Monday 14 May 2012

Sobre o Movimento Estudantil (III)



[Continuacao daqui]

"Duas manifestações de alunos calcorrearam as ruas de Luanda a 23 de Abril de 1975, uma de apoio e outra de repúdio à greve do Secundário. Terminaram no Palácio do Governo, com os representantes recebidos por membros do Executivo. A primeira manifestação, às 11 h, reuniu simpatizantes de Jerónimo Wanga, com cartazes «não à greve», «queremos aulas», «viva o Ministro da Educação». Decorreu normalmente.
A segunda manifestação, promovida pela Pro-AEESL, começou ao início da tarde, e contou com universitários. A imprensa do MPLA referia-se a 5 mil manifestantes. Os alunos partiram do Liceu Feminino e foram a entoar palavras de ordem até ao palácio: «por um ensino popular», «os estudantes ao lado do povo trabalhador», «quem oprime não liberta, quem liberta não oprime», «manobras da reacção, os estudantes dizem não». Na sede do governo realizaram um comício, enquanto aguardavam a delegação que fora entregar as reivindicações. A Pro-AEUL referiu que a comissão esperou no palácio duas horas para ser recebida, e foi alvo de “gestos de ameaça e gozo” por parte do Secretário de Estado do Interior, eng. Vahakeni. Às 18 h, para o arrear da bandeira, estudantes da comissão vieram à varanda pedir para a
manifestação recuar, mas o megafone funcionava mal, os de trás não compreenderam
a mensagem. Foi então que a Polícia Militar empurrou a multidão e começou à “brutal
cacetada”. Gerou‐se o pânico, alguns estudantes foram agredidos, outros entraram em confonto. Os polícias dispararam para o ar, obrigando a uma “precipitada debandada geral”, com quedas e atropelos. A PM feriu estudantes à cacetada e à coronhada."

Entrevista a Pedro Guerra em 25/1/2011. Em 1975 tinha 17 anos, frequentava o 7º ano no Liceu Paulo Dias de Novais, onde pertencia a um grupo de teatro que lhe deu alguma consciência política, antes do 25 de Abril. Foi líder da Pro‐AEESL, e militante dos CAC, da “célula” do Liceu Feminino.

COMENTARIO: Lembro-me bem da segunda manifestacao, em que participei. E tambem de quando descemos a calcada do palacio em fuga, ca’ em baixo eu ter olhado para tras e, se a memoria nao me prega partidas, ter visto a Nani Pereira e o Ricardo de Mello de maos dadas a correr atras de mim…
Por aqueles dias os “confrontos” das manifestacoes viviam-se tambem em minha casa, porque a minha mae, funcionaria do Ministerio da Educacao, exercia na altura as funcoes de Secretaria do Ministro Jeronimo Wanga – um dia ela deu-me um par de estalos porque eu tinha dado uma “resposta torta” ao que ela dizia pelo meio das excitadas discussoes que tinhamos sobre as manifestacoes, a greve e o movimento estudantil em geral: “Ha’ que respeita-lo independentemente da politica, porque ele e’ uma pessoa culta e educada!”

"A Cimeira de Nakuru, entre 16 e 21 de Junho de 1975, foi uma encenação dos presidentes dos 3 movimentos. O fracasso ficou demonstrado nos combates que se seguiram. Nestas circunstâncias o programa para os exames foi afectado e aberta nova oportunidade. E com os exames vieram os seus contestatários. Piquetes de alunos e professores mobilizaram‐se para dissuadirem os fura‐greves. Mas as provas realizaram‐se em colégios particulares – D. Moisés Alves de Pinho, D. João II, Viriato, Cristo Rei, Bom Saber, Alexandre Herculano, Universal, José Régio, Santo Condestável, S. José de Cluny e Vasco da Gama. Nos dois últimos houve manifestações. No Colégio S. José de Cluny os exames foram suspensos no dia 24 de Junho 1975, após intervenção da Polícia Militar, que disparou para o ar (segundo a imprensa), contra um grupo desarmado (segundo os professores). Outro incidente envolveu a pistola com que uma funcionária do colégio ameaçou os grevistas. Houve um segundo episódio com disparos. Estudantes feridos à coronhada receberam tratamento hospitalar."

COMENTARIO: Lembro-me tambem perfeitamente bem do boicote aos exames e da "berrida" que levamos da Policia Militar no S. José de Cluny. Na primeira lembro-me de ter fugido pela calcada a baixo e de as minhas 'socas' de madeira se terem rachado pelo caminho. Na segunda, alguns de nos fomos parar ao apartamento da mae do Tirso (num predio no Kinaxixe que ficava em frente aquele em que eu viria a ter o meu kubiko ke me kassumbularam kum ele) de onde ele se pos a telefonar para hospitais pedindo socorro para atender aos que tinham ficado feridos. 

