Thursday, 10 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (I)


Este livro, recentemente publicado, baseado numa Dissertacao de Mestrado sobre o tema por Leonor Figueiredo, trata, como o seu titulo indica, do Movimento Associativo Estudantil de 1974/75 em Luanda.  Da dissertacao (que pode ser acessada aqui), extrai algumas passagens, sobre as quais pretendo fazer aqui alguns breves comentarios nos proximos posts. 

Neste primeiro apontamento, destaco duas passagens em que sao referidos aqueles que, naquele movimento e "seus arredores", me sao, ou eram, mais proximos, ou com quem lidei mais de perto: Teresa Santana - minha irma (mencionada aqui) e Waldemar Parreira, seu ex-marido (mencionado aqui e aqui), nao podendo deixar de mencionar especialmente o facto de a mencao 'a minha irma ser feita pelo Timoteo Macedo, outra pessoa relativamente proxima e que, desde aquela altura, apenas recentemente vim a "reencontrar" no Facebook:

Nos liceus, as forças em confronto estavam identificadas. A mais forte, embora
pudesse não ser a mais numerosa, era a Pro‐AEESL (contestatária, mais radical do que
o próprio MPLA), que extremava práticas e discursos, valendo‐se da dicotomia –
“reaccionários” (os nao‐MPLA) versus “revolucionários” (os MPLA), entre os quais se
incluía. Mas “a Pró”, como era chamada, defrontava‐se no terreno com os Grupos de
Trabalho, seus rivais, que tinham sido criados no Liceu Feminino, no Liceu Salvador
Correia e no Liceu Paulo Dias de Novais, embora fossem independentes uns dos
outros, que aglutinavam alunos próximos da UNITA, FNLA ou rivais da Pro‐AEESL. A
eles se associavam, normalmente, as direcções dos estabelecimentos de ensino e os
professores que não faziam parte do grupo de docentes sindicalistas pro‐MPLA. Uma
terceira força, de que pouco se sabe, juntava alunos de esquerda, do MPLA ou não,
que ganharam eleições nos seus estabelecimentos de ensino.


Um dos líderes do Liceu Salvador Correia, Valdemar Parreira, que desde o início esteve no Movimento Estudantil, distanciou-se dos que formaram a Pro-AEESL, para se integrar na Associação dos Estudantes do Liceu Salvador Correia, trabalhou para que o mesmo acontecesse no Liceu Paulo Dias. “(…) A Pro-AEESL tentou politizar o ME e este fragmentou-se. Os que estavam contra a Pro-AEESL fundaram outras associações. Foi o que eu fiz, com o Pedro Pinto e o Quintas. Eu já estava integrado no MPLA, mas a associação, não (…)”.

[Entrevista a Valdemar Parreira, a 3 de Julho de 2011. Era aluno do 7º ano do Salvador Correia. Pertenceu mais tarde à OCA, foi preso pelo MPLA entre 1976 e 1979]

Um dos militantes OCA que se manteve até à última na Pro-AEESL recorda como foi extinta. “(…) Havia muita pressão para aderirmos à JMPLA. (…) Como queríamos ficar independentes, a JMPLA decidiu extinguir-nos. Eu e a Teresa Santana (Teca), éramos os que sobrávamos dos dirigentes, porque foram saindo para Portugal, e outros líderes associativos tinham sido presos. Fomos chamados às instalações da JMPLA, num clima de intimidação, com ameaças. Argumentavam, «vocês têm de ser do Mpla!», «ou são do Mpla ou são anti-Mpla». Não podíamos ser uma estrutura independente. Havia este autoritarismo político. A pro-AEESL foi extinta assim. Eu e Teresa Santana tivemos a coragem de ir lá um dia à noite, em finais de 1976. Eles declararam que a pro-AEESL deixava de existir e a JMPLA é que ia fundar uma associação. E ponto final (…)”

[Entrevista a Timóteo Macedo em 27/1/2011. Tinha nesta altura 19 anos, era aluno da Escola
Industrial. Militante dos CAC antes do 25 de Abril, foi activista do Movimento Estudantil, e mais tarde
pertenceu à OCA. Foi preso pelo MPLA entre Janeiro de 1978 e Julho de 1979]


N.B.: Como militante da JMPLA na altura (como o notei aqui) nao posso, infelizmente, corroborar as afirmacoes do Timoteo - e nao: nao em qualquer tipo de "self-defense" ou "denial". Trata-se apenas do facto de que muita coisa se passou naquele conturbado periodo e nem tudo e' suficientemente conhecido de todos. De minha parte, a unica coisa de que nao tenho quaisquer duvidas e' que, desde aquela altura, passei a ser acusada falsa e injustamente, por elementos da Pro-AEESL mais ligados a outros agrupamentos politicos como a OCA e os CAC, de ser "servidora do poder" e ate'... "agente da DISA" (!) apenas por pertencer a JMPLA e, especialmente, a sua Seccao de Enquadramento e Direccao das Massas Estudantis (SEDME), numa fase em que o Movimento Estudantil de 1974/75 em si mesmo ja' se tinha praticamente auto-extinto, pelas mais variadas razoes. E isso continua a afectar negativamente a minha vida, como aqui se pode constatar... Infelizmente!


