Friday, 16 February 2007

CONTROVERSO

ControVerso, de "Kardo Bestilo", em BOOKS OF LIFE

AGORA FALO EU

Tu és um burrooo
O futuro esta ameaçado
Por causa de jovens como túuu
Nem falar português
Em condições sabeees
No meu tempo isto
No meu tempo aquilo
Eu com o meu quarto ano
Do tempo colonial
Faço e desfaço
Mais que essa tua
Decima segunda classe
De agora
OK BASTAAA!
AGORA FALO EU
Aceitei noventa por cento do teu abuso
Desrespeito quando estava errado
E sempre que assim estive
Mais agora basta
Recuso-me a aceitar mais
Que dez por cento do teu abuso
Porque, quer queiras
Quer não queiras
Desta vez vou falar
E sem fronteiras
Estou cansado
De ser humilhado
Ultrajado
Por ter nascido
Num país independente
Coisa que tu não foste
Se sentes inveja e mágoa
Vai bater os irmãos kambutas
Estou cansado
De ser chamado burro
Ou de me exigirem
Que fale bem que nem português
Porque todos que viveram viveram
No tempo dos invaSORESS
Sim invasores
Que invadiram o continente mãe
E ainda não pediram um perdão oficial
Quando no entanto
Andando pelo mundo
A pedir indemnizações
Chorudas aos Alemães e Japoneses
Por causa dos maus tratos da segunda
Não segunda mulher
Mas sim guerra mundial
Estou cansado De ser
Chamado matumbo
Por tentar falar as nossas
Línguas Nacionais
Sim aquelas que devias falar
Melhor que eu e me ensinar
Mais como perdeste
Mais tempo
A ficar mais assimilador
Que o próprio invasor
Transformando-se em um invasor virtual
Chamas de Línguas
Indígenas
Tradicionais
Tribais
Como se do reino do
Kongo
Dongo
Kwanhama
Como mostra de nossas riquezas nacionais
De tribos se trata
Ou será que o teu quarto ano
Não te ensinou o que uma tribo ou clã
Estou cansado desses
Desabafos teus
Que a juventude de agora não sabe isto ou aquilo
Que nossa musica não tem
Nexo nem contexto
Quando não consegues nos dar uma social
E tu e toda a tua geração só nos submetem a turBULÊNCIA
Estou cansado de ver a minha geração
A ser roubada a sua adolescência
Ser privada da sua criatividade
Só para sustentar o teu bem ESTAR
Eu falo sim
E grito se preciso!
Para nós também termos o direito
De errar e aprender com os nossos erros
Quem és tu para me dizer e apontar só defeitos
Se valores morais é tudo que soubeste destruir
Hoje apenas o Mano que desvia
Ou cabrita onde bumba
É respeitado pela sua família
O Mano Zé Honesto
Coitado
Nem na mulher manda
E ainda assim querem ouvir
Musicas com conteúdo como as do
David Zé
Urbano de Castro
Artur Nunes
Coitados que deus os tenha
E que teu erro seja perdoado
Eu prefiro não falar mais
Porque a verdade também DÓi
Estou cansado e não descanso!
Luanda 02/02/2005 * Casa 142 - 12.03 am



Tia - Artur Nunes


Para mim e’ sempre complicado falar das obras, sejam em que dominio for, dos que me sao mais proximos. Sobretudo por receio de as prejudicar por possiveis suspeitas de “nepotismo” ou outro qualquer tipo de favoritismo… Por isso tenho a agradecer ao Luis Rosa Lopes a apresentacao que fez recentemente em Luanda do livro ControVerso do meu sobrinho Kussi, a.k.a. Kardo Bestilo. Tenho a certeza que o pai dele, desaparecido na purga do 27 de Maio de 1977, esteja onde estiver, estara’ muito orgulhoso do filho que deixou neste mundo.

"... Contro Verso ou Controverso? Peguei neste livro, olhei para ele, folheei-o e comecei a lê-lo a partir da página 189... Isto pode parecer estranho mas não se chamará esta obra ControVerso? Já pelos títulos do Índice poderemos entender porque assim procedi: Brevidades ao ViVo, Coisas e Momentos, Love Arena, Fincologia e Artologia. Esta fraseologia neologísmica, este parafrasear crioulo, este rebuscanço de palavras com origens tão díspares para definir poesias que ainda não tinham sido lidas e dissecadas, fez-me imediatamente criar água na boca, aguçou-me os sentidos e pendurou-os nas asas da curiosidade... ". Extracto da Apresentacao de Luis Rosa Lopes (ler o resto aqui).

