Sunday, 1 April 2007

"LATE SUNDAY SERVICE"



“Colonial Bliss”? Well, I would say 'there’s more to the picture than meets the eye'… But I like it anyway.



Esta e’ uma fotografia de familia. Era certamente um domingo, porque trata-se do baptizado da minha terceira irma (eu sou a mais pequena do grupo de tres meninas de pe' a frente do grupo – as outras duas sao as minhas irmas mais velhas; a mais proxima esta' a agarrar-me como que para "me travar a vontade de fugir do grupo"...). Foi tirada em Luanda, em 1963.

Do lado direito do padre esta' a minha mae e ao lado dela o meu tio mais carismatico, irmao do meu pai (o meu pai esta' ausente da foto por "razoes imponderaveis"). A minha avo materna, do lado esquerdo do Sr. alto de oculos (do seu lado direito esta’ o meu avo e ao lado do meu avo a minha mais querida tia), era neta de um dos Reis do Kongo. Foi ela que me deu o nome Koluki, originalmente de uma das suas ascendentes e que significa aproximadamente "aquela que tem visao".

Tera’ a minha familia directa tido escravos? Nem pouco mais ou menos.
Terao os ascendentes directos da minha avo possuido escravos? E’ possivel.
Tera’ o bisavo da minha avo vendido escravos aos europeus? Nao ha nada que o comprove.
Teria eu algum sentimento de culpa caso a resposta a cada uma dessas perguntas fosse positiva? Certamente.
Teria eu pedido desculpas aos descendentes das vitimas, caso tivesse respostas positivas a qualquer dessas perguntas? Talvez, se a instituicao “Reino do Kongo” nao tivesse sido “arrasada” no terrivel processo historico que se conhece (embora pouco e enviesadamente). Apenas a ela caberia pedir desculpas.

Mas, a julgar pelo teor das cartas em anexo de um dos Reis do Kongo ao entao Rei de Portugal, tambem e' possivel que haja entre os actuais afrodescendentes nas Americas e quica na Europa e noutras partes do mundo descendentes de escravos que eram nossos familiares directos...

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“Colonial Bliss”? Well, I would say 'there’s more to the picture than meets the eye'… But I like it anyway.



Esta e’ uma fotografia de familia. Era certamente um domingo, porque trata-se do baptizado da minha terceira irma (eu sou a mais pequena do grupo de tres meninas de pe' a frente do grupo – as outras duas sao as minhas irmas mais velhas; a mais proxima esta' a agarrar-me como que para "me travar a vontade de fugir do grupo"...). Foi tirada em Luanda, em 1963.

Do lado direito do padre esta' a minha mae e ao lado dela o meu tio mais carismatico, irmao do meu pai (o meu pai esta' ausente da foto por "razoes imponderaveis"). A minha avo materna, do lado esquerdo do Sr. alto de oculos (do seu lado direito esta’ o meu avo e ao lado do meu avo a minha mais querida tia), era neta de um dos Reis do Kongo. Foi ela que me deu o nome Koluki, originalmente de uma das suas ascendentes e que significa aproximadamente "aquela que tem visao".

Tera’ a minha familia directa tido escravos? Nem pouco mais ou menos.
Terao os ascendentes directos da minha avo possuido escravos? E’ possivel.
Tera’ o bisavo da minha avo vendido escravos aos europeus? Nao ha nada que o comprove.
Teria eu algum sentimento de culpa caso a resposta a cada uma dessas perguntas fosse positiva? Certamente.
Teria eu pedido desculpas aos descendentes das vitimas, caso tivesse respostas positivas a qualquer dessas perguntas? Talvez, se a instituicao “Reino do Kongo” nao tivesse sido “arrasada” no terrivel processo historico que se conhece (embora pouco e enviesadamente). Apenas a ela caberia pedir desculpas.

Mas, a julgar pelo teor das cartas em anexo de um dos Reis do Kongo ao entao Rei de Portugal, tambem e' possivel que haja entre os actuais afrodescendentes nas Americas e quica na Europa e noutras partes do mundo descendentes de escravos que eram nossos familiares directos...

