Sunday, 7 February 2010

1960-2010: “The Year of Africa” 50 Years On (II)

"A RAZAO DA NOSSA LUTA" 50 ANOS DEPOIS...

Este historico texto (historico, tanto no sentido temporal – porque escrito em 1974; como no sentido reflexivo – na medida em que nos permite uma avaliacao, nao so’ dos seus fundamentos argumentativos a altura em que foi escrito, como da sua validade e relevancia actual) de M.M. de Brito Junior, serve-me de mote para o segundo take desta serie sobre a comemoracao dos 50 Anos do “Ano de Africa”.

Para tanto, dele extraio algumas passagens que me parecem ser merecedoras de uma viagem no tempo desde 1974 ate’ 2010, para servirem de base a algumas interrogacoes sobre a Angola “que estamos com ela” hoje, ou seja, a uma especie de “Estado da Nacao” cerca de 5 decadas desde o inicio da luta armada contra o colonialismo e mais de 3 decadas desde a independencia do pais:

A LUTA DOS COLONIZADORES E DOS COLONIZADOS

Existiram sempre duas posições definidas na vida politica de Angola. Uma, a dos colonizadores, constituída pelos Europeus e seus descendentes. Outra, a dos colonizados constituída pelos an-golanos, tradicionalmente considerados africanos, indígenas, nativos, assimilados.

- Sera’ esta formulacao ainda valida, num contexto em que, especialmente a luz das novas formulacoes ideologico-culturais de uma dita "nacao crioula", falar-se em “Africanos vs. Europeus e seus descendentes”, ou de “indigenas” e “nativos” pode ser considerado “crime de lesa patria”, incluindo por alguns “(ex?) anti-colonialistas”?

NÓS LUTAMOS CONTRA A OCUPAÇÃO

A verdadeira Historia de Angola narra os altos feitos dos angolanos na luta armada contra a ocupação portuguesa nos Dembos, no Congo, no Libolo, no Huambo, no Amboim, no Cuamato, na Lunda, enfim, em toda Angola. As chamadas «guerras de pacificação», durante as quais foram dizimados dezenas de (?) de milhares de angolanos, mostram bem que os indígenas angolanos, os colonizados, sempre lutaram de armas na mão contra o colonialismo, contra os colonizadores.

- Havera' hoje um consenso sobre o que/qual e' a "verdadeira Historia de Angola"?

- Como se contextualiza historica e politicamente essa luta, numa era em que a “recolonizacao” cada vez mais esta’ na ordem do dia?

NÓS LUTAMOS CONTRA O ANALFABETISMO

Noventa por cento do povo angolano (colonizado) é analfabeto. Sistematicamente fomos postos à margem no campo da instrução. Os governos colonizadores só construíram escolas onde hou-vesse europeus que ocupassem, pelo menos, 2/3 da sala. Mesmo existindo sanzalas com mais de 500 crianças indígenas em idade escolar o Estado não abria ai escolas. Estes só eram instruídos onde houvesse escolas das Missões. Os indígenas que podiam estudar nas escolas do Estado só eram aqueles cujos pais possuís-sem «atestado de assimilação» e bilhete de identidade.

- Como esta’ o acesso ao ensino para a maioria da populacao de hoje?

NÓS LUTAMOS CONTRA O CONTRATO

Uma das mais vergonhosas leis da opressão colonialista é o chamado «contrato indígena». Rusgados como animais, os indígenas eram mandados para as plantações (dos colonos), para as pescarias (dos colonos), para as salinas (dos colonos), para as minas ( dos imperialistas), onde sofriam todas as desumanidades do trabalho forçado.

- Ja’ nao ha’ sistema de contrato (pelo menos formalmente), mas nao haverao actualmente outras formas de trabalho igualmente desumanas no pais?

