Wednesday, 31 October 2007
NOVA BIOGRAFIA DE AMILCAR CABRAL
Tuesday, 30 October 2007
CARLOS MOORE: SOBRE AS RELACOES BRASIL - AFRICA
“As relações do Brasil com o continente africano podem evoluir para o neocolonialismo e os próprios dirigentes africanos são um fator nessa possível equação.”
Em virtude da visita do presidente Lula a quatro países africanos – Burkina Faso, Congo-Brazzaville, África do Sul e Angola –, realizada de 15 a 18 de outubro, o professor Carlos Moore, especialista em assuntos africanos e latino-americanos, aceitou conversar com o Ìrohìn. Nesta entrevista, ele analisa a natureza atual e a possível evolução dos vínculos entre o Brasil e o continente africano. Moore alerta sobre os possíveis perigos no horizonte dessas relações e, para evitá-los, evoca a intervenção da sociedade civil, tanto africana quanto brasileira.
Não podemos esquecer que se trata, fundamentalmente, de um continente enfraquecido, dominado pelo exterior e prostrado diante dos grandes interesses mundiais, após vários séculos de golpes duros, assaltos imperiais, intensos tráficos de escravizados e a conquista de todo o território continental pela Europa ocidental. A isso se agrega um processo de independência, a partir de 1957, já minado pelas relações neocolonialistas: a maioria esmagadora de líderes que chegaram ao poder já estava corrompida e entregue aos interesses hegemônicos mundiais. Tratava-se de elites coniventes com os interesses imperialistas e hegemônicos da Europa Ocidental, dos Estados Unidos e do Japão. E, ultimamente, essas elites se mostram também coniventes com as ambições hegemônicas e neo-imperiais de grandes potências emergentes como a China. É nesse contexto global que se insere a relação Brasil-África que se inicia perante nós.
(…)
Somado a isso há um outro fator, de natureza ideológica: a existência no Brasil, fruto de um passado fartamente conhecido, de um desprezo profundo para com o continente africano, seus descendentes e sua história. Ou seja, de modo geral, as elites dominantes do Brasil, profundamente eurocêntricas e europeizadas, admiradoras dos métodos norte-americanos e das normas e padrões euro-ocidentais, não consideram a África como parceiro a se respeitar, mas como o “Continente Negro” provedor de escravos, digno de ser explorado e humilhado. Essas elites têm em suas mãos praticamente todos os meios de comunicação e, assim, podem forjar – e forjam – todas as imagens distorcidas sobre o continente africano. Por sua vez, esse monopólio sobre a mídia poderá permitir que a opinião pública e a própria sociedade civil brasileira se mostrem omissas e até coniventes com a exploração desse continente. É aí onde reside o perigo: que, pouco a pouco, a opinião brasileira seja manipulada num sentido contrário a uma empatia e um sentimento de solidariedade com o continente ancestral da maioria da população do país.
(…)
Em um período de menos de trinta anos, não menos que 38 importantíssimos dirigentes africanos foram assassinados em circunstâncias que, na maioria dos casos, ainda não foram elucidadas. Ou seja, essas lideranças desapareceram seja pela via dos golpes de Estado, seja pela via dos assassinatos. A África nacionalista e pan-africana foi decapitada! Isso forma parte da explicação de porque a África está na atual situação de subdesenvolvimento terrível. Seus grandes líderes e pensadores foram dizimados. E quem tomou o poder em seus lugares? Observe a longevidade dos atuais governos e você verá que aqueles que estão no poder chegaram lá ou colocados pelos países do Ocidente ou urdindo sangrentos golpes de Estado em favor do Ocidente, em muitos dos casos matando aqueles que se opunham à exploração da África e que tinham grandes e inovadoras idéias sobre como emancipar e federar o continente. Então, eu diria que um dos grandes obstáculos para que o continente africano estabeleça uma relação em pé de igualdade com o resto do mundo são esses próprios dirigentes africanos. Em sua imensa maioria, as atuais elites africanas são, nesse sentido, um importante fator de subdesenvolvimento do continente africano.
(…)
De fato, nesta altura, eu não sei até que ponto esses laços atuais favorecem os povos africanos. O certo é que, pelo momento, esses laços vão beneficiar as elites africanas, por uma parte, e, sobretudo, a economia e as empresas brasileiras. Apesar disso, há forças conservadoras que não querem o estabelecimento desses laços com a África. Essas forças conservadoras – não apenas no Brasil, mas em todo o continente americano – são tradicionalmente negrofóbicas; herdaram da história um ódio e um desprezo para com o continente africano que as cega ao ponto de se opor ao desenvolvimento de relações econômicas entre suas empresas nacionais e os países africanos, embora essas relações – repito – favoreçam às suas próprias economias.
(…)
Nas condições que acabo de descrever, seria um milagre se isso não acontecesse; e eu não acredito em milagres. Para mim, é evidente que todas as condições estão dadas para que a relação Brasil-África não seja diferente das relações que o resto das nações poderosas do mundo tem estabelecido e mantido com esse continente. Todas as condições estão dadas para que as relações Brasil-África evoluam na direção de relações neocoloniais, com o Brasil assumindo, pouco a pouco, o papel cada vez mais acentuado de uma potência hegemônica, mas com cara “simpática”. Até porque o atual cenário de um mandatário simpático para com os verdadeiros interesses africanos pode não se estender além do mandato do presidente Lula. Tudo vai depender da conivência ou não da própria sociedade civil brasileira na situação que nos interessa.
(…)
As relações neocolonias surgem sempre de profundos desequilíbrios estruturais entre nações. Sobre essas relações vêm incidir, logo após, as elaborações ideológicas, que garantem a hegemonia do parceiro mais forte sobre o outro que se vê cada vez mais subalternizado na relação desigual. Como eu disse, no que diz respeito ao Brasil, o fator ideológico se dá na existência de uma superestrutura nacional negrofóbica e antiafricana, legado da escravidão. No Brasil, indiscutivelmente, mesmo diante de insistentes negações, existe um forte racismo estrutural e sistêmico, o qual está profundamente enraizado no imaginário social. Esses são fatores graves que não podem ser esquecidos, nem minimizados, quando se fala da África. Para se ter a medida disso, só é necessário observar como a mídia brasileira trata cotidianamente os problemas que atingem o continente africano: com um extremo grau de desprezo, insensibilidade e desrespeito, promovendo mentiras, meias-verdades e omitindo os fatos que, facilmente, poderiam explicar até os maiores horrores protagonizados nesse continente pelas suas elites neocoloniais e corruptas. Não há simpatia ou empatia nas reportagens para com os povos africanos, senão a vontade de apresentar o “Continente Negro” como algo bestial, um buraco escuro e sujo, primitivo, bárbaro, ameaçador! Ou seja, a África é apresentada na mídia nos mesmos termos que são apresentadas as favelas das grandes cidades brasileiras.
(…)
A resposta se encontra no reforço imediato da capacidade de intervenção democrática tanto da sociedade civil brasileira quanto da africana. As forças democráticas dentro do Brasil, sejam negros ou brancos, devem se coligar para se constituir em um fator de contrapeso político. Caso não seja assim, corre-se o risco de que a história se repita e que da imagem de um país “simpático, alegre, sambista e futebolista”, o Brasil vire, para a África, uma simples nova potência neocolonial. As multinacionais brasileiras terão de ser levadas a compreender que é de seu interesse, a longo prazo, contribuir para o bem-estar dos povos africanos, ao tempo que acumulam lucros nesse continente. E, também, terão de ser levadas a compreender que não é sustentável lucrar na África e ignorar a pobreza endêmica da África doméstica do Brasil. As interconexões entre essas duas realidades, embora não sejam tão visíveis agora, tenderão a aumentar no futuro próximo e haverá que ajudar as empresas multinacionais brasileiras a compreendê-las rapidamente. Ou seja, há que ajudar a avançar a causa da federalização da África, por uma parte, e ajudar a reduzir as desigualdades sociorraciais no Brasil, por outra. As multinacionais brasileiras podem contribuir positivamente em ambos os sentidos, o que contribuiria para simetrizar a relação com a África, ao tempo em que criaria um ambiente de confraternização democrática dentro do Brasil.
(…)
Ainda hoje a sociedade civil africana está bastante enfraquecida. Há, portanto, que ajudá-la a crescer e se fortalecer. Os movimentos sociais africanos têm sido tão reprimidos pelas ditaduras de seus países que é somente nos últimos quinze anos que começa a haver uma reorganização da sociedade civil, de modo a essa ter uma vida independente. Há que ajudar e incentivar esse processo de ressurgimento da sociedade civil africana.
(…)
Ao contrário da China, da Índia, da Europa ou do Japão, a maioria da população brasileira tem suas origens no continente africano. Precisamente por isso, eu penso que é o dever do movimento social e da sociedade civil brasileira zelar para que a intervenção econômica do Brasil naquele continente leve em consideração os interesses das sociedades civis africanas e dos povos por elas representados, os quais não estão sendo defendidos nem mesmo pelos governos africanos na sua maioria. Esse é um dos grandes deveres da sociedade civil brasileira, bem como de todas as forças democráticas desse país: defender os interesses da sociedade civil africana.
(…)
A África pode ajudar este país a operar uma transição tranqüila para uma verdadeira democracia multirracial mediante o empoderamento político, econômico e social da maioria populacional brasileira, que é de ascendência africana. Isso é, de todos modos, inevitável historicamente. A África, também, precisa de um Brasil forte como aliado para se defender da legendária cobiça das grandes potências externas por seus recursos naturais. Assim, há lugar para uma parceria estratégica sã entre o Brasil e o continente africano em torno da definição de uma agenda comum de longo prazo visando à eliminação dos grandes desequilíbrios internos e internacionais que se constituem, tanto para o Brasil quanto para a África, em perigosos fatores de ruptura e de conflitos violentos.
(Ler entrevista integral aqui)
“As relações do Brasil com o continente africano podem evoluir para o neocolonialismo e os próprios dirigentes africanos são um fator nessa possível equação.”
Em virtude da visita do presidente Lula a quatro países africanos – Burkina Faso, Congo-Brazzaville, África do Sul e Angola –, realizada de 15 a 18 de outubro, o professor Carlos Moore, especialista em assuntos africanos e latino-americanos, aceitou conversar com o Ìrohìn. Nesta entrevista, ele analisa a natureza atual e a possível evolução dos vínculos entre o Brasil e o continente africano. Moore alerta sobre os possíveis perigos no horizonte dessas relações e, para evitá-los, evoca a intervenção da sociedade civil, tanto africana quanto brasileira.
Não podemos esquecer que se trata, fundamentalmente, de um continente enfraquecido, dominado pelo exterior e prostrado diante dos grandes interesses mundiais, após vários séculos de golpes duros, assaltos imperiais, intensos tráficos de escravizados e a conquista de todo o território continental pela Europa ocidental. A isso se agrega um processo de independência, a partir de 1957, já minado pelas relações neocolonialistas: a maioria esmagadora de líderes que chegaram ao poder já estava corrompida e entregue aos interesses hegemônicos mundiais. Tratava-se de elites coniventes com os interesses imperialistas e hegemônicos da Europa Ocidental, dos Estados Unidos e do Japão. E, ultimamente, essas elites se mostram também coniventes com as ambições hegemônicas e neo-imperiais de grandes potências emergentes como a China. É nesse contexto global que se insere a relação Brasil-África que se inicia perante nós.
