Monday 21 March 2011

Ainda Sobre “Aquele Meu Curso em Portugal”… [actualizado]






Creio ja’ aqui ter dito o essencial sobre ele.


Mas outros registos, e esses seguramente mais memoraveis e significativos para mim, aconteceram durante aquele curso. Como por exemplo:

- Os meus colegas que faziam sempre muita questao de que eu fizesse parte dos seus grupos de trabalho e que, invariavelmente, me incumbiam a tarefa de escrever e/ou apresentar a versao final de tais trabalhos, para os quais frequentemente eu acabava por contribuir com muito mais do que a minha quota-parte, quando nao, em alguns casos, com a quase totalidade do esforco que era suposto ser colectivo…

- Os colegas que, mesmo tendo estado na mesma aula que eu e tirado os seus proprios apontamentos, no fim vinham pedir-me os meus apontamentos para os fotocopiarem e estudarem por eles…

- Os colegas que, uma vez, na ante-camara de um exame de Economia Internacional vieram pedir-me para lhes tirar algumas duvidas – assim o fiz, teorica e tecnicamente, tendo um deles dito enquanto me agradecia: “isso e’ que e’ saber, nao e’ apenas conversa de café’!”…

- Os professores de Economia do Desenvolvimento e Macro e Micro-Economia que me tinham como, quando nao a melhor, entre os seus dois ou tres melhores alunos - sendo os outros homens…

- Aquela prova oral, ja’ nao me lembro em que cadeira, em que, por me parecer que os examinadores nao estavam muito convencidos de que eu realmente “sabia do que estava a falar”, pedi para ir ao quadro descrever e desenvolver as formulas da “teoria dos dois deficits”, ao que um deles, o regente da cadeira, disse: “quem fala assim nao e’ gago!”… Acabei por ser a unica aluna da minha turma a passar aquele exame…

- O dia em que, no fim da apresentacao de um dos meus trabalhos na cadeira de Integracao Economica Regional (no caso, sobre a UE), o professor se levantou e disse: “isso tem que ser imediatamente publicado, o nosso Ministro das Financas nao sabe isso”!...

- Aquele dia em que entrei, acompanhada por uma das minhas amigas e colegas mais proximas, uma mestica caboverdiana, na sala do Quelhas em que o hoje Professor Doutor Ennes Ferreira (... e nao, ele nunca foi meu professor...) apresentava a sua tese de Mestrado, com um sorriso porque tinha acabado de saber que passara a cadeira de Integracao Economica Regional com 17 valores!...

- O dia em que uma outra das minhas colegas e amigas mais proximas, branca portuguesa nascida em Angola, me disse: “tu tens aquele brilho no olho de quem vai longe”!...


Todos esses momentos aconteceram, todos esses professores e colegas existem (embora ao longo dos anos, e sobretudo com a minha subita e dramatica “fuga” para Londres, tenha perdido completamente o contacto com eles) e poderao, caso o possam e queiram, testemunhar sobre tudo isso… e, em alguns casos, tambem, por exemplo, sobre quando tive que pedir a alguma das minhas colegas que fosse buscar o meu filho a escola e ficasse a tomar conta dele no corredor da sala em que eu prestava uma prova!

E e’ bem verdade que alguns dos mesmos professores e colegas tambem testemunharam alguns momentos menos “laudatorios” dos meus estudos, particularmente em periodos em que me via mais afectada emocional e psicologicamente por circunstancias da minha vida pessoal (parcialmente aqui descritas e acontecidas numa altura, impoe-se-me nota-lo, em que nao tinha, como de resto nunca tive, qualquer "falsaporte": tinha apenas e tao so' o Passaporte Angolano "valido para todos os paises do mundo excepto a Africa do Sul"!), como por exemplo quando “patinava” em algumas cadeiras como Estatistica e Econometria – sendo que, em relacao a esta ultima em particular, acabei por desenvolver naquele periodo um inexplicavel “bloqueio psicologico”, uma vez que conseguia dominar razoavelmente bem a sua teoria, mas era muito sofrivel no que toca a sua aplicacao pratica... Mas… surprise, surprise, anos mais tarde, consegui ultrapassar o tal bloqueio e acabei sendo a melhor aluna de Estatistica e Econometria no meu curso na LSE!...

Nao tenho (nunca terei!), portanto, palavras para descrever o que significou para mim, depois de todos aqueles achievements (a somarem-se, entre outros, a estes e a estes), na primeira e unica vez que estive numa sala da embaixada de Angola em Portugal, numa reuniao convocada e presidida por Rui Mingas, ouvi-lo, de olhar e dedo acusatorio na minha direccao, falar de estudantes em Portugal que “depois de longos anos nao tinham obtido um unico credito nos seus cursos”!... E isso numa altura em que eu era finalista e ate' ja' tinha feito o estagio aqui referido!

Ou, antes, durante um jantar para o qual fui levada, por mero acaso, por um amigo comum, em casa de um certo "PhD em Ciencias da Educacao" habitue’ deste blog, na altura adido cultural da mesma embaixada, ouvi-lo dizer, nao sei bem a que proposito (... ou talvez apenas a proposito do "eterno problema da melanina"!...), que “so’ deveriam para aqui vir estudantes de post-graduacao”…

Ou, pior do que tudo isso, vir mais tarde a saber que o mesmo embaixador Rui Mingas (em anos mais recentes, fundador - no contexto de um ensino superior que e' assim descrito - da Universidade Lusiada de Angola (ULA), sobre a qual, nestes termos, aqui se fala…), tinha mandado publicar no “nosso Pravda” uma lista de estudantes em Portugal, com o meu nome incluido, que, alegadamente, “depois de varios anos, nunca tinham conseguido passar do primeiro ano”!...

Mas sempre engoli estoicamente todas essas afrontas, insultos, calunias e difamacoes, convicta de que “a verdade, tal como o azeite, vem sempre ao de cima”!... Talvez pudesse, portanto, continuar calada (ou, dito de outro modo, muda e queda, ou, melhor ainda, surda-muda) ate’ que se propiciasse o “momento da verdade”?! Nao, quando hoje, tantos anos passados, continuo a ver-me sinistramente perseguida COMO UM ANIMAL (!), agora mais persistente, corrosiva, soez, selvatica e caninamente do que nunca - numa campanha que tem como pivots, entre outros kamundongos, os membros do mesmo 'circulo restrito' do "todo poderoso" Sr. Rui Mingas, guiados, na imprensa estatal, pelo dito "PhD" ja' acima referido e, na imprensa dita independente, pelo seu boy coisificado, mad dog de estimacao, e kaxiku armado em karapau de korrida, atraves do seu NJ e na blogosfera pela sua ninfa (nifomaniaca?), lesbica e vulta psicopata assassina, igualmente coisificada de estimacao... -, que parecem obstinados em destruir, ou melhor, aniquilar completamente, a minha reputacao pessoal, academica e profissional (utilizando, entre outros, metodos como este...), senao mesmo a eliminar-me fisicamente na primeira oportunidade!