NÓS LUTAMOS CONTRA A HUMILHAÇÃO

Se hoje o indígena é capaz de levantar a cabeça é porque muita luta travámos contra a humilhação. Os colonizadores tratavam- nos como cães, humilharam-nos de todas as maneiras e feitios. Mesmo esbofeteados tínhamos que mostra um sorriso, porque se não apanhávamos mais. Um gesto de revolta contra um atitude injusta era motivo para severos castigos corporais, culpados de insubordinação e falta de respeito. Conhecemos um velho (Apolinário) que foi deportado três vezes, por períodos superiores a 3 anos, só porque respondia ás agressões e insultos dos colonizadores. Estes não admitiam que um indígena lhes tocasse na cara, mesmo em resposta a um agressão. Cão, moleque, miúdo, rapaz, chico macaco, sempre nos chamaram, com o intuito de nos humilhar. (…) Hoje levantamos as cabeças, bem alto, olhamos para a frente, para o futuro, já não baixamos os olhos para o chão quando falamos com um colonizador. Foi uma luta ingente e vencemos.

- Continuamos ainda de “cabecas levantadas”? Confesso que ha’ individuos hoje em Angola que so’ me merecem mesmo que lhes chame "caes, moleques, miudos e rapazes (quando nao sub-rapazes ou rapazitos)" – mas apenas e tao so’ porque, justamente, nao so’ vivem de lamber as botas aos seus novos “capatazes”, como entendem que eu e “todo o mundo” tambem o deve fazer, sob pena de, "sabendo sempre o que nos espera", bem entendido, sermos por eles linchados e literalmente pulverizados (armados que estao agora da "titularidade" de alguns dos principais orgaos formais do dito "quarto poder"...), mesmo e sobretudo quando reagindo a insultos gratuitos, ofensas e agressoes morais e materiais gravissimas, incluindo ameacas de morte (!), que nos sao infligidos, a nos e aos nossos ancestrais e descendentes, por alegadas “insubordinacao e falta de respeito”, hoje mais frequentemente designadas de “atrevimento (de pobres e insignificantes criaturas)”!

NÓS LUTAMOS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO

Em Angola existe discriminação racial, embora não oficial. No campo salarial um indígena ganhava, geralmente, um terço do que ganhava um colonizador. Isto em todas as actividades do sector privado. Quando reclamássemos ouvíamos do patrão: «queres ganhar como um branco?». Podíamos saber mais da profissão do que um colonizador mas este era sempre o chefe, o encarregado. (…) Hoje fazemos greves e exigimos salários iguais. Continuaremos a luta.


- “Hoje fazemos greves e exigimos salários iguais”? Ou, ja' agora, "patrocinios" iguais?

- “Continuamos a luta?” Ou, antes, somos acusados por alguns dos “nossos irmaos” gratuita, infundada, insultuosa, irresponsavel e criminosamente, de a nossa dolorosa luta por uma formacao academica e tecnico-profissional reconhecida em qualquer parte do mundo nao ter produzido mais do que “falsos diplomas”, “mestrados em imitacao”, “infiltracoes em reunioes de peritos”, etc., etc., etc.???


Enquanto que, em se tratando de um Europeu ou seu/sua descendente pertencente precisamente aquele grupo de ex-colonizadores que enriqueceram exclusivamente a custa da "arvore das patacas" de Angola e que por isso conseguiu abrir todas as portas do mundo empresarial (especialmente o bancario) e/ou academico, passa a ser considerado/a, por exemplo, especialista em "macroeconomia a prova de balas" (sem que quem o afirma/escreve, por evidentemente nao fazer a minima ideia do que fala, sequer se aperceba da contradicao em termos que isso significa... em particular quando nao se tem qualquer track record de alguma pratica profissional em gestao macroeconomica!), ainda que, e ate' por "defeito de formacao" como publicamente assumido/as "neoclassico/as ou neoliberais", nao possam reclamar qualquer especialismo nessa area, por muito que o tenham noutras areas da economia, nomeadamente a econometria e, possivelmente, a microeconomia...

NÓS LUTAMOS CONTRA A USURPAÇÃO

Os colonizadores usurparam as nossas terras, as nossas riquezas, as nossas lavras, as nossas irmãs e nós sobrevivemos. Os mulatos resultantes da usurpação das nossas irmãs lutaram connosco contra os colonizadores. A reforma agrária contra os latifúndios e monopólios brevemente será levado a cabo por uma Angola Soberana. Lutámos contra todo este sistema de usurpação, durante séculos.

- Sera’ mesmo? “Todos os mulatos” (ou, ja’ agora, “todos os negros”) lutaram contra os colonizadores (ou tera’ sido, mais politicamente-correcto falando, contra o colonialismo?)?

