, sensibilidade e auto-estima de outras mulheres, especialmente se mais novas do que elas: foi o que a violencia sexual a que foram sujeitas enquanto prisioneiras ainda na flor da idade lhes “castrou”… infelizmente!


["A Mulher Eunuco": obra iconica de Germaine Greer - uma academica que assumiu e tem auto-analisado publicamente o facto de ter sido violada na sua juventude]
 
E assim, essas mulheres vao reproduzindo autofagicamente, particularmente junto dos que lhes sao mais proximos, o ciclo vicioso de violencia, quando nao fisica, psicologica e emocional, que tende a perpetuar-se de geracao em geracao e que vai corroendo amizades, familias e a propria sociedade...
 
 Muita gente ter-se-ha’ perguntado “a que proposito” e, ademais, sendo eu supostamente, tal como hoje, uma “servidora do poder” por ocasiao do 27 de Maio de 1977, ‘todo o mundo’ se permite “falar do 27 de Maio”, tendo uma certa “mae da negritude branca lusofona pos-colonial” (para quem, tal como com outras "academicas" e "investigadoras", aparentemente o 27 de Maio nao passou de um picnic onde se vai "pick and chose" as "reality bites" que melhor possam servir ao paladar das suas "bocas intelectualoides"...)   inclusivamente se dado “ao trabalho” de nomear, no Semanario Angolense, quem, em sua “douta opiniao”, foram os primeiros “literatos” (homens, of course!...) a expressar-se nas suas obras, aberta ou veladamente, sobre os acontecimentos 'a volta daquela data…

Nao sei quem foi, nem tal me parece relevante (nao estou, nunca estive, nem aqui nem em qualquer outro lugar, “em competicao” com quaisquer "outro/as" pela “posse” de uma “memoria” que nao creio alguem sadiamente, de boa fe' e consciencia limpa pretenda empunhar como “um trofeu exclusivo”!…) : sei, isso sim, que, implicitamente, o fiz (e nao, nao o fiz "em Ingles"!) aqui
(... "E’ licito perguntar: que futuro poderao construir os traumatizados cidadaos nascidos desse tipo de relacoes, em conjunto com todos aqueles cujos pais a guerra e a intolerancia politica teem vitimado? Por que tipo de sociedade civil pretendemos lutar?"...)
e, explicitamente, entre outros lugares, numa entrevista que concedi a uma jornalista/escritora brasileira no inicio dos anos 90 (... a qual, by the way, foi censurada...), sendo que, privadamente sempre o fiz, desde que justificado, desde o proprio 27 de Maio de 1977.
E por isso tenho sabido pagar o preco!...

Termino, como vitima colateral do 27 de Maio, com este extracto de um comentario por mim feito ha’ varios anos e aqui reproduzido:

"(...)

A verdade existe sim e, como diz o ditado popular, tal como o azeite vem sempre ao de cima! 
Por isso nao me posso conformar com a ideia de que um acontecimento que teve um impacto tao traumatico e devastador sobre a sociedade angolana seja simplesmente enterrado com os seus principais protagonistas, quando centenas, senao milhares, de orfaos, viuvas e um grande numero de familias angolanas continuam sem saber o que e porque realmente aconteceu com os seus entes queridos, ou sequer onde estao os seus ossos, ja para nao falar na simples admissao oficial da sua liquidacao sumaria e na emissao das respectivas certidoes de obito, que sao basicos direitos humanos e de cidadania de todos nos!

Para mim, eh precisamente o respeito que devemos a TODOS os mortos do 27 de Maio que exige que a verdade e nada menos do que a verdade venha completamente ao de cima. E nao so o respeito pelos mortos: a construcao de um futuro de paz e harmonia para nos os ainda vivos e para as geracoes dos nossos filhos, netos e bisnetos exige que todos os fantasmas do nosso passado sejam completamente exorcisados e as suas cinzas completamente varridas, sob pena de as almas dos nossos mortos jamais virem a gozar da paz eterna que lhes eh devida!

Como nos aconselha o senso comum, ha que enterrar os nossos mortos condignamente, mas a nossa prioridade deve ser cuidar apropriadamente dos vivos, senao viveremos para sempre como mortos-vivos em eterno estado de luto num pais mal assombrado… Agora que a paz institucional entre o MPLA e a UNITA parece ser irreversivel, os acontecimentos do 27 de Maio e todos os contenciosos ainda pendentes da guerra que devastou o pais por decadas que pareciam nao ter fim deveriam sim ser objecto de algo assim como a ‘Comissao para a Verdade e Reconciliacao’ que tanto ajudou a Africa do Sul a enfrentar o seu futuro com optimismo e com espiritos mais ou menos pacificados. 
E tal evento, que deveria assumir foros de um verdadeiro Komba Ditokwa Nacional, deveria realizar-se mais cedo do que tarde!

(...)"


 

"(...)

e, sobretudo,
nao me perguntes
pelo que nao disse
pois a minha boca
ha' muito se fechou
'a forca do fusil
do homem quem em mim
te semeou!

(...)

[Extracto de "Ralhete" - A.S. in S.O.S. - ... e nao, NUNCA FUI VIOLADA!...]


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