(…)
Somado a isso há um outro fator, de natureza ideológica: a existência no Brasil, fruto de um passado fartamente conhecido, de um desprezo profundo para com o continente africano, seus descendentes e sua história. Ou seja, de modo geral, as elites dominantes do Brasil, profundamente eurocêntricas e europeizadas, admiradoras dos métodos norte-americanos e das normas e padrões euro-ocidentais, não consideram a África como parceiro a se respeitar, mas como o “Continente Negro” provedor de escravos, digno de ser explorado e humilhado. Essas elites têm em suas mãos praticamente todos os meios de comunicação e, assim, podem forjar – e forjam – todas as imagens distorcidas sobre o continente africano. Por sua vez, esse monopólio sobre a mídia poderá permitir que a opinião pública e a própria sociedade civil brasileira se mostrem omissas e até coniventes com a exploração desse continente. É aí onde reside o perigo: que, pouco a pouco, a opinião brasileira seja manipulada num sentido contrário a uma empatia e um sentimento de solidariedade com o continente ancestral da maioria da população do país.
(…)
Em um período de menos de trinta anos, não menos que 38 importantíssimos dirigentes africanos foram assassinados em circunstâncias que, na maioria dos casos, ainda não foram elucidadas. Ou seja, essas lideranças desapareceram seja pela via dos golpes de Estado, seja pela via dos assassinatos. A África nacionalista e pan-africana foi decapitada! Isso forma parte da explicação de porque a África está na atual situação de subdesenvolvimento terrível. Seus grandes líderes e pensadores foram dizimados. E quem tomou o poder em seus lugares? Observe a longevidade dos atuais governos e você verá que aqueles que estão no poder chegaram lá ou colocados pelos países do Ocidente ou urdindo sangrentos golpes de Estado em favor do Ocidente, em muitos dos casos matando aqueles que se opunham à exploração da África e que tinham grandes e inovadoras idéias sobre como emancipar e federar o continente. Então, eu diria que um dos grandes obstáculos para que o continente africano estabeleça uma relação em pé de igualdade com o resto do mundo são esses próprios dirigentes africanos. Em sua imensa maioria, as atuais elites africanas são, nesse sentido, um importante fator de subdesenvolvimento do continente africano.
(…)
De fato, nesta altura, eu não sei até que ponto esses laços atuais favorecem os povos africanos. O certo é que, pelo momento, esses laços vão beneficiar as elites africanas, por uma parte, e, sobretudo, a economia e as empresas brasileiras. Apesar disso, há forças conservadoras que não querem o estabelecimento desses laços com a África. Essas forças conservadoras – não apenas no Brasil, mas em todo o continente americano – são tradicionalmente negrofóbicas; herdaram da história um ódio e um desprezo para com o continente africano que as cega ao ponto de se opor ao desenvolvimento de relações econômicas entre suas empresas nacionais e os países africanos, embora essas relações – repito – favoreçam às suas próprias economias.
(…)
Nas condições que acabo de descrever, seria um milagre se isso não acontecesse; e eu não acredito em milagres. Para mim, é evidente que todas as condições estão dadas para que a relação Brasil-África não seja diferente das relações que o resto das nações poderosas do mundo tem estabelecido e mantido com esse continente. Todas as condições estão dadas para que as relações Brasil-África evoluam na direção de relações neocoloniais, com o Brasil assumindo, pouco a pouco, o papel cada vez mais acentuado de uma potência hegemônica, mas com cara “simpática”. Até porque o atual cenário de um mandatário simpático para com os verdadeiros interesses africanos pode não se estender além do mandato do presidente Lula. Tudo vai depender da conivência ou não da própria sociedade civil brasileira na situação que nos interessa.
(…)
As relações neocolonias surgem sempre de profundos desequilíbrios estruturais entre nações. Sobre essas relações vêm incidir, logo após, as elaborações ideológicas, que garantem a hegemonia do parceiro mais forte sobre o outro que se vê cada vez mais subalternizado na relação desigual. Como eu disse, no que diz respeito ao Brasil, o fator ideológico se dá na existência de uma superestrutura nacional negrofóbica e antiafricana, legado da escravidão. No Brasil, indiscutivelmente, mesmo diante de insistentes negações, existe um forte racismo estrutural e sistêmico, o qual está profundamente enraizado no imaginário social. Esses são fatores graves que não podem ser esquecidos, nem minimizados, quando se fala da África. Para se ter a medida disso, só é necessário observar como a mídia brasileira trata cotidianamente os problemas que atingem o continente africano: com um extremo grau de desprezo, insensibilidade e desrespeito, promovendo mentiras, meias-verdades e omitindo os fatos que, facilmente, poderiam explicar até os maiores horrores protagonizados nesse continente pelas suas elites neocoloniais e corruptas. Não há simpatia ou empatia nas reportagens para com os povos africanos, senão a vontade de apresentar o “Continente Negro” como algo bestial, um buraco escuro e sujo, primitivo, bárbaro, ameaçador! Ou seja, a África é apresentada na mídia nos mesmos termos que são apresentadas as favelas das grandes cidades brasileiras.
(…)
A resposta se encontra no reforço imediato da capacidade de intervenção democrática tanto da sociedade civil brasileira quanto da africana. As forças democráticas dentro do Brasil, sejam negros ou brancos, devem se coligar para se constituir em um fator de contrapeso político. Caso não seja assim, corre-se o risco de que a história se repita e que da imagem de um país “simpático, alegre, sambista e futebolista”, o Brasil vire, para a África, uma simples nova potência neocolonial. As multinacionais brasileiras terão de ser levadas a compreender que é de seu interesse, a longo prazo, contribuir para o bem-estar dos povos africanos, ao tempo que acumulam lucros nesse continente. E, também, terão de ser levadas a compreender que não é sustentável lucrar na África e ignorar a pobreza endêmica da África doméstica do Brasil. As interconexões entre essas duas realidades, embora não sejam tão visíveis agora, tenderão a aumentar no futuro próximo e haverá que ajudar as empresas multinacionais brasileiras a compreendê-las rapidamente. Ou seja, há que ajudar a avançar a causa da federalização da África, por uma parte, e ajudar a reduzir as desigualdades sociorraciais no Brasil, por outra. As multinacionais brasileiras podem contribuir positivamente em ambos os sentidos, o que contribuiria para simetrizar a relação com a África, ao tempo em que criaria um ambiente de confraternização democrática dentro do Brasil.
(…)
Ainda hoje a sociedade civil africana está bastante enfraquecida. Há, portanto, que ajudá-la a crescer e se fortalecer. Os movimentos sociais africanos têm sido tão reprimidos pelas ditaduras de seus países que é somente nos últimos quinze anos que começa a haver uma reorganização da sociedade civil, de modo a essa ter uma vida independente. Há que ajudar e incentivar esse processo de ressurgimento da sociedade civil africana.
(…)
Ao contrário da China, da Índia, da Europa ou do Japão, a maioria da população brasileira tem suas origens no continente africano. Precisamente por isso, eu penso que é o dever do movimento social e da sociedade civil brasileira zelar para que a intervenção econômica do Brasil naquele continente leve em consideração os interesses das sociedades civis africanas e dos povos por elas representados, os quais não estão sendo defendidos nem mesmo pelos governos africanos na sua maioria. Esse é um dos grandes deveres da sociedade civil brasileira, bem como de todas as forças democráticas desse país: defender os interesses da sociedade civil africana.
(…)
A África pode ajudar este país a operar uma transição tranqüila para uma verdadeira democracia multirracial mediante o empoderamento político, econômico e social da maioria populacional brasileira, que é de ascendência africana. Isso é, de todos modos, inevitável historicamente. A África, também, precisa de um Brasil forte como aliado para se defender da legendária cobiça das grandes potências externas por seus recursos naturais. Assim, há lugar para uma parceria estratégica sã entre o Brasil e o continente africano em torno da definição de uma agenda comum de longo prazo visando à eliminação dos grandes desequilíbrios internos e internacionais que se constituem, tanto para o Brasil quanto para a África, em perigosos fatores de ruptura e de conflitos violentos.
(Ler entrevista integral aqui)
Monday, 29 October 2007
OUTBLOGGING @ AFRICANPATH (VII)
ANGOLA: THE RISE OF CIVIL SOCITY
(Read Article Here)
Sunday, 28 October 2007
SUNDAY COVER & POETRY (II)
(…)
If the old recording industry in South Africa was totally white-controlled, it was still not half as horrendous as those which existed in places such as Ghana, Ivory Coast, Nigeria, Congo, Cameroon, Kenya, Senegal, Angola, Mozambique, etc., where the music companies were personal kingdoms, which never got to grow to even a fraction of those in this country. At this writing, they still basically remain in that form or are extinct.
(…)
Some individuals might consider such a suggestion to be devoid of any moral merit; however, the one quality the history of Africa’s music recording industry can never claim to ever having possessed is any once of morality. It can only pride itself with exploitation, of the most despicable kind, one that proudly matches its colonial, economic and industrial counterpart’s atrocities.
(…)
If Africa’s present leadership can show as much interest in the development of the continent’s artistic excellence as it does in the promotion of some of its often misguided and destructive policies, if it can succeed in stopping the wars which consume frightful amounts of money that could be alternatively channelled into developing safety and security health and education, arts, culture, the traditional environment and the well being of the continent’s natural resources, then music, film, design and architecture would take a greater priority in our everyday lives.
If this were indeed at all possible, then Africa would surpass all other countries in its monopoly of the music and arts industries in the world. Would that such notions were dear to the hearts and minds of Africa’s political and business communities, then this Africa would become a great continent indeed.
[Read More Content Here]
{Poem: Back To What?, by Benjamin Zephaniah. Benjamin is a poet, novelist and playwright. His poetry collections include The Dread Affair: Collected Poems (1985) and Too Black, Too Strong (2001). He has produced numerous music recordings, including Us and Dem (1990) and Belly of de Beast (1996). in Life Lines 2/Poets for Oxfam/Edited by Todd Swift, 2007}
(…)
If the old recording industry in South Africa was totally white-controlled, it was still not half as horrendous as those which existed in places such as Ghana, Ivory Coast, Nigeria, Congo, Cameroon, Kenya, Senegal, Angola, Mozambique, etc., where the music companies were personal kingdoms, which never got to grow to even a fraction of those in this country. At this writing, they still basically remain in that form or are extinct.
(…)
Some individuals might consider such a suggestion to be devoid of any moral merit; however, the one quality the history of Africa’s music recording industry can never claim to ever having possessed is any once of morality. It can only pride itself with exploitation, of the most despicable kind, one that proudly matches its colonial, economic and industrial counterpart’s atrocities.
(…)
If Africa’s present leadership can show as much interest in the development of the continent’s artistic excellence as it does in the promotion of some of its often misguided and destructive policies, if it can succeed in stopping the wars which consume frightful amounts of money that could be alternatively channelled into developing safety and security health and education, arts, culture, the traditional environment and the well being of the continent’s natural resources, then music, film, design and architecture would take a greater priority in our everyday lives.
