Saturday 22 January 2011

JUST POETRY (V) [R]* [Actualizado]



PARA ANGOLA, RAPIDAMENTE E EM FORÇA

Peço ao vento por graçola
notícias do meu país
e o vento diz: «Vai para Angola».
(É o que o vento me diz.)
«Tem juízo, vai para Angola,
isto aqui está por um triz.»

Vamos todos para Angola
desde o Malanje ao Namibe
aproveitar por esmola
o crescimento do PIB.

Vem tu também, anda, anda,
escolhe uma profissão:
agora os preto é quem manda,
os preto é nosso patrão.

Leva a família na frente,
mulher, filhos, pai e mãe,
e se ainda couber mais gente
traz outro amigo também.

Vamos todos sem demora,
uns à solta, outros à trela,
vamos invadir Angola
do Moxico até Benguela.

Vamos de avião, navio,
canoa, bote ou jangada,
isto aqui está por um fio,
vai ser uma debandada.

Vamos todos para Angola,
destino de emigração,
vamos todos para Angola,
atrás do Diogo Cão.


[Poema daqui /// Ecos do original aqui]



*[Postado inicialmente a 06/05/09 - "repostado" hoje devido aos ultimos comentarios a ele feitos]







Em referencia aos comentarios feitos a este post nos ultimos dias, permitam-me, como “ser humano genuino” – tal como o sao (ou foram) os retratados, brancos e negros, nesta materia –, alinhar aqui algumas breves notas para esta que me parece ser, manifestamente, uma discussao de, entre e sobre portugueses, “genuinos” ou nao.

Tres vectores fundamentais confluem de forma problematica e frequentemente conflituosa para esta questao: a Historia, a Cultura e a Economia:


1. Historia – Portugal colonizou partes do actual territorio de Angola durante cerca de 5 seculos. Foi uma colonizacao, como todas, nao pacificamente aceite pela esmagadora maioria dos seus subditos, mesmo quando todas as aparencias pudessem sugerir o contrario. Por isso houve guerras de resistencia ao longo dos seculos, por isso houve uma guerra anti-colonial durante mais de uma decada, por isso houve a independencia – todos, factos historicos incontestaveis e irreversiveis: nao ficcao cientifica.

Poderia o processo de “descolonizacao” ter sido menos traumatico para ambos os lados? Questao ainda nao resolvida e que, pelo menos nos termos em que o debate (nao) tem vindo a ser conduzido, parece jamais vir a se-lo, pelo que sobre ela limitar-me-ei a sugerir que “o que aconteceu, esta’ acontecido” e “o que nao tem remedio, remediado esta’”, ou ainda, "de nada serve chorar sobre o leite derramado"... sendo certo que, qualquer que seja a evolucao, ou resolucao, dessa questao, a chamada “recolonizacao” nao me parece ser a resposta mais adequada para ela, certamente nao nos termos em que tem vindo a ser advogada.


2. Cultura – Uma parte, diga-se que minoritaria, dos angolanos foi assimilada, voluntaria ou involuntariamente, a cultura e lingua portuguesas. Mas, precisamente por ser minoritaria, embora contemporaneamente “poderosa”, “elitizante” e “socio-economicamente dominante”, ela nao detem de facto os “fios condutores” da totalidade da vida cultural, social e humana do pais Angola. Ha’ outros “fios condutores” no tecido que (con)forma o pais real, enfim outras sensibilidades que, embora tentem (e, de algum modo, consigam em alguns casos) negociar entre si e acomodar-se umas as outras em nome do um “um so' povo, uma so' nacao”, continuam (e, diga-se, legitimamente) a ansiar pela sua “validacao”, ou, dito de outro modo, pela legitimacao das suas respectivas “identidades e etnicidades” proprias como parte de um todo diverso, mas que se pretende harmonioso, depois de uma guerra fratricida de cerca de tres decadas, que teve em grande medida na sua base tais anseios e reivindicacoes (veja-se, por exemplo, o caso das Lundas aqui e aqui, ou o de Cabinda, aqui). Trata-se de facto real, indesmentivel, incontornavel e insofismavel, nao de mito, nem de ficcao literaria!

E sobre isso, ha’ ja’ varios anos, em Portugal, lembro-me de ter escrito e publicado algo em que me detinha sobre a manifesta dificuldade que os portugueses em geral demonstram em compreender cabalmente essa realidade, possivelmente por Portugal ser um pais cerca de 14 vezes menor do que Angola em tamanho e nao se apresentar tao diverso etnica, linguistica e culturalmente como esta. E esse e’ tambem um facto, embora os portugueses na Europa, ou em qualquer outra parte do mundo, se comportem geralmente como extremamente ciosos da sua propria “identidade” ou, se se preferir, da sua “genuinidade”: abrem as suas proprias lojas, bares, cafes e restaurantes com produtos alimentares e musica exclusivamente portugueses e frequentados quase exclusivamente por portugueses, falam exclusivamente portugues entre si, estabelecem as suas proprias igrejas com servicos exclusivamente em portugues, promovem as suas proprias e exclusivas actividades comunitarias e sociais com base na sua cultura nacional, chegam a formar verdadeiros ghetos em algumas zonas das cidades, onde tudo o que se ve, cheira e ouve e' portugues... ou seja, nascem, crescem, vivem, socializam-se, reproduzem-se e morrem como qualquer outro “grupo etnico” nesses paises (algo que, embora de forma “conglomerada” com as comunidades ditas hispanicas ou latinas no Reino Unido, se deixa bem patente aqui ).