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3 comments:

Fernando Ribeiro said...

Koluki, acabei de encontrar o seguinte texto num blog sobre Timor Leste chamado Página Um, de um português que dá pelo nome de António Veríssimo. Está na coluna da esquerda do blog, juntamente com muito mais material que talvez lhe possa interessar:


OUTRA VEZ A ESCRAVATURA - É um tema incómodo para as consciências pesadas ou portadoras de cegueira nas almas. Mas todos os preconceitos, se iniciam algures na sonegação de informação e esses dados distorcidos se implantam no imaginário colectivo de uma sociedade: é o caso da afirmação que os “pretos vendiam os pretos aos brancos” visando minimizar a perversidade e perfídia destes últimos no passado. «Mas será mesmo que os “pretos” vendiam os “pretos” voluntariamente aos “brancos”? Ou não será de facto um plano diabolizante de distorcer a memória histórica às recentes gerações africanas e seus descendentes na diáspora nas Américas e na Europa?» Temos estes aspectos desmentidos por muitos relatórios sobre a escravatura. Seleccionamos uma citação paradigmática, à época confidenciais, como esta do Visconde da Arriaga (1881) deputado às Cortes do Reino de Portugal no século XIX. . …”mas os régulos dos sertões prestavam-se a esta mercancia sempre constrangidos (…) sendo necessário aos brancos empregarem o artifício e a violência para a conseguirem;”(…)…”A escravatura tornou-se um delírio durante os primeiros quarenta annos d’este século (séc.XIX, 1800-1840), e quanto mais se desenvolvia a America, tanto mais se despovoava e empobrecia a Africa! Chegaram a navegar annualmente para o porto de Moçambique (ilha) e Quilimane á procura de pretos mais de quarenta navios de differentes nações!» Ortografia do texto original. Dilui-se o drama de milhões ainda por equacionar se serão 12 milhões de escravos (ditos negros) com que África (forçadamente) contribuiu para a riqueza da Europa e das Américas durante cerca de 459 anos. No entanto a desertificação do litoral e do interior de África em 4 séculos e meio tem uma outra estatística em cerca de prováveis 60 milhões que África teria perdido com a massificação da escravatura com os europeus, superando estes de longe os árabes, anteriores senhores do execrando tráfico. Se a cada ser raptado para escravo nesse período histórico (1441/1891) se multiplicar por 5 (cálculo baseado num possível agregado familiar desse africano aprisionado e vendido) teríamos 12m x 5ind. = 60mi. Número que indicaria por alto a destruição demográfica (genocídio), para chegarem às costas africanas num embarque forçado, nas caravelas e galeões rumo à Europa e Américas. E desses seres humanos somente cerca de 12 milhões, chegariam vivos como escravos. Mortos 60 milhões para sobreviverem 12 milhões para o trabalho escravo brutalizado com requintes de crueldade sádica. E não seriam seguramente, “trabalhadores africanos que os portugueses foram buscar a África”, como tendenciosamente se referiu o historiador da RTP (Rádio Televisão Portuguesa), Dr. José Hermano Saraiva (2006), num programa de Memórias da História sobre a colonização portuguesa do Brasil. Pelo tom (na peça) até parecia que nas caravelas quinhentistas portuguesas se deu início à emigração africana voluntária com a solidariedade lusa. A quota-parte portuguesa andaria por volta de 4 milhões de escravos africanos vendidos. Os primeiros Fortes europeus, ao longo da costa africana foram construídos para o “negócio” da escravatura e eram portugueses. É História. Goste-se ou não. E cada época tem a sua. Hoje a História pode ser outra mas não invalida a anterior. Pelo contrário, pode ser consequência desses períodos. Enquanto não forem exorcizados os fantasmas de uma História comum não haverá verdade no relacionamento multicultural entre povos. Será hipocrisia.

Fernando Ribeiro said...

Falta dizer (já que não é muito legível no blog citado) que o autor do trecho que transcrevi é João Craveirinha, sobrinho do poeta José Craveirinha.

Koluki said...

Obrigada pelo contributo Denudado.