If this were indeed at all possible, then Africa would surpass all other countries in its monopoly of the music and arts industries in the world. Would that such notions were dear to the hearts and minds of Africa’s political and business communities, then this Africa would become a great continent indeed.
[Read More Content Here]
{Poem: Back To What?, by Benjamin Zephaniah. Benjamin is a poet, novelist and playwright. His poetry collections include The Dread Affair: Collected Poems (1985) and Too Black, Too Strong (2001). He has produced numerous music recordings, including Us and Dem (1990) and Belly of de Beast (1996). in Life Lines 2/Poets for Oxfam/Edited by Todd Swift, 2007}
Friday, 26 October 2007
IN A STATELESSNESS STATE OF MIND…
… OU “A FUGA, OU O INSONDAVEL MISTERIO DA NACIONALIDADE SURRIPIADA (Parte 2)”
Following the news of the election of Mr. Lumengo, originally an Angolan, to the Swiss Parliament in the political environment in which it took place, and in the context of some agitation among the Angolan Diaspora over the denial to us of the right to vote in the upcoming Angolan general elections, expected to take place next year, I found it appropriate to bring to your attention the attached paper about the 2003 UN Report on “Denial of Citizenship and Statelessness” from the European Policy Centre.
The first time I came across that report, I was working for an organisation in Africa where at the time I was being made acutely aware, by some whom I’d always seen and related to as ‘fellow compatriots’ or just as ‘fellow Africans’, that in their books I was not as much the “bona fide regional citizen” as I might, could, should and was generally taken for. Ask me why and I’ll see if I can bring myself up to explain… because there’s an explanation… I then circulated the report to those same people, hoping that at least it would bring them to some reflection on their words and actions. Ask me if it was to any avail and I’ll say: no.
Nothing, however, would’ve prepared me for the many different versions of that same hostile attitude I was going to meet in the blogosphere, or more precisely the “lusosphere”… As a matter of fact, it has been not just about some questioning your “bona fide” status as an Angolan citizen, it’s also about naming you a “insignificant non-entity” (stateless therefore…), an outcast “capable of acts of terrorism” and a pariah who “fled with her parents in 1975 for not being capable to withstand your country’s independence”… ask me if there’s any substantiation to these dehumanising insults, claims and accusations – specially when coming, as they do, from people who do not know you personally and whom you’ve never met or ever talked to before – and I’ll simply say: no.
Never mind that the people making them are the very ones who precisely did that (i.e. fled the country, with or without their parents in 1974/75 for, as the word had it at the time, not bearing the thought of “being ruled by blacks” and never went back…) or those who, not having exactly physically fled the country, have always been spiritually absent from it, longing for the land of their ancestors somewhere in Southern Europe, or inventing “lands of their own” by attempting to appropriate themselves, through the most outrageous cultural vulturism, of at least one of the Angolan/African ancestral cultures, while reaping all the privileges awarded to them by state patronage… Never mind if they are citizens of the very countries in Europe, like Mr. Lumengo’s Switzerland, which have political parties constantly calling for the expulsion of African immigrants.
Never mind if the only, or the best, way they find to deal with their own insecurities over their own identity, or lack thereof, is to deprive you of yours… Never mind if the only way they find to assert their “right” over your ancestors’ land, culture and memory is to deny you any claim over, belonging to or even thought about it… or, as they often do, by trying, by all means necessary, to tarnish your personal reputation, mainly by incessantly calling you “racist” for the simple reason that you dare to react against their unprovoked racial, sexual (even if only “virtual”…) attacks and just about every other abuse known to humanity, and by throwing all sorts of stones and dirt at the memory of your ancestors! Never mind if their silly idea of concealing their glaring, deeply rooted, incurable racism is to, vainly, try to transfer and input it on you...
Never mind if all this destructive nonsense happens to you when the country in question has been devastated by war and political violence since independence, is currently experiencing the highest GDP growth rates in the world and is taken by just about everybody as “under-populated” and “under-developed”, thus calling in people from all corners of the earth (apparently provided that it’s not the “likes of you”…) and stating that it’s in dire need of qualified people to assist in its development… Never mind if the very State you are denied any bond to in this appalling way - based in what is generally understood as political and ethnic reasons but are in fact attacks based in sheer ignorance, irresponsibility, incompetence, carelessness, treachery, xenophobia, irrationality, insensitivity, unscrupulousness, opportunism, hypocrisy, amorality, greed, callousness, bigotry, spite, racism and hatred - is the one to which you’ve devoted the very best of your life and talent and is the one ultimately responsible for your very state of statelessness!
This paper deals with the very root causes of “Denial of Citizenship and Statelessness”. I sincerely hope you’ll devote to it the very best of your attention.
Thanks in advance!
… OU “A FUGA, OU O INSONDAVEL MISTERIO DA NACIONALIDADE SURRIPIADA (Parte 2)”
Following the news of the election of Mr. Lumengo, originally an Angolan, to the Swiss Parliament in the political environment in which it took place, and in the context of some agitation among the Angolan Diaspora over the denial to us of the right to vote in the upcoming Angolan general elections, expected to take place next year, I found it appropriate to bring to your attention the attached paper about the 2003 UN Report on “Denial of Citizenship and Statelessness” from the European Policy Centre.
The first time I came across that report, I was working for an organisation in Africa where at the time I was being made acutely aware, by some whom I’d always seen and related to as ‘fellow compatriots’ or just as ‘fellow Africans’, that in their books I was not as much the “bona fide regional citizen” as I might, could, should and was generally taken for. Ask me why and I’ll see if I can bring myself up to explain… because there’s an explanation… I then circulated the report to those same people, hoping that at least it would bring them to some reflection on their words and actions. Ask me if it was to any avail and I’ll say: no.
Nothing, however, would’ve prepared me for the many different versions of that same hostile attitude I was going to meet in the blogosphere, or more precisely the “lusosphere”… As a matter of fact, it has been not just about some questioning your “bona fide” status as an Angolan citizen, it’s also about naming you a “insignificant non-entity” (stateless therefore…), an outcast “capable of acts of terrorism” and a pariah who “fled with her parents in 1975 for not being capable to withstand your country’s independence”… ask me if there’s any substantiation to these dehumanising insults, claims and accusations – specially when coming, as they do, from people who do not know you personally and whom you’ve never met or ever talked to before – and I’ll simply say: no.
Never mind that the people making them are the very ones who precisely did that (i.e. fled the country, with or without their parents in 1974/75 for, as the word had it at the time, not bearing the thought of “being ruled by blacks” and never went back…) or those who, not having exactly physically fled the country, have always been spiritually absent from it, longing for the land of their ancestors somewhere in Southern Europe, or inventing “lands of their own” by attempting to appropriate themselves, through the most outrageous cultural vulturism, of at least one of the Angolan/African ancestral cultures, while reaping all the privileges awarded to them by state patronage… Never mind if they are citizens of the very countries in Europe, like Mr. Lumengo’s Switzerland, which have political parties constantly calling for the expulsion of African immigrants.
Never mind if the only, or the best, way they find to deal with their own insecurities over their own identity, or lack thereof, is to deprive you of yours… Never mind if the only way they find to assert their “right” over your ancestors’ land, culture and memory is to deny you any claim over, belonging to or even thought about it… or, as they often do, by trying, by all means necessary, to tarnish your personal reputation, mainly by incessantly calling you “racist” for the simple reason that you dare to react against their unprovoked racial, sexual (even if only “virtual”…) attacks and just about every other abuse known to humanity, and by throwing all sorts of stones and dirt at the memory of your ancestors! Never mind if their silly idea of concealing their glaring, deeply rooted, incurable racism is to, vainly, try to transfer and input it on you...
Never mind if all this destructive nonsense happens to you when the country in question has been devastated by war and political violence since independence, is currently experiencing the highest GDP growth rates in the world and is taken by just about everybody as “under-populated” and “under-developed”, thus calling in people from all corners of the earth (apparently provided that it’s not the “likes of you”…) and stating that it’s in dire need of qualified people to assist in its development… Never mind if the very State you are denied any bond to in this appalling way - based in what is generally understood as political and ethnic reasons but are in fact attacks based in sheer ignorance, irresponsibility, incompetence, carelessness, treachery, xenophobia, irrationality, insensitivity, unscrupulousness, opportunism, hypocrisy, amorality, greed, callousness, bigotry, spite, racism and hatred - is the one to which you’ve devoted the very best of your life and talent and is the one ultimately responsible for your very state of statelessness!
This paper deals with the very root causes of “Denial of Citizenship and Statelessness”. I sincerely hope you’ll devote to it the very best of your attention.
Thanks in advance!
Wednesday, 24 October 2007
FIRST BLACK CITIZEN ELECTED TO SWISS PARLIAMENT IS ANGOLAN
According to TimesOnline, "the first black MP in Switzerland said yesterday he was worried about the direction of his country after an election that was won by a right-wing party with a strident anti-immigration message."
Ricardo Lumengo, who fled Angola as a student activist in 1982 and was elected to parliament in Sunday’s vote, said he feared that other political refugees would be turned away in the current climate of hostility towards foreigners. Mr Lumengo, 45, told The Times that he felt singled out personally by a controversial poster at the heart of the campaign by the Swiss People’s Party, which showed three white sheep kicking a black sheep off the Swiss flag.
The SVP consolidated its position as the biggest party in parliament in the elections, partly at the expense of Mr Lumengo’s Social Democrats, and is planning to press ahead with tougher immigration laws. It maintained that the poster was not racist but illustrated its proposed policy of ejecting foreign criminals.
“We do not like it that people abroad see us as against foreigners. I am proof that not all of Switzerland thinks like that,” said Mr Lumengo, who trained as a lawyer in Switzerland and completed the tests for his Swiss passport in 1997.
He said: “I have had a good experience in Switzerland for 25 years but the situation has changed and I feel I would have difficulties if I came now. There is a tension, a conflict now between foreigners and Swiss. Other politicians are talking irresponsibly by suggesting that foreigners are responsible for all the country’s problems. We, the Socialists, are worried that this is the wrong direction for the country.”
Mr Lumengo said he hoped that his election as an MP would be “a symbol showing many things”, including that Switzerland was not a racist country. “There are people who are building another Switzerland, a Switzerland of tolerance and a Switzerland of dialogue,” he said.
ALL THE BEST TO MR. LUMENGO IN HIS POLITICAL CAREER ARE MY WISHES!
According to TimesOnline, "the first black MP in Switzerland said yesterday he was worried about the direction of his country after an election that was won by a right-wing party with a strident anti-immigration message."
Ricardo Lumengo, who fled Angola as a student activist in 1982 and was elected to parliament in Sunday’s vote, said he feared that other political refugees would be turned away in the current climate of hostility towards foreigners. Mr Lumengo, 45, told The Times that he felt singled out personally by a controversial poster at the heart of the campaign by the Swiss People’s Party, which showed three white sheep kicking a black sheep off the Swiss flag.
