Sunday, 4 March 2007

LUANDA: SOBRE AS RAZOES DO ESTADO DAS COISAS

UMA CENA TRISTE

Por José Kaliengue

(Originalmente publicado no Semanário Angolense - Luanda)


Regra geral, a classe média-alta ou alta angolana (há pessoas com dinheiro que as colocaria nesta posição em alguns paí­ses, mas em Angola este não é o único indicador possí­vel para assim classificar estas pessoas parcas em educação, bons hábitos, etc), é tida nos meios africanos que conheço, como uma entidade meio indefinida, em termos culturais. Explico-me:
Os angolanos são africanos quando interessa e desprezam esta condição na maior parte das vezes. Não sei até que ponto este pensamento está coberto de razão, mas há dias vi-me perante uma cena que me fez pensar um pouco sobre o assunto, fundamentalmente nos propalados respeito pelos mais velhos e solidariedade entre as pessoas. Andava eu, num dia de Domingo, entretido a olhar, já com alguma nostalgia, para as fachadas coloniais da zona baixa de Luanda, lá para os lados dos Coqueiros (não me parece que haja vontade de as poupar das máquinas e dos modernos prédios que pretendem fazer nascer do chão), quando dei com uma cena que me deixou profundamente entristecido e revoltado.

Um velhote chorava lágrimas soltas ante a indiferença dos transeuntes e dos muitos guardas das muitas lojas e instituições nas imediações. Ao aproximar-me vi que o velho tinha as calças molhadas. O pobre do velho havia pedido nas poucas lojas e bares abertos para que o deixassem usar as suas casas de banho, mas todos recusaram. O velho aguentou o máximo que pôde, resistiu ao máximo á ideia de encostar-se a uma parede ou a um qualquer carro, em pleno dia, em plena cidade, mas quando ia a ceder, já era tarde. Era Domingo. Eram onze horas e mais alguns minutos. O velho morava longe e estava, naquela zona, muito perto da casa da filha onde pretendia visitar os netos. Entendi as razões de tão amargurado choro. Os guardas explicaram-me que corriam o risco de perder os seus empregos se tivessem aberto as portas ao velhote, aliás, alguns nem sequer tinham as chaves dos estabelecimentos. Se se vissem aflitos também teriam que se desenrascar. No restaurante mais próximo o gerente disse-me que só pode usar o WC quem consome no estabelecimento, e isso quando há água.

De facto, na falta de casas de banho públicas, os estabelecimentos comerciais poderiam prestar esse serviço público, nem que para tal tivessem que negociar uma qualquer contrapartida com o estado. A falta de casas de banho públicas, em Luanda, tem levado a cenas muito pouco dignificantes para a pessoa e para a cidade. Se era frequente, há um ou dois anos, ver pessoas a aliviar-se em plena rua, encostadas aos muros ou entre automóveis estacionados, meio envergonhadas, meio escondidas, agora o descaramento é total. Rapazes e homens fazem chichi virados para a estrada num incompreensí­vel acto de exibição. E isto pode acontecer em qualquer parte da cidade, a qualquer hora e independentemente de estarem a passar senhoras ou crianças. O abandono dos valores mais elementares na sociedade angolana, é um assunto que merece muito mais debate. Não bastam as campanhas para a promoção do civismo nas rádios e na televisão e os esforços das igrejas. É urgente encontrar formas de juntar todos estes esforços e torná-lo numa acção que envolva toda a sociedade, com destaque para as crianças.