- Nao estarao algumas dessas “irmas usurpadas” por alguns deles sendo “vendidas” ao desbarato por alguns dos “seus irmaos” a alguns dos seus “idolatrados patroes ex-colonizadores” leviana, difamatoria e ultrajantemente como "baratas" e "insuportaveis damas de sapato vermelho”?

- Nao estao agora os “novos engenheiros constitucionalistas da Angola Soberana” defendendo e proclamando que “os unicos donos originarios da nossa terra sao os Khoisan”?

- Nao andam por ai muitos “ex-colonizadores” se dizendo a boca cheia “mais Angolanos que a Angolanidade”?


NÓS LUTAMOS CONTRA A ALIENAÇÃO CULTURAL

Foi uma luta titânica Impingiram-nos os heróis, os reis, as tradições, os nomes, a geografia, a historia dos colonizadores. Falar em língua indígena era indigno para um «assimilado». Os nossos heróis eram selvagens, inimigos de Angola. Os colonizadores não queriam os nossos nomes nos registos e eram motivo de achincalhamento. Mas nós lutámos contra todo este sistema de alienação. Basta ver que conseguimos ainda falar e escrever em línguas indígenas, falar Ngola Kiluanje, Jinga, Ndunduma e outros heróis da luta contra a ocupação colonial. Comemos funje sem vergonha e sem medo de não nos darem o bilhete de identidade. Ainda usamos panos à moda indígena. No interior do nosso país ainda sobrevive a cultura tradicional indígena.

- O que se passa agora com a polemica a volta da estatua da Rainha Nzinga Mbandi vs. a da Maria da Fonte no Kinaxixe?

- Que tratamento se reserva a alguns de nos que, tendo sido vitimas do sistema assimilacionista, contra ele nos rebelamos e tentamos, ainda que um tanto “tardiamente” aprender ou aperfeicoar o nosso conhecimento das linguas dos nossos ancestrais (os quais, alias, tambem ja' passaram a "pertencer de pleno direito" a algun(ma)s ex-colonizadores Europeus e seus descendentes!) e adoptar os seus nomes? A resposta e’: mais frequentemente do que nao, acusam-nos perversamente de “complexos de colonizado”! Ao passo que se se tratar de um Europeu ou seu/sua descendente - em particular se exerce(u) historicamente um papel activo como agente de implementacao daquela mesma politica cultural assimilacionista - passa, mesmo sem o ser, a categoria de “antropologo/a” ou “investigador/a cientifico/a” e, por acumulo de funcoes, "premio nacional de cultura", "coreografa-em-chefe", "mae da danca contemporaneoa em Africa", etc, etc, etc!...

- “Comemos 'todos' funje sem vergonha e sem medo de nao nos darem o bilhete de identidade”? Quando eu tenho sido fustigada sem fim por mencionar, inclusive em artigos academicos, algumas das “minhas funjadas” em Angola? E, de resto, como aparentemente a Africa “sempre importou tudo, incluindo todos os ingredientes da sua culinaria tradicional” e’ melhor mesmo comecarmos a comer funje clandestinamente, porque senao nao nos dao o novo BI (sem racas - o qual, alias, nao tarda muito passara' a ser apenas B porque entretanto a palavra Identidade passou a ser uma 'blasfemia'...) sob a acusacao de sermos "estrangeiros importados" e "nao merecermos ser angolanos"!...

- “Lutamos contra todo este sistema de alienacao”?
Quando hoje isso e’ taxado por certos “clarividentes novo-jornaleiros a quem o quarto p(h)oder subiu a cabeca” de “monstro racial e tara tribal”? Quando hoje “temos que nos deixar dos semba, kizomba e kuduro, pois so’ assim progrediremos”? A este proposito, devo dizer que, nao sendo aderente incondicional ou acritica dos novos estilos musicais angolanos, como o kuduro, mesmo porque ainda nao os conheco suficientemente (e, ja' agora, tambem nunca ainda os dancei), entendo e valorizo a forma como alguns dos novos artistas de que aos poucos vou tomando conhecimento, os teem usado como musica de intervencao, protesto e afirmacao cultural nacional.