E, a esse proposito, tenho apenas as seguintes notas a margem a acrescentar:


- Embora para tal nao me faltassem razoes (!), nunca estive envolvida nas manifestacoes de protesto ou greves de fome dos estudantes angolanos em frente a embaixada do Sr. Rui Mingas em Portugal. O meu unico “envolvimento” foi o de, numa noite, durante a greve de fome, ter ido manifestar a minha solidariedade pessoal, para tanto tendo-lhes levado alguns livros de poesia (... la' dizia Natalia Correia, "oh, sub-alimentados do sonho, a poesia e' para se comer!...), para com os grevistas, liderados, entre outros, pelo Fernando Macedo – ironicamente, hoje (tal como um certo meu antigo inquilino aqui mencionado, que dela ja' foi, ou e', reitor), docente da ULA do Sr. Rui Mingas!...


Bruxelas, Maio 1994 - Foto: Fernando Macedo

- Eu tinha 16 anos quando se deu o 27 de Maio. Na altura, era estudante e trabalhava part-time no MPLA, no DOM na Vila Alice e depois no DORGAN no ‘Kremlin’, tendo algum tempo depois partido para esta 'aventura'. Nunca tive, portanto, qualquer “envolvimento”, directo ou indirecto, nos acontecimentos que rodearam aquela data fatidica, antes ou depois dela – certamente nao fui eu quem matou Saidi Mingas - NUNCA MATEI NINGUEM!!!...


E, ja' agora, vem a proposito esta memoria: nunca tive qualquer propensao para ser professora primaria e muito menos teorica do marxismo - mesmo porque isso pode ter o condao de atrair ameacas de morte, quando nao morte mesmo! - mas, no DOM/DORGAN eu fazia parte de um grupo de estudo do Marxismo-Leninismo, em que eu era a mais nova por varios anos em relacao a todos os outros participantes e que era orientado pelo Kota Lara, e como infelizmente a memoria dele ja' nao o pode ajudar nesse sentido, talvez algum dos outros participantes possa confirmar que ocasioes houve em que ele me deixava responder a questoes que lhe eram colocadas e no fim so' concordava, modestamente, com a cabeca em sinal de aprovacao do que eu acabara de explicar... mas nao fui por isso "promovida a teorica do marxismo", nem "perdida em 1977"!... Embora alguns ecos daquelas "aulas" possam, sem muito esforco, ser detectados aqui, aqui, aqui... E, quanto "ao resto", especialmente as feridas ainda por sarar, a minha memoria continua a servir-me suficientemente bem... Gracas a Deus!






Creio ja’ aqui ter dito o essencial sobre ele.


Mas outros registos, e esses seguramente mais memoraveis e significativos para mim, aconteceram durante aquele curso. Como por exemplo:

- Os meus colegas que faziam sempre muita questao de que eu fizesse parte dos seus grupos de trabalho e que, invariavelmente, me incumbiam a tarefa de escrever e/ou apresentar a versao final de tais trabalhos, para os quais frequentemente eu acabava por contribuir com muito mais do que a minha quota-parte, quando nao, em alguns casos, com a quase totalidade do esforco que era suposto ser colectivo…

- Os colegas que, mesmo tendo estado na mesma aula que eu e tirado os seus proprios apontamentos, no fim vinham pedir-me os meus apontamentos para os fotocopiarem e estudarem por eles…

- Os colegas que, uma vez, na ante-camara de um exame de Economia Internacional vieram pedir-me para lhes tirar algumas duvidas – assim o fiz, teorica e tecnicamente, tendo um deles dito enquanto me agradecia: “isso e’ que e’ saber, nao e’ apenas conversa de café’!”…

- Os professores de Economia do Desenvolvimento e Macro e Micro-Economia que me tinham como, quando nao a melhor, entre os seus dois ou tres melhores alunos - sendo os outros homens…

- Aquela prova oral, ja’ nao me lembro em que cadeira, em que, por me parecer que os examinadores nao estavam muito convencidos de que eu realmente “sabia do que estava a falar”, pedi para ir ao quadro descrever e desenvolver as formulas da “teoria dos dois deficits”, ao que um deles, o regente da cadeira, disse: “quem fala assim nao e’ gago!”… Acabei por ser a unica aluna da minha turma a passar aquele exame…

- O dia em que, no fim da apresentacao de um dos meus trabalhos na cadeira de Integracao Economica Regional (no caso, sobre a UE), o professor se levantou e disse: “isso tem que ser imediatamente publicado, o nosso Ministro das Financas nao sabe isso”!...

- Aquele dia em que entrei, acompanhada por uma das minhas amigas e colegas mais proximas, uma mestica caboverdiana, na sala do Quelhas em que o hoje Professor Doutor Ennes Ferreira (... e nao, ele nunca foi meu professor...) apresentava a sua tese de Mestrado, com um sorriso porque tinha acabado de saber que passara a cadeira de Integracao Economica Regional com 17 valores!...

- O dia em que uma outra das minhas colegas e amigas mais proximas, branca portuguesa nascida em Angola, me disse: “tu tens aquele brilho no olho de quem vai longe”!...


Todos esses momentos aconteceram, todos esses professores e colegas existem (embora ao longo dos anos, e sobretudo com a minha subita e dramatica “fuga” para Londres, tenha perdido completamente o contacto com eles) e poderao, caso o possam e queiram, testemunhar sobre tudo isso… e, em alguns casos, tambem, por exemplo, sobre quando tive que pedir a alguma das minhas colegas que fosse buscar o meu filho a escola e ficasse a tomar conta dele no corredor da sala em que eu prestava uma prova!

E e’ bem verdade que alguns dos mesmos professores e colegas tambem testemunharam alguns momentos menos “laudatorios” dos meus estudos, particularmente em periodos em que me via mais afectada emocional e psicologicamente por circunstancias da minha vida pessoal (parcialmente aqui descritas e acontecidas numa altura, impoe-se-me nota-lo, em que nao tinha, como de resto nunca tive, qualquer "falsaporte": tinha apenas e tao so' o Passaporte Angolano "valido para todos os paises do mundo excepto a Africa do Sul"!), como por exemplo quando “patinava” em algumas cadeiras como Estatistica e Econometria – sendo que, em relacao a esta ultima em particular, acabei por desenvolver naquele periodo um inexplicavel “bloqueio psicologico”, uma vez que conseguia dominar razoavelmente bem a sua teoria, mas era muito sofrivel no que toca a sua aplicacao pratica... Mas… surprise, surprise, anos mais tarde, consegui ultrapassar o tal bloqueio e acabei sendo a melhor aluna de Estatistica e Econometria no meu curso na LSE!...