A degradação das regras de boa conduta e dos valores morais estão na base de fenômenos como a corrupção e as catorzinhas. Está também na base da atitude ambí­gua que os angolanos assumem em relação ao seu posicionamento cultural; usam roupas das marcas mais caras, alojam-se nos melhores hotéis, compram conhaque e whisky caros e nessas alturas procuram imitar os europeus, mas quando confrontados com a ignorância que sobressai da forma e dos momentos como se devem consumir os tais produtos, a resposta é: “não liga mano, nos somos africanos”. Vale tudo. É esta a regra de quem tem dinheiro em Angola, mas é um vale tudo em que o “poder” deve ser evidenciado e a “pequenez” de quem precisa lembrada. O velhote que encontrei a chorar na rua, com as calças molhadas, tinha acabado de experimentar a sua pequenez perante gerentes e donos de bar a quem importava apenas as pessoas que lhes pudessem colocar mais alguns trocos nos bolsos. Ele não passava de um velho, mesmo aflito. Alguêm explique onde ficam o respeito pelos mais velhos e a solidariedade por quem mais precisa.

(Foto daqui)
UMA CENA TRISTE

Por José Kaliengue

(Originalmente publicado no Semanário Angolense - Luanda)


Regra geral, a classe média-alta ou alta angolana (há pessoas com dinheiro que as colocaria nesta posição em alguns paí­ses, mas em Angola este não é o único indicador possí­vel para assim classificar estas pessoas parcas em educação, bons hábitos, etc), é tida nos meios africanos que conheço, como uma entidade meio indefinida, em termos culturais. Explico-me:
Os angolanos são africanos quando interessa e desprezam esta condição na maior parte das vezes. Não sei até que ponto este pensamento está coberto de razão, mas há dias vi-me perante uma cena que me fez pensar um pouco sobre o assunto, fundamentalmente nos propalados respeito pelos mais velhos e solidariedade entre as pessoas. Andava eu, num dia de Domingo, entretido a olhar, já com alguma nostalgia, para as fachadas coloniais da zona baixa de Luanda, lá para os lados dos Coqueiros (não me parece que haja vontade de as poupar das máquinas e dos modernos prédios que pretendem fazer nascer do chão), quando dei com uma cena que me deixou profundamente entristecido e revoltado.

Um velhote chorava lágrimas soltas ante a indiferença dos transeuntes e dos muitos guardas das muitas lojas e instituições nas imediações. Ao aproximar-me vi que o velho tinha as calças molhadas. O pobre do velho havia pedido nas poucas lojas e bares abertos para que o deixassem usar as suas casas de banho, mas todos recusaram. O velho aguentou o máximo que pôde, resistiu ao máximo á ideia de encostar-se a uma parede ou a um qualquer carro, em pleno dia, em plena cidade, mas quando ia a ceder, já era tarde. Era Domingo. Eram onze horas e mais alguns minutos. O velho morava longe e estava, naquela zona, muito perto da casa da filha onde pretendia visitar os netos. Entendi as razões de tão amargurado choro. Os guardas explicaram-me que corriam o risco de perder os seus empregos se tivessem aberto as portas ao velhote, aliás, alguns nem sequer tinham as chaves dos estabelecimentos. Se se vissem aflitos também teriam que se desenrascar. No restaurante mais próximo o gerente disse-me que só pode usar o WC quem consome no estabelecimento, e isso quando há água.

De facto, na falta de casas de banho públicas, os estabelecimentos comerciais poderiam prestar esse serviço público, nem que para tal tivessem que negociar uma qualquer contrapartida com o estado. A falta de casas de banho públicas, em Luanda, tem levado a cenas muito pouco dignificantes para a pessoa e para a cidade. Se era frequente, há um ou dois anos, ver pessoas a aliviar-se em plena rua, encostadas aos muros ou entre automóveis estacionados, meio envergonhadas, meio escondidas, agora o descaramento é total. Rapazes e homens fazem chichi virados para a estrada num incompreensí­vel acto de exibição. E isto pode acontecer em qualquer parte da cidade, a qualquer hora e independentemente de estarem a passar senhoras ou crianças. O abandono dos valores mais elementares na sociedade angolana, é um assunto que merece muito mais debate. Não bastam as campanhas para a promoção do civismo nas rádios e na televisão e os esforços das igrejas. É urgente encontrar formas de juntar todos estes esforços e torná-lo numa acção que envolva toda a sociedade, com destaque para as crianças.