Porque entao, tanta dificuldade e resistencia em compreender-se e aceitar-se (como, de resto, resulta evidente quer dos ataques sistematicos de que tenho sido abertamente alvo neste blog - seja directamente aqui por "desconhecidos", seja indirectamente noutros blogs bem identificados na lusosfera -, quer das campanhas que, de forma mais ou menos velada e insidiosa me teem sido dirigidas a partir de Angola, sobretudo, mas nao apenas, atraves de uma “certa imprensa” controlada por grupos financeiros portugueses, ou seus associados...) que os angolanos, ou pelo menos (grandes!) segmentos deles, o facam, ou pretendam fazer, de forma civica e democratica no seu proprio pais?

E, nesse particular, parece-me que eu me encontro neste momento muito mais na posicao dos emigrantes portugueses de ontem e de hoje que se diz serem e terem sido vitimas do chauvinismo, escarnio e oprobrio dos seus compatriotas “que ficaram”, do que na dos ditos “angolanos genuinos” que se diz “entenderem ter recebido Angola como heranca dos seus ancestrais”...


3. Economia – Angola tem vindo, de ha’ uns anos a esta parte, a apresentar niveis “espectaculares” de crescimento economico – facto. Portugal encontra-se neste momento a apresentar niveis, igualmente “espectaculares”, de recessao economica – facto. Sera’ natural que um numero cada vez maior de portugueses busquem oportunidades economicas noutras paragens e, em especial, em Angola, sua antiga “joia da coroa” – facto. O que ja’ nao sera’ tao natural, nem tao factual assim, e’ que se tente transformar tudo isso num caso de “atraccao fatal” entre os dois paises... Desde logo porque nao ha’ nada nos principios fundamentais da economia, seja ela de mercado ou nao - e muito menos nos de uma economia globalizada e competitiva como a que “estamos com ela” quer queiramos e gostemos quer nao -, que o fundamente.

O facto e’ que, qualquer que seja o modelo economico adoptado, “crescimento do PIB” nao significa ipso facto “desenvolvimento economico” e a sistematica marginalizacao, quando nao total exclusao da maioria dos angolanos dos beneficios desse crescimento economico - e ate’ mesmo da sua participacao/contribuicao para ele, em particular por parte de alguns que, como eu, se viram forcados a permanecer no exterior por varias circunstancias adversas originadas no pais (... e provocadas por angolanos!...) e que sao ostensivamente hostilizados por alguns sectores proteccionistas de uma certa auto-designada “prata da casa”... -, devido a um inexistente ou deficiente investimento no stock de capital humano nacional e a sua absorcao e integracao sistematica num processo consistente de desenvolvimento economico-social e cultural endogeno, sustentado e sustentavel, apenas tende a elevar os “muros de resistencia” ao crescente numero de estrangeiros (portugueses ou nao) aportando presentemente as costas angolanas e, em muitos casos, sem qualquer controlo... e isso, no longo prazo, nao e’ bom para ninguem, “genuinos” ou nao – facto.

A realidade e’ que a actual politica de imigracao de Angola e’ explicita e ostensivamente enviezada contra os africanos que tentam entrar pelas suas fronteiras terrestres (como os cartoons, adaptados daqui, com que ilustro este texto o explicitam), nao contra os portugueses: estes, como todas as estatisticas o revelam, nao so’ teem ido para Angola e “em forca” nos ultimos anos sem grandes empecilhos, como e’ em Portugal que os angolanos endinheirados fazem o grosso dos seus gastos de consumo e investimentos publicos e privados.

[E abro aqui um parentesis para sugerir o seguinte: imagine-se que apenas uma infima fraccao dos verdadeiros "balurdios" de dinheiro publico usados pela Sonangol em investimentos em Portugal, fosse aplicada no financiamento de investimentos produtivos trabalho-intensivos que criassem emprego nas regioes fronteiricas, tanto em Angola, como nos paises vizinhos. Nao seriam tais investimentos muito mais recomendaveis, louvaveis e ate' rentaveis sob todos os pontos de vista - desde logo, porque teriam o condao de funcionar como um "travao" aos fluxos migratorios por razoes economicas nessas areas e contribuiriam para o tao propalado "desenvolvimento e independencia economica do continente", para alem de funcionarem como um mecanismo de poupanca dos recursos materiais e financeiros actualmente empregues no patrulhamento das fronteiras e controlo/contencao/repressao dos emigrantes africanos pretendendo entrar em Angola e, em ultima analise, contribuirem de forma substantiva, permanente e duravel para a prosperidade, paz e seguranca regional... - especialmente neste momento em que Angola assume, mais uma vez, a presidencia da SADC?!]

E na base de tudo isso esta’ uma ideia de “desenvolvimento” que tem no periodo colonial o seu “modelo”. Acontece que os niveis de “desenvolvimento” atingidos sob tal “modelo” tinham por base um regime politico-ideologico que nao me parece ser o mais adaptavel, certamente nao o mais adequado, quer 'a Angola, quer ao Portugal, quer ao Mundo de hoje. Modelo esse, alias, que foi de forma magistral e visionaria descrito e denunciado por Viriato da Cruz nos termos em que aqui parcialmente destaquei...