NÓS LUTAMOS PARA CONSTRUIR ANGOLA

Para a construção do que Angola é hoje os indígenas deram muito do seu suor e muitos a pró-pria vida. Nós construímos as estradas (no tempo em que éramos rusgados e obrigados a levar as nossas próprias enxadas e a nossa comida ficando verbas do Estado nos bolsos dos chefes de posto colonizadores). Nós construímos os prédios, com salários de miséria. Nós fizemos as grandes plantações de café, palmar e sisal, que enriqueceram os colonizadores, sob desumanidades sem fim. Nós cultivamos o algodão coercivamente para enriquecer as grandes companhias, abandonando as nossas culturas e passamos fome. Nós trabalhamos nas minas, para enriquecer os imperialistas, sofrendo desumanidades e descriminações sem fim. Nós cuidamos dos «meninos», filhos dos colonizadores, acompanhamo-los à escola, enquanto nós éramos mantidos na ignorância. Para construir Angola muito sofremos, muitos morremos. Lutá-mos contra tudo: sevicias, fome, discriminações, doenças, etc.,

- Sera’ que “todos” ainda hoje nos reconhecem esses meritos e nos concedem esses creditos?

EM SUMA

Os partidecos que surgiram depois do 25 de Abril dizem representar a maioria silenciosa, aque-les que não lutaram, aqueles que construíram Angola. Já verificamos que a maioria da população angolana é indígena e esta nunca esteve silenciosa. Manifestou-se sempre contra todas formas de opressão colonial. Esta maioria oprimida lutou de armas na mão contra os colonizadores; intermitentemente, é certo, mas lutou. O remate dessa luta intermitente culminou nos 14 anos de luta contínua dos nossos Movimento de Libertação, Movimentos estes saídos desta Angolana. Esta maioria construiu Angola chicoteada nas costas nuas, passando fome, seviciada, para tornar ricos os colonizadores, que por sinal pontificam naqueles partidecos. (…) Para eles Angola não é uma colónia, é sim um «El Dourado», à «árvore das patacas». Mas agora acabou ou vai acabar brevemente.


- Havera' alguma semelhanca/diferenca entre os partidecos de 1974 e "os de hoje"?

- “«El Dourado», a «arvore das patacas». Mas agora acabou ou vai acabar brevemente.”?

Quao brevemente?


"A RAZAO DA NOSSA LUTA" 50 ANOS DEPOIS...

Este historico texto (historico, tanto no sentido temporal – porque escrito em 1974; como no sentido reflexivo – na medida em que nos permite uma avaliacao, nao so’ dos seus fundamentos argumentativos a altura em que foi escrito, como da sua validade e relevancia actual) de M.M. de Brito Junior, serve-me de mote para o segundo take desta serie sobre a comemoracao dos 50 Anos do “Ano de Africa”.

Para tanto, dele extraio algumas passagens que me parecem ser merecedoras de uma viagem no tempo desde 1974 ate’ 2010, para servirem de base a algumas interrogacoes sobre a Angola “que estamos com ela” hoje, ou seja, a uma especie de “Estado da Nacao” cerca de 5 decadas desde o inicio da luta armada contra o colonialismo e mais de 3 decadas desde a independencia do pais:

A LUTA DOS COLONIZADORES E DOS COLONIZADOS

Existiram sempre duas posições definidas na vida politica de Angola. Uma, a dos colonizadores, constituída pelos Europeus e seus descendentes. Outra, a dos colonizados constituída pelos an-golanos, tradicionalmente considerados africanos, indígenas, nativos, assimilados.

- Sera’ esta formulacao ainda valida, num contexto em que, especialmente a luz das novas formulacoes ideologico-culturais de uma dita "nacao crioula", falar-se em “Africanos vs. Europeus e seus descendentes”, ou de “indigenas” e “nativos” pode ser considerado “crime de lesa patria”, incluindo por alguns “(ex?) anti-colonialistas”?

NÓS LUTAMOS CONTRA A OCUPAÇÃO

A verdadeira Historia de Angola narra os altos feitos dos angolanos na luta armada contra a ocupação portuguesa nos Dembos, no Congo, no Libolo, no Huambo, no Amboim, no Cuamato, na Lunda, enfim, em toda Angola. As chamadas «guerras de pacificação», durante as quais foram dizimados dezenas de (?) de milhares de angolanos, mostram bem que os indígenas angolanos, os colonizados, sempre lutaram de armas na mão contra o colonialismo, contra os colonizadores.