A degradação das regras de boa conduta e dos valores morais estão na base de fenômenos como a corrupção e as catorzinhas. Está também na base da atitude ambí­gua que os angolanos assumem em relação ao seu posicionamento cultural; usam roupas das marcas mais caras, alojam-se nos melhores hotéis, compram conhaque e whisky caros e nessas alturas procuram imitar os europeus, mas quando confrontados com a ignorância que sobressai da forma e dos momentos como se devem consumir os tais produtos, a resposta é: “não liga mano, nos somos africanos”. Vale tudo. É esta a regra de quem tem dinheiro em Angola, mas é um vale tudo em que o “poder” deve ser evidenciado e a “pequenez” de quem precisa lembrada. O velhote que encontrei a chorar na rua, com as calças molhadas, tinha acabado de experimentar a sua pequenez perante gerentes e donos de bar a quem importava apenas as pessoas que lhes pudessem colocar mais alguns trocos nos bolsos. Ele não passava de um velho, mesmo aflito. Alguêm explique onde ficam o respeito pelos mais velhos e a solidariedade por quem mais precisa.

(Foto daqui)

12 comments:

Anonymous said...

É também isto que me preocupa e ocupa os pensamentos de há dois anos a esta parte, desde que estive em Luanda pela última vez....bem visto, neste artigo essa triste dicotomia de que sofre o angolano classe média/alta.....Quer ser empresário, mas é capaz de gastar todo o dinheiro da empresa em compras pessoais na África do Sul ou Lisboa, e estar-se nas tintas para os trabalhadores que ficaram em Luanda a suar........e sem salário.Bem entendido que haverá honrosas excepções, mas existe em demasia destas "espécies"....infelizmente para o martirizados trabalahdor angolano que tem de madrugar para apanhar o chapa rumo a Luanda, chega todo suado, trabalha um dia inteiro até à noite.....e........na madrugada seguinte lá vem de novo para a beira da estrada apanhar o "chapa" (ou candongueiro...como lhe queiram chamar).E o pior é que , aqui em Lisboa os filhos e filhas destas espécies começam a dar os mesmos passos nessa direcção.....que falta de sentido patriótico,amor à nação e ao povo, que nesta fase desta jovem nação tanta falta fazia que houvesse entre os jovens.....lá vai havendo algumas...muitas, dignas excepções que arrastam as canetas na esperança de ver nascer a mudança...o dinheiro pode muito....raios o partam!!!!

Koluki said...