Todas essas questoes, abordei-as, de forma mais ‘academica’, recentemente aqui , e de forma mais ‘prosaica’, ha’ ja’ algum tempo, aqui - onde, note-se, dos posicionamentos de Pepetela, a par dos de outros membros da inteligentzia angolana, ou luso-angolana, que sobre essas questoes se teem pronunciado publicamente nos ultimos tempos, resulta evidente que a corrente onda dominante nao e’ adversa 'a ‘recolonizacao’ de Angola pelos portugueses, como, de resto aqui se pode constatar ad nauseum: bem pelo contrario!

E nao deixa de ser interessante notar a este proposito que essa mesma inteligentzia conta entre as suas fileiras com alguns dos que nao so' dizem ter participado na "luta contra o colonialismo" (e desse estatuto de "antigos combatentes" muita gala fazem e amplos beneficios vitalicios, pessoais e familiares, colhem...), como se destacaram entre os mais radicais no desmantelamento e "transformacao revolucionaria" do tal "patamar tecno-juridico-administrativo que Angola ja' teve", em nome da criacao, desenvolvimento e reproducao do dito "homem novo"... a comecar pelo sistema de ensino! ... E quem naquela altura se lhes opusesse, ainda que passivamente, era apelidado de "contra-revolucionario", "pequeno burgues", "lacaio do colonialismo", "agente do imperialismo", etc. etc. etc. ... Nao deixo, porem, de lhes gabar a "coerencia": foram tao radicais em relacao 'a "descolonizacao" como o sao agora em relacao 'a "recolonizacao" (enfim, em quaisquer circunstancias "iguais a si proprios"!) ... o que talvez nao seja de todo estranho ao facto de certas neofitas formacoes politicas ultra-minoritarias precisarem desesperadamente de alargar a sua base eleitoral de apoio...

E, aqui, convira' distinguir-se claramente "recolonizacao" sem qualquer qualificacao, planificacao ou priorizacao (o que, alias, o poema aqui em questao, revela: "escolhe uma profissao"...), de "cooperacao" (economica, tecnico-cientifica e profissional) - esta existe, e sempre existiu desde a independencia, com Portugal e com outros paises, e se os portugueses podem contribuir para o processo de desenvolvimento de Angola com a "vantagem comparativa" da sua lingua e cultura devido a historia que liga os dois paises, pois eles sao e sempre foram bem vindos (idos) naquelas areas e sectores onde realmente tal "vantagem comparativa" possa ser transformada em "valor acrescentado" para ambas as partes. Mas que nao se perca de vista, por via da chamada "neofita ideologia dos (pretensos) afectos", que Portugal nao e' o unico pais que pode contribuir para o processo de desenvolvimento de Angola.

Veja-se, a esse respeito, o caso de Mocambique que, desde a sua independencia, aderiu 'a Commonwealth, adoptou o Ingles praticamente como sua segunda lingua oficial e tem um leque bastante diversificado de parceiros de cooperacao economica internacional, sem que por isso tenha impedido Portugal, ou os portugueses, de la' viverem, regressarem, ou trabalharem...

Enfim, em geito de conclusao, parece-me ser avisado que tanto angolanos (“genuinos” ou nao), como portugueses (tambem “genuinos” ou nao), bem como todos os nacionais de outros paises, ajam neste momento historico particularmente critico da vida de Angola tao racionalmente quanto possivel face aos factos e realidades, nao aos mitos e ficcoes, em presenca.

Tudo o resto nao passara’ de um pernicioso e patetico “display de emoti(c)ons” com mais do que previsiveis consequencias nefastas para todas as partes – a Historia de Angola revela-o a saciedade!

Tenho dito.





P.S.: Acrescentaria apenas as seguintes notas a margem:

i. A proposito de "fechamentos sociais e economicos" ou, se se preferir, mecanismos de exclusao social, tradicionais em Angola, esta citacao de David Sogge: "Colonial and post-colonial elites showed no interest in creating an ‘open access order’ based on citizenship for all and competitive markets. A path was laid down around a weak but autocratic colonial state dependent on outside powers. Mediocre institutions and underskilled people were additional legacies. Angolan nationalist movements, their leaders imbued with norms of a ‘limited access order’, and habituated to the use of armed force, had no ready alternatives when they assumed power.";


ii. Em relacao a todas essas questoes, mas em particular a suposta "dificuldade de entendimento e aceitacao" por parte da generalidade dos portugueses da diversidade etnico-linguistica de Angola, seria recomendavel uma exploracao da area da Historia Moderna designada Subaltern Studies;


iii. Sobre os movimentos trans-fronteiricos entre Angola e o Congo (Zaire) em epocas mais recuadas, com a devida venia, esta detalhada descricao por Fernando Ribeiro:

Nos troços de fronteira entre Angola e o Zaire em que não houvesse obstáculos naturais, não existia qualquer vedação ou outra barreira que impedisse a comunicação entre ambos os lados. A fronteira estava apenas assinalada por marcos de pedra em forma de grossos obeliscos, com 2 metros de altura ou pouco mais, que mostravam o escudo da monarquia portuguesa, esculpido em baixo relevo, no lado virado para Angola, o da monarquia belga no lado virado para o Zaire e o ano de 1895 gravado por cima de cada um dos escudos. Os marcos fronteiriços estavam colocados a uma distância de cerca de 40 quilómetros uns dos outros, talvez, e estavam milimetricamente alinhados uns pelos outros, numa linha reta espantosamente rigorosa.