Nao tenho (nunca terei!), portanto, palavras para descrever o que significou para mim, depois de todos aqueles achievements (a somarem-se, entre outros, a estes e a estes), na primeira e unica vez que estive numa sala da embaixada de Angola em Portugal, numa reuniao convocada e presidida por Rui Mingas, ouvi-lo, de olhar e dedo acusatorio na minha direccao, falar de estudantes em Portugal que “depois de longos anos nao tinham obtido um unico credito nos seus cursos”!... E isso numa altura em que eu era finalista e ate' ja' tinha feito o estagio aqui referido!

Ou, antes, durante um jantar para o qual fui levada, por mero acaso, por um amigo comum, em casa de um certo "PhD em Ciencias da Educacao" habitue’ deste blog, na altura adido cultural da mesma embaixada, ouvi-lo dizer, nao sei bem a que proposito (... ou talvez apenas a proposito do "eterno problema da melanina"!...), que “so’ deveriam para aqui vir estudantes de post-graduacao”…

Ou, pior do que tudo isso, vir mais tarde a saber que o mesmo embaixador Rui Mingas (em anos mais recentes, fundador - no contexto de um ensino superior que e' assim descrito - da Universidade Lusiada de Angola (ULA), sobre a qual, nestes termos, aqui se fala…), tinha mandado publicar no “nosso Pravda” uma lista de estudantes em Portugal, com o meu nome incluido, que, alegadamente, “depois de varios anos, nunca tinham conseguido passar do primeiro ano”!...

Mas sempre engoli estoicamente todas essas afrontas, insultos, calunias e difamacoes, convicta de que “a verdade, tal como o azeite, vem sempre ao de cima”!... Talvez pudesse, portanto, continuar calada (ou, dito de outro modo, muda e queda, ou, melhor ainda, surda-muda) ate’ que se propiciasse o “momento da verdade”?! Nao, quando hoje, tantos anos passados, continuo a ver-me sinistramente perseguida COMO UM ANIMAL (!), agora mais persistente, corrosiva, soez, selvatica e caninamente do que nunca - numa campanha que tem como pivots, entre outros kamundongos, os membros do mesmo 'circulo restrito' do "todo poderoso" Sr. Rui Mingas, guiados, na imprensa estatal, pelo dito "PhD" ja' acima referido e, na imprensa dita independente, pelo seu boy coisificado, mad dog de estimacao, e kaxiku armado em karapau de korrida, atraves do seu NJ e na blogosfera pela sua ninfa (nifomaniaca?), lesbica e vulta psicopata assassina, igualmente coisificada de estimacao... -, que parecem obstinados em destruir, ou melhor, aniquilar completamente, a minha reputacao pessoal, academica e profissional (utilizando, entre outros, metodos como este...), senao mesmo a eliminar-me fisicamente na primeira oportunidade!


E, a esse proposito, tenho apenas as seguintes notas a margem a acrescentar:


- Embora para tal nao me faltassem razoes (!), nunca estive envolvida nas manifestacoes de protesto ou greves de fome dos estudantes angolanos em frente a embaixada do Sr. Rui Mingas em Portugal. O meu unico “envolvimento” foi o de, numa noite, durante a greve de fome, ter ido manifestar a minha solidariedade pessoal, para tanto tendo-lhes levado alguns livros de poesia (... la' dizia Natalia Correia, "oh, sub-alimentados do sonho, a poesia e' para se comer!...), para com os grevistas, liderados, entre outros, pelo Fernando Macedo – ironicamente, hoje (tal como um certo meu antigo inquilino aqui mencionado, que dela ja' foi, ou e', reitor), docente da ULA do Sr. Rui Mingas!...


Bruxelas, Maio 1994 - Foto: Fernando Macedo

- Eu tinha 16 anos quando se deu o 27 de Maio. Na altura, era estudante e trabalhava part-time no MPLA, no DOM na Vila Alice e depois no DORGAN no ‘Kremlin’, tendo algum tempo depois partido para esta 'aventura'. Nunca tive, portanto, qualquer “envolvimento”, directo ou indirecto, nos acontecimentos que rodearam aquela data fatidica, antes ou depois dela – certamente nao fui eu quem matou Saidi Mingas - NUNCA MATEI NINGUEM!!!...


E, ja' agora, vem a proposito esta memoria: nunca tive qualquer propensao para ser professora primaria e muito menos teorica do marxismo - mesmo porque isso pode ter o condao de atrair ameacas de morte, quando nao morte mesmo! - mas, no DOM/DORGAN eu fazia parte de um grupo de estudo do Marxismo-Leninismo, em que eu era a mais nova por varios anos em relacao a todos os outros participantes e que era orientado pelo Kota Lara, e como infelizmente a memoria dele ja' nao o pode ajudar nesse sentido, talvez algum dos outros participantes possa confirmar que ocasioes houve em que ele me deixava responder a questoes que lhe eram colocadas e no fim so' concordava, modestamente, com a cabeca em sinal de aprovacao do que eu acabara de explicar... mas nao fui por isso "promovida a teorica do marxismo", nem "perdida em 1977"!... Embora alguns ecos daquelas "aulas" possam, sem muito esforco, ser detectados aqui, aqui, aqui... E, quanto "ao resto", especialmente as feridas ainda por sarar, a minha memoria continua a servir-me suficientemente bem... Gracas a Deus!

19 comments:

Calcinhas de Luanda said...

Ainda vou acabar por vê-la a escrever, que o que hoje se passa em Angola acaba por ser pior do que aquilo que se passava no período colonial.
Nem todos os portugueses eram uns patifes, nem todos os angolanos são uns santos.
Enfim, lições da História que não honram ninguém!

Koluki said...

Caro Calcinhas,

So' para o "fazer feliz", aqui tem:

O que hoje se passa em Angola acaba por ser pior do que aquilo que se passava no período colonial.
Nem todos os portugueses eram uns patifes, nem todos os angolanos são uns santos.
Enfim, lições da História que não honram ninguém!