- Havera' hoje um consenso sobre o que/qual e' a "verdadeira Historia de Angola"?

- Como se contextualiza historica e politicamente essa luta, numa era em que a “recolonizacao” cada vez mais esta’ na ordem do dia?

NÓS LUTAMOS CONTRA O ANALFABETISMO

Noventa por cento do povo angolano (colonizado) é analfabeto. Sistematicamente fomos postos à margem no campo da instrução. Os governos colonizadores só construíram escolas onde hou-vesse europeus que ocupassem, pelo menos, 2/3 da sala. Mesmo existindo sanzalas com mais de 500 crianças indígenas em idade escolar o Estado não abria ai escolas. Estes só eram instruídos onde houvesse escolas das Missões. Os indígenas que podiam estudar nas escolas do Estado só eram aqueles cujos pais possuís-sem «atestado de assimilação» e bilhete de identidade.

- Como esta’ o acesso ao ensino para a maioria da populacao de hoje?

NÓS LUTAMOS CONTRA O CONTRATO

Uma das mais vergonhosas leis da opressão colonialista é o chamado «contrato indígena». Rusgados como animais, os indígenas eram mandados para as plantações (dos colonos), para as pescarias (dos colonos), para as salinas (dos colonos), para as minas ( dos imperialistas), onde sofriam todas as desumanidades do trabalho forçado.

- Ja’ nao ha’ sistema de contrato (pelo menos formalmente), mas nao haverao actualmente outras formas de trabalho igualmente desumanas no pais?

NÓS LUTAMOS CONTRA A HUMILHAÇÃO

Se hoje o indígena é capaz de levantar a cabeça é porque muita luta travámos contra a humilhação. Os colonizadores tratavam- nos como cães, humilharam-nos de todas as maneiras e feitios. Mesmo esbofeteados tínhamos que mostra um sorriso, porque se não apanhávamos mais. Um gesto de revolta contra um atitude injusta era motivo para severos castigos corporais, culpados de insubordinação e falta de respeito. Conhecemos um velho (Apolinário) que foi deportado três vezes, por períodos superiores a 3 anos, só porque respondia ás agressões e insultos dos colonizadores. Estes não admitiam que um indígena lhes tocasse na cara, mesmo em resposta a um agressão. Cão, moleque, miúdo, rapaz, chico macaco, sempre nos chamaram, com o intuito de nos humilhar. (…) Hoje levantamos as cabeças, bem alto, olhamos para a frente, para o futuro, já não baixamos os olhos para o chão quando falamos com um colonizador. Foi uma luta ingente e vencemos.

- Continuamos ainda de “cabecas levantadas”? Confesso que ha’ individuos hoje em Angola que so’ me merecem mesmo que lhes chame "caes, moleques, miudos e rapazes (quando nao sub-rapazes ou rapazitos)" – mas apenas e tao so’ porque, justamente, nao so’ vivem de lamber as botas aos seus novos “capatazes”, como entendem que eu e “todo o mundo” tambem o deve fazer, sob pena de, "sabendo sempre o que nos espera", bem entendido, sermos por eles linchados e literalmente pulverizados (armados que estao agora da "titularidade" de alguns dos principais orgaos formais do dito "quarto poder"...), mesmo e sobretudo quando reagindo a insultos gratuitos, ofensas e agressoes morais e materiais gravissimas, incluindo ameacas de morte (!), que nos sao infligidos, a nos e aos nossos ancestrais e descendentes, por alegadas “insubordinacao e falta de respeito”, hoje mais frequentemente designadas de “atrevimento (de pobres e insignificantes criaturas)”!

NÓS LUTAMOS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO

Em Angola existe discriminação racial, embora não oficial. No campo salarial um indígena ganhava, geralmente, um terço do que ganhava um colonizador. Isto em todas as actividades do sector privado. Quando reclamássemos ouvíamos do patrão: «queres ganhar como um branco?». Podíamos saber mais da profissão do que um colonizador mas este era sempre o chefe, o encarregado. (…) Hoje fazemos greves e exigimos salários iguais. Continuaremos a luta.


- “Hoje fazemos greves e exigimos salários iguais”? Ou, ja' agora, "patrocinios" iguais?