Como, nos troços onde não havia obstáculos naturais, a fronteira estava desimpedida, ela era atravessada por caminhos de pé posto, que todos os dias eram percorridos por pessoas que passavam "a salto" de Angola para o Zaire e vice-versa. O movimento de pessoas ao longo destes carreiros era bastante intenso. Angolanos (refugiados ou não) e zairenses circulavam de um lado para o outro ao longo do dia, em função, sobretudo, das feiras mensais e mercados rurais que de ambos os lados se iam realizando. Levavam os produtos das suas lavras (campos), a fim de os vender onde fossem mais caros, e traziam as mercadorias de que necessitavam, compradas onde elas fossem mais baratas. É evidente que os contrabandistas (havia bastantes) também faziam um uso intensivo destes caminhos transfronteiriços.

Assim que o sol nascia, nas zonas onde houvesse uma sanzala do lado de Angola que ficasse próxima da fronteira e estivesse dotada de uma escola, os caminhos referidos eram percorridos por crianças, vindas do Zaire para Angola, que vinham frequentar as aulas. Estas crianças percorriam a pé vários quilómetros a caminho da escola e eram as primeiras pessoas que atravessavam a fronteira logo pela manhãzinha.

Estas crianças eram filhas de angolanos refugiados no Zaire. Os seus encarregados de educação faziam questão em que elas frequentassem uma escola angolana, porque queriam que elas não se esquecessem das suas raízes, apesar de já terem nascido no exílio, se sentissem orgulhosas de Angola e soubessem falar, ler e escrever em português.



[aqui, onde, ja' agora, tambem se pode ver esta descricao de Kinshasa e ouvir um pouco da musica do magistral Franco]






PARA ANGOLA, RAPIDAMENTE E EM FORÇA

Peço ao vento por graçola
notícias do meu país
e o vento diz: «Vai para Angola».
(É o que o vento me diz.)
«Tem juízo, vai para Angola,
isto aqui está por um triz.»

Vamos todos para Angola
desde o Malanje ao Namibe
aproveitar por esmola
o crescimento do PIB.

Vem tu também, anda, anda,
escolhe uma profissão:
agora os preto é quem manda,
os preto é nosso patrão.

Leva a família na frente,
mulher, filhos, pai e mãe,
e se ainda couber mais gente
traz outro amigo também.

Vamos todos sem demora,
uns à solta, outros à trela,
vamos invadir Angola
do Moxico até Benguela.

Vamos de avião, navio,
canoa, bote ou jangada,
isto aqui está por um fio,
vai ser uma debandada.

Vamos todos para Angola,
destino de emigração,
vamos todos para Angola,
atrás do Diogo Cão.


[Poema daqui /// Ecos do original aqui]



*[Postado inicialmente a 06/05/09 - "repostado" hoje devido aos ultimos comentarios a ele feitos]







Em referencia aos comentarios feitos a este post nos ultimos dias, permitam-me, como “ser humano genuino” – tal como o sao (ou foram) os retratados, brancos e negros, nesta materia –, alinhar aqui algumas breves notas para esta que me parece ser, manifestamente, uma discussao de, entre e sobre portugueses, “genuinos” ou nao.

Tres vectores fundamentais confluem de forma problematica e frequentemente conflituosa para esta questao: a Historia, a Cultura e a Economia:


1. Historia – Portugal colonizou partes do actual territorio de Angola durante cerca de 5 seculos. Foi uma colonizacao, como todas, nao pacificamente aceite pela esmagadora maioria dos seus subditos, mesmo quando todas as aparencias pudessem sugerir o contrario. Por isso houve guerras de resistencia ao longo dos seculos, por isso houve uma guerra anti-colonial durante mais de uma decada, por isso houve a independencia – todos, factos historicos incontestaveis e irreversiveis: nao ficcao cientifica.

Poderia o processo de “descolonizacao” ter sido menos traumatico para ambos os lados? Questao ainda nao resolvida e que, pelo menos nos termos em que o debate (nao) tem vindo a ser conduzido, parece jamais vir a se-lo, pelo que sobre ela limitar-me-ei a sugerir que “o que aconteceu, esta’ acontecido” e “o que nao tem remedio, remediado esta’”, ou ainda, "de nada serve chorar sobre o leite derramado"... sendo certo que, qualquer que seja a evolucao, ou resolucao, dessa questao, a chamada “recolonizacao” nao me parece ser a resposta mais adequada para ela, certamente nao nos termos em que tem vindo a ser advogada.


2. Cultura – Uma parte, diga-se que minoritaria, dos angolanos foi assimilada, voluntaria ou involuntariamente, a cultura e lingua portuguesas. Mas, precisamente por ser minoritaria, embora contemporaneamente “poderosa”, “elitizante” e “socio-economicamente dominante”, ela nao detem de facto os “fios condutores” da totalidade da vida cultural, social e humana do pais Angola. Ha’ outros “fios condutores” no tecido que (con)forma o pais real, enfim outras sensibilidades que, embora tentem (e, de algum modo, consigam em alguns casos) negociar entre si e acomodar-se umas as outras em nome do um “um so' povo, uma so' nacao”, continuam (e, diga-se, legitimamente) a ansiar pela sua “validacao”, ou, dito de outro modo, pela legitimacao das suas respectivas “identidades e etnicidades” proprias como parte de um todo diverso, mas que se pretende harmonioso, depois de uma guerra fratricida de cerca de tres decadas, que teve em grande medida na sua base tais anseios e reivindicacoes (veja-se, por exemplo, o caso das Lundas aqui e aqui, ou o de Cabinda, aqui). Trata-se de facto real, indesmentivel, incontornavel e insofismavel, nao de mito, nem de ficcao literaria!