The SVP consolidated its position as the biggest party in parliament in the elections, partly at the expense of Mr Lumengo’s Social Democrats, and is planning to press ahead with tougher immigration laws. It maintained that the poster was not racist but illustrated its proposed policy of ejecting foreign criminals.
“We do not like it that people abroad see us as against foreigners. I am proof that not all of Switzerland thinks like that,” said Mr Lumengo, who trained as a lawyer in Switzerland and completed the tests for his Swiss passport in 1997.
He said: “I have had a good experience in Switzerland for 25 years but the situation has changed and I feel I would have difficulties if I came now. There is a tension, a conflict now between foreigners and Swiss. Other politicians are talking irresponsibly by suggesting that foreigners are responsible for all the country’s problems. We, the Socialists, are worried that this is the wrong direction for the country.”
Mr Lumengo said he hoped that his election as an MP would be “a symbol showing many things”, including that Switzerland was not a racist country. “There are people who are building another Switzerland, a Switzerland of tolerance and a Switzerland of dialogue,” he said.
ALL THE BEST TO MR. LUMENGO IN HIS POLITICAL CAREER ARE MY WISHES!
CHICAGO!
Well, I must say it was great fun. A plot twisted around lots of treachery, murder, greed, lust, decadence, good-looking boys and that ol’ female cunning and rivalry, all wrapped-up in those great, black, slick outfits, outstanding visuals, theatrics, acting, singing, dancing, hilarious comedy and ‘all that jazz’… plus what came as a total surprise to me: Kelly Osbourne in one of the main roles (“Mama Morton”) – not as up to scratch for such an adult role, in my opinion, but didn’t do badly (Ma, Pa ‘n Bra must be proud…). A special note for the two great Black actors on stage, Clive Rowe (as Amos Hart) and Clarke Peters (as Billy Flynn), but specially for this one (not just because, being seated on the first row, we exchanged a nice smile and a eye blinking…) for what to me were some of the best performed sketches, e.g. the ‘lawyer/spokesman-cum-puppeteer’ one, which he so brilliantly played with Sarah Soetaert (as Roxy Hart). But all my praises go to Lisa Norman (as Go-To-Hell Kitty) who was just superb all throughout her multifaceted performance and kept reminding me of my dear friend S. in Oklahoma…
It was really a great night out!
Thanks T.
Well, I must say it was great fun. A plot twisted around lots of treachery, murder, greed, lust, decadence, good-looking boys and that ol’ female cunning and rivalry, all wrapped-up in those great, black, slick outfits, outstanding visuals, theatrics, acting, singing, dancing, hilarious comedy and ‘all that jazz’… plus what came as a total surprise to me: Kelly Osbourne in one of the main roles (“Mama Morton”) – not as up to scratch for such an adult role, in my opinion, but didn’t do badly (Ma, Pa ‘n Bra must be proud…). A special note for the two great Black actors on stage, Clive Rowe (as Amos Hart) and Clarke Peters (as Billy Flynn), but specially for this one (not just because, being seated on the first row, we exchanged a nice smile and a eye blinking…) for what to me were some of the best performed sketches, e.g. the ‘lawyer/spokesman-cum-puppeteer’ one, which he so brilliantly played with Sarah Soetaert (as Roxy Hart). But all my praises go to Lisa Norman (as Go-To-Hell Kitty) who was just superb all throughout her multifaceted performance and kept reminding me of my dear friend S. in Oklahoma…
It was really a great night out!
Thanks T.
Sunday, 21 October 2007
SUNDAY COVER & POETRY (I)
{Poem: How To Leave The World That Worships Should, by Ros Barber. Ros is an American-born British poet and writer. Her books are How Things Are On Thursday (2004) and Not The Usual Grasses Singing: A Journey Around The Isle of Sheppey (2005). in Life Lines 2/Poets for Oxfam/Edited by Todd Swift, 2007}
{Poem: How To Leave The World That Worships Should, by Ros Barber. Ros is an American-born British poet and writer. Her books are How Things Are On Thursday (2004) and Not The Usual Grasses Singing: A Journey Around The Isle of Sheppey (2005). in Life Lines 2/Poets for Oxfam/Edited by Todd Swift, 2007}
Saturday, 20 October 2007
LUCKY DUBE (R.I.P.)
(Read more about Lucky here)
(Lucky Dube - Prisoner)
(Read more about Lucky here)
(Lucky Dube - Prisoner)
Tuesday, 16 October 2007
AMBIENTE VS. POBREZA?
No início da cimeira mundial de Joanesburgo concluída esta semana, várias sondagens questionaram a opinião pública britânica sobre se o evento deveria ter como prioridade o ambiente ou a pobreza (ou, noutra versão, os pássaros ou o emprego). Os resultados indicaram em media 60% a favor do ambiente (pássaros) e 40% a favor da pobreza (emprego), o que poderá ser indicativo do aparente conflito de interesses entre o Norte e o Sul no que toca ao futuro da terra. Mas, de facto, a oposição da protecção do ambiente à erradicação da pobreza representa, sob várias perspectivas, uma falsa dicotomia.
O entendimento da erradicação da pobreza e da defesa do ambiente como objectivos conflituantes deve-se, em grande medida, às implicações da ortodoxia neoclássica, dominante nas últimas duas décadas, para os chamados limites do crescimento (i.e., o facto de o crescimento económico ser característicamente exponencial, enquanto o crescimento dos recursos naturais é geométrico). Segundo aquela ortodoxia, por um lado, a degradação ambiental seria uma inevitável parceira do crescimento económico e, por outro lado, os principais motores do crescimento no Sul dependeriam exclusivamente de estratégias nacionais que favorecessem a iniciativa privada, a eliminação de subsídios ao consumo de bens sociais básicos e a abertura de mercados domésticos ao investimento e competição internacionais, passando pela privatização de empresas estatais e pelo desmantelamento de quaisquer projectos de substituição de importações.
Os países que seguissem essa estratégia teriam necessáriamente que passar por episódicos aumentos dos seus níveis de pobreza, mas teriam como garantidas imprecedentes taxas de crescimento que, por via do chamado efeito de ‘trickle down’ (i.e. a disseminação de cima para baixo dos rendimentos económicos nacionais), acabariam por diminuir os níveis de pobreza e por reverter os seus colaterais custos ambientais.
Todavia, a evidência demonstrou que, enquanto a devastação ecológica causada pelos maiores poluidores e consumidores de recursos esgotáveis do Norte se manteve ou acelerou, o efeito de ‘trickle down’, se não foi exactamente uma ficção, falhou dramáticamente na maior parte dos países do Sul, ficando os poucos casos de relativo sucesso a dever-se em grande medida a factores estranhos à ortodoxia neoclássica, tais como um alto nível de activismo governamental e proteccionismo em favor de corporações e redes de influência privada nacionais, num ambiente de quase total arbitrariedade no mercado laboral (caso dos “tigres” Asiáticos) ou políticas de reforma agrária e de realocação de títulos de propriedade a par de projectos empresariais de iniciativa comunitária (caso de alguns estados da India).
Embora a abertura ao investimento e comércio internacional se tenha demonstrado, em alguns casos, benéfica para a diversificação económica e o aumento de certos rendimentos sectoriais (caso da China), alguns dos países do Sul que parecem estar a integrar-se na economia global continuam dependentes de sectores de baixo valor acrescentado e com um impacto diminuto nos seus níveis de pobreza (caso geral em África e na América Latina).
Dentre os factores contributivos para esse resultado contam-se as barreiras ao comércio (tarifárias, não tarifárias, administrativas e técnicas) que os países do Sul enfrentam nos mercados do Norte (os quais têm por prática “despejar” os seus excedentes de produção subsidiada e, frequentemente, abaixo dos seus próprios padrões de qualidade, nos mercados do Sul) e as vigentes leis internacionais de propriedade intelectual que não só aumentam os custos da transferência tecnológica mas, crucialmente, tambem impedem o acesso das populações que deles mais necessitam aos medicamentos indispensáveis ao combate das doenças mais prevalentes nos países pobres, em particular o SIDA.
Os efeitos societais negativos deste adverso cenário internacional têm sido exacerbados pela má gestão económica, as cleptocracias, a corrupção e a autocracia comuns nos países do Sul, em particular naqueles com abundantes reservas de fontes de energia, tais como o petróleo e o gás natural.
Apesar dos conflitos de interesses ainda prevalecentes entre o Norte e o Sul, espera-se que a recente ‘Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável’ tenha pelo menos facilitado a obtenção de um consenso generalizado que possibilite o equilíbrio entre consumo sustentável no Norte e crescimento sustentável no Sul, por forma a que a observação de pássaros por famílias saudáveis e com emprego estável, particularmente em África, seja possível num horizonte temporal não muito longínquo.
(Ler artigo completo AQUI)
No início da cimeira mundial de Joanesburgo concluída esta semana, várias sondagens questionaram a opinião pública britânica sobre se o evento deveria ter como prioridade o ambiente ou a pobreza (ou, noutra versão, os pássaros ou o emprego). Os resultados indicaram em media 60% a favor do ambiente (pássaros) e 40% a favor da pobreza (emprego), o que poderá ser indicativo do aparente conflito de interesses entre o Norte e o Sul no que toca ao futuro da terra. Mas, de facto, a oposição da protecção do ambiente à erradicação da pobreza representa, sob várias perspectivas, uma falsa dicotomia.
O entendimento da erradicação da pobreza e da defesa do ambiente como objectivos conflituantes deve-se, em grande medida, às implicações da ortodoxia neoclássica, dominante nas últimas duas décadas, para os chamados limites do crescimento (i.e., o facto de o crescimento económico ser característicamente exponencial, enquanto o crescimento dos recursos naturais é geométrico). Segundo aquela ortodoxia, por um lado, a degradação ambiental seria uma inevitável parceira do crescimento económico e, por outro lado, os principais motores do crescimento no Sul dependeriam exclusivamente de estratégias nacionais que favorecessem a iniciativa privada, a eliminação de subsídios ao consumo de bens sociais básicos e a abertura de mercados domésticos ao investimento e competição internacionais, passando pela privatização de empresas estatais e pelo desmantelamento de quaisquer projectos de substituição de importações.
Os países que seguissem essa estratégia teriam necessáriamente que passar por episódicos aumentos dos seus níveis de pobreza, mas teriam como garantidas imprecedentes taxas de crescimento que, por via do chamado efeito de ‘trickle down’ (i.e. a disseminação de cima para baixo dos rendimentos económicos nacionais), acabariam por diminuir os níveis de pobreza e por reverter os seus colaterais custos ambientais.
Todavia, a evidência demonstrou que, enquanto a devastação ecológica causada pelos maiores poluidores e consumidores de recursos esgotáveis do Norte se manteve ou acelerou, o efeito de ‘trickle down’, se não foi exactamente uma ficção, falhou dramáticamente na maior parte dos países do Sul, ficando os poucos casos de relativo sucesso a dever-se em grande medida a factores estranhos à ortodoxia neoclássica, tais como um alto nível de activismo governamental e proteccionismo em favor de corporações e redes de influência privada nacionais, num ambiente de quase total arbitrariedade no mercado laboral (caso dos “tigres” Asiáticos) ou políticas de reforma agrária e de realocação de títulos de propriedade a par de projectos empresariais de iniciativa comunitária (caso de alguns estados da India).