- “Continuamos a luta?” Ou, antes, somos acusados por alguns dos “nossos irmaos” gratuita, infundada, insultuosa, irresponsavel e criminosamente, de a nossa dolorosa luta por uma formacao academica e tecnico-profissional reconhecida em qualquer parte do mundo nao ter produzido mais do que “falsos diplomas”, “mestrados em imitacao”, “infiltracoes em reunioes de peritos”, etc., etc., etc.???


Enquanto que, em se tratando de um Europeu ou seu/sua descendente pertencente precisamente aquele grupo de ex-colonizadores que enriqueceram exclusivamente a custa da "arvore das patacas" de Angola e que por isso conseguiu abrir todas as portas do mundo empresarial (especialmente o bancario) e/ou academico, passa a ser considerado/a, por exemplo, especialista em "macroeconomia a prova de balas" (sem que quem o afirma/escreve, por evidentemente nao fazer a minima ideia do que fala, sequer se aperceba da contradicao em termos que isso significa... em particular quando nao se tem qualquer track record de alguma pratica profissional em gestao macroeconomica!), ainda que, e ate' por "defeito de formacao" como publicamente assumido/as "neoclassico/as ou neoliberais", nao possam reclamar qualquer especialismo nessa area, por muito que o tenham noutras areas da economia, nomeadamente a econometria e, possivelmente, a microeconomia...

NÓS LUTAMOS CONTRA A USURPAÇÃO

Os colonizadores usurparam as nossas terras, as nossas riquezas, as nossas lavras, as nossas irmãs e nós sobrevivemos. Os mulatos resultantes da usurpação das nossas irmãs lutaram connosco contra os colonizadores. A reforma agrária contra os latifúndios e monopólios brevemente será levado a cabo por uma Angola Soberana. Lutámos contra todo este sistema de usurpação, durante séculos.

- Sera’ mesmo? “Todos os mulatos” (ou, ja’ agora, “todos os negros”) lutaram contra os colonizadores (ou tera’ sido, mais politicamente-correcto falando, contra o colonialismo?)?

- Nao estarao algumas dessas “irmas usurpadas” por alguns deles sendo “vendidas” ao desbarato por alguns dos “seus irmaos” a alguns dos seus “idolatrados patroes ex-colonizadores” leviana, difamatoria e ultrajantemente como "baratas" e "insuportaveis damas de sapato vermelho”?

- Nao estao agora os “novos engenheiros constitucionalistas da Angola Soberana” defendendo e proclamando que “os unicos donos originarios da nossa terra sao os Khoisan”?

- Nao andam por ai muitos “ex-colonizadores” se dizendo a boca cheia “mais Angolanos que a Angolanidade”?


NÓS LUTAMOS CONTRA A ALIENAÇÃO CULTURAL

Foi uma luta titânica Impingiram-nos os heróis, os reis, as tradições, os nomes, a geografia, a historia dos colonizadores. Falar em língua indígena era indigno para um «assimilado». Os nossos heróis eram selvagens, inimigos de Angola. Os colonizadores não queriam os nossos nomes nos registos e eram motivo de achincalhamento. Mas nós lutámos contra todo este sistema de alienação. Basta ver que conseguimos ainda falar e escrever em línguas indígenas, falar Ngola Kiluanje, Jinga, Ndunduma e outros heróis da luta contra a ocupação colonial. Comemos funje sem vergonha e sem medo de não nos darem o bilhete de identidade. Ainda usamos panos à moda indígena. No interior do nosso país ainda sobrevive a cultura tradicional indígena.

- O que se passa agora com a polemica a volta da estatua da Rainha Nzinga Mbandi vs. a da Maria da Fonte no Kinaxixe?

- Que tratamento se reserva a alguns de nos que, tendo sido vitimas do sistema assimilacionista, contra ele nos rebelamos e tentamos, ainda que um tanto “tardiamente” aprender ou aperfeicoar o nosso conhecimento das linguas dos nossos ancestrais (os quais, alias, tambem ja' passaram a "pertencer de pleno direito" a algun(ma)s ex-colonizadores Europeus e seus descendentes!) e adoptar os seus nomes? A resposta e’: mais frequentemente do que nao, acusam-nos perversamente de “complexos de colonizado”! Ao passo que se se tratar de um Europeu ou seu/sua descendente - em particular se exerce(u) historicamente um papel activo como agente de implementacao daquela mesma politica cultural assimilacionista - passa, mesmo sem o ser, a categoria de “antropologo/a” ou “investigador/a cientifico/a” e, por acumulo de funcoes, "premio nacional de cultura", "coreografa-em-chefe", "mae da danca contemporaneoa em Africa", etc, etc, etc!...