E sobre isso, ha’ ja’ varios anos, em Portugal, lembro-me de ter escrito e publicado algo em que me detinha sobre a manifesta dificuldade que os portugueses em geral demonstram em compreender cabalmente essa realidade, possivelmente por Portugal ser um pais cerca de 14 vezes menor do que Angola em tamanho e nao se apresentar tao diverso etnica, linguistica e culturalmente como esta. E esse e’ tambem um facto, embora os portugueses na Europa, ou em qualquer outra parte do mundo, se comportem geralmente como extremamente ciosos da sua propria “identidade” ou, se se preferir, da sua “genuinidade”: abrem as suas proprias lojas, bares, cafes e restaurantes com produtos alimentares e musica exclusivamente portugueses e frequentados quase exclusivamente por portugueses, falam exclusivamente portugues entre si, estabelecem as suas proprias igrejas com servicos exclusivamente em portugues, promovem as suas proprias e exclusivas actividades comunitarias e sociais com base na sua cultura nacional, chegam a formar verdadeiros ghetos em algumas zonas das cidades, onde tudo o que se ve, cheira e ouve e' portugues... ou seja, nascem, crescem, vivem, socializam-se, reproduzem-se e morrem como qualquer outro “grupo etnico” nesses paises (algo que, embora de forma “conglomerada” com as comunidades ditas hispanicas ou latinas no Reino Unido, se deixa bem patente aqui ).

Porque entao, tanta dificuldade e resistencia em compreender-se e aceitar-se (como, de resto, resulta evidente quer dos ataques sistematicos de que tenho sido abertamente alvo neste blog - seja directamente aqui por "desconhecidos", seja indirectamente noutros blogs bem identificados na lusosfera -, quer das campanhas que, de forma mais ou menos velada e insidiosa me teem sido dirigidas a partir de Angola, sobretudo, mas nao apenas, atraves de uma “certa imprensa” controlada por grupos financeiros portugueses, ou seus associados...) que os angolanos, ou pelo menos (grandes!) segmentos deles, o facam, ou pretendam fazer, de forma civica e democratica no seu proprio pais?

E, nesse particular, parece-me que eu me encontro neste momento muito mais na posicao dos emigrantes portugueses de ontem e de hoje que se diz serem e terem sido vitimas do chauvinismo, escarnio e oprobrio dos seus compatriotas “que ficaram”, do que na dos ditos “angolanos genuinos” que se diz “entenderem ter recebido Angola como heranca dos seus ancestrais”...


3. Economia – Angola tem vindo, de ha’ uns anos a esta parte, a apresentar niveis “espectaculares” de crescimento economico – facto. Portugal encontra-se neste momento a apresentar niveis, igualmente “espectaculares”, de recessao economica – facto. Sera’ natural que um numero cada vez maior de portugueses busquem oportunidades economicas noutras paragens e, em especial, em Angola, sua antiga “joia da coroa” – facto. O que ja’ nao sera’ tao natural, nem tao factual assim, e’ que se tente transformar tudo isso num caso de “atraccao fatal” entre os dois paises... Desde logo porque nao ha’ nada nos principios fundamentais da economia, seja ela de mercado ou nao - e muito menos nos de uma economia globalizada e competitiva como a que “estamos com ela” quer queiramos e gostemos quer nao -, que o fundamente.

O facto e’ que, qualquer que seja o modelo economico adoptado, “crescimento do PIB” nao significa ipso facto “desenvolvimento economico” e a sistematica marginalizacao, quando nao total exclusao da maioria dos angolanos dos beneficios desse crescimento economico - e ate’ mesmo da sua participacao/contribuicao para ele, em particular por parte de alguns que, como eu, se viram forcados a permanecer no exterior por varias circunstancias adversas originadas no pais (... e provocadas por angolanos!...) e que sao ostensivamente hostilizados por alguns sectores proteccionistas de uma certa auto-designada “prata da casa”... -, devido a um inexistente ou deficiente investimento no stock de capital humano nacional e a sua absorcao e integracao sistematica num processo consistente de desenvolvimento economico-social e cultural endogeno, sustentado e sustentavel, apenas tende a elevar os “muros de resistencia” ao crescente numero de estrangeiros (portugueses ou nao) aportando presentemente as costas angolanas e, em muitos casos, sem qualquer controlo... e isso, no longo prazo, nao e’ bom para ninguem, “genuinos” ou nao – facto.

A realidade e’ que a actual politica de imigracao de Angola e’ explicita e ostensivamente enviezada contra os africanos que tentam entrar pelas suas fronteiras terrestres (como os cartoons, adaptados daqui, com que ilustro este texto o explicitam), nao contra os portugueses: estes, como todas as estatisticas o revelam, nao so’ teem ido para Angola e “em forca” nos ultimos anos sem grandes empecilhos, como e’ em Portugal que os angolanos endinheirados fazem o grosso dos seus gastos de consumo e investimentos publicos e privados.