Mas tambem sempre lhe digo o seguinte:

O facto de as ultimas 3 decadas (especialmente para quem, como eu, estava apenas a despontar para a vida por altura da independencia e nesta acreditou com fervor) se terem revelado, no agregado, piores do que o correspondente periodo imediatamente anterior, nao torna o Colonialismo melhor do que a Independencia, nem a Recolonizacao o remedio para todos os males vividos nessas 3 decadas.

E como nao estaremos aqui para ver os proximos 5 seculos de independencia (periodo que durou o colonialismo), a unica coisa que gostaria de saber antes de morrer e' que estas foram realmente as piores decadas na vida dos angolanos e como pior e' impossivel, "the only way is up"! Ou seja, tudo so' pode ser melhor daqui para a frente... PARA TODOS: Angolanos e Portugueses!

N.B.: Estou 'inspirada' pelo Dia da Paz...

Koluki said...

E... por falar em "patifes":

Nas Barbas Do Bando

E quem
nesta roda
riscou no peito
a ave
inviolável?

Qual de vós
apostou a morte
e perdeu?
Qual de vós
inegáveis patifes

navalhas encantadas
traçou no areal
a mais bela aventura
nas barbas
do bando?

David Mestre

Calcinhas de Luanda said...

É pena que ache que eu "fico feliz" com o que se passa em Angola! Mas isso também demonstra uma certa maneira de pensar!
Quantos às apostas da vida há os sonhadores, os heróis, os pragmáticos e possivelmente os oportunistas ou seja patifes. Eu possivelmente estou, para muito boa gente, incluído neste grupo, embora pessoalmente me considere apenas um descrente.
A longo prazo ir-se-á ver quais os mais úteis a Angola!
Há um ditado brasileiro muito calculista e frio "heroi é o cara que não teve tempo de correr".
Espero sinceramente que as próximas décadas sejam finalmente de paz e evolução para todos os angolanos. Quanto aos portugueses, estes continuarão a viver alegremente acima das suas posses, tal como o fazem desde a descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. Coisas de descendentes de comerciantes fenícios.

Calcinhas de Luanda said...

Só mais uma questão, a colonização portuguesa de 500 anos em Angola é apenas uma falácia de quem não conhece a história do envolvimento português em África. Só nos últimos 100 anos (aproximadamente) é que de facto os portugueses avançaram para o interior de África. Até aí existiam no essencial feitorias junto à costa. Eram os próprios povos africanos que nas suas guerras tribais faziam escravos os adversários derrotados e os vendiam aos comerciantes negreiros portugueses. E ainda haviam os traficantes de escravos muçulmanos.
Mas é sempre mais fácil atirar as culpas de tudo par cima dos portugueses, embora estes não fossem nenhuns santos. Aliás a expressão bem angolana (da região e Luanda) de "pretos calçados" versus "pretos descalços" é bem sintomática de que havia uma burguesia de origem africana que se "dava bem" com este tipo de "negócio".
E pelos visto os actuais "pretos calçados" continuam cada vez mais prósperos!

Koluki said...

E' pena que tenha escolhido "nao reparar" que coloquei o "fazer feliz" entre aspas... o que tambem demonstra uma certa maneira de pensar!

De qualquer modo, a "felicidade" a que me referia era em relacao a escrever o que transcrevi do seu comentario e nao estritamente ao que se passa hoje em Angola!

Quanto ao resto agradeco-lhe e retribuo-lhe os votos no que toca aos angolanos. Ja' no que toca as "posses" dos portugueses, a Sonangol sempre vai dando uma ajudinha, nao e'?...

P.S.: "Quantos às apostas da vida há os sonhadores, os heróis, os pragmáticos e possivelmente os oportunistas ou seja patifes. Eu possivelmente estou, para muito boa gente, incluído neste grupo, embora pessoalmente me considere apenas um descrente.
A longo prazo ir-se-á ver quais os mais úteis a Angola!"

Acho que todos e mais alguns sao e continuarao a ser uteis a Angola.
Que piada teria um pais so' de descrentes sem sonhadores?... Ou de patifes e oportunistas sem herois (sejam la' quem estes forem...)?

Koluki said...

Quanto a questao dos "500 anos", creio que qualquer leitor atento deste blog sabera' qual o meu entendimento dessa questao, tanto antes como depois do comentario que abaixo transcrevo - tendo por isso, ainda muito recentemente (por sinal num post para o qual contribuiu com os seus sempre muito interessantes comentarios, este: http://koluki.blogspot.com/2009/05/just-poetry-v.html) escrito que "Portugal colonizou partes do actual territorio de Angola durante cerca de 5 seculos"...:

"3. Tem toda a razao quanto aos 500 anos. Porem, do ponto de vista historico, fala-se de colonialismo em Africa a partir do inicio das guerras de conquista iniciadas pelos europeus nos seculos XV/XVI que por si so’ introduziram uma dinamica de intervencao estrangeira nas sociedades africanas desde essa altura ate’ a concretizacao do quase completo dominio territorial e colonizacao pelos europeus. Se em Angola a total colonizacao administrativa so’ se tornou efectiva ja’ no seculo XX, sobretudo por “incentivo” da Conferencia de Berlim em finais do sec. XIX, o facto e’ que ja’ pelos seculos XV/XVI os portugueses dominavam partes significativas do litoral, incluindo Luanda e Benguela."

Extracto daqui: http://koluki.blogspot.com/2007/03/abolition-of-slave-trade-200-years-on.html


Quanto aos "pretos descalcos" vs. "pretos calcados", este outro extracto do mesmo comentario que podera' encontrar atraves do link acima:

2. Tem-se falado bastante e ha algumas publicacoes sobre isso, da escravatura praticada pelos proprios africanos em Africa. Porem, o que e’ consensual, e’ que ela era praticada nao so’ em muito pequena escala comparativamente a praticada/incentivada pela chegada dos europeus, como era praticada quase exclusivamente sobre captivos de guerra e nao indiscriminadamente, como se verifica a partir do seculo XV. A excepcao mais notoria a esta regra e’ a captura de escravos africanos por traficantes arabes. Confesso-lhe a minha ignorancia sobre isso, mas nao tenho conhecimento de algo que possa ser classificado como “arrasamento” de outros povos africanos pelos bantu. A prova disso e’ a existencia dos Khoisan ate’ hoje e o facto de o seu confinamento geografico e definhamento numerico ao longo dos seculos ser sobretudo um resultado da sua propria cultura. Quanto aos monarcas que vendiam escravos aos europeus e’ preciso enquadrar essa ocorrencia na ‘disrupcao’ politica, social e cultural causada pela chegada dos europeus que fomentaram guerras inter-africanas para estabelecerem e consolidarem a sua conquista territorial. Nas suas guerras de resistencia aos europeus, alguns reinos africanos foram forcados a praticar a captura e venda de escravos aos europeus em troca de armas para se fortalecerem e defenderem militarmente quer de outros, quer dos proprios europeus… sao notorias, neste contexto, as chamadas guerras do “kwata-kwata” em Angola.