 


[Continuacao daqui]

"Duas manifestações de alunos calcorrearam as ruas de Luanda a 23 de Abril de 1975, uma de apoio e outra de repúdio à greve do Secundário. Terminaram no Palácio do Governo, com os representantes recebidos por membros do Executivo. A primeira manifestação, às 11 h, reuniu simpatizantes de Jerónimo Wanga, com cartazes «não à greve», «queremos aulas», «viva o Ministro da Educação». Decorreu normalmente.
A segunda manifestação, promovida pela Pro-AEESL, começou ao início da tarde, e contou com universitários. A imprensa do MPLA referia-se a 5 mil manifestantes. Os alunos partiram do Liceu Feminino e foram a entoar palavras de ordem até ao palácio: «por um ensino popular», «os estudantes ao lado do povo trabalhador», «quem oprime não liberta, quem liberta não oprime», «manobras da reacção, os estudantes dizem não». Na sede do governo realizaram um comício, enquanto aguardavam a delegação que fora entregar as reivindicações. A Pro-AEUL referiu que a comissão esperou no palácio duas horas para ser recebida, e foi alvo de “gestos de ameaça e gozo” por parte do Secretário de Estado do Interior, eng. Vahakeni. Às 18 h, para o arrear da bandeira, estudantes da comissão vieram à varanda pedir para a
manifestação recuar, mas o megafone funcionava mal, os de trás não compreenderam
a mensagem. Foi então que a Polícia Militar empurrou a multidão e começou à “brutal
cacetada”. Gerou‐se o pânico, alguns estudantes foram agredidos, outros entraram em confonto. Os polícias dispararam para o ar, obrigando a uma “precipitada debandada geral”, com quedas e atropelos. A PM feriu estudantes à cacetada e à coronhada."

Entrevista a Pedro Guerra em 25/1/2011. Em 1975 tinha 17 anos, frequentava o 7º ano no Liceu Paulo Dias de Novais, onde pertencia a um grupo de teatro que lhe deu alguma consciência política, antes do 25 de Abril. Foi líder da Pro‐AEESL, e militante dos CAC, da “célula” do Liceu Feminino.

COMENTARIO: Lembro-me bem da segunda manifestacao, em que participei. E tambem de quando descemos a calcada do palacio em fuga, ca’ em baixo eu ter olhado para tras e, se a memoria nao me prega partidas, ter visto a Nani Pereira e o Ricardo de Mello de maos dadas a correr atras de mim…
Por aqueles dias os “confrontos” das manifestacoes viviam-se tambem em minha casa, porque a minha mae, funcionaria do Ministerio da Educacao, exercia na altura as funcoes de Secretaria do Ministro Jeronimo Wanga – um dia ela deu-me um par de estalos porque eu tinha dado uma “resposta torta” ao que ela dizia pelo meio das excitadas discussoes que tinhamos sobre as manifestacoes, a greve e o movimento estudantil em geral: “Ha’ que respeita-lo independentemente da politica, porque ele e’ uma pessoa culta e educada!”

"A Cimeira de Nakuru, entre 16 e 21 de Junho de 1975, foi uma encenação dos presidentes dos 3 movimentos. O fracasso ficou demonstrado nos combates que se seguiram. Nestas circunstâncias o programa para os exames foi afectado e aberta nova oportunidade. E com os exames vieram os seus contestatários. Piquetes de alunos e professores mobilizaram‐se para dissuadirem os fura‐greves. Mas as provas realizaram‐se em colégios particulares – D. Moisés Alves de Pinho, D. João II, Viriato, Cristo Rei, Bom Saber, Alexandre Herculano, Universal, José Régio, Santo Condestável, S. José de Cluny e Vasco da Gama. Nos dois últimos houve manifestações. No Colégio S. José de Cluny os exames foram suspensos no dia 24 de Junho 1975, após intervenção da Polícia Militar, que disparou para o ar (segundo a imprensa), contra um grupo desarmado (segundo os professores). Outro incidente envolveu a pistola com que uma funcionária do colégio ameaçou os grevistas. Houve um segundo episódio com disparos. Estudantes feridos à coronhada receberam tratamento hospitalar."

COMENTARIO: Lembro-me tambem perfeitamente bem do boicote aos exames e da "berrida" que levamos da Policia Militar no S. José de Cluny. Na primeira lembro-me de ter fugido pela calcada a baixo e de as minhas 'socas' de madeira se terem rachado pelo caminho. Na segunda, alguns de nos fomos parar ao apartamento da mae do Tirso (num predio no Kinaxixe que ficava em frente aquele em que eu viria a ter o meu kubiko ke me kassumbularam kum ele) de onde ele se pos a telefonar para hospitais pedindo socorro para atender aos que tinham ficado feridos. 

 

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