[E abro aqui um parentesis para sugerir o seguinte: imagine-se que apenas uma infima fraccao dos verdadeiros "balurdios" de dinheiro publico usados pela Sonangol em investimentos em Portugal, fosse aplicada no financiamento de investimentos produtivos trabalho-intensivos que criassem emprego nas regioes fronteiricas, tanto em Angola, como nos paises vizinhos. Nao seriam tais investimentos muito mais recomendaveis, louvaveis e ate' rentaveis sob todos os pontos de vista - desde logo, porque teriam o condao de funcionar como um "travao" aos fluxos migratorios por razoes economicas nessas areas e contribuiriam para o tao propalado "desenvolvimento e independencia economica do continente", para alem de funcionarem como um mecanismo de poupanca dos recursos materiais e financeiros actualmente empregues no patrulhamento das fronteiras e controlo/contencao/repressao dos emigrantes africanos pretendendo entrar em Angola e, em ultima analise, contribuirem de forma substantiva, permanente e duravel para a prosperidade, paz e seguranca regional... - especialmente neste momento em que Angola assume, mais uma vez, a presidencia da SADC?!]

E na base de tudo isso esta’ uma ideia de “desenvolvimento” que tem no periodo colonial o seu “modelo”. Acontece que os niveis de “desenvolvimento” atingidos sob tal “modelo” tinham por base um regime politico-ideologico que nao me parece ser o mais adaptavel, certamente nao o mais adequado, quer 'a Angola, quer ao Portugal, quer ao Mundo de hoje. Modelo esse, alias, que foi de forma magistral e visionaria descrito e denunciado por Viriato da Cruz nos termos em que aqui parcialmente destaquei...

Todas essas questoes, abordei-as, de forma mais ‘academica’, recentemente aqui , e de forma mais ‘prosaica’, ha’ ja’ algum tempo, aqui - onde, note-se, dos posicionamentos de Pepetela, a par dos de outros membros da inteligentzia angolana, ou luso-angolana, que sobre essas questoes se teem pronunciado publicamente nos ultimos tempos, resulta evidente que a corrente onda dominante nao e’ adversa 'a ‘recolonizacao’ de Angola pelos portugueses, como, de resto aqui se pode constatar ad nauseum: bem pelo contrario!

E nao deixa de ser interessante notar a este proposito que essa mesma inteligentzia conta entre as suas fileiras com alguns dos que nao so' dizem ter participado na "luta contra o colonialismo" (e desse estatuto de "antigos combatentes" muita gala fazem e amplos beneficios vitalicios, pessoais e familiares, colhem...), como se destacaram entre os mais radicais no desmantelamento e "transformacao revolucionaria" do tal "patamar tecno-juridico-administrativo que Angola ja' teve", em nome da criacao, desenvolvimento e reproducao do dito "homem novo"... a comecar pelo sistema de ensino! ... E quem naquela altura se lhes opusesse, ainda que passivamente, era apelidado de "contra-revolucionario", "pequeno burgues", "lacaio do colonialismo", "agente do imperialismo", etc. etc. etc. ... Nao deixo, porem, de lhes gabar a "coerencia": foram tao radicais em relacao 'a "descolonizacao" como o sao agora em relacao 'a "recolonizacao" (enfim, em quaisquer circunstancias "iguais a si proprios"!) ... o que talvez nao seja de todo estranho ao facto de certas neofitas formacoes politicas ultra-minoritarias precisarem desesperadamente de alargar a sua base eleitoral de apoio...

E, aqui, convira' distinguir-se claramente "recolonizacao" sem qualquer qualificacao, planificacao ou priorizacao (o que, alias, o poema aqui em questao, revela: "escolhe uma profissao"...), de "cooperacao" (economica, tecnico-cientifica e profissional) - esta existe, e sempre existiu desde a independencia, com Portugal e com outros paises, e se os portugueses podem contribuir para o processo de desenvolvimento de Angola com a "vantagem comparativa" da sua lingua e cultura devido a historia que liga os dois paises, pois eles sao e sempre foram bem vindos (idos) naquelas areas e sectores onde realmente tal "vantagem comparativa" possa ser transformada em "valor acrescentado" para ambas as partes. Mas que nao se perca de vista, por via da chamada "neofita ideologia dos (pretensos) afectos", que Portugal nao e' o unico pais que pode contribuir para o processo de desenvolvimento de Angola.

Veja-se, a esse respeito, o caso de Mocambique que, desde a sua independencia, aderiu 'a Commonwealth, adoptou o Ingles praticamente como sua segunda lingua oficial e tem um leque bastante diversificado de parceiros de cooperacao economica internacional, sem que por isso tenha impedido Portugal, ou os portugueses, de la' viverem, regressarem, ou trabalharem...

Enfim, em geito de conclusao, parece-me ser avisado que tanto angolanos (“genuinos” ou nao), como portugueses (tambem “genuinos” ou nao), bem como todos os nacionais de outros paises, ajam neste momento historico particularmente critico da vida de Angola tao racionalmente quanto possivel face aos factos e realidades, nao aos mitos e ficcoes, em presenca.

Tudo o resto nao passara’ de um pernicioso e patetico “display de emoti(c)ons” com mais do que previsiveis consequencias nefastas para todas as partes – a Historia de Angola revela-o a saciedade!

Tenho dito.