Calcinhas de Luanda said...

Repare, no fundo fica um amargo de boca pois tantos anos de guerra, primeiro colonial e depois civil, deram um resultado muito limitado e de facto os pretensos libertadores e governantes de Angola, não fazem hoje em dia mais do que os anteriormente denominados "pretos calçados" para explorarem os seus conterrâneos "pretos descalços". Analisando friamente, morreu muita gente para nada!
Embora genericamente se fale dos 500 anos de colonização portuguesa, de facto a estratégia colonizadora concentrou-se primeiro na Índia e depois no Brasil (no fundo fundamentalmente neste) onde os avanços terra a dentro foram significativos. E mesmo assim Portugal arrastou-se durante séculos, o país nem tinha dinheiro, nem gente para controlar tantos territórios, a maior parte das localidades dos portugueses eram costeiras. A África não passava de um depósito de mão de obra escrava. Aí com certeza que houve exploração e despovoamento, mas sempre com o apoio das guerras tribais, e essas foram bem impulsionadas pela interacção europeia em geral e portuguesa em particular. Mas isso sempre foi assim! Atenção não pretendo limpar qualquer memória histórica, basta ver a brutalidade que foi a colonização da Península Ibérica pelos Romanos (que sempre souberam jogar com divergências locais em proveito próprio) para se entender que é um procedimento recorrente. E normalmente os locais não tinham nem tecnologia nem organização social e política para se desenvolverem e oporem com eficácia aos invasores, isto é "morreram" devido às suas próprias limitações. Leia a história da conquista do México por Cortez em que um punhado de homens (cerca de 200,cerca de uns 20 eram portugueses) conquista uma nação poderosa mas decadente, para ver como o processo funciona de modo perverso. Infelizmente "o homem é o lobo do homem". Se os actuais dirigentes angolanos não abrirem os olhos vão entrar noutra espiral de neo-colonialismo, proveniente quiçá de países mais insuspeitos, basta ver o hospital construído pelos chineses que ruiu em Luanda, a maquinaria que eles têm vendido a Angola e que não funciona, para se perceber que é necessário avançar com um processo de formação técnica e profissional que garanta aos angolanos capacidades decisórias autónomas.
Quanto à Sonangol e a ajuda a Portugal, no fim, de um modo ou outro, quem manda em Angola e em Portugal são basicamente os mesmos. No tempo colonial não eram os portugueses que viviam na colónia e que não passavam de uns testas de ferro, que mandavam efectivamente. Eram os grandes grupos económicos sediados em Lisboa, Grupo Melo, Espírito Santo (BES, BES Angola), as construtoras, etc. e que de um modo ou de outro nunca saíram efectivamente de Angola. Agora só houve que transformar em sócios os novos dirigentes angolanos, juntá-los ao que já havia, e a teia de interesses ficou bem enredada. Depois há que entrar com a massa para ajudar a "Metrópole" pagando a dívida da ajuda do MFA ao MPLA. Além disso o investimento dos líderes angolanos em Portugal destina-se a garantir um exílio dourado quando as coisas começarem eventualmente a correr-lhes mal em Angola. Ou seja, para os mesmos, tudo está bem quando acaba bem. Os testas de ferro brancos portugueses ou já naturais de Angola, os "pretos descalços", em suma, em bom português rasteiro, que se lixem.

Koluki said...

Apenas algumas observacoes:

- Tambem nem tanto ao mar, nem tanto a terra: nem os portugueses de Angola foram sempre apenas uns testas de ferro, nem os grupos economicos de Portugal eram os maiores detentores dos recursos da economia angolana.

Com efeito, os colonos portugueses, sobretudo a partir da celebre ordem de Salazar “Todos para Angola, rapidamente e em forca!”, em meados do seculo passado, obtiveram os seus quinhoes para exploracao economica um pouco em todos os sectores e criaram os seus proprios “imperios” locais, principalmente como fazendeiros e comerciantes de cash crops como o café’, o algodao, o sisal, etc., tendo alguns comecado posteriormente a iniciar-se na industria transformadora (e.g. madeiras), enquanto outros, especialmente os dos “colonatos” no centro-sul se dedicavam a producao agricola essencialmente para consumo interno.
Portanto, embora alguns deles possam ter beneficiado do apoio financeiro e infrastructural (para alem do politico-administrativo de que obviamente todos beneficiaram por parte do estado) dos grandes grupos economicos portugueses sediados na “metropole” ou das suas filiais e sucursais em Angola, eles nao eram todos apenas seus testas de ferro.

Por outro lado, quem detinha, controlava e explorava os recursos mais lucrativos do pais (os minerais: ferro, cobre, ouro, diamantes e mais tarde o petroleo) foram sempre companhias nacionais, regionais ou multinacionais de outros paises que nao Portugal: Belgica, Franca, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos da America…

- Uma cuidada investigacao das linhagens dos “pombeiros” (intermediarios no comercio de escravos mencionados aqui: http://koluki.blogspot.com/2011/01/just-poetry-xxxvii.html) desde os tempos de D. Ana Joaquina (mencionada aqui: http://koluki.blogspot.com/2007/08/significancias-lusosfericas-et-luandas.html e aqui: http://koluki.blogspot.com/2010/09/conferencia-internacional-sobre-cultura.html)
ate’ aos dias de hoje, podera’ fornecer alguns insights esclarecedores sobre a genese da actual “elite crioula” e quem eram os “pretos descalcos” perante os reinos “indigenas” e “pretos calcados” perante os portugueses e outros europeus, sendo que os ultimos permaneceram “calcados” ate’ aos dias de hoje, enquanto os “indigenas” se foram tornando cada vez mais “descalcos” ate’ “desaparecerem” virtualmente… e o processo continua!

Entretanto, a luta pelo controlo dos centros do poder politico, economico e social a que se assiste hoje e que vem sendo colocada em termos de uma batalha entre os valores da “barbarie” por um lado e os da “civilizacao” por outro, nao e’ mais do que uma luta entre “pretos calcados” de um lado e do outro, apenas com a diferenca de que uns terao sapatos “mais novos”, ou “mais dourados”, do que outros…
E enquanto isso, os “pretos descalcos”, novos e antigos, descendentes dos reinos “indigenas” incluidos, continuam cada vez mais “descalcos” e, indeed, para todos os “pretos calcados” de um lado e do outro: “que se lixem!”...

