Este livro, recentemente publicado, baseado numa Dissertacao de Mestrado sobre o tema por Leonor Figueiredo, trata, como o seu titulo indica, do Movimento Associativo Estudantil de 1974/75 em Luanda. Da dissertacao (que pode ser acessada aqui), extrai algumas passagens, sobre as quais pretendo fazer aqui alguns breves comentarios nos proximos posts.
Neste primeiro apontamento, destaco duas passagens em que sao referidos aqueles que, naquele movimento e "seus arredores", me sao, ou eram, mais proximos, ou com quem lidei mais de perto: Teresa Santana - minha irma (mencionada aqui) e Waldemar Parreira, seu ex-marido (mencionado aqui e aqui), nao podendo deixar de mencionar especialmente o facto de a mencao 'a minha irma ser feita pelo Timoteo Macedo, outra pessoa relativamente proxima e que, desde aquela altura, apenas recentemente vim a "reencontrar" no Facebook:
Nos liceus, as forças em confronto estavam identificadas. A
mais forte, embora
pudesse não ser a mais numerosa, era a Pro‐AEESL (contestatária,
mais radical do que
o próprio MPLA), que extremava práticas e discursos, valendo‐se
da dicotomia –
“reaccionários” (os nao‐MPLA) versus “revolucionários” (os
MPLA), entre os quais se
incluía. Mas “a Pró”, como era chamada, defrontava‐se no
terreno com os Grupos de
Trabalho, seus rivais, que tinham sido criados no Liceu
Feminino, no Liceu Salvador
Correia e no Liceu Paulo Dias de Novais, embora fossem
independentes uns dos
outros, que aglutinavam alunos próximos da UNITA, FNLA ou
rivais da Pro‐AEESL. A
eles se associavam, normalmente, as direcções dos
estabelecimentos de ensino e os
professores que não faziam parte do grupo de docentes
sindicalistas pro‐MPLA. Uma
terceira força, de que pouco se sabe, juntava alunos de
esquerda, do MPLA ou não,
que ganharam eleições nos seus estabelecimentos de ensino.
Um dos líderes do Liceu Salvador Correia, Valdemar Parreira,
que desde o início esteve no Movimento Estudantil, distanciou-se dos que
formaram a Pro-AEESL, para se integrar na Associação dos Estudantes do Liceu
Salvador Correia, trabalhou para que o mesmo acontecesse no Liceu Paulo Dias.
“(…) A Pro-AEESL tentou politizar o ME e este fragmentou-se. Os que estavam
contra a Pro-AEESL fundaram outras associações. Foi o que eu fiz, com o Pedro
Pinto e o Quintas. Eu já estava integrado no MPLA, mas a associação, não (…)”.
[Entrevista a Valdemar Parreira, a 3 de Julho de 2011. Era
aluno do 7º ano do Salvador Correia. Pertenceu mais tarde à OCA, foi preso pelo
MPLA entre 1976 e 1979]
Um dos militantes OCA que se manteve até à última na Pro-AEESL
recorda como foi
extinta. “(…) Havia muita pressão para aderirmos à JMPLA. (…) Como queríamos ficar independentes, a JMPLA
decidiu extinguir-nos. Eu e a Teresa Santana (Teca), éramos os que sobrávamos
dos dirigentes, porque foram saindo para Portugal, e outros líderes associativos
tinham sido presos. Fomos chamados às instalações da JMPLA, num clima de
intimidação, com ameaças. Argumentavam, «vocês têm de ser do Mpla!», «ou são do
Mpla ou são anti-Mpla». Não podíamos ser uma estrutura independente. Havia este
autoritarismo político. A pro-AEESL foi extinta assim. Eu e Teresa Santana
tivemos a coragem de ir lá um dia à noite, em finais de 1976. Eles declararam
que a pro-AEESL deixava de existir e a JMPLA é que ia fundar uma associação. E
ponto final (…)”
[Entrevista
a Timóteo Macedo em 27/1/2011. Tinha nesta altura 19 anos, era aluno da Escola
Industrial.
Militante dos CAC antes do 25 de Abril, foi activista do Movimento Estudantil,
e mais tarde
pertenceu
à OCA. Foi preso pelo MPLA entre Janeiro de 1978 e Julho de 1979]N.B.: Como militante da JMPLA na altura (como o notei aqui) nao posso, infelizmente, corroborar as afirmacoes do Timoteo - e nao: nao em qualquer tipo de "self-defense" ou "denial". Trata-se apenas do facto de que muita coisa se passou naquele conturbado periodo e nem tudo e' suficientemente conhecido de todos. De minha parte, a unica coisa de que nao tenho quaisquer duvidas e' que, desde aquela altura, passei a ser acusada falsa e injustamente, por elementos da Pro-AEESL mais ligados a outros agrupamentos politicos como a OCA e os CAC, de ser "servidora do poder" e ate'... "agente da DISA" (!) apenas por pertencer a JMPLA e, especialmente, a sua Seccao de Enquadramento e Direccao das Massas Estudantis (SEDME), numa fase em que o Movimento Estudantil de 1974/75 em si mesmo ja' se tinha praticamente auto-extinto, pelas mais variadas razoes. E isso continua a afectar negativamente a minha vida, como aqui se pode constatar... Infelizmente!
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