Embora a abertura ao investimento e comércio internacional se tenha demonstrado, em alguns casos, benéfica para a diversificação económica e o aumento de certos rendimentos sectoriais (caso da China), alguns dos países do Sul que parecem estar a integrar-se na economia global continuam dependentes de sectores de baixo valor acrescentado e com um impacto diminuto nos seus níveis de pobreza (caso geral em África e na América Latina).
Dentre os factores contributivos para esse resultado contam-se as barreiras ao comércio (tarifárias, não tarifárias, administrativas e técnicas) que os países do Sul enfrentam nos mercados do Norte (os quais têm por prática “despejar” os seus excedentes de produção subsidiada e, frequentemente, abaixo dos seus próprios padrões de qualidade, nos mercados do Sul) e as vigentes leis internacionais de propriedade intelectual que não só aumentam os custos da transferência tecnológica mas, crucialmente, tambem impedem o acesso das populações que deles mais necessitam aos medicamentos indispensáveis ao combate das doenças mais prevalentes nos países pobres, em particular o SIDA.
Os efeitos societais negativos deste adverso cenário internacional têm sido exacerbados pela má gestão económica, as cleptocracias, a corrupção e a autocracia comuns nos países do Sul, em particular naqueles com abundantes reservas de fontes de energia, tais como o petróleo e o gás natural.
Apesar dos conflitos de interesses ainda prevalecentes entre o Norte e o Sul, espera-se que a recente ‘Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável’ tenha pelo menos facilitado a obtenção de um consenso generalizado que possibilite o equilíbrio entre consumo sustentável no Norte e crescimento sustentável no Sul, por forma a que a observação de pássaros por famílias saudáveis e com emprego estável, particularmente em África, seja possível num horizonte temporal não muito longínquo.
(Ler artigo completo AQUI)
Monday, 15 October 2007
ANGOLA ON THE NYT
MECHANISM DESIGN
Leonid Hurwicz, Eric Maskin and Roger Myerson of the United States won the 2007 Nobel Economics Prize on Monday for their pioneering work on making markets work more efficiently.
The Nobel jury said the three took the prize for their work on Mechanism Design theory, a sub-field of economics that looks at ways to make imperfect markets -- be they of economic or social exchanges -- work better than they do.
(Well, congratulations! But, let's just say... I prefer Economics to Mechanics and sometimes Design to Economics...)
Friday, 12 October 2007
AFRIKA: THE ECONOMIC COST OF CONFLICT
That sum is said to be equivalent to international aid from major donors in the same period. If this money was not lost due to armed conflict, it could solve the problems of HIV and AIDS in Africa, or it could address Africa’s needs in education, clean water and sanitation, and prevent tuberculosis and malaria. The research estimates that Africa loses around $18bn per year due to wars, civil wars, and insurgencies, while on average, armed conflict shrinks an African nation’s economy by 15 per cent.
(Find report here).
That sum is said to be equivalent to international aid from major donors in the same period. If this money was not lost due to armed conflict, it could solve the problems of HIV and AIDS in Africa, or it could address Africa’s needs in education, clean water and sanitation, and prevent tuberculosis and malaria. The research estimates that Africa loses around $18bn per year due to wars, civil wars, and insurgencies, while on average, armed conflict shrinks an African nation’s economy by 15 per cent.
(Find report here).
Wednesday, 10 October 2007
O CIDADAO EM ANGOLA*
Pois bem, nos ultimos dias deu-me para ir reler um texto que escrevi, apresentei e publiquei em 1993, em Lisboa, e que aqui hoje ‘posto’ (infelizmente sem os acentos…).
O CIDADAO EM ANGOLA
Uma reflexao sobre a questao da cidadania em Angola obriga-nos, em primeiro lugar, a uma abordagem do proprio conceito de cidadao, o que nos remete a definicao classica, originaria da tradicao socio-politica europeia, segundo a qual “um cidadao e’ o habitante de uma cidade ou individuo que goze plenamente dos direitos civis e politicos de um Estado livre, nomeadamente do direito ao voto”.
(…) Chegamos entao a conclusao de que a “tradicao africana” como “factor impeditivo” do exercicio pleno de uma Democracia no nosso pais, nao e’ mais do que um debil subterfugio para a legitimacao do nepotismo e de todas as tentacoes totalitarias. Por outro lado, apesar de seculos de abusos contra a pessoa humana sob o regime colonial-fascista, os angolanos, enquanto cidadaos, souberam forjar uma tradicao de afirmacao e reivindicacao que confere o maximo fundamento a estruturacao da sociedade civil na Angola dos dias de hoje.
(…) Para tal contribuiram significativamente, desde o inicio deste seculo, varias associacoes de caracter civico, umas nascidas na entao metropole (como a Liga Ultramarina, a Liga Colonial, a Junta de Defesa dos Direitos de Africa e o Partido Africano, criados em Lisboa entre 1910 e 1912) e outras em Angola (como a Liga Angolana e o Gremio Africano de 1912 ou a Associacao dos Naturais de Angola – ANANGOLA – e a Liga Nacional Africana, nascidas em Luanda em 1930.
(…) O fenomeno do associativismo civico multiplica-se um pouco por todo o pais e, entre 1953 e 1957, assiste-se ao surgimento da Organizacao Cultural dos Angolanos (OCA) no Lobito, da Associacao Africana do Sul de Angola (AASA) no Huambo, do Grupo Avante no Bie’, do Grupo Ohio no Bailundo, ou da Uniao dos Naturais de Angola (UNATA) no Lubango e em Mocamedes. De sublinhar tambem o papel relevante na defesa dos direitos dos cidadaos que assumiram varias das publicacoes editadas por essas associacoes, como “A Defesa de Angola” de 1904, “A Voz de Angola” de 1908 e o “Angolense” de 1907 em Luanda, a “Folha do Sul” de 1905 em Novo Redondo, o “Boletim Anunciador de Benguela” de 1910, o “Correio de Mossamedes” de 1906, ou ainda “O Negro” de 1911 e a “Voz d’Africa” de 1912, editados em Lisboa.
(…) A imposicao da chamada “ditadura do proletariado” fez com que os cidadaos se vissem privados, durante quase duas decadas, quer do direito fundamental ao voto, quer do direito de emitirem livremente as suas opinioes, num pais onde a imprensa era, ate’ ha’ bem pouco tempo, inteiramente controlada pelo partido-estado; de professarem, sem constrangimentos, as suas confissoes religiosas; ou ainda de educarem os seus filhos de acordo com os valores eticos e morais, herdados quer da cultura tradicional angolana, quer do contacto com os europeus, que noutros tempos fizeram com que Angola pudesse ser considerada um "pais civilizado".
(…) Essa reelaboracao possibilitaria, no interior do pais, o exercicio de uma pratica politica quotidianamente democratica, que concederia aos cidadaos o controlo de todo o sistema de actividades que constituem a nossa base civilizacional e facilitaria o tao ansiado regresso a Patria de tantos de nos que pugnamos por uma organizacao social eficiente e por um relacionamento entre os individuos onde o comportamento social digno e honesto ou o respeito pela liberdade, individualidade e direito a diferenca do outro, sao valores a cumprir escrupulosamente, e temos dificuldade em adaptarmo-nos a uma ordem social onde, ao interesse do cidadao nacional se sobrepoe amiude o poder economico ou o prestigio social que, quantas vezes injustificada e injustamente, sao concedidos ao cidadao estrangeiro; onde aos direitos do individuo se sobrepoe o poder discricionario de um estado cujas instituicoes raramente funcionam sem que tambem funcionem os esquemas da corrupcao mais ou menos generalizada; onde ‘a dignidade dos grandes valores, se sobrepoe, voluntaria ou involuntariamente, a “nomenclatura” das “grandes familias”.
(…) Porque ja’ vai longa esta nossa intervencao, gostariamos, Caros concidadaos, de rogar a vossa atencao para alguns extractos de um discurso produzido, em 1754, por um dos protagonistas do nascimento do Estado moderno e um dos fundadores do conceito de cidadania, Jean-Jacques Rousseau: “Magnificos, Muito Honrados e Soberanos Senhores: (…) Se eu tivesse de escolher o lugar do meu nascimento, teria escolhido uma sociedade de uma grandeza limitada pelo alcance das faculdades humanas, ou seja, pela possibilidade de ser bem governada. (…)Teria querido viver e morrer livre, ou seja, de tal modo submetido as leis, que nem eu nem ninguem pudesse subverter o seu honroso jugo, esse jugo salutar e benigno que as cabecas mais nobres suportam com tanta mais docilidade quanto elas nao sao feitas para suportar qualquer outro.
(…) Nao poderia, minhas Senhoras e meus Senhores, deixar de fazer, antes de terminar, uma referencia particular a situacao da Mulher Angolana – essa fonte previligiada da cidadania, porque mae e educadora dos cidadaos. A mulher sera’, porventura, dentre o conjunto de cidadaos angolanos, quem mais frequente e pungentemente tem sido privada dos seus mais elementares direitos enquanto Pessoa.
(…) No discurso acima citado, Rousseau tambem nao se esqueceu das mulheres, tendo-se a elas assim dirigido: “Poderia eu esquecer essa preciosa metade da Republica que faz a felicidade da outra e cuja docura e sabedoria manteem a paz e os bons costumes? Amaveis e virtuosas cidadas, pertence-vos a vos manter sempre atraves do vosso poder amavel, o amor das leis no Estado e a concordia entre os cidadaos…”
(…) Convido-vos, pois, minhas Senhoras e meus Senhores, porque os cidadaos tambem teem deveres, a que contribuamos todos para que Angola possa ser a feliz Patria com que, tal como Rousseau ha’ mais de dois seculos atras, os nossos antepassados sempre sonharam.
*Texto de alocucao apresentada pela autora a um Encontro de Angolanos e Amigos de Angola, realizado em Lisboa em 1993. Publicado em “O Cidadao” – Revista da Associacao Portuguesa dos Direitos dos Cidadaos (Ano 1, No. 2, Segundo trimestre de 1993)
Ler texto integral aqui.
Pois bem, nos ultimos dias deu-me para ir reler um texto que escrevi, apresentei e publiquei em 1993, em Lisboa, e que aqui hoje ‘posto’ (infelizmente sem os acentos…).
O CIDADAO EM ANGOLA
Uma reflexao sobre a questao da cidadania em Angola obriga-nos, em primeiro lugar, a uma abordagem do proprio conceito de cidadao, o que nos remete a definicao classica, originaria da tradicao socio-politica europeia, segundo a qual “um cidadao e’ o habitante de uma cidade ou individuo que goze plenamente dos direitos civis e politicos de um Estado livre, nomeadamente do direito ao voto”.
(…) Chegamos entao a conclusao de que a “tradicao africana” como “factor impeditivo” do exercicio pleno de uma Democracia no nosso pais, nao e’ mais do que um debil subterfugio para a legitimacao do nepotismo e de todas as tentacoes totalitarias. Por outro lado, apesar de seculos de abusos contra a pessoa humana sob o regime colonial-fascista, os angolanos, enquanto cidadaos, souberam forjar uma tradicao de afirmacao e reivindicacao que confere o maximo fundamento a estruturacao da sociedade civil na Angola dos dias de hoje.
