MEMORIA DE MORABEZZA
Chega-me a noticia do falecimento do Etnologo, Antropologo, Escritor e Professor Caboverdiano, Mesquitela Lima. A sua obra continuara a ser uma referencia importante para o conhecimento sistematizado da etnologia e antropologia cultural Africanas, em particular das culturas do Leste de Angola. Conheci-o em 1988, no Mindelo, durante o primeiro Simposio Internacional sobre o “Movimento Claridoso”, em celebracao dos 50 anos da Revista Claridade e da geracao literaria de Baltazar Lopes. La tive tambem o grande privilegio de conhecer e privar com o saudoso Mario Pinto de Andrade -- um convivio sao e imensamente enriquecedor que transportamos para Lisboa -- e de ouvir, pela primeira vez, Cesaria Evora. Aquele simposio foi a minha grande introducao aos maiores nomes das culturas e literaturas das ex-colonias portuguesas, representantes de geracoes tao diversas como a de Yolanda Morazzo e a de Leao Lopes, passando pela de Corsino Fortes. Leao Lopes, que na altura desenvolvia, com um grupo de jovens da nova geracao criativa, alguns dos mais interessantes projectos artisticos e literarios em Sao Vicente, como as revistas Ponto & Virgula e Sopinha de Letras e um attelier comunitario de producao de artesanato. Foi tambem Leao Lopes quem levou alguns dos participantes do simposio ao teatro, para assistir ao “Beijo da Mulher Aranha”. Lembro-me de me ter sentado lado a lado com Mesquitela Lima (por iniciativa dele, que morabezzamente foi dizendo que fazia questao de se sentar ao lado da sua "compatriota angolana"...) e, enquanto esperavamos que a peca comecasse -- o que levou tempo consideravel, tendo a representacao acabado por ser anulada e adiada para um outro dia devido a um “blank” do actor principal -- entretivemos uma interessante conversa sobre cultura e etnologia, a que talvez volte um dia. Mas, dentre as varias memorias que recolhi durante aqueles dias, a que jamais se apagara’ e’ a da imensa morabezza que permeava todas as relacoes, encontros, conversas, mesmo as mais controversas… incluindo a forma como Gabriel Mariano se referia sempre aos antropologos como “antropofagos”, o que parecia divertir imenso Mesquitela Lima. Com morabezza: paz a sua alma!
Ilustracao: "Ngaji" (Foto de Mesquitela Lima)
Chega-me a noticia do falecimento do Etnologo, Antropologo, Escritor e Professor Caboverdiano, Mesquitela Lima. A sua obra continuara a ser uma referencia importante para o conhecimento sistematizado da etnologia e antropologia cultural Africanas, em particular das culturas do Leste de Angola. Conheci-o em 1988, no Mindelo, durante o primeiro Simposio Internacional sobre o “Movimento Claridoso”, em celebracao dos 50 anos da Revista Claridade e da geracao literaria de Baltazar Lopes. La tive tambem o grande privilegio de conhecer e privar com o saudoso Mario Pinto de Andrade -- um convivio sao e imensamente enriquecedor que transportamos para Lisboa -- e de ouvir, pela primeira vez, Cesaria Evora. Aquele simposio foi a minha grande introducao aos maiores nomes das culturas e literaturas das ex-colonias portuguesas, representantes de geracoes tao diversas como a de Yolanda Morazzo e a de Leao Lopes, passando pela de Corsino Fortes. Leao Lopes, que na altura desenvolvia, com um grupo de jovens da nova geracao criativa, alguns dos mais interessantes projectos artisticos e literarios em Sao Vicente, como as revistas Ponto & Virgula e Sopinha de Letras e um attelier comunitario de producao de artesanato. Foi tambem Leao Lopes quem levou alguns dos participantes do simposio ao teatro, para assistir ao “Beijo da Mulher Aranha”. Lembro-me de me ter sentado lado a lado com Mesquitela Lima (por iniciativa dele, que morabezzamente foi dizendo que fazia questao de se sentar ao lado da sua "compatriota angolana"...) e, enquanto esperavamos que a peca comecasse -- o que levou tempo consideravel, tendo a representacao acabado por ser anulada e adiada para um outro dia devido a um “blank” do actor principal -- entretivemos uma interessante conversa sobre cultura e etnologia, a que talvez volte um dia. Mas, dentre as varias memorias que recolhi durante aqueles dias, a que jamais se apagara’ e’ a da imensa morabezza que permeava todas as relacoes, encontros, conversas, mesmo as mais controversas… incluindo a forma como Gabriel Mariano se referia sempre aos antropologos como “antropofagos”, o que parecia divertir imenso Mesquitela Lima. Com morabezza: paz a sua alma!
Ilustracao: "Ngaji" (Foto de Mesquitela Lima)
2 comments:
Parabéns por essa belíssima e clarividente memória.
E, já agora, parabéns por um blog muito refrescante e instrutivo! Continua sempre, por favor não pares.
Um abraço cheio de morabezza.
Obrigada Crioula, e volte sempre porque nao tenho, pelo menos por enquanto, intencoes de parar tao cedo...
Morabezza reciprocada.
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