P.S.: Acrescentaria apenas as seguintes notas a margem:

i. A proposito de "fechamentos sociais e economicos" ou, se se preferir, mecanismos de exclusao social, tradicionais em Angola, esta citacao de David Sogge: "Colonial and post-colonial elites showed no interest in creating an ‘open access order’ based on citizenship for all and competitive markets. A path was laid down around a weak but autocratic colonial state dependent on outside powers. Mediocre institutions and underskilled people were additional legacies. Angolan nationalist movements, their leaders imbued with norms of a ‘limited access order’, and habituated to the use of armed force, had no ready alternatives when they assumed power.";


ii. Em relacao a todas essas questoes, mas em particular a suposta "dificuldade de entendimento e aceitacao" por parte da generalidade dos portugueses da diversidade etnico-linguistica de Angola, seria recomendavel uma exploracao da area da Historia Moderna designada Subaltern Studies;


iii. Sobre os movimentos trans-fronteiricos entre Angola e o Congo (Zaire) em epocas mais recuadas, com a devida venia, esta detalhada descricao por Fernando Ribeiro:

Nos troços de fronteira entre Angola e o Zaire em que não houvesse obstáculos naturais, não existia qualquer vedação ou outra barreira que impedisse a comunicação entre ambos os lados. A fronteira estava apenas assinalada por marcos de pedra em forma de grossos obeliscos, com 2 metros de altura ou pouco mais, que mostravam o escudo da monarquia portuguesa, esculpido em baixo relevo, no lado virado para Angola, o da monarquia belga no lado virado para o Zaire e o ano de 1895 gravado por cima de cada um dos escudos. Os marcos fronteiriços estavam colocados a uma distância de cerca de 40 quilómetros uns dos outros, talvez, e estavam milimetricamente alinhados uns pelos outros, numa linha reta espantosamente rigorosa.

Como, nos troços onde não havia obstáculos naturais, a fronteira estava desimpedida, ela era atravessada por caminhos de pé posto, que todos os dias eram percorridos por pessoas que passavam "a salto" de Angola para o Zaire e vice-versa. O movimento de pessoas ao longo destes carreiros era bastante intenso. Angolanos (refugiados ou não) e zairenses circulavam de um lado para o outro ao longo do dia, em função, sobretudo, das feiras mensais e mercados rurais que de ambos os lados se iam realizando. Levavam os produtos das suas lavras (campos), a fim de os vender onde fossem mais caros, e traziam as mercadorias de que necessitavam, compradas onde elas fossem mais baratas. É evidente que os contrabandistas (havia bastantes) também faziam um uso intensivo destes caminhos transfronteiriços.

Assim que o sol nascia, nas zonas onde houvesse uma sanzala do lado de Angola que ficasse próxima da fronteira e estivesse dotada de uma escola, os caminhos referidos eram percorridos por crianças, vindas do Zaire para Angola, que vinham frequentar as aulas. Estas crianças percorriam a pé vários quilómetros a caminho da escola e eram as primeiras pessoas que atravessavam a fronteira logo pela manhãzinha.

Estas crianças eram filhas de angolanos refugiados no Zaire. Os seus encarregados de educação faziam questão em que elas frequentassem uma escola angolana, porque queriam que elas não se esquecessem das suas raízes, apesar de já terem nascido no exílio, se sentissem orgulhosas de Angola e soubessem falar, ler e escrever em português.



[aqui, onde, ja' agora, tambem se pode ver esta descricao de Kinshasa e ouvir um pouco da musica do magistral Franco]




6 comments:

Calcinhas de Luanda said...

De facto olhando para as páginas dos Angolanos ditos "genuínos e puros" (a afirmação é minha é claro, embora esteja implícita nos seus - deles - comentários) penso que Angola deveria fechar as suas fronteiras imediatamente. Devia ainda impor um controlo muito estrito do seu território continental e da sua zona económica exclusiva e ter especial atenção aos portugueses, essa raça maldita que em má hora resolveu colonizar/dominar/explorar/oprimir a região de África que hoje constitui o território de Angola. É evidente que este anátema tem e certamente continuará a marcar de maneira indelével a Nação Angola. Ora sendo isto um verdadeiro cancro é necessário ir-se à faca o mais depressa possível. Assim acabar-se-á com o triste espectáculo dos aeroportos com as filas imensas de portugueses a tentarem, à boa maneira salazarista, de irem para Angola e em força. De fato as filas são tão grandes que na Segunda Circular em Lisboa os carros já não circulam enquanto que no Porto a fila para norte já chegou a Viana do Castelo e para sul a Aveiro. Portugal está efectivamente a fechar debandando para Angola.
Porque será que os angolanos são umas pessoas tão presunçosas?
Vão ficar como os brasileiros que quase a duzentos anos após declaração da independência continuam a acusar os portugueses de todos os seus males?
Não conseguem olhar para a frente e tentar fazer melhor? Se calhar é porque efectivamente não são capazes. Ah! Já me esquecia novamente, a culpa tanto num caso (Brasil) como no outro(Angola)foi da colonização portuguesa! E portanto ficamos nisto! Mas se os portugueses são ou foram assim tão maus porque agora não se faz melhor?! Os Angolanos estão à espera de quê?

Koluki said...

Calcinhas,

Infelizmente, este seu caustico comentario seria mais oportuno e, quica, efectivo se dirigido a algo escrito/dito por um angolano, “genuino e puro” ou nao - o que nao e’ o caso. Se for ver a origem deste poema (coloquei o link no post) ele aparece num blog portugues e tudo indica que o autor tambem seja portugues...

Ha’ dias postei aqui um artigo de Nicole Guardiola, que tambem nao e’ portuguesa, analizando precisamente esse fenomeno e fazendo explicita referencia ao “todos para Angola rapidamente e em forca”, que sera’ neste momento a “palavra de ordem em Portugal”...