(…) Para tal contribuiram significativamente, desde o inicio deste seculo, varias associacoes de caracter civico, umas nascidas na entao metropole (como a Liga Ultramarina, a Liga Colonial, a Junta de Defesa dos Direitos de Africa e o Partido Africano, criados em Lisboa entre 1910 e 1912) e outras em Angola (como a Liga Angolana e o Gremio Africano de 1912 ou a Associacao dos Naturais de Angola – ANANGOLA – e a Liga Nacional Africana, nascidas em Luanda em 1930.
(…) O fenomeno do associativismo civico multiplica-se um pouco por todo o pais e, entre 1953 e 1957, assiste-se ao surgimento da Organizacao Cultural dos Angolanos (OCA) no Lobito, da Associacao Africana do Sul de Angola (AASA) no Huambo, do Grupo Avante no Bie’, do Grupo Ohio no Bailundo, ou da Uniao dos Naturais de Angola (UNATA) no Lubango e em Mocamedes. De sublinhar tambem o papel relevante na defesa dos direitos dos cidadaos que assumiram varias das publicacoes editadas por essas associacoes, como “A Defesa de Angola” de 1904, “A Voz de Angola” de 1908 e o “Angolense” de 1907 em Luanda, a “Folha do Sul” de 1905 em Novo Redondo, o “Boletim Anunciador de Benguela” de 1910, o “Correio de Mossamedes” de 1906, ou ainda “O Negro” de 1911 e a “Voz d’Africa” de 1912, editados em Lisboa.
(…) A imposicao da chamada “ditadura do proletariado” fez com que os cidadaos se vissem privados, durante quase duas decadas, quer do direito fundamental ao voto, quer do direito de emitirem livremente as suas opinioes, num pais onde a imprensa era, ate’ ha’ bem pouco tempo, inteiramente controlada pelo partido-estado; de professarem, sem constrangimentos, as suas confissoes religiosas; ou ainda de educarem os seus filhos de acordo com os valores eticos e morais, herdados quer da cultura tradicional angolana, quer do contacto com os europeus, que noutros tempos fizeram com que Angola pudesse ser considerada um "pais civilizado".
(…) Essa reelaboracao possibilitaria, no interior do pais, o exercicio de uma pratica politica quotidianamente democratica, que concederia aos cidadaos o controlo de todo o sistema de actividades que constituem a nossa base civilizacional e facilitaria o tao ansiado regresso a Patria de tantos de nos que pugnamos por uma organizacao social eficiente e por um relacionamento entre os individuos onde o comportamento social digno e honesto ou o respeito pela liberdade, individualidade e direito a diferenca do outro, sao valores a cumprir escrupulosamente, e temos dificuldade em adaptarmo-nos a uma ordem social onde, ao interesse do cidadao nacional se sobrepoe amiude o poder economico ou o prestigio social que, quantas vezes injustificada e injustamente, sao concedidos ao cidadao estrangeiro; onde aos direitos do individuo se sobrepoe o poder discricionario de um estado cujas instituicoes raramente funcionam sem que tambem funcionem os esquemas da corrupcao mais ou menos generalizada; onde ‘a dignidade dos grandes valores, se sobrepoe, voluntaria ou involuntariamente, a “nomenclatura” das “grandes familias”.
(…) Porque ja’ vai longa esta nossa intervencao, gostariamos, Caros concidadaos, de rogar a vossa atencao para alguns extractos de um discurso produzido, em 1754, por um dos protagonistas do nascimento do Estado moderno e um dos fundadores do conceito de cidadania, Jean-Jacques Rousseau: “Magnificos, Muito Honrados e Soberanos Senhores: (…) Se eu tivesse de escolher o lugar do meu nascimento, teria escolhido uma sociedade de uma grandeza limitada pelo alcance das faculdades humanas, ou seja, pela possibilidade de ser bem governada. (…)Teria querido viver e morrer livre, ou seja, de tal modo submetido as leis, que nem eu nem ninguem pudesse subverter o seu honroso jugo, esse jugo salutar e benigno que as cabecas mais nobres suportam com tanta mais docilidade quanto elas nao sao feitas para suportar qualquer outro.
(…) Nao poderia, minhas Senhoras e meus Senhores, deixar de fazer, antes de terminar, uma referencia particular a situacao da Mulher Angolana – essa fonte previligiada da cidadania, porque mae e educadora dos cidadaos. A mulher sera’, porventura, dentre o conjunto de cidadaos angolanos, quem mais frequente e pungentemente tem sido privada dos seus mais elementares direitos enquanto Pessoa.
(…) No discurso acima citado, Rousseau tambem nao se esqueceu das mulheres, tendo-se a elas assim dirigido: “Poderia eu esquecer essa preciosa metade da Republica que faz a felicidade da outra e cuja docura e sabedoria manteem a paz e os bons costumes? Amaveis e virtuosas cidadas, pertence-vos a vos manter sempre atraves do vosso poder amavel, o amor das leis no Estado e a concordia entre os cidadaos…”
(…) Convido-vos, pois, minhas Senhoras e meus Senhores, porque os cidadaos tambem teem deveres, a que contribuamos todos para que Angola possa ser a feliz Patria com que, tal como Rousseau ha’ mais de dois seculos atras, os nossos antepassados sempre sonharam.
*Texto de alocucao apresentada pela autora a um Encontro de Angolanos e Amigos de Angola, realizado em Lisboa em 1993. Publicado em “O Cidadao” – Revista da Associacao Portuguesa dos Direitos dos Cidadaos (Ano 1, No. 2, Segundo trimestre de 1993)
Ler texto integral aqui.
Sunday, 7 October 2007
OUTBLOGGING @ AFRICANPATH (VI)
ANGOLA: “A SENTENCE WITHOUT TRIAL” OR THE PAINFUL REVERSAL OF A NATION-BUILDING PROCESS
(Read article here)
Saturday, 6 October 2007
QUERIES...
In relation to this, I have decided to take the editorial liberty to post here one of the queries I received by e-mail this week, hoping that its author won't mind. For one reason: the reply can be of interest not just to the person who sent it, to whom I hereby thank for visit and query.
“Olá,
I just visited your website. Can you tell me about the incredible artist playing as your site comes alive? I need to buy that music.
Obrigado,”
The incredible artist, and I totally agree with you on this, is Busi Mhlongo (please click on the picture to access her profile). She is part of what, as far as I am concerned, is the most exciting jazz scene in the world today: the South African.
Here’s a bit of her bio that might interest Portuguese-speaking visitors:
Her own story began in Inanda, in the mountains of Kwazulu Natal. Born into a musical family, she was given a small drum and two sticks and encouraged to sing at weddings, in church choirs and at school. She left school to pursue a musical career in Jo’burg and became a member of African Jazz. She then found herself living in Portugal via Mozambique and Angola with the group Conjunto Juan Paulo. She watched audiences applaud songs sung in Angolan languages as well as Portuguese and was invited to sing her own songs. “In South Africa we had to sing in English to get jobs. I began to realise that music truly has no border, no language”.
Enjoy!
In relation to this, I have decided to take the editorial liberty to post here one of the queries I received by e-mail this week, hoping that its author won't mind. For one reason: the reply can be of interest not just to the person who sent it, to whom I hereby thank for visit and query.
“Olá,
I just visited your website. Can you tell me about the incredible artist playing as your site comes alive? I need to buy that music.
Obrigado,”
The incredible artist, and I totally agree with you on this, is Busi Mhlongo (please click on the picture to access her profile). She is part of what, as far as I am concerned, is the most exciting jazz scene in the world today: the South African.
Here’s a bit of her bio that might interest Portuguese-speaking visitors:
Her own story began in Inanda, in the mountains of Kwazulu Natal. Born into a musical family, she was given a small drum and two sticks and encouraged to sing at weddings, in church choirs and at school. She left school to pursue a musical career in Jo’burg and became a member of African Jazz. She then found herself living in Portugal via Mozambique and Angola with the group Conjunto Juan Paulo. She watched audiences applaud songs sung in Angolan languages as well as Portuguese and was invited to sing her own songs. “In South Africa we had to sing in English to get jobs. I began to realise that music truly has no border, no language”.
Enjoy!
Friday, 5 October 2007
O MEU LICEU...
D. Guiomar de Lencastre…
Produziu tanto Meninas Guiomares de Lencastres, protegidas na Sala das Professoras… Como Mulheres desprotegidas na Cerca, que o fizeram Nzinga Mbandi... .
… E talvez por isso as clarividentes alunas, que sempre tinham visto o meu nome no Quadro de Honra desde 1972, me elegeram a dada altura sua representante no Conselho Directivo…
Tais como, em vez de admitirem que chumbaram, apesar de todas as proteccoes e favoritismos das professoritas, ou talvez por isso mesmo, dizerem que “foram atrasadas um ano, para nivelar as coisas”…e que "nao se lembram de mais nada"… como convem as boas aprendizas de fiticera! Nivelar, they say! At what level?! Ainda nao viram que ate’ hoje continuam a tentar nivelar as coisas e continuam a desconseguir?!
A ele voltarei sempre como aluna… de Nzinga Mbandi!
Sobre ele, e sobre a PRO e sobre o SEDME (onde o representava), um dia escreverei de verdade … O MEU LICEU!
D. Guiomar de Lencastre…
Produziu tanto Meninas Guiomares de Lencastres, protegidas na Sala das Professoras… Como Mulheres desprotegidas na Cerca, que o fizeram Nzinga Mbandi... .
… E talvez por isso as clarividentes alunas, que sempre tinham visto o meu nome no Quadro de Honra desde 1972, me elegeram a dada altura sua representante no Conselho Directivo…
Tais como, em vez de admitirem que chumbaram, apesar de todas as proteccoes e favoritismos das professoritas, ou talvez por isso mesmo, dizerem que “foram atrasadas um ano, para nivelar as coisas”…e que "nao se lembram de mais nada"… como convem as boas aprendizas de fiticera! Nivelar, they say! At what level?! Ainda nao viram que ate’ hoje continuam a tentar nivelar as coisas e continuam a desconseguir?!
A ele voltarei sempre como aluna… de Nzinga Mbandi!
Sobre ele, e sobre a PRO e sobre o SEDME (onde o representava), um dia escreverei de verdade … O MEU LICEU!
Thursday, 4 October 2007
SOBRE O 27 DE MAIO: V. JOSE' CARRASQUINHA, "O COMISSARIO DO RISO”
Entrevista de Carlos Miranda e Jose’ Lousada (Fotos)
(click na imagem para uma 'versao alargada' do texto)
F&N – Quando e’ que comecou a trabalhar e onde estudou?