EU GOSTARIA

Eu Gostaria de poder
Escrever um poema
Sem filtros
Nem limitações

Eu Gostaria de poder
Escrever um poema
Que falasse da verdade
Sem ser acusado de atrevido

Eu Gostaria de poder
Exteriorizar sem medo
De correr linhas
Matutar
0 que me vai
Pelas veias
Cerebrais
Sem ser
Associado a isto ou aquilo

Eu gostaria de poder
Escrever um poema
Que
Prendesse a tua atenção
Sem ter que estar
A disparatar
Ou muito menos
Falar de sexualidade
E no entanto
Transferir
O pensar
E com ele ensinar
E contribuir para melhorar

Eu Gostaria de poder escrever
Escrever sobre mim
Sobre ti
Ou sobre ele
Penetrando no seu interior
Publicando para o exterior
Sem recear
O farejar
Do cão
Ou
O rugir
Do leão

Eu Gostaria de poder
Escrever sobre
O meu irmão BU
Primo MU
E
Parente PU
Sem eles
Se sentirem ofendidos
Discriminados
Ou menos amados
Por lhes falar
De palavras verdadeiras

Eu Gostaria de poder
Falar sobre
As paisagens
Belezas
Falhanços
Ignorâncias
Abusos
E não só
De tudo aquilo que É meu
Sem temer
Uma malhação
Ou detenção
Por chamada de atenção

Eu Gostaria de poder
Ter assistido
Persistido
Alterado
E impedido
Aquilo que não é justo

Eu Gostaria de poder
Escrever tudo o que sinto
Tudo o que vejo e me toca
Sem aleijar
O meu compatriota
Sem para isso estar no Matrix

Eu Gostaria de poder
Escrever sobre
O meu pai
E seus camaradas
Sem ser discriminado

Eu Gostaria de poder
Ter escrito este poema
Com as verdadeiras
Palavras
Palavras que me vão
Pela mente
Mesmo que
Me fizesse chorar
Mesmo que
Me fizesse Gostar de escrever mais
E que marcasse
Um registo do testemunho
De um preto
Para o resto da Humanidade

K.B. (Luanda 01/02/2005)


Ler mais sobre ControVerso aqui, aqui, aqui e aqui.

ControVerso, de "Kardo Bestilo", em BOOKS OF LIFE

AGORA FALO EU

Tu és um burrooo
O futuro esta ameaçado
Por causa de jovens como túuu
Nem falar português
Em condições sabeees
No meu tempo isto
No meu tempo aquilo
Eu com o meu quarto ano
Do tempo colonial
Faço e desfaço
Mais que essa tua
Decima segunda classe
De agora
OK BASTAAA!
AGORA FALO EU
Aceitei noventa por cento do teu abuso
Desrespeito quando estava errado
E sempre que assim estive
Mais agora basta
Recuso-me a aceitar mais
Que dez por cento do teu abuso
Porque, quer queiras
Quer não queiras
Desta vez vou falar
E sem fronteiras
Estou cansado
De ser humilhado
Ultrajado
Por ter nascido
Num país independente
Coisa que tu não foste
Se sentes inveja e mágoa
Vai bater os irmãos kambutas
Estou cansado
De ser chamado burro
Ou de me exigirem
Que fale bem que nem português
Porque todos que viveram viveram
No tempo dos invaSORESS
Sim invasores
Que invadiram o continente mãe
E ainda não pediram um perdão oficial
Quando no entanto
Andando pelo mundo
A pedir indemnizações
Chorudas aos Alemães e Japoneses
Por causa dos maus tratos da segunda
Não segunda mulher
Mas sim guerra mundial
Estou cansado De ser
Chamado matumbo
Por tentar falar as nossas
Línguas Nacionais
Sim aquelas que devias falar
Melhor que eu e me ensinar
Mais como perdeste
Mais tempo
A ficar mais assimilador
Que o próprio invasor
Transformando-se em um invasor virtual
Chamas de Línguas
Indígenas
Tradicionais
Tribais
Como se do reino do
Kongo
Dongo
Kwanhama
Como mostra de nossas riquezas nacionais
De tribos se trata
Ou será que o teu quarto ano
Não te ensinou o que uma tribo ou clã
Estou cansado desses
Desabafos teus
Que a juventude de agora não sabe isto ou aquilo
Que nossa musica não tem
Nexo nem contexto
Quando não consegues nos dar uma social
E tu e toda a tua geração só nos submetem a turBULÊNCIA
Estou cansado de ver a minha geração
A ser roubada a sua adolescência
Ser privada da sua criatividade
Só para sustentar o teu bem ESTAR
Eu falo sim
E grito se preciso!
Para nós também termos o direito
De errar e aprender com os nossos erros
Quem és tu para me dizer e apontar só defeitos
Se valores morais é tudo que soubeste destruir
Hoje apenas o Mano que desvia
Ou cabrita onde bumba
É respeitado pela sua família
O Mano Zé Honesto
Coitado
Nem na mulher manda
E ainda assim querem ouvir
Musicas com conteúdo como as do
David Zé
Urbano de Castro
Artur Nunes
Coitados que deus os tenha
E que teu erro seja perdoado
Eu prefiro não falar mais
Porque a verdade também DÓi
Estou cansado e não descanso!
Luanda 02/02/2005 * Casa 142 - 12.03 am



