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La’ diz o velho ditado que nao ha’ duas sem tres…
Assim sendo, depois dos turbilhoes a volta da ‘transformacao’ do edificio conhecido como Palacio de Dona Ana Joaquina e, mais recentemente, da demolicao do antigo
Mercado do Kinaxixe, novo turbilhao anda no ar em Luanda a volta da questao da preservacao do patrimonio historico da cidade. Desta vez trata-se do que e’ agora conhecido como Edificio Elinga e que ja’ foi, em tempos mais recuados, Centro Cultural Universitario (CCU) e Colegio Casa das Beiras.
Tenho conhecimento de pelo menos duas “frentes de combate” contra a sua planeada demolicao, diz-se que para dar lugar a um novo edificio e parque de estacionamento:
- Uma, iniciada por nostalgicos dos tempos do CCU que, algo resignados com a aparentemente inevitavel demolicao de um espaco do qual retinham experiencias de vida preciosas (e.g. o nascimento da
Brigada Jovem de Literatura de Luanda), criaram uma corrente de partilha de memorias por email visando “comemorar” o desaparecimento daquele espaco, ate’ que… um dos contribuintes da corrente foi desencantar
este despacho do Ministerio da Cultura datado de 1981, que, na letra e no espirito, parece conter o essencial para que se fale na existencia de uma politica de preservacao do patrimonio arquitectonico em Angola… excepto os necessarios mecanismos para a sua efectiva implementacao (questao que
aqui abordei aquando da demolicao do Kinaxixe), falando-se, inclusive, na possibilidade de tal despacho poder ter sido ja’ revogado – do que nao parece haver confirmacao;
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- Outra, que, certamente integrando alguns dos participantes da primeira, optou por uma posicao mais activamente politica (ideologica?), que decidiu expressar atraves deste
Abaixo Assinado, correntemente aberto a subscricao por naturais e/ou residentes de Luanda.
Por entre as duas, vai-se movendo, como que em terreno minado, o responsavel pelo novo projecto, que se tem multiplicado em entrevistas e encontros publicos e privados, argumentando, por um lado, que o edificio esta mesmo tecnicamente condenado a morte (morrida, ou matada? – parece ser a questao no centro do debate, sendo certo que, como
aqui tive ocasiao de notar, os edificios tambem morrem…) por, alegadamente, ja’ ter nascido “deficiente” e, por outro lado, dando garantias de que os mais directamente afectados pela planeada demolicao (nomeadamente o grupo de teatro Elinga e o pintor Antonio Ole, que la’ tem o seu attelier ha’ varios anos) terao espacos garantidos no novo edificio.
Esses, em resumo, os ‘factos’ que ate’ agora me chegaram ao conhecimento atraves da primeira “frente de combate” (atraves da qual recebi tambem copias 'scaneadas' de um artigo alusivo ao assunto publicado em Luanda no ultimo numero de "O Pais" e do despacho do Minicult acima mencionado, com que ilustro este post). Nas duas reconheco os meritos do activismo civico, as duas desejo sucesso – mesmo que sucesso neste caso possa eventualmente significar uma solucao de compromisso perante uma realidade que parece inevitavel, o que ja’ sera’ assinalavel dada a aparente resignacao inicial…
Agora, por entre os ‘factos’ e a memoria colectiva de toda uma geracao, ha’ um espacozinho para a minha propria memoria individual: lembro-me de, nos anos 80, ter naquele edificio frequentado um curso de guitarra classica, dado por dois professors Vietnamitas… lembro-me da vez em que, ja' no sec. XXI, fui la’ assistir a representacao pelo Elinga do “Quem Me Dera Ser Onda”, do Manuel Rui Monteiro… ou de ter la’ comemorado parte de um Dia Internacional da Mulher (uma memoria que, portanto, fez anos nos ultimos dias e que neste blog relatei aqui ha' uns tempos)… e lembro-me, sobretudo, das pessoas com quem partilhei aqueles momentos.
Memorias… sao elas que dao sentido a palavra “historico” ao lado da designacao “patrimonio arquitectonico”. Resta-nos sempre a consolacao de que, pelo menos enquanto somos vivos, elas sobrevivem a morte dos edificios. O problema e’ a preservacao dessas memorias, individuais e colectivas, para as geracoes futuras, nao perdendo de vista, contudo, que estas nao so’ teem direito ao conhecimento da historia, como tambem (alias, a semelhanca da "primeira frente de combate" aqui mencionada...) teem o direito a e a capacidade para criarem a sua propria historia e construirem as suas proprias memorias para o seu proprio futuro - que sera', afinal, o futuro da Nacao, portanto de todos nos.
