Wednesday, 21 March 2007

ANGOLA: SOBRE O ESTADO DA CULTURA NACIONAL

“Marito no Fundo do Poço”




Uma boa parte dos fundadores ou dos mais antigos integrantes dos «Kiezos», agrupamento musical que marcou a época de ouro do semba angolano, está a viver miseravelmente, em face das grandes privações por que passa, diante do olhar silencioso dos responsáveis do ministério da Cultura, que tinham a obrigação de os ajudar a reaver a dignidade, pelo contributo inestimável dado ao desenvolvimento do sector.

O Tony do órgão, que agora anda de muletas, está feito um «menino de rua», recolhido numa carcaça de automóvel no Marçal, ao lado da casa do falecido Santo António, o «Diminhê», um boémio da banda, falecido recentemente. O Marito, o maior solista angolano de todos os tempos, está a passar por uma grave crise existencial, andando por aí feito um andrajoso, ainda que limpo. Com algum apoio, se calhar para uma desintoxicação e outras recuperações, ainda podemos tê-lo por aí de cabeça erguida. Ao contrário, não deverá resistir muito tempo. E depois é que virão os reconhecimentos oficiais e os choros hipócritas de puros crocodilos de quem não perde ocasiões destas para aparecer na ribalta. E lá se vão os «Kiezos».

(Fonte: Semanário Angolense)


(Rumba 70 - Kiezos)

"Ministério da Cultura Desrespeita os Criadores"


Marcela Costa, distinguida com o Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2002, é uma mulher empreendedora que tem surpreendido o mundo cultural angolano com as suas iniciativas arrojadas, apesar das poucas receitas que tem. Proprietária da galeria Celamar, afirmou que a sua casa de cultura não tem merecido o devido reconhecimento das entidades nacionais. "O nosso projecto ainda não é valorizado, pois nunca recebemos algum valor que possibilite levar a cabo um programa anual".

Revelou que recentemente a sua galeria recebeu o equivalente a cinco mil dólares norte americanos para serem geridos em um ano, um montante insuficiente para fazer face aos projectos que tem. Fruto da forma como o seu projecto é tratado e tendo em conta a sua experiência no ramo afirmou que a verba atribuída configura um desrespeito por parte do Ministério da Cultura, sobretudo em relação a sua galeria. A responsável chamou atenção ao Ministério da Cultura, com realce para o sector de Acção Cultural, para que quando o Governo estiver a distribuir as verbas não confundir Marcela Costa com a galeria Celamar.

As bolsas de formação para os criadores não chegam ao seu destino, uma situação que também preocupa a artista, que, entretanto, não dá costas a luta, continuando a manter o intercâmbio com algumas organizações internacionais. A sua postura levou a que conseguisse trazer um grupo de formadores suecos que ministraram um curso aos criadores nacionais. A acção formativa trouxe grande experiência aos meninos que vivem em alguns lares, uma vez que tiveram a singular oportunidade de aprender novas técnicas de trabalho em artes plásticas, assim como com fotografia.

Dentre as suas vitórias consta ainda uma exposição de obras de artes plásticas, de criadoras nacionais e estrangeiras, patente na galeria Celamar, em Luanda, em alusão ao mês de Março, dedicado a mulher e enquadrado no projecto "Arte Mulher". Segundo Marcela Costa o projecto caminha na sua 4ª edição e tem como objectivo unir todas criadoras culturais, num projecto que engloba a pintura e a moda. Das obras realçam-se fotografias tiradas com máquinas feitas a base de latas de leite. As obras falam do quotidiano, de cultura e da problemática ambiental. Dentre os participantes contam-se angolanos, sul-africanos, venezuelanos, noruegueses, britânicos e suecos.

Apesar da ampla participação, Marcela Costa lamenta o facto de não contar com obras de países africanos de expressão portuguesa. "Tratando-se de um evento realizado em África, devia ser dominado por africanos", disse. Ainda assim, a mentora da exposição garante que os seus esforços visam enaltecer o talento feminino, levando em conta trabalhos de artistas consagradas na arte do belo, da poesia e da moda. As jovens e adolescentes da Associação de Apoio à Criança Abandonada (AACA) participam igualmente mostrando a sua criatividade no concernente a dança, batuque e canto, referiu.

(Fonte: Jornal Angolense)

“Marito no Fundo do Poço”




Uma boa parte dos fundadores ou dos mais antigos integrantes dos «Kiezos», agrupamento musical que marcou a época de ouro do semba angolano, está a viver miseravelmente, em face das grandes privações por que passa, diante do olhar silencioso dos responsáveis do ministério da Cultura, que tinham a obrigação de os ajudar a reaver a dignidade, pelo contributo inestimável dado ao desenvolvimento do sector.

O Tony do órgão, que agora anda de muletas, está feito um «menino de rua», recolhido numa carcaça de automóvel no Marçal, ao lado da casa do falecido Santo António, o «Diminhê», um boémio da banda, falecido recentemente. O Marito, o maior solista angolano de todos os tempos, está a passar por uma grave crise existencial, andando por aí feito um andrajoso, ainda que limpo. Com algum apoio, se calhar para uma desintoxicação e outras recuperações, ainda podemos tê-lo por aí de cabeça erguida. Ao contrário, não deverá resistir muito tempo. E depois é que virão os reconhecimentos oficiais e os choros hipócritas de puros crocodilos de quem não perde ocasiões destas para aparecer na ribalta. E lá se vão os «Kiezos».