{Continua}

Koluki said...

{... Continuacao}

- Quanto ao “perigo chines” (ou “perigo amarelo”, como lhe chamei aqui: http://koluki.blogspot.com/2007/09/politica-futebol-e.html), infelizmente ele tem sido too bright and too flashy para ofuscar muitos em Africa (nao so’ em Angola) e com uma cada vez maior aquiescencia das potencias ocidentais (instituicoes financeiras incluidas), que o temem cada vez mais e tambem dele veem dependendo cada vez mais economica e financeiramente…
E, mais uma vez, nesse processo quem se lixa sao os “pretos descalcos” que por ele sao cada vez mais marginalizados no “mercado de oportunidades”, quer de formacao tecnico-profissional ou vocacional, quer de emprego, quer de investimento privado. Esse tem sido o meu principal “cavalo de batalha” nesse dominio, mas quando falo em “modelos endogenos de crescimento”, ou em “estrategias de desenvolvimento sustentado e sustentavel” (como aqui: http://koluki.blogspot.com/2009/05/just-poetry-v.html), sou imediata e violentamente acusada de, entre outras coisas monstruosas, ser “apostola da neo-authenticite’” (como aqui: http://koluki.blogspot.com/2010/09/afinale.html), ou de “andar a navegar no vazio” (como aqui: http://koluki.blogspot.com/p/irresponsabilidade-do-vazio.html) …
Portanto, volto a “minha celebre” pergunta: “Que fazer?” (http://koluki.blogspot.com/2007/03/angola-petroleo-e-economia-pos-conflito.html)!

Resta-me apenas a consolacao de que os postulados epistemologicos nos quais venho baseando as minhas “teses” comecam (finalmente!) a abrir caminho no mundo lusofono (como se pode constatar aqui: http://koluki.blogspot.com/2011/04/conhecimentos-endogenos-e-construcao-do.html) … So’ que, infelizmente, ‘a boa maneira lusofona, desde o inicio os seus promotores institucionais se demonstram incapazes de se aterem exclusivamente aos principios de racionalidade analitica e operacional que tais postulados em rigor requerem, nao tendo resistido a “encimar” a sua primeira conferencia sobre o tema com um “manifesto poetico” de Mia Couto... What a Shame!

Koluki said...

Ja' agora: uma outra observacao/critica que se me impoe fazer a conceptualizacao dessa conferencia e' a seguinte:

- Se e' facto que Michael Polanyi tera' contribuido para a teoria do conhecimento com o seu conceito de "conhecimento tacito", o autor que e' decisivo no desenvolvimento e aplicacao do conceito de "conhecimento endogeno", especialmente no que ele e' relevante para o conhecimento e o futuro de Africa e' o seu irmao Karl Polanyi!

Calcinhas de Luanda said...

Não me posso pronunciar sobre os autores que cita (os dois irmãos) pois desconheço-os, penso que serão sociólogos ou antropólogos e manifesto a minha ignorância sobre o assunto.

Indo directo aos portugueses que não foram testas de ferro, é lógico que muitos deles começaram na década de 40 do século XX a retirar terras aos nativos para construírem as suas fazendas e recorreram à mão de obra local e do planalto de uma forma que não era mais do que uma escravatura disfarçada. Mas também havia gente séria. De qualquer modo estes indivíduos optaram muitos deles por se radicar em Angola e se posteriormente tivessem sido "re-orientados" talvez se pudesse ter tirado proveito, para o país, daquilo que andaram a fazer. Mas na loucura de 74 e 75 foram todos "ruados" e tudo ficou destruído. Se muita dessa gente investiu os seus ganhos na "Metrópole" também houveram os que investiram nas cidades angolanas. Quando fiz o comentário inicial sobre a questão do "colonialismo deixar saudades nalguns sectores da sociedade angolana" tem a ver com a sequência de acções de ódios e disparates que se sucederam naquela época e que deixaram feridas indeléveis na actual sociedade angolana.
Mas os postos a andar acabaram de um modo ou de outro por reconstruir as suas vidas, a maioria do povo angolano continua a sofrer e como disse cada vez mais descalço, enquanto que uma minoria de nababos continua a esbanjar riqueza na "Ex-Metrópole" e na "Ex-Colónia Preferida" (Brasil), a grande compradora dos escravos angolanos.
Isto tudo é uma grande ironia!

Koluki said...

Sobre os dois irmaos:

Karl Polanyi (http://en.wikipedia.org/wiki/Karl_Polanyi) foi filosofo, jurista e economista politico, enquanto o seu irmao mais novo, Michael (http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Polanyi), foi um 'polimath', mas fundamentalmente quimico e filosofo.

Quanto ao resto, pouco ou nada tenho a acrescentar, excepto que o "foram todos ruados" talvez nao seja bem um retrato fiel da realidade... Tanto quanto me lembro, foram os proprios portugueses que, quando os ventos da independencia comecaram a soprar mais fortes em 74, comecaram a arrumar tudo quanto puderam nos celebres caixotes e muitos queimaram caminhoes, viaturas e outros haveres e pertences nas barrocas onde mais tarde viria a aparecer o "Roque Santeiro", porque diziam que se iam embora porque nao contemplavam a possibilidade de "serem governados por 'pretos' e aquilo que nao pudessem levar com eles preferiam queimar"...

Portanto, se houve "loucuras e excessos" eles foram seguramente de ambos os lados, mas mais por parte dos portugueses que se sentiram "amedrontados" por uma perspectiva de futuro incerto e para o qual nao estavam preparados, porque assim os haviam condicionado a guerra colonial, que consideravam "ganha", por entre cancoes como a celebre "Angola e' Nossa"!

Calcinhas de Luanda said...