La’ diz o velho ditado que nao ha’ duas sem tres…
Assim sendo, depois dos turbilhoes a volta da ‘transformacao’ do edificio conhecido como Palacio de Dona Ana Joaquina e, mais recentemente, da demolicao do antigo Mercado do Kinaxixe, novo turbilhao anda no ar em Luanda a volta da questao da preservacao do patrimonio historico da cidade. Desta vez trata-se do que e’ agora conhecido como Edificio Elinga e que ja’ foi, em tempos mais recuados, Centro Cultural Universitario (CCU) e Colegio Casa das Beiras.
Tenho conhecimento de pelo menos duas “frentes de combate” contra a sua planeada demolicao, diz-se que para dar lugar a um novo edificio e parque de estacionamento:
- Uma, iniciada por nostalgicos dos tempos do CCU que, algo resignados com a aparentemente inevitavel demolicao de um espaco do qual retinham experiencias de vida preciosas (e.g. o nascimento da Brigada Jovem de Literatura de Luanda), criaram uma corrente de partilha de memorias por email visando “comemorar” o desaparecimento daquele espaco, ate’ que… um dos contribuintes da corrente foi desencantar este despacho do Ministerio da Cultura datado de 1981, que, na letra e no espirito, parece conter o essencial para que se fale na existencia de uma politica de preservacao do patrimonio arquitectonico em Angola… excepto os necessarios mecanismos para a sua efectiva implementacao (questao que aqui abordei aquando da demolicao do Kinaxixe), falando-se, inclusive, na possibilidade de tal despacho poder ter sido ja’ revogado – do que nao parece haver confirmacao;
- Outra, que, certamente integrando alguns dos participantes da primeira, optou por uma posicao mais activamente politica (ideologica?), que decidiu expressar atraves deste Abaixo Assinado, correntemente aberto a subscricao por naturais e/ou residentes de Luanda.
Por entre as duas, vai-se movendo, como que em terreno minado, o responsavel pelo novo projecto, que se tem multiplicado em entrevistas e encontros publicos e privados, argumentando, por um lado, que o edificio esta mesmo tecnicamente condenado a morte (morrida, ou matada? – parece ser a questao no centro do debate, sendo certo que, como aqui tive ocasiao de notar, os edificios tambem morrem…) por, alegadamente, ja’ ter nascido “deficiente” e, por outro lado, dando garantias de que os mais directamente afectados pela planeada demolicao (nomeadamente o grupo de teatro Elinga e o pintor Antonio Ole, que la’ tem o seu attelier ha’ varios anos) terao espacos garantidos no novo edificio.
Esses, em resumo, os ‘factos’ que ate’ agora me chegaram ao conhecimento atraves da primeira “frente de combate” (atraves da qual recebi tambem copias 'scaneadas' de um artigo alusivo ao assunto publicado em Luanda no ultimo numero de "O Pais" e do despacho do Minicult acima mencionado, com que ilustro este post). Nas duas reconheco os meritos do activismo civico, as duas desejo sucesso – mesmo que sucesso neste caso possa eventualmente significar uma solucao de compromisso perante uma realidade que parece inevitavel, o que ja’ sera’ assinalavel dada a aparente resignacao inicial…
Agora, por entre os ‘factos’ e a memoria colectiva de toda uma geracao, ha’ um espacozinho para a minha propria memoria individual: lembro-me de, nos anos 80, ter naquele edificio frequentado um curso de guitarra classica, dado por dois professors Vietnamitas… lembro-me da vez em que, ja' no sec. XXI, fui la’ assistir a representacao pelo Elinga do “Quem Me Dera Ser Onda”, do Manuel Rui Monteiro… ou de ter la’ comemorado parte de um Dia Internacional da Mulher (uma memoria que, portanto, fez anos nos ultimos dias e que neste blog relatei aqui ha' uns tempos)… e lembro-me, sobretudo, das pessoas com quem partilhei aqueles momentos.
Memorias… sao elas que dao sentido a palavra “historico” ao lado da designacao “patrimonio arquitectonico”. Resta-nos sempre a consolacao de que, pelo menos enquanto somos vivos, elas sobrevivem a morte dos edificios. O problema e’ a preservacao dessas memorias, individuais e colectivas, para as geracoes futuras, nao perdendo de vista, contudo, que estas nao so’ teem direito ao conhecimento da historia, como tambem (alias, a semelhanca da "primeira frente de combate" aqui mencionada...) teem o direito a e a capacidade para criarem a sua propria historia e construirem as suas proprias memorias para o seu proprio futuro - que sera', afinal, o futuro da Nacao, portanto de todos nos.