Pois e', meu caro/a amigo/a,

Como se diz la' na banda, esse e' memo o prubulema que estamos cum ele...
Nova consciencia precisa-se. Nova nocao de cidadania, precisa-se. Nova racionalidade economica, social e cultural... precisa-se!
O problema e' onde e como iremos encontrar essas coisas. Quando os de fora querem fazer alguma coisa, os de dentro nao deixam... quando alguns de dentro tentam fazer alguma coisa, outros ainda mais de dentro opoem-se... e andamos nisto. Num puro salve-se quem puder. E o dinheiro manda em tudo!
Mas nao pode tudo, embora possa muito, como bem diz. Nao pode mais do que a vontade. A vontade de mudanca que tem que nascer de dentro de cada um de nos, em vez de eternamente nos culparmos uns aos outros.
Diz bem: que falta de sentido patriotico, amor a nacao e ao povo. Eu acrescentaria: que falta de amor proprio! Porque so o amor proprio, que nao se confina ao amor ao dinheiro faria cada um de nos actuar como cidadao em face de cada um dos problemas com que o 'dia a dia na cidade' nos confronta.
Se eu fosse dona de bar ou loja em Luanda, nao quereria que as imediacoes do meu estabelecimento de tao imundas afastassem os clientes, por isso ate' era capaz de subsidiar a instalacao de uma casa de banho publica (mesmo dessas portateis que as construtoras usam no ocidente e que devem ser bem baratas) so' para nao deixar de atrair clientes...
Mas num pais em que os dirigentes e nao so' em vez de insistirem em mais investimento na educacao, sanidade e saude publica, preferem investir na instalacao de escolas e clinicas privadas e na compra de casaroes na Africa do Sul, em Portugal e noutras partes do mundo para instalarem mulher e filhos, enquanto se entreteem com catorzinhas na banda... o que e' que se pode esperar?
E' cada um por si e Deus por todos! E a cidade que se lixe e com ela essa coisa de cidadania, que para quem esta' sempre de barriga cheia nao passa de "mais uma mania/imposicao dos ocidentais"...
Sentido patriotico, amor a nacao e ao povo nesse contexto, meu/minha caro/a nao passa de agitar a bandeira, afirmar-se mais angolano/a do que a propria angolanidade quando isso convem e gritar/cantar "um so povo e uma so nacao"!
E... estamos sempre a subir! Mas... mesmo assim Luanda kuia!
Tenho por ai um post com declaracoes da Mamphela Ramphele que bem ilustram o que precisa ser dito e interiorizado, nao so' na AS, mas sobretudo em Angola onde este tipo de discurso ainda e' impensavel, apesar de alguns de nos nao pararem de proclamar que "nos e' que lhes demos a independencia"... acontece porem que independentes ja' eles o eram e o que teem agora e' um pais livre do apartheid ha' apenas 12 anos. Compare-se o que eles teem feito e conseguido desde entao com o que vimos sistematicamente desconseguindo ha' mais de 30 anos, apesar das elevadissimas taxas de crescimento... E a guerra nao explica nem metade da diferenca!
Amor proprio... precisa-se!

Unknown said...

Estarei provavelmente em Angola dentro de um mes. Voltarei a viver. A beber da fonte da qual
Ó minha Angola !!!!
enama a grandeza ( ainda escondida) da minha amada. Angola, ai vou para abraçar-te e beijar-te e descontar em ti estes anos de nostalgia e sofrimento por não te ter ao meu lado…. E para ver mutilados desacarinhados, miudos desnudados, estradas crateras e velhos sem onde fazer….

Cardoso Jr

Anonymous said...

Muito bem dito Koluki amor proprio e a chave! Agora, como reconstrui-lo depois de 500 anos de colonizacao e geracoes acreditarem que so quem e assimilado a moda Portugueses e gente! Como se nao bastasse depois disso mais cerca de 30 anos sob um regime que pura e simplesmente apostou na destruicao do Angolano. E que vem sistematicamente, sem do nem piedade cumprindo com os seus objectivos. ... Mas pior do que a pobreza material, e a pobreza espiritual, o sentimento de impotencia que a vasta maioria sente perante a situacao incluindo classe baixa, media e alta. Todos falamos mas na maioria dos casos no fundo preocupamo-nos apenas em encontrar um buraquinho aonde nos possamos acomodar dentro do sistema, ou fora no estrangeiro. Ninguem ainda tomou a mudanca para melhor como a sua causa pessoal. Contentamonos em culpar outros pelas coisas andarem como andam.

Mudanca da noite para o dia so um homem em Angola neste momento tem o poder para o fazer mas infelizmente nao tem a capacidade. Sim temos extremamente maus "lideres"! Perante, tal situacao quer queiramos quer nao temos que criar alternativas. Todos nos temos o dever, a obrigacao e a responsabilidade de procurar e/ou criar o tipo de lideranca que o pais precisa! Podemos nao ter a capacidade mas temos o dever. Todos!

Anonymous said...