Retomando ainad o seu, e do MPLA, argumento, a recusa dos brancos em serem, a ser verdade, então com a queda do apartheid na África do Sul teria sido a debandada geral. Tal não aconteceu, porque os líderes, negros, do ANC, souberam ser credíveis e dirigentes à altura do momento porque passava o país. É verdade que ainda não se resolveu o problema da descriminação racial e que os negros sofrem grandes agruras económicas, entre outras, naquele país. Mas houve o bom senso de travar o descalabro geral. Tal não aconteceu em Angola. Em Angola o grosso da debandada deu-se já em 1975 e continuou por 1976 devido à incompetência e oportunismo dos líderes políticos. Ou seja não foi um problema de cor de pele mas sim de "cor de mente", ou melhor, de falta de qualquer cor, pois o vazio não tem cor. É paradigmático que o MPLA de partido-ML se tenha convertido num antro de capitalistas desenvergonhados. E também é significativo que muitos blogs de angolanos no exterior, e o seu é um exemplo por alguns comentários que faz, refiram efectivamente essa falta de vergonha e oportunismo dos governantes. Quando se é adolescente na altura da independência do país, como foi o seu caso pelo que conta no seu blog, é evidente que tudo são só flores. Mas quando se tem mais uns anos em cima, como era o meu caso, já havia capacidade de ler nas entrelinhas e muita gente, brancos a maioria (concordo), mas também, muitos negros, pôs-se a andar, e grosso modo porque foram (repito mais uma vez tal é história e só daqui a umas décadas virá a confirmação) "ruados".
Peço desculpa por insistir no tema, mas o discurso recorrente de certos sectores da sociedade Angolana e de pessoas com mais cultura, é o de se esquecerem dos disparates do pré e pós independência e da guerra civil cretina que assolaram o país.
E Angola irá pagar por isso durante muitas décadas!

Koluki said...

- Neste blog, ou em qualquer outro lugar, nao falo, muito menos respondo, pelo MPLA. Se alguns dos meus posicionamentos poderao ser considerados “os mesmos” que os atribuidos ao MPLA, isso nao passara’, apenas e tao so’, de mera coincidencia… Em qualquer caso, sempre lhe digo que o discurso do “nao estamos para ser governados por pretos” ouvia-se um pouco por todo o lado, formal e informalmente, aberta e veladamente, e ficou registado pela Historia – nao foi “inventado” por mim, nem pelo MPLA…

- Se e’ possivel que o meu entusiamo pela independencia podera’ ter sido “pintado de rosa” pela minha juventude na altura, o facto e’ que ele era partilhado por Angolanos de todas as geracoes!

- Tanto nao e’ verdade que os portugueses “foram todos ruados” que houve muitos que ficaram e por isso ate’ foram “premiados” pelo MPLA e alguns ate’ se tornaram intocaveis (como mencionei aqui: http://koluki.blogspot.com/2010/12/festival-mondial-des-arts-negres.html)!

Houve, no entanto, um pequeno grupo ligado a organizacoes ou projectos de “extrema-esquerda” que foram presos no imediato pos-independencia e foram depois expulsos em 77/78 para Portugal (um deles e’ mencionado neste mesmo post, o Ennes Ferreira, e um outro foi meu cunhado, mencionado aqui: http://koluki.blogspot.com/2010/05/noticias-do-meu-pais.html), mas por razoes politico-ideologicas que nao tinham estritamente a ver com a descolonizacao. Esses sim, podem com legitimidade dizer que “foram ruados”…

- Como tenho argumentado em varias ocasioes (e.g. aqui: http://koluki.blogspot.com/2008/11/breves-notas-sobre-o-significado-racial.html), nao se pode transportar levemente a realidade historica de um pais para outro:

- A Africa do Sul por altura do fim do Apartheid nao era um pais colonizado, ao contrario de Angola. Portanto, os Afrikaners (sobre os quais falei um pouco aqui: http://koluki.blogspot.com/2010/10/outros-preconceitos.html) e outros brancos cidadaos daquele pais nao tinham institucionalmente uma “metropole” para onde regressar em massa…
- Os Afrikaners nao tinham apenas duas ou tres decadas de ‘settlement’ naquele pais, ao contrario de boa parte dos portugueses que para Angola foram “por ordem” de Salazar – suspeito bem que foi entre estes que os primeiros caixotes comecaram a ser arrumados …
- A Africa do Sul nunca teve uma guerra colonial da dimensao e duracao da verificada em Angola, apesar de o ANC ter tido um “braco armado”…
- Portanto, para todos os efeitos teoricos e praticos, a realidade historica da Africa do Sul, que permitiu o “heroismo” de Mandela, e’ fundamental e intrinsecamente distinta da de Angola, ou de qualquer outro pais Africano for that matter!

E por falar noutros paises Africanos, tambem a quase totalidade deles nao teve, ao contrario de Angola, Guine’-Bissau ou Mocambique, guerras coloniais de longa duracao, nem guerras fratricidas pos-coloniais, apenas porque os seus colonizadores nao so’ lhes concederam a independencia pelo menos uma decada antes de Portugal as suas colonias, como tambem lhes proporcionaram em alguns casos, periodos de transicao democratica, sob regimes de auto-determinacao, antes das suas independencias formais – de facto, tais transicoes pacificas e democraticas, comecaram precisamente por altura em que Salazar emitia a sua “celebre ordem” para Angola… e, certamente nao por acaso, alguns desses paises (e.g. Ghana ou Botswana) encontram-se agora na lideranca dos paises mais democraticos, estaveis e prosperos economica, social e culturalmente em Africa!



P.S.: Sobre o “Angola e’ Nossa” e outras cancoes da Guerra colonial, gostaria de sugerir este post de Fernando Ribeiro:

http://amateriadotempo.blogspot.com/2011/04/guerra-colonial-na-musica-portuguesa.html

Calcinhas de Luanda said...

As minhas desculpas se o meu texto deu a entender que Você comungava ou partilhava ideias do MPLA. Apenas constato que no seu blog e no de muitos outros angolanos, há algumas coincidências com posições do MPLA e que a meu ver, foram o fruto de uma educação recebida pelos jovens de então, nas primeiras escolas da Angola independente. E desculpe-me do que lhe diga, nem sempre o que então lhes foi ensinado era muito objectivo. Mas também o que era ensinado nas escolas do regime, não o era!
Quando à recusa em serem "governados por pretos" muitos desses comentários provinham de portugueses e angolanos brancos pouco cultos e ressabiados.
As verdadeiras razões da debanda e do facto de terem sido "ruados" irão aparecer à medida que historiadores independentes das partes envolvidas começarem a publicar. Por exemplo a História de Angola de Douglas Wheeler e René Pélissier, cuja 1ª edição em 1971 não agradou ao regime colonial, e cuja edição de 2009 (ou 2010) também não agradou ao EME é um exemplo concreto. E porquê? Porque os autores não devem nada a ninguém e escreveram do que há de melhor sobre a história de Angola e a "descolonização exemplar" levada a cabo pelos portugueses (MFA entenda-se) e sobre o facto do MFA ter andado com a Facção Agostinho Neto do MPLA ao colo.
Quanto a considerar que o regime de apartheid e o regime colonial português eram coisas bem diferentes, boa piada! Ainda me ri um bocado à custa dos seus argumentos para arranjar justificações para o facto dos brancos não terem ou sido "ruados" ou debandado por iniciativa própria. Aí a história, novamente irá por os pontos nos i?s! Mas o meu comentário é o seguinte, foi pena não ter aparecido um Mandela em Angola, mas apenas gente que será severamente julgada pelos vindouros de todos as cores de pele.