J.C. – Como grande referencia em termos academicos, lembro-lhe o S. Domingos, mas andei tambem na Escola Comercial. Alias, foi a partir desta escola que eu fui para o Jornal Noticias (em 1973/74), onde tive como professor o Moutinho Pereira. Creio que ele esta’ em Portugal num movimento religioso. Mas nao e’ desses vigaristas, pois tenho-o como um elemento bom, nao so’ pelo facto de me ter ensinado. Dali fui para o jornal “O Comercio” em que fiquei uns meses por la’. Uma vez fui fazer um trabalho nas Obras Publicas e topei o Francisco Simons. Presumo que ele tenha gostado da minha actuacao durante a entrevista e como naquela ocasiao eles estavam a precisar de pretos para colorirem a Emissora Oficial de Angola e porque os outros que la’ funcionavam ja’ estavam desacreditados, entao o Simons convidou-me. Fui e fiquei ate’ que a DISA prendeu-me em 1977 e… ponto final.
F&N – Porque que lhe prenderam?
J.C. – Eles prenderam-me na sequencia dos acontecimentos do 27 de Maio. Eu creio que o senhor jornalista sabe que aquilo era prender de acordo com os rumores. Um agentezinho se ouvia… era so’ prender. Olhe, inclusive houve um individuo que foi preso so’ porque estava a rir. E como na altura alguem se lembrou de dizer que nao haveria perdao, entao esta-se a ver que aquilo era tipico de quem era humanista…
F&N – Sente-se ainda injusticado pela forma como foi preso na altura? Ate’ porque havia um programa – o “Kudibanguela” – que estaria supostamente ligado ao movimento fraccionista…
J.C. – O “Kudibanguela” nao tem nada a ver. Eu nao era do “Kudibanguela”!! Isto e’ para acalmar aqueles que nao sabem disso, mas, independentemente de ter ou nao ter nada a ver, a questao que se coloca aqui e’ a seguinte: voce perguntou se me sentia ainda injusticado. Ora, qualquer individuo ha-de sentir-se injusticado quando, pura e simplesmente, vai preso sem culpa formada e, depois, mandam-no embora sem guia de soltura!! Ate’ agora, posso ser considerado como um preso. Eu tenho que dizer isso porque nao tenho guia de soltura depois de ter estado preso durante quase dois anos.
(…)
F&N – Naquela conjuntura politica, teria alguma filiacao politico-partidaria?
J.C. – Alguns do meu estilo tinham uma coisa: eramos aquilo que se podia chamar de operacionais. Eu hoje dou-me ao luxo de dizer que faco parte daquele numero de individuos que ajudou o MPLA a ficar no poder…
F&N – Mesmo nao sendo parte integrante do MPLA? Nunca teve nenhuma filiacao partidaria?
J.C. – E’ verdade que eramos todos pros. Recordo-me que quando fomos la’ “desmontar” o Geronimo Wanga e certos comunicados da FNLA demonstravamos a tal simpatia que quer referir. Na radio, o MPLA tinha mais simpatizantes naquela altura. Alias, os pensantes naquela altura eram quase todos do MPLA. Eu nao estou aqui armado agora em intelectual revolucionario. Isso nao e’ segredo para ninguem, a influencia da radio era muito grande e acho que ninguem deve chorar por isso. A UNITA e a FNLA perderam porque justamente nao tinham esta mais-valia. A balanca estava muito desiquilibrada em termos de informacao. Entao, lembro-me que um gajo estava a vir e perguntava-te logo se falavas Lingala!! Esse tipo, a partida, ja’ estava a perder 1-0 (risos). Houve dessas coisas. Depois trouxeram os mercenarios. Olhe, o que me da’ graca e’ o seguinte: acusaram o MPLA de tambem trazer mercenarios, que foram os cubanos, mas voce viu um monte de cubanos pretos. Ninguem sabia quem era quem (risos). O Callan, O Mackenzie, o Grillo de que cor eram? Isso pesava. O MPLA e’ que jogou bem na parte que lhe tocou. Os outros perderam, paciencia…
F&N – Voce tambem perdeu? Noto que nesta parte esta’ a dar sinais de querer chorar…
J.C. – Nao, um dirigente de base a nivel nacional chora? (risos).
F&N – Volto a uma das questoes iniciais e que merece um esclarecimento definitivo, e nao e’ so’ por curiosidade que insisto. Teve ou nao teve nada a ver com o movimento “27 de Maio”?
J.C. – Houve uma refrega de horas entre quem e quem? Entre a gente do MPLA. Uns desse lado outros daquele. E porque? E’ justamente ai onde esta’ a questao. E’ bom que as pessoas saibam. A independencia foi em 1975. A ala do Dr Agostinho Neto estava a consolidar o poder, e para consolidar o poder ha’ muitas maneiras. Aquela foi uma delas…
(…)
F&N – O passado e’ o passado, mas preserva sempre alguma coisa para que tiremos varias licoes de vida. Em si, ha’ razoes suficientes para perdoar os seus detractores?
J.C. – Nao, e explico-lhe porque. Se um individuo perdoa e nao esquece, nao vale a pena estar aqui com “coros”. Depois eu vou perdoar a quem se ainda nao me deram a minha guia de soltura? A grande divergencia nesse momento e’ que o “Partido do Trabalho” nao paga o meu dinheiro. Eu agora quando falo do MPLA ja’ nao digo MPLA, digo so’ “Work Party”.
F&N - Se tivesse que pedir contas, faria directamente a quem?
J.C. - Todos os erros que o Work Party comete reflectem-se na imagem do lider. Eu, inclusive, ja' mandei uma carta ao Presidente a dizer: paguem so' a minha financa e mais nada!
F&N - O que e' que pediu na carta concretamente?
J.C. - Estou a pedir o dinheiro que me devem. Eu nao quero ser nunca outro aprendiz de gatuno como existem muitos gajos que andam por ai. Qual reforma? Se eu for para os Trapalhoes, estou reformado ou e' para ir ficar grosso? Eu explico-me melhor: O que eu quero e' o meu dinheiro correspondente aos meus salarios que nao me foram pagos durante o tempo em que estive preso e depois de ter estado na cadeia. Eu neste momento estou em liberdade condicional, porque nao tenho guia de soltura.
(…)
F&N – Voce sabe que existem varias pessoas que estiveram em semelhantes condicoes e que exercem agora importantes cargos publicos, inclusive no Governo? Como e’ que ve isso?
J.C. – Eu tenho amigos que estiveram presos comigo e que estao no Governo. E eu quando tenho que falar mal deles tem sido cara-a-cara. Eu acho que cada um entorta a sua vida como e quando quiser. E’ esta a minha filosofia…
(…)
F&N – Quer comentar a gestao governativa do seu bairro, em primeiro lugar, e depois do proprio pais nos tempos que correm?
J.C. – Em relacao ao municipio do Sambizanga, so’ tenho a dizer que enquanto o Reis (administrador municipal) nao tiver dinheiro, nao conseguira’ fazer as coisas. Aqui, o administrador nao tem autonomia financeira, e isso desiquilibra. E ele tem muita vontade de fazer e bem as coisas. E nao e’ por ter nascido aqui neste bairro. Voce pensa que eu nao posso governar o Kuando Kubango. Vou la’ e a vontade, porque o importante e’ saber o que se vai fazer e com que meios. Agora se voce vai la’ so’ para roubar, as coisas nao funcionam.
A nivel mais alto, eu acho que fizeram bem pedir emprestado o dinheiro dos chineses, mas eu penso que ha’ uma questao que desconfio que nao discutiram devidamente. Nao gosto nada desta historia de assinarem contratos com chineses que venham para aqui cavar buracos, quando nos temos um monte de “bacangus” aqui sem emprego. Este e’ um dos aspectos. Agora, ha’ outros aspectos que dizem respeito a distribuicao das riquezas. O governo nao pode dar mais essa empreitada de fornecer alimentos aos chineses ao Antonio que ja’ tem uma base que fornece a empresas x e y. E sempre ao Antonio. Nao pode.
(…)
F&N – O que e’ que acha da actuacao de Jose’ Eduardo dos Santos, que, curiosamente, nasceu no municipio do Sambizanga?
J.C. – E’ o Presidente do pais. Uma vez estava a falar mal dele por causa da sua guarda. Ha’ ai alguem no sistema de seguranca do nosso Presidente que por vezes tambem abusa da santa paciencia. Eu tenho a certeza que se o Man Ze’ lhe apetecer vir a Lusaka (Sambizanga) pode vir ele proprio a conduzir, ele e a sua oira. Ele vem e ninguem lhe toca. Voces que gostam de escrever bonito, as vezes dizem que e’ excesso de zelo. Nao e’ nada disso, e’ excesso de graxa. Voce parece que nem pode se mexer e o kota ainda esta’ la’ na EDEL. Ainda nao chegou aqui no Sarrabulho Corporation e ja’ estas aqui de sentido. Aqui, o Man Ze’ pode vir a vontade. Se quiser dormir numa das casas aqui ao lado, que nao tem ar condicionado, pode vir e ninguem vai lhe ligar. A unica guerra que ele vai ter aqui e’ so’ com os mosquitos. Se existe alguma coisa que pode lhe deixar um pouco embaracado e’ a camisa e sabe porque? Dantes, quando iamos assistir aos jogos de futebol, aos nossos idolos a gente ia atras deles para puxar a camisola. Ora, e’ o que vai acontecer com ele. Quando vier aqui, quem vai lhe puxar a camisola nao sou eu, o Zusi Diangana ou outro gajo adulto, sao os miudos.
F&N – Do microfone para a culinaria tambem e’ necessario muita lata, boas maos e gostos…
J.C. – Um individuo desmoralizado e’ um homem morto. E’ por isso que os brancos estao a nos ganhar 1-0. Eles fazem os planos a longo prazo. Eu tambem procuro seguir essa tendencia. Perante o quadro geral de hostilidades que existia, em 1979, quando sai da cadeia, era necessario direccionar-me e escolher o meu caminho. Nao era so’ por mim, era tambem pelos miudos. Eu tive que me adaptar e o negocio que estava na moda eram os bares. Da’ para dizer que ganhei na lotaria este bar, porque um “lacerda” disse que o pais “estava esdruxulo” e que iria fugir; comprei o bar dele a preco de banana.
Quando o bar ja’ nao der, vou mudar. O camaleao e’ um gajo que se da’ bem comigo (risos).
Entrevista de Carlos Miranda e Jose’ Lousada (Fotos)
(click na imagem para uma 'versao alargada' do texto)
F&N – Quando e’ que comecou a trabalhar e onde estudou?
J.C. – Como grande referencia em termos academicos, lembro-lhe o S. Domingos, mas andei tambem na Escola Comercial. Alias, foi a partir desta escola que eu fui para o Jornal Noticias (em 1973/74), onde tive como professor o Moutinho Pereira. Creio que ele esta’ em Portugal num movimento religioso. Mas nao e’ desses vigaristas, pois tenho-o como um elemento bom, nao so’ pelo facto de me ter ensinado. Dali fui para o jornal “O Comercio” em que fiquei uns meses por la’. Uma vez fui fazer um trabalho nas Obras Publicas e topei o Francisco Simons. Presumo que ele tenha gostado da minha actuacao durante a entrevista e como naquela ocasiao eles estavam a precisar de pretos para colorirem a Emissora Oficial de Angola e porque os outros que la’ funcionavam ja’ estavam desacreditados, entao o Simons convidou-me. Fui e fiquei ate’ que a DISA prendeu-me em 1977 e… ponto final.