Tenho de deixar de ser "Anonymous", pois já anda aqui outro "sósia"....( lol )e o que disse esse(a) amigo(a) é muiíssimo importante "Ninguem ainda tomou a mudanca para melhor como a sua causa pessoal."!!!
Ora aqui está uma ideia que deveria tornar-se a nossa bandeira.......a de cada um, onde quer que estejamos, tentando influenciar, contagiando todos os que por nós passam, com esta IDEIA de que A RESPONSABILIDADE DA MUDANÇA, parte SEMPRE do gesto que cada um for capaz de fazer e de assumir, no dia-a-dia.
Preocupam-me os meus jovens amigos e amigas ( tenho 50 anos.....)que conheço aqui e em Angola e mesmo os que aqui foram criados e educados, mal se vêm em solo angolano, enveredam quase na hora nos "esquemas" do ganho fácil, nas engrenagens do sattus quo.......JOVENS, meus caros.....JOVENS!!!!Preocupante.....mas acreditem que ando a engendrar uma forma de casar o interesse (oportunismo, interesseirismo)com o desinteresse ( humanismo, solidariedade, generosidade).....fazer com que um frutifique o outro, aproveitando o "estar na moda a solidariedade"....
Abraços para todos

Anonymous said...

Êzatamente Koluki....é o prubulema que estamos cum ele........vamo fazer como!?

Abração.....

Koluki said...

Jose' Cardoso Jr.

Parabens! Bom regresso e oxala' que para alem de matares as saudades todas e de te desforrares de tanta ausencia da nossa amada terra, consigas tambem contribuir directamente para que deixemos todos de ver mutilados desacarinhados, miudos desnudados, estradas crateras e velhos sem onde fazer…
Vai-nos dando noticias a partir de la' a ver se inspiras mais alguns de nos a seguir o teu caminho.

Um abraco!

Koluki said...

Anonimo,

Concordo absolutamente com tudo o que disse!
Apenas gostava de acrescentar ao que ja' disse antes que quando falei em amor proprio, pretendia dalar dele em associacao ao conceito de cidadania, de pertenca ao todo e de responsabilidade individual pelo todo.
Ora, o que vemos mais frequentemente por parte de alguns dos nossos "articulistas", jornalistas ou nao, e' a observacao e o reportar das situacoes como se de meros passeantes com "estatuto de observadores" se tratassem. Entramos numa especie de jogo de espelhos em que aquilo que e' ou nos parece mau e' sempre retratado por um espelho que nos da' a imagem de outrem como o culpado... nunca a nossa!
E' nesse sentido que acho que os 500 anos de colonizacao e destruicao sistematica do nosso amor proprio pelo sistema sob o qual temos vivido nos ultimos 30 anos so' terao o poder de nos fazer sucumbir se nos deixarmos, isto e', se nao tivermos amor proprio...
Tem razao quanto a lideranca, mas acho que por melhor que seja a lideranca, nao se operam mudancas da magnitude das que necessitamos do dia para a noite...
E' preciso que cada um de nos, todos como bem exclama, assuma a sua responsabilidade nesse processo de mudanca, seja a que nivel for e esteja onde estiver...
So' para lhe dar alguns exemplos que me foram contados recentemente por alguem que tem tido mais contacto e proximidade com Luanda do que eu:

1. Uma senhora, que por acaso foi esposa de um dirigente (o que tb serve para fazer justica a algumas pessoas dessa classe que teem muito boa fe' e boa vontade) infelizmente ja' falecido, comecou a ensinar dois meninos de rua, que la iam fazer biscates, na sua casa. De dois inicialmente passaram a ser dezenas e o quintal da senhora transformou-se numa verdadeira escola. Entretanto, para que os miudos pudessem ter habilitacoes oficiais, ela pediu a um professor conhecido que os deixasse fazer os exames na escola dele... os miudos dela foram tao bem sucedidos nos exames que o tal professor a certa foi-lhe pedir para ensinar a propria filha dele!

2. A 'patroa' de uma jovem que trabalhava em casa dela como empregada domestica descobriu um dia que esta tinha mais habilitacoes que ela e que andava a estudar na universidade... Ao mesmo tempo, porque o salario de domestica nao lhe chegava para suportar os estudos, abriu com a mae dela uma 'lanchonette' que tem estado a fazer muito sucesso... pura forca de vontade, espirito empresarial e amor proprio!