Este livro, recentemente publicado, baseado numa Dissertacao de Mestrado sobre o tema por Leonor Figueiredo, trata, como o seu titulo indica, do Movimento Associativo Estudantil de 1974/75 em Luanda.  Da dissertacao (que pode ser acessada aqui), extrai algumas passagens, sobre as quais pretendo fazer aqui alguns breves comentarios nos proximos posts. 

Neste primeiro apontamento, destaco duas passagens em que sao referidos aqueles que, naquele movimento e "seus arredores", me sao, ou eram, mais proximos, ou com quem lidei mais de perto: Teresa Santana - minha irma (mencionada aqui) e Waldemar Parreira, seu ex-marido (mencionado aqui e aqui), nao podendo deixar de mencionar especialmente o facto de a mencao 'a minha irma ser feita pelo Timoteo Macedo, outra pessoa relativamente proxima e que, desde aquela altura, apenas recentemente vim a "reencontrar" no Facebook:

Nos liceus, as forças em confronto estavam identificadas. A mais forte, embora
pudesse não ser a mais numerosa, era a Pro‐AEESL (contestatária, mais radical do que
o próprio MPLA), que extremava práticas e discursos, valendo‐se da dicotomia –
“reaccionários” (os nao‐MPLA) versus “revolucionários” (os MPLA), entre os quais se
incluía. Mas “a Pró”, como era chamada, defrontava‐se no terreno com os Grupos de
Trabalho, seus rivais, que tinham sido criados no Liceu Feminino, no Liceu Salvador
Correia e no Liceu Paulo Dias de Novais, embora fossem independentes uns dos
outros, que aglutinavam alunos próximos da UNITA, FNLA ou rivais da Pro‐AEESL. A
eles se associavam, normalmente, as direcções dos estabelecimentos de ensino e os
professores que não faziam parte do grupo de docentes sindicalistas pro‐MPLA. Uma
terceira força, de que pouco se sabe, juntava alunos de esquerda, do MPLA ou não,
que ganharam eleições nos seus estabelecimentos de ensino.


Um dos líderes do Liceu Salvador Correia, Valdemar Parreira, que desde o início esteve no Movimento Estudantil, distanciou-se dos que formaram a Pro-AEESL, para se integrar na Associação dos Estudantes do Liceu Salvador Correia, trabalhou para que o mesmo acontecesse no Liceu Paulo Dias. “(…) A Pro-AEESL tentou politizar o ME e este fragmentou-se. Os que estavam contra a Pro-AEESL fundaram outras associações. Foi o que eu fiz, com o Pedro Pinto e o Quintas. Eu já estava integrado no MPLA, mas a associação, não (…)”.

[Entrevista a Valdemar Parreira, a 3 de Julho de 2011. Era aluno do 7º ano do Salvador Correia. Pertenceu mais tarde à OCA, foi preso pelo MPLA entre 1976 e 1979]

Um dos militantes OCA que se manteve até à última na Pro-AEESL recorda como foi extinta. “(…) Havia muita pressão para aderirmos à JMPLA. (…) Como queríamos ficar independentes, a JMPLA decidiu extinguir-nos. Eu e a Teresa Santana (Teca), éramos os que sobrávamos dos dirigentes, porque foram saindo para Portugal, e outros líderes associativos tinham sido presos. Fomos chamados às instalações da JMPLA, num clima de intimidação, com ameaças. Argumentavam, «vocês têm de ser do Mpla!», «ou são do Mpla ou são anti-Mpla». Não podíamos ser uma estrutura independente. Havia este autoritarismo político. A pro-AEESL foi extinta assim. Eu e Teresa Santana tivemos a coragem de ir lá um dia à noite, em finais de 1976. Eles declararam que a pro-AEESL deixava de existir e a JMPLA é que ia fundar uma associação. E ponto final (…)”

[Entrevista a Timóteo Macedo em 27/1/2011. Tinha nesta altura 19 anos, era aluno da Escola
Industrial. Militante dos CAC antes do 25 de Abril, foi activista do Movimento Estudantil, e mais tarde
pertenceu à OCA. Foi preso pelo MPLA entre Janeiro de 1978 e Julho de 1979]


N.B.: Como militante da JMPLA na altura (como o notei aqui) nao posso, infelizmente, corroborar as afirmacoes do Timoteo - e nao: nao em qualquer tipo de "self-defense" ou "denial". Trata-se apenas do facto de que muita coisa se passou naquele conturbado periodo e nem tudo e' suficientemente conhecido de todos. De minha parte, a unica coisa de que nao tenho quaisquer duvidas e' que, desde aquela altura, passei a ser acusada falsa e injustamente, por elementos da Pro-AEESL mais ligados a outros agrupamentos politicos como a OCA e os CAC, de ser "servidora do poder" e ate'... "agente da DISA" (!) apenas por pertencer a JMPLA e, especialmente, a sua Seccao de Enquadramento e Direccao das Massas Estudantis (SEDME), numa fase em que o Movimento Estudantil de 1974/75 em si mesmo ja' se tinha praticamente auto-extinto, pelas mais variadas razoes. E isso continua a afectar negativamente a minha vida, como aqui se pode constatar... Infelizmente!

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