Wednesday 24 January 2007

CRÓNICA DE UMA DECISÃO DOCE E AMARGA (I)

Por José Cardoso Jr.

Dezembro, 2006

O fim de ano é um tempo de excitação, tempo de limpar o velho e olhar ansiosamente (no bom sentido) para o futuro. De olhar com alegria para as promessas futuras e contar as bênçãos do ano que se vai. Tempo de contabilidade, de elogios a quem merece, de sorrisos para os que respiram e de lágrimas para os que se foram. Este é tempo de reflexão. De ter a determinação de considerar as nossas acções de uma perspectiva diferente antes de as executarmos. Tempo de saudar alguns (mas de modo algum todos) pelas suas realizações e tentativas por esta Angola carente de carinho e dedicação de todos. Para mim cada ano que se vai, uma lágrima cai e um sorri aflora. Uma lágrima porque aumentam os cabelos grisalhos (que, surpreendentemente, estão a surgir, apesar dos meus 38 anos de idade), e um sorriso, por ter vivido mais um ano e desfrutar de alegrias que só os vivos podem. Este é, portanto, tempo de celebrar a vida. De vivê-la com prazer e humildade a cada minuto. Tempo de distribuir sorrisos aos que imploram por um, de abraçar amigos e adversários na certeza de que bem lá no fundo, nós gostamos muito uns de outros apesar das diferenças. Tempo de definir prioridades para o próximo ano, com a promessa de não repetir os erros deste ano. Para Angola, o próximo ano será, definitivamente, um ano excitante. Muitos dirão com justeza: «Estamos sempre a subir»; outros nem tanto, mas a verdade é que ao mesmo tempo que as críticas e frustrações aumentarão no que toca à qualidade de vida, dar-se-ão passos em frente, visto que o processo de reconstrução nacional, apesar de titubeante, continuará a sua marcha irreversível e com ele a melhoria das condições de vida. É impossível não pensar assim quando se olha para a grandeza deste país. Grandeza de riquezas. Grandeza de querer. Grandeza de potencial humano. As universidades (apesar de pouquíssimas) estão cheias. A juventude, cheia de força e capacidade de aprender, quer trabalhar, contribuir com seu vigor juvenil aí onde é necessário. O espírito empreendedor ganhará novo ímpeto com a consolidação do Banco de Desenvolvimento de Angola (espera-se que assim seja e que todos, sem distinção injusta, possam beneficiar dele). Acredito que as estradas e pontes começarão realmente a ser reconstruídas. Acredito que haverá gestores de projectos, engenheiros, técnicos, trabalhadores braçais no terreno e nos escritórios onde se tomarem decisões. Acredito que estas serão decisões puramente técnicas, tomadas por técnicos, gente que entende da coisa e pode levar a bom porto o que for minuciosamente planificado.
Por José Cardoso Jr.

Dezembro, 2006

O fim de ano é um tempo de excitação, tempo de limpar o velho e olhar ansiosamente (no bom sentido) para o futuro. De olhar com alegria para as promessas futuras e contar as bênçãos do ano que se vai. Tempo de contabilidade, de elogios a quem merece, de sorrisos para os que respiram e de lágrimas para os que se foram. Este é tempo de reflexão. De ter a determinação de considerar as nossas acções de uma perspectiva diferente antes de as executarmos. Tempo de saudar alguns (mas de modo algum todos) pelas suas realizações e tentativas por esta Angola carente de carinho e dedicação de todos. Para mim cada ano que se vai, uma lágrima cai e um sorri aflora. Uma lágrima porque aumentam os cabelos grisalhos (que, surpreendentemente, estão a surgir, apesar dos meus 38 anos de idade), e um sorriso, por ter vivido mais um ano e desfrutar de alegrias que só os vivos podem. Este é, portanto, tempo de celebrar a vida. De vivê-la com prazer e humildade a cada minuto. Tempo de distribuir sorrisos aos que imploram por um, de abraçar amigos e adversários na certeza de que bem lá no fundo, nós gostamos muito uns de outros apesar das diferenças. Tempo de definir prioridades para o próximo ano, com a promessa de não repetir os erros deste ano. Para Angola, o próximo ano será, definitivamente, um ano excitante. Muitos dirão com justeza: «Estamos sempre a subir»; outros nem tanto, mas a verdade é que ao mesmo tempo que as críticas e frustrações aumentarão no que toca à qualidade de vida, dar-se-ão passos em frente, visto que o processo de reconstrução nacional, apesar de titubeante, continuará a sua marcha irreversível e com ele a melhoria das condições de vida. É impossível não pensar assim quando se olha para a grandeza deste país. Grandeza de riquezas. Grandeza de querer. Grandeza de potencial humano. As universidades (apesar de pouquíssimas) estão cheias. A juventude, cheia de força e capacidade de aprender, quer trabalhar, contribuir com seu vigor juvenil aí onde é necessário. O espírito empreendedor ganhará novo ímpeto com a consolidação do Banco de Desenvolvimento de Angola (espera-se que assim seja e que todos, sem distinção injusta, possam beneficiar dele). Acredito que as estradas e pontes começarão realmente a ser reconstruídas. Acredito que haverá gestores de projectos, engenheiros, técnicos, trabalhadores braçais no terreno e nos escritórios onde se tomarem decisões. Acredito que estas serão decisões puramente técnicas, tomadas por técnicos, gente que entende da coisa e pode levar a bom porto o que for minuciosamente planificado.

4 comments:

LMLisbon said...

É bom ler que ainda há pessoas com esperança no progresso e no desejo e capacidade do ser humano de ultrapassar as dificuldades...em África ou outro sítio qualquer..LM

Koluki said...

Pois e', Luis, e' bom ler coisas destas. De angolanos sempre com a esperanca no bolso... Mas nao e' interessante tambem que esta historia revela bem o quanto a "Ignorancia, ou a Insustentavel Leveza do Regresso" do Kundera tem mais a ver com Angola do que a primeira vista pode parecer?

LMLisbon said...

Sim..concordo..mas também pode servir para qq outro tipo de "emigrado"...eu, pessoalmente, não me sinto assim..saí de Moçambique demasiado novo para poder dizer que sinto alguma nostalgia..e como tu me conheces um bocado...eu acho que sou mais de "todo o lado e de lado nenhum"...:-)

Koluki said...

Absolutamente, serve para qualquer emigrado, o que ele retrata bem na alegoria do "sonho emigracao". E' o que separa "the men from the boys"... os escritores universais dos paroquiais...
Mas, on a different note, convenhamos que, muito gracas a mim `-) es muito mais angolano do que mocambicano... mesmo nunca tendo ido a Angola! Confessa la a tua verdade..