3. A mesma 'patroa' que tinha os filhos pequenos a estudar na Inglaterra, numa altura em que eles tiveram que ficar em Luanda por uma temporada, precisou que alguem continuasse a dar-lhes licoe de Ingles. A mesma empregada disse a sra. para nao se preocupar que ela lhe ia trazer no dia seguinte um professor de Ingles... perante o espanto da sra, no dia seguinte apresentou-se-lhe um jovem franzino e mal vestido vindo do musseque como sendo o professor de Ingles... tinha estudado Ingles por correspondencia com ajuda da internet e tinha tambem aproveitado um curso de Ingles que tinha sido la dado por uma ONG... pois o jovem deu cartas e os miudos nao perderam muito do que teriam aprendido durante aquele periodo na sua escola na Inglaterra!

Isto e' que sao os exemplos que todos nos poderiamos replicar na nossa conduta. E como estes devem existir dezenas, centenas, milhares de outros! So' que... nao ha' valorizacao social destas pessoas... nao ha incentivos para este tipo de iniciativas de pessoas humildes mas empreendedoras... mas elas existem e nao desistem!

Koluki said...

Bato',

Obrigada por se ter identificado com um nome, porque assim tambem me facilita a vida...
Suponho que tenha sido entao a primeira comentarista. Nesse caso, pouco tenho a acrescentar porque, mais uma vez estou plenamente de acordo consigo.
So' queria ressaltar, referindo mais uma vez os exemplos que dei acima, que tambem ha jovens com outro tipo de mentalidade, mesmo que "apenas" motivada pela necessidade... Mas isso pode fazer a diferenca, quer para eles, quer para as novas geracoes que cresceram nestes ultimos 30 anos e mesmo que tenham nascido, crescido ou estudado noutras paragens nao teem outros referentes que nao o que o sistema vigente no nosso pais lhes dita como "valido"... porque "ser angolano kuia" e ser angolano e' ter a aparencia de quem e' tao rico quanto o seu pais rico em petroleo... seja a que preco for!
Minha querida, vamo fazer mais cumu? Nao me pergunte porque voce ja deu a resposta: e' tentar fazer esse casamento entre o interesse pessoal e a generosidade social. Nao e' so' isso, mas nas actuais circunstancias do nosso pais e' sobretudo isso!

Um abracao tambem!

Koluki said...

PS: So' para ressalvar, caso tenha deixado essa impressao, que a minha referencia a "articulistas passantes com estatuto de observadores" nao visa, nem pouco mais ou menos, este texto do Kaliengue que fiz muita questao de publicar aqui precisamente por me parecer projectar um olhar diferente, critico, actuante e ao mesmo tempo emocionante deste tipo de situacoes, tendo para alem do mais feito as suas propostas de solucoes possiveis.

Os meus parabens ao Kaliengue e muito obrigada!

Anonymous said...

Bato, Koluki:

Obrigada pelos comentarios positivos. E estimulante trocar este tipo de ideais, ver a vossa motivacao, os bonitos exemplos dados. No fundo quem sabe o desejo de mudanca esteja tambem a flor da pele de pessoas com que nao contamos. Os do poder?!

Como disse a mudanca para melhor e trabalho de todos e manter as coisas melhoradas sera tambem trabalho de todos, e sera um trabalho permanente.

Mudanca da Noite para o Dia. Como consegui-la?

Existe um individuo em Angola com o poder para fazer o seguinte:

1) Contractar um grupo de conselheiros e elaborar e executar um plano de desenvolvimento economico para a capital e as provincias. Incluindo construcao de hospitais, escolas, universidades, centros tecnicos e de investigacao, habitacoes, criar um sistema de financiamento e treino para pequenos investidores Angolanos, construcao e manutencao de museus, centros de recriacao, construcao de estradas e de auto-estradas, criar centros agro-pecuarios, construcao e manutencao de barragens para abastecimento electrico etc, etc.