(Fonte: Semanário Angolense)


(Rumba 70 - Kiezos)

"Ministério da Cultura Desrespeita os Criadores"


Marcela Costa, distinguida com o Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2002, é uma mulher empreendedora que tem surpreendido o mundo cultural angolano com as suas iniciativas arrojadas, apesar das poucas receitas que tem. Proprietária da galeria Celamar, afirmou que a sua casa de cultura não tem merecido o devido reconhecimento das entidades nacionais. "O nosso projecto ainda não é valorizado, pois nunca recebemos algum valor que possibilite levar a cabo um programa anual".

Revelou que recentemente a sua galeria recebeu o equivalente a cinco mil dólares norte americanos para serem geridos em um ano, um montante insuficiente para fazer face aos projectos que tem. Fruto da forma como o seu projecto é tratado e tendo em conta a sua experiência no ramo afirmou que a verba atribuída configura um desrespeito por parte do Ministério da Cultura, sobretudo em relação a sua galeria. A responsável chamou atenção ao Ministério da Cultura, com realce para o sector de Acção Cultural, para que quando o Governo estiver a distribuir as verbas não confundir Marcela Costa com a galeria Celamar.

As bolsas de formação para os criadores não chegam ao seu destino, uma situação que também preocupa a artista, que, entretanto, não dá costas a luta, continuando a manter o intercâmbio com algumas organizações internacionais. A sua postura levou a que conseguisse trazer um grupo de formadores suecos que ministraram um curso aos criadores nacionais. A acção formativa trouxe grande experiência aos meninos que vivem em alguns lares, uma vez que tiveram a singular oportunidade de aprender novas técnicas de trabalho em artes plásticas, assim como com fotografia.

Dentre as suas vitórias consta ainda uma exposição de obras de artes plásticas, de criadoras nacionais e estrangeiras, patente na galeria Celamar, em Luanda, em alusão ao mês de Março, dedicado a mulher e enquadrado no projecto "Arte Mulher". Segundo Marcela Costa o projecto caminha na sua 4ª edição e tem como objectivo unir todas criadoras culturais, num projecto que engloba a pintura e a moda. Das obras realçam-se fotografias tiradas com máquinas feitas a base de latas de leite. As obras falam do quotidiano, de cultura e da problemática ambiental. Dentre os participantes contam-se angolanos, sul-africanos, venezuelanos, noruegueses, britânicos e suecos.

Apesar da ampla participação, Marcela Costa lamenta o facto de não contar com obras de países africanos de expressão portuguesa. "Tratando-se de um evento realizado em África, devia ser dominado por africanos", disse. Ainda assim, a mentora da exposição garante que os seus esforços visam enaltecer o talento feminino, levando em conta trabalhos de artistas consagradas na arte do belo, da poesia e da moda. As jovens e adolescentes da Associação de Apoio à Criança Abandonada (AACA) participam igualmente mostrando a sua criatividade no concernente a dança, batuque e canto, referiu.

(Fonte: Jornal Angolense)

4 comments:

Anonymous said...

Cara amiga,
A Marcela Costa é relativamente nova para mim, mas os Kiezos, quem os não conhece? De facto é lamentável que grandes artistas populares como estes estejam assim, jogados na rua da amargura. Enquanto isso, pelo que tenho acompanhado, novos grupos e novos artistas às vezes sem qualidade nenhuma, enchem os bolsos com espectáculos e precoces edições discográficas.
Ouvi dizer que os chamados «Kuduristas» andam todos ou quase todos em jipões topo de gama. Que pena.
Um abraço.

Koluki said...

Tem toda a razao, caro amigo. E' assim que vai a nossa terra com as suas "mais altas taxas de crescimento do mundo"...
Ninguem sabe qual e', se e' que existe, a politica cultural daquele pais e os proprios responsaveis do ministerio da cultura muitas vezes sao os primeiros a falar do "estado do estado"... ninguem sabe quem faz o que ou e' responsavel por que, porque so' se assumem responsabilidades quando se trata de retirar dividendos.
Quanto aos kuduristas, de certo modo e' compreensivel a sua afluencia, que julgo dever-se a sua actual popularidade e as "leis do mercado". Mas e' precisamente porque projectos como os da Marcela Costa nao sao primordialmente comerciais e porque o estado nao os propicia, que ela e outros artistas empreendedores deveriam ter mais apoio financeiro do estado, desde que, e' claro, devidamente controlado. Mas, esta e' apenas a minha opiniao...

Um abraco.

Anonymous said...

Cara Koluki,

Concordo que iniciativas do tipo da galeria Celamar deviam ser mais apoiadas pelo estado. Mas parece-me que realmente é necessária uma política cultural nacional clara, que tem que ser definida em conjunto pelo ministério da cultura e os agentes culturais de todos os sectores e dentro dessa política cultural então que se crie uma galeria de arte nacional patrocinada pelo estado. Neste momento parece que as exposições de arte nacional estão restringidas aos museus e as galerias privadas.
Quanto ao Marito e os seus companheiros dos grandes Kiezos é com amargura que leio essas informações. O que esses homens precisavam há muito tempo era um reconhecimento oficial do seu valor na música angolana, isso seria um grande estímulo para eles andarem sempre de cabeça erguida. Mas como diz o artigo só tarde demais virão os reconhecimentos, como sempre.

Koluki said...

Caro amigo Antonio,

Nao posso senao concordar com tudo o que diz. Em particular essa ideia de uma galeria nacional devia ser considerada, como um espaco onde se concentrassem as obras mais representativas da arte angolana, em vez de as manter dispersas pelos varios museus tematicos e regionais, sem com isso os esvaziar... e onde ao mesmo tempo se fariam exposicoes itinerantes de arte contemporanea, nacional e internacional. Acho uma boa ideia,sim senhor!

Um grande abraco e va' dando noticias ai da banda.