Tia - Artur Nunes


Para mim e’ sempre complicado falar das obras, sejam em que dominio for, dos que me sao mais proximos. Sobretudo por receio de as prejudicar por possiveis suspeitas de “nepotismo” ou outro qualquer tipo de favoritismo… Por isso tenho a agradecer ao Luis Rosa Lopes a apresentacao que fez recentemente em Luanda do livro ControVerso do meu sobrinho Kussi, a.k.a. Kardo Bestilo. Tenho a certeza que o pai dele, desaparecido na purga do 27 de Maio de 1977, esteja onde estiver, estara’ muito orgulhoso do filho que deixou neste mundo.

"... Contro Verso ou Controverso? Peguei neste livro, olhei para ele, folheei-o e comecei a lê-lo a partir da página 189... Isto pode parecer estranho mas não se chamará esta obra ControVerso? Já pelos títulos do Índice poderemos entender porque assim procedi: Brevidades ao ViVo, Coisas e Momentos, Love Arena, Fincologia e Artologia. Esta fraseologia neologísmica, este parafrasear crioulo, este rebuscanço de palavras com origens tão díspares para definir poesias que ainda não tinham sido lidas e dissecadas, fez-me imediatamente criar água na boca, aguçou-me os sentidos e pendurou-os nas asas da curiosidade... ". Extracto da Apresentacao de Luis Rosa Lopes (ler o resto aqui).

EU GOSTARIA

Eu Gostaria de poder
Escrever um poema
Sem filtros
Nem limitações

Eu Gostaria de poder
Escrever um poema
Que falasse da verdade
Sem ser acusado de atrevido

Eu Gostaria de poder
Exteriorizar sem medo
De correr linhas
Matutar
0 que me vai
Pelas veias
Cerebrais
Sem ser
Associado a isto ou aquilo

Eu gostaria de poder
Escrever um poema
Que
Prendesse a tua atenção
Sem ter que estar
A disparatar
Ou muito menos
Falar de sexualidade
E no entanto
Transferir
O pensar
E com ele ensinar
E contribuir para melhorar

Eu Gostaria de poder escrever
Escrever sobre mim
Sobre ti
Ou sobre ele
Penetrando no seu interior
Publicando para o exterior
Sem recear
O farejar
Do cão
Ou
O rugir
Do leão

Eu Gostaria de poder
Escrever sobre
O meu irmão BU
Primo MU
E
Parente PU
Sem eles
Se sentirem ofendidos
Discriminados
Ou menos amados
Por lhes falar
De palavras verdadeiras

Eu Gostaria de poder
Falar sobre
As paisagens
Belezas
Falhanços
Ignorâncias
Abusos
E não só
De tudo aquilo que É meu
Sem temer
Uma malhação
Ou detenção
Por chamada de atenção

Eu Gostaria de poder
Ter assistido
Persistido
Alterado
E impedido
Aquilo que não é justo

Eu Gostaria de poder
Escrever tudo o que sinto
Tudo o que vejo e me toca
Sem aleijar
O meu compatriota
Sem para isso estar no Matrix

Eu Gostaria de poder
Escrever sobre
O meu pai
E seus camaradas
Sem ser discriminado

Eu Gostaria de poder
Ter escrito este poema
Com as verdadeiras
Palavras
Palavras que me vão
Pela mente
Mesmo que
Me fizesse chorar
Mesmo que
Me fizesse Gostar de escrever mais
E que marcasse
Um registo do testemunho
De um preto
Para o resto da Humanidade

K.B. (Luanda 01/02/2005)


Ler mais sobre ControVerso aqui, aqui, aqui e aqui.

3 comments:

Anonymous said...

A musica de fundo do teu blog é um verdadeiro bálsamo.

Kardo Bestilo
www.artesaovivo.bravehost.com

Raquel Sabino Pereira said...

Bom fim-de-semana!

Koluki said...

Obrigada e igualmente SG!
KB, mais uma vez parabens!