2) Estabelecer tabelas salariais que permitam aos Angolanos viverem dos seus salarios com dignidade (incluindo todos desde o varredor de rua ao primeiro ministro).

3)Dar preferencia a profissionais e aos trabalhadores Angolanos e em areas em que nao tivermos peritos, procura-los no mercado internacional pagando apenas o necessario/o que o mercado oferece (ate certo ponto o pagamento de balurdios a certos co-operantes estrangeiros preferencialmente aos de raca branca e reflexo de um certo complexo de inferioridade que muitos lideres ainda possuem), treinarmos e incentivarmos Angolanos para obterem conhecimentos nas areas em que carecermos de peritos.

4) Criar e executar um plano para o regresso de Angolanos no exterior em condicoes de dignidade.

5) Promover progamas de educacao social com os objectivos de nos ajudar a superar o trauma do colonialismo, esclarecer a importancia da estabilidade familiar, combate ao alcolismo, prostituicao, sida, etc, etc.

Acredito que Angola possua recursos naturais e humanos suficientes para terminar com o ciclo vicioso e comecar o ciclo virtuoso! E existe uma pessoa com poder de iniciar um processo desta natureza tudo o que necessitaria como caracteristicas pessoais seriam a. vontade, b. visao, c. lideranca.

Se essa pessoa acordasse um dia com a vontade para o fazer (so precisa de contratar as pessoas certas e de as despedir se depois de lhes ter posto a disposicao os recursos necessarios e ter dado um periodo de tempo razoavel, os resultados nao fossem atingidos).

E claro que a reconstrucao de Angola ira levar anos, mas a beleza a qual eu chamo mudanca DA NOITE PARA O DIA esta exactamente no processo, em si. Koluki, imagine so se voce acordasse amanha e recebesse um convite para fazer parte da equipa de conselheiros economicos. E claro, o trabalho nao seria concluido num dia. Mas a mudanca ocurreria no momento em que comecasse a trabalhar com um objectivo de ajudar a criar uma Nacao digna!

Imaginem acordar pela manha e ouvir na radio em Luanda que o ministerio da construcao com a participacao ira implementar um plano de construcao de habitacoes na areas perifericas de Luanda em que cada familia que enlistasse como aprendizes de pedreiros por um ano cinco jovens por exemplo, tivesse o direito de comprar uma casa a precos acessiveis/com financiamento subsidiado se necessario. Nao so os jovens estariam ocupados a aprender algo de util mas tambem de forma pratica a ajudar a resolver problemas de habitacao.

Imagine comerciais televisivos feitos com as misses Angola de varias idades a anunciarem como e bom e saudavel ser bonita e como pode ser humilhante destruidor do amor proprio servir de objecto sexual(especialmente de homens velhos e feios!). Mostrar comerciais com varios homens com aparencias de elite a morrer de sida. Algo de bem chocante com a dor o estigma, sofrimento que o sida produz. E no final perguntar e isso que voce quer para si?

Programas televisivos com estorias de preferencia reais de familias felizes demonstrando como os valores morais lhes ajudam a manter essa felicidade.

Por a Bato como membro do grupo de planeamento dos programas ocupacionais para os jovens.

Acredito, sim que Angola podera mudar Da NOITE PARA O DIA, mas infelizmente nao com o lider que temos a. nao tem a vontade, b. nao tem a visao, c. nao tem a capacidade de lideranca necessaria, para tal!

Tenham um bom dia.

Anonymous said...

Voltei a ler....com atenção.....
"...Obrigada pelos comentarios positivos. E estimulante trocar este tipo de ideais, ver a vossa motivacao, os bonitos exemplos dados. No fundo quem sabe o desejo de mudanca esteja tambem a flor da pele de pessoas com que nao contamos. Os do poder?!"
Hummmm.....agora compreendo, amigo "anonymous"....mas dá para se rebaptizar, não dá?

Abraço grande e oxalá seja e consiga...