E referencias dessas podem ser encontradas a saciedade na imprensa e blogosfera portuguesa, muito mais do que na angolana (e.g.: Paula Maria Todos os dias assistimos à partida de cidadãos bracarenses que procuram uma vida melhor em Angola. A crise económica que tem atirado para ...http://blogsquefalamdeangola.blogspot.com/2009/05/notas-de-imprensa.html).

Se quiser um exemplo angolano, pode referir-se a entrevista de Ismael Mateus no post a seguir a este. Mas podera’ constatar que ele nao advoga nada parecido com o “isolamento de Angola numa zona economica exclusiva”, mas sim a regulacao da imigracao. E, mais do que isso,ele refere-se especificamente ao sector da imprensa...

Se quer saber quais os meus pontos de vista sobre essas questoes podera’ encontra-los, entre outros, nos comentarios aos posts cujos links tambem coloquei nessa entrevista.

Agora, quanto ao resto, nao me proponho entrar em discussoes com base em “angolanos ditos puros e genuinos”, uma expressao carregada de fel, mais por parte de quem a usa como arma de arremesso do que por quem assim se caracteriza, certa ou erradamente...

Tambem nao me proponho entrar em comparacoes com o Brasil, mas sempre lhe digo que se ha’ algo de comum entre Angola e o Brasil e que e’ geralmente atribuido a colonizacao portuguesa e’ o racismo que manteve a maioria dos negros em ambos os paises com um acesso limitadissimo e bastante condicionado culturalmente a oportunidades educacionais, economicas e sociais. E se realmente advoga algo que estes dois paises podem e devem fazer melhor que o colonialismo portugues, isso devera’ passar necessariamente pela promocao de tais oportunidades pelos governos dos respectivos paises, o que passa necessariamente pelo controlo e regulacao da imigracao economica, particularmente no caso de Angola – como, de resto, o fazem todos os outros paises do mundo, e muito especialmente os da Europa, que inclui Portugal...

E, a proposito, foram os portugueses, nao os "presuncosos dos angolanos" que inventaram um slogan (aparentemente bastante esquecido nos dias que correm...) que assim rezava:

"25 de Abril Sempre! Racismo, Colonialismo, Nunca Mais!"

Koluki said...

Ressalva: queria dizer "Nicole Guardiola, que tambem nao e' angolana".

Anonymous said...

Eu nasci e cresci em Moçambique. Por isso, sei o que foi o 'Colonialismo'. Incomoda-me que se fale em nacionalidades e que os portugueses são isto ou aquilo. Os tempos mudaram, o Portugal de hoje não é o Portugal de ontem. Os portugueses também mudaram. Racistas? Alguns serão, outros não.
Preferem que outros países (China, Bélgica, Estados Unidos, etc.) cooperem com Angola quando nem sequer falam a língua? Conheci muitos portugueses que nasceram em Angola, foram para Portugal depois do 25 de Abril e que diziam ter saudades daquela terra e das suas gentes.
Comentem.

Koluki said...

Anonimo:

Em resposta ao seu "comentem" sugiro-lhe a leitura deste post no meu outro blog 'Kongo Blues' - creio ser mais elucidativo do que qualquer outro comentario que eu lhe pudesse oferecer:

http://koluki2.blogspot.com/2011/01/muana-damba.html

Calcinhas de Luanda said...

Um ano depois mantenho o que disse! Infelizmente a evidência experimental mostra que, no caso de Angola, tem sido sempre mais fácil continuar a esgrimir o argumento da culpa dos colonialistas e dos racistas, do que as pessoas olharem para si próprias e resolverem arregaçar as mangas. Falo é claro dos mais cultos e que têm responsabilidades nos destinos do país.
Aliás o poder em Angola está nas mãos de uma "elite" que não faz mais do que emular, no seu pior, a administração colonial portuguesa.
Quanto à ida de portugueses para Angola, infelizmente para Angola tratam-se de números muito mais reduzidos do que determinados "sites" e blogs portugueses querem dizer, talvez a evolução do país pudesse ser outra se os números fossem outros. Basta fazer-se uma análise dos países receptores de mão-de-obra portuguesa para constatar tal evidência.
O problema de Portugal, é que sempre houve , simplisticamente falando é claro, dois tipos de portugueses, os ricos ou remediados ou conformados, que sempre se sentiram bem "na apagada e vil tristeza" em que o país vive e os inconformados, que de um modo ou de outro procuraram uma vida melhor. Destes últimos pode dizer-se que nem sempre se portaram bem, talvez até na sua maioria, mas ninguém lhes pode negar o espírito de iniciativa e ambição, repito mais uma vez, talvez em muitos casos mal dirigida. Dos primeiros é que é mais complicado falar. Sempre tentaram fazer troça dos que emigraram e sempre, de um modo parasita, viveram das remessas dos emigrantes. Fazem poemas a troçar de quem lhes manda dinheiro para sustentar a malandragem nacional portuguesa. Troçavam dos "françoqueses" na década de 60 e 70 do século passado, dos "brasileiros torna viagem" nas décadas de 30, 40 e 50 também do século passado e agora são os que vão para Angola ou outras ex-colónias, as vítimas da ironia.
No fundo "Portugueses genuínos" e "Angolanos genuínos" estão bem uns para os outros, são farinha do mesmo saco!