- “Comemos 'todos' funje sem vergonha e sem medo de nao nos darem o bilhete de identidade”? Quando eu tenho sido fustigada sem fim por mencionar, inclusive em artigos academicos, algumas das “minhas funjadas” em Angola? E, de resto, como aparentemente a Africa “sempre importou tudo, incluindo todos os ingredientes da sua culinaria tradicional” e’ melhor mesmo comecarmos a comer funje clandestinamente, porque senao nao nos dao o novo BI (sem racas - o qual, alias, nao tarda muito passara' a ser apenas B porque entretanto a palavra Identidade passou a ser uma 'blasfemia'...) sob a acusacao de sermos "estrangeiros importados" e "nao merecermos ser angolanos"!...

- “Lutamos contra todo este sistema de alienacao”?
Quando hoje isso e’ taxado por certos “clarividentes novo-jornaleiros a quem o quarto p(h)oder subiu a cabeca” de “monstro racial e tara tribal”? Quando hoje “temos que nos deixar dos semba, kizomba e kuduro, pois so’ assim progrediremos”? A este proposito, devo dizer que, nao sendo aderente incondicional ou acritica dos novos estilos musicais angolanos, como o kuduro, mesmo porque ainda nao os conheco suficientemente (e, ja' agora, tambem nunca ainda os dancei), entendo e valorizo a forma como alguns dos novos artistas de que aos poucos vou tomando conhecimento, os teem usado como musica de intervencao, protesto e afirmacao cultural nacional.

NÓS LUTAMOS PARA CONSTRUIR ANGOLA

Para a construção do que Angola é hoje os indígenas deram muito do seu suor e muitos a pró-pria vida. Nós construímos as estradas (no tempo em que éramos rusgados e obrigados a levar as nossas próprias enxadas e a nossa comida ficando verbas do Estado nos bolsos dos chefes de posto colonizadores). Nós construímos os prédios, com salários de miséria. Nós fizemos as grandes plantações de café, palmar e sisal, que enriqueceram os colonizadores, sob desumanidades sem fim. Nós cultivamos o algodão coercivamente para enriquecer as grandes companhias, abandonando as nossas culturas e passamos fome. Nós trabalhamos nas minas, para enriquecer os imperialistas, sofrendo desumanidades e descriminações sem fim. Nós cuidamos dos «meninos», filhos dos colonizadores, acompanhamo-los à escola, enquanto nós éramos mantidos na ignorância. Para construir Angola muito sofremos, muitos morremos. Lutá-mos contra tudo: sevicias, fome, discriminações, doenças, etc.,

- Sera’ que “todos” ainda hoje nos reconhecem esses meritos e nos concedem esses creditos?

EM SUMA

Os partidecos que surgiram depois do 25 de Abril dizem representar a maioria silenciosa, aque-les que não lutaram, aqueles que construíram Angola. Já verificamos que a maioria da população angolana é indígena e esta nunca esteve silenciosa. Manifestou-se sempre contra todas formas de opressão colonial. Esta maioria oprimida lutou de armas na mão contra os colonizadores; intermitentemente, é certo, mas lutou. O remate dessa luta intermitente culminou nos 14 anos de luta contínua dos nossos Movimento de Libertação, Movimentos estes saídos desta Angolana. Esta maioria construiu Angola chicoteada nas costas nuas, passando fome, seviciada, para tornar ricos os colonizadores, que por sinal pontificam naqueles partidecos. (…) Para eles Angola não é uma colónia, é sim um «El Dourado», à «árvore das patacas». Mas agora acabou ou vai acabar brevemente.


- Havera' alguma semelhanca/diferenca entre os partidecos de 1974 e "os de hoje"?

- “«El Dourado», a «arvore das patacas». Mas agora acabou ou vai acabar brevemente.”?

Quao brevemente?


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