Koluki said...

Olhe,

Antes de acabar com esta conversa, que ate' certa altura ate' parecia estar a ser interessante, tenho apenas a deixar registado o seguinte:

- Em toda a minha vida, nao devo nada a ninguem a nao ser aos meus pais e alguns familiares e amigos mais proximos. Ao MPLA seguramente nao devo nada - muito antes pelo contrario!

- Nao andei "na escola" do pos-independencia: estava no quinto ano do liceu em 74/75... Tudo quanto aprendi sobre aquele periodo e o que se lhe seguiu, aprendi-o in loco, com a minha capacidade de julgamento que ja' na altura nao era propriamente a de "uma crianca" e por dolorosa experiencia pessoal e familiar, cujas chagas nas nossas vidas perduram ate' hoje!

- Estou cansada (muito cansada mesmo!) de andar a servir de "bode expiatorio" e este blog de "tubo de escape" para frustracoes e ressaibos de quem manifestamente se demonstra incapaz de aceitar a verdade e a realidade: esse foi sempre o mal daqueles portugueses (com Salazar na cabeca de lista) que com a sua postura arrogante perante a Historia deixaram que alguns dos paises mais ricos e mais promissores em todos os aspectos em Africa, como Angola, mergulhassem no descalabro que hipotecou a vida de geracoes e, pelos vistos, querem continuar a faze-lo agora com a recolonizacao!

- Por acaso o Pelissier e' um autor de cuja obra sou bastante familiar e que me serviu de base a um trabalho extensivo sobre algumas das questoes abordadas nesta discussao!

- Quanto a "vontade de rir que lhe deram os meus argumentos" sobre a AS e os Afrikaners vs. os Portugueses, estou segura de que ela tera' deixado muitos bons leitores deste blog a rir-se da sua "boa disposicao"... Mas continue rindo, porque essa e' certamente a unica saida quando se perde um debate e se se recusa a admiti-lo!

Por mim, esta' terminada esta discussao!

Koluki said...

Apenas para "remate" final:

1. Este poema que ja' tenho escrito ha' varios anos:

Corte

Não me venhas
com ares calcinhas
quando não estou
para gracinhas

Não me venhas
com contos de morte
quando me preciso
forte

Não me venhas
em tons assimilados
quando me prende
o canto dos segregados
sem sorte
ensaiando o corte
com tudo
o que não sabes
do Norte.

K.


2. Estas declaracoes de Martin Luther King (aqui: http://koluki.blogspot.com/2010/08/eu-tambem-tenho-um-sonho.html):

Parece que os portugueses são as pessoas mais lentas a largar mão das suas possessões em territórios estrangeiros. É lamentável que lhes falte a visão para se aperceberem do que está traçado para esses territórios. É sempre trágico ver um indivíduo ou uma nação tentando impedir ou parar uma irresistível onda.


3. Estas declaracoes de Nelson Mandela (aqui: http://www.info.gov.za/speeches/1998/98505_0x4259810481.htm):

We observe with fraternal interest the progress that our Angolan brothers and sisters are making along a similar path. We do know that the path you tread is not the same one we have travelled, and that some of the obstacles have been even more difficult than those we had to surmount.
(...)
There is a South African saying that, "If you are in one boat, you have to row together." We are indeed in one boat - in one Southern African region. As we navigated the storms of our region's history under colonialism and minority rule, so now we will row together on the calm waters of freedom and peace that lead to development and a better life for our peoples.




P.S.: Por favor sinta-se livre para voltar a comentar neste blog sobre o que quiser - os seus comentarios sao sempre bem vindos e enriquecedores-, excepto este assunto que realmente para mim esta' esgotado e cuja discussao comecava a tomar um rumo extremamente desagravel para mim.

Obrigada pela compreensao e so long!

Koluki said...

E para que aqui fique registada uma outra versao da historia dos "portugueses ruados", transcrevo o extracto que se segue de uma entrevista (publicada aqui: http://recordacoescasamarela.blogspot.com/2011/05/entrevista-que-fiz-para-o-novo-jornal.html) que acabo de ler e que nao me proponho discutir, negar ou confirmar, uma vez que se baseia em "declaracoes de Agostinho Neto" que nunca ouvi, nem delas antes tive qualquer conhecimento:

Angola tinha, de facto, uma enorme falta de quadros. Compreende-se porquê. Em 1974, pronunciando-se sobre a presença branca em Angola, Agostinho Neto declarava ter «dúvidas sobre se, neste momento, os mesmos indivíduos que têm sido privilegiados durante o regime colonial terão o direito de continuar no país». E em vésperas da independência, aparentemente esquecido de que a maioria dos portugueses eram simples trabalhadores, afirmava na rádio que tinham de sair de Angola antes do 11 de Novembro.
O coronel Melo Antunes, um dos homens do 25 de Abril, afirmou que a principal responsabilidade pela saída dos portugueses dos novos países foi dos movimentos de libertação porque, «contrariamente à letra e ao espírito dos acordos», se gerara «um clima de total repúdio da permanência de portugueses, um clima muitas vezes de perseguição, de insegurança de tal modo intolerável, que culminou num pânico generalizado».

Em Angola, engenheiros e quadros técnicos, médicos e professores, gestores e trabalhadores qualificados eram, na esmagadora maioria, brancos. Sem eles, a economia e as empresas, as escolas e os hospitais ou funcionariam mal ou deixariam mesmo de funcionar. Ora, depois da expulsão dos brancos, mataram-se, prenderam-se e afastaram-se dezenas de quadros angolanos, a pretexto de que estavam metidos na conjura nitista.

De modo que, muitos dos poucos quadros de que Angola dispunha foram liquidados ou afastados, sendo substituídos por gente sem qualificação. Quem acabou por pagar por tudo isso? A resposta é simples: o país e os angolanos.

Em Portugal, alguns antigos colonos aparecem a dizer que a expulsão foi inspirada pelos comunistas, pelos russos. Acusação totalmente falsa. Os teóricos da revolução davam indicações no sentido de cuidar, «como das meninas dos olhos, de cada especialista que trabalhe conscientemente, com conhecimento do seu trabalho e amor por ele». Por isso o general russo Valentim Varennikov, que cumpriu duas missões de serviço em Angola, sublinhou os enormes problemas criados pelo facto de terem sido «expulsos impensadamente todos os portugueses, que constituíam a principal força na economia, na direcção dos serviços municipais e na organização da gestão do país…».