F&N – Porque que lhe prenderam?
J.C. – Eles prenderam-me na sequencia dos acontecimentos do 27 de Maio. Eu creio que o senhor jornalista sabe que aquilo era prender de acordo com os rumores. Um agentezinho se ouvia… era so’ prender. Olhe, inclusive houve um individuo que foi preso so’ porque estava a rir. E como na altura alguem se lembrou de dizer que nao haveria perdao, entao esta-se a ver que aquilo era tipico de quem era humanista…
F&N – Sente-se ainda injusticado pela forma como foi preso na altura? Ate’ porque havia um programa – o “Kudibanguela” – que estaria supostamente ligado ao movimento fraccionista…
J.C. – O “Kudibanguela” nao tem nada a ver. Eu nao era do “Kudibanguela”!! Isto e’ para acalmar aqueles que nao sabem disso, mas, independentemente de ter ou nao ter nada a ver, a questao que se coloca aqui e’ a seguinte: voce perguntou se me sentia ainda injusticado. Ora, qualquer individuo ha-de sentir-se injusticado quando, pura e simplesmente, vai preso sem culpa formada e, depois, mandam-no embora sem guia de soltura!! Ate’ agora, posso ser considerado como um preso. Eu tenho que dizer isso porque nao tenho guia de soltura depois de ter estado preso durante quase dois anos.
(…)
F&N – Naquela conjuntura politica, teria alguma filiacao politico-partidaria?
J.C. – Alguns do meu estilo tinham uma coisa: eramos aquilo que se podia chamar de operacionais. Eu hoje dou-me ao luxo de dizer que faco parte daquele numero de individuos que ajudou o MPLA a ficar no poder…
F&N – Mesmo nao sendo parte integrante do MPLA? Nunca teve nenhuma filiacao partidaria?
J.C. – E’ verdade que eramos todos pros. Recordo-me que quando fomos la’ “desmontar” o Geronimo Wanga e certos comunicados da FNLA demonstravamos a tal simpatia que quer referir. Na radio, o MPLA tinha mais simpatizantes naquela altura. Alias, os pensantes naquela altura eram quase todos do MPLA. Eu nao estou aqui armado agora em intelectual revolucionario. Isso nao e’ segredo para ninguem, a influencia da radio era muito grande e acho que ninguem deve chorar por isso. A UNITA e a FNLA perderam porque justamente nao tinham esta mais-valia. A balanca estava muito desiquilibrada em termos de informacao. Entao, lembro-me que um gajo estava a vir e perguntava-te logo se falavas Lingala!! Esse tipo, a partida, ja’ estava a perder 1-0 (risos). Houve dessas coisas. Depois trouxeram os mercenarios. Olhe, o que me da’ graca e’ o seguinte: acusaram o MPLA de tambem trazer mercenarios, que foram os cubanos, mas voce viu um monte de cubanos pretos. Ninguem sabia quem era quem (risos). O Callan, O Mackenzie, o Grillo de que cor eram? Isso pesava. O MPLA e’ que jogou bem na parte que lhe tocou. Os outros perderam, paciencia…
F&N – Voce tambem perdeu? Noto que nesta parte esta’ a dar sinais de querer chorar…
J.C. – Nao, um dirigente de base a nivel nacional chora? (risos).
F&N – Volto a uma das questoes iniciais e que merece um esclarecimento definitivo, e nao e’ so’ por curiosidade que insisto. Teve ou nao teve nada a ver com o movimento “27 de Maio”?
J.C. – Houve uma refrega de horas entre quem e quem? Entre a gente do MPLA. Uns desse lado outros daquele. E porque? E’ justamente ai onde esta’ a questao. E’ bom que as pessoas saibam. A independencia foi em 1975. A ala do Dr Agostinho Neto estava a consolidar o poder, e para consolidar o poder ha’ muitas maneiras. Aquela foi uma delas…
(…)
F&N – O passado e’ o passado, mas preserva sempre alguma coisa para que tiremos varias licoes de vida. Em si, ha’ razoes suficientes para perdoar os seus detractores?
J.C. – Nao, e explico-lhe porque. Se um individuo perdoa e nao esquece, nao vale a pena estar aqui com “coros”. Depois eu vou perdoar a quem se ainda nao me deram a minha guia de soltura? A grande divergencia nesse momento e’ que o “Partido do Trabalho” nao paga o meu dinheiro. Eu agora quando falo do MPLA ja’ nao digo MPLA, digo so’ “Work Party”.
F&N - Se tivesse que pedir contas, faria directamente a quem?
J.C. - Todos os erros que o Work Party comete reflectem-se na imagem do lider. Eu, inclusive, ja' mandei uma carta ao Presidente a dizer: paguem so' a minha financa e mais nada!
F&N - O que e' que pediu na carta concretamente?
J.C. - Estou a pedir o dinheiro que me devem. Eu nao quero ser nunca outro aprendiz de gatuno como existem muitos gajos que andam por ai. Qual reforma? Se eu for para os Trapalhoes, estou reformado ou e' para ir ficar grosso? Eu explico-me melhor: O que eu quero e' o meu dinheiro correspondente aos meus salarios que nao me foram pagos durante o tempo em que estive preso e depois de ter estado na cadeia. Eu neste momento estou em liberdade condicional, porque nao tenho guia de soltura.
(…)
F&N – Voce sabe que existem varias pessoas que estiveram em semelhantes condicoes e que exercem agora importantes cargos publicos, inclusive no Governo? Como e’ que ve isso?
J.C. – Eu tenho amigos que estiveram presos comigo e que estao no Governo. E eu quando tenho que falar mal deles tem sido cara-a-cara. Eu acho que cada um entorta a sua vida como e quando quiser. E’ esta a minha filosofia…
(…)
F&N – Quer comentar a gestao governativa do seu bairro, em primeiro lugar, e depois do proprio pais nos tempos que correm?
J.C. – Em relacao ao municipio do Sambizanga, so’ tenho a dizer que enquanto o Reis (administrador municipal) nao tiver dinheiro, nao conseguira’ fazer as coisas. Aqui, o administrador nao tem autonomia financeira, e isso desiquilibra. E ele tem muita vontade de fazer e bem as coisas. E nao e’ por ter nascido aqui neste bairro. Voce pensa que eu nao posso governar o Kuando Kubango. Vou la’ e a vontade, porque o importante e’ saber o que se vai fazer e com que meios. Agora se voce vai la’ so’ para roubar, as coisas nao funcionam.
A nivel mais alto, eu acho que fizeram bem pedir emprestado o dinheiro dos chineses, mas eu penso que ha’ uma questao que desconfio que nao discutiram devidamente. Nao gosto nada desta historia de assinarem contratos com chineses que venham para aqui cavar buracos, quando nos temos um monte de “bacangus” aqui sem emprego. Este e’ um dos aspectos. Agora, ha’ outros aspectos que dizem respeito a distribuicao das riquezas. O governo nao pode dar mais essa empreitada de fornecer alimentos aos chineses ao Antonio que ja’ tem uma base que fornece a empresas x e y. E sempre ao Antonio. Nao pode.
(…)
F&N – O que e’ que acha da actuacao de Jose’ Eduardo dos Santos, que, curiosamente, nasceu no municipio do Sambizanga?
J.C. – E’ o Presidente do pais. Uma vez estava a falar mal dele por causa da sua guarda. Ha’ ai alguem no sistema de seguranca do nosso Presidente que por vezes tambem abusa da santa paciencia. Eu tenho a certeza que se o Man Ze’ lhe apetecer vir a Lusaka (Sambizanga) pode vir ele proprio a conduzir, ele e a sua oira. Ele vem e ninguem lhe toca. Voces que gostam de escrever bonito, as vezes dizem que e’ excesso de zelo. Nao e’ nada disso, e’ excesso de graxa. Voce parece que nem pode se mexer e o kota ainda esta’ la’ na EDEL. Ainda nao chegou aqui no Sarrabulho Corporation e ja’ estas aqui de sentido. Aqui, o Man Ze’ pode vir a vontade. Se quiser dormir numa das casas aqui ao lado, que nao tem ar condicionado, pode vir e ninguem vai lhe ligar. A unica guerra que ele vai ter aqui e’ so’ com os mosquitos. Se existe alguma coisa que pode lhe deixar um pouco embaracado e’ a camisa e sabe porque? Dantes, quando iamos assistir aos jogos de futebol, aos nossos idolos a gente ia atras deles para puxar a camisola. Ora, e’ o que vai acontecer com ele. Quando vier aqui, quem vai lhe puxar a camisola nao sou eu, o Zusi Diangana ou outro gajo adulto, sao os miudos.
F&N – Do microfone para a culinaria tambem e’ necessario muita lata, boas maos e gostos…
J.C. – Um individuo desmoralizado e’ um homem morto. E’ por isso que os brancos estao a nos ganhar 1-0. Eles fazem os planos a longo prazo. Eu tambem procuro seguir essa tendencia. Perante o quadro geral de hostilidades que existia, em 1979, quando sai da cadeia, era necessario direccionar-me e escolher o meu caminho. Nao era so’ por mim, era tambem pelos miudos. Eu tive que me adaptar e o negocio que estava na moda eram os bares. Da’ para dizer que ganhei na lotaria este bar, porque um “lacerda” disse que o pais “estava esdruxulo” e que iria fugir; comprei o bar dele a preco de banana.
Quando o bar ja’ nao der, vou mudar. O camaleao e’ um gajo que se da’ bem comigo (risos).
Wednesday, 3 October 2007
REPRESENTATIONS...
Date: Sun, 9 Sep 2007 09:47:37 +0100
Subject: ATTACK on the Black Woman
(…) wrote:
> >
> >This past week has been one filled with many arrogant insults to Black women:
>
> >* Angelina Jolie playing a Black woman in the movie, "A Mighty Heart" and no one
> >in the major media is discussing this complete disregard that Black women can be
> >extraordinary and motivated by love just like any other woman can. A black woman
> >can't be the object of a White man's desire, but according to the media, only a White
> >woman can be the object of all men's desires. RACIST!
> >
> >* The Obama Crush video is still being promoted nationwide. This young White woman
> >is calling out the herd of White women to charge Barack-ster to get him to be with
> >one of them. I guess the popular mindset is supposed to be that a Black woman just
> >cannot be what a good, smart, talented, millionaire man wants; he's got to want a
> >sexy White thing just like any other Black man with resources. The woman in the video
> >is a paid actress that probably isn't even a real Obama supporter and didn't even sing the horrible song.
> >
> >WE MUST BOYCOTT ALL THESE ENTITIES, ESPECIALLY THE ANGELINA JOLIE MOVIE. I GUESS SHE THOUGHT IT WOULD BE A COMPLIMENT TO THE BLACK
> RACE FOR HER PLAY A BLACK WOMAN. I DON'T THINK BLACK PEOPLE TELL WHITE PEOPLE HOW MUCH THEIR THOUGHTS AND ACTIONS OF BLACK INFERIORITY REALLY OFFENDS US.
> >
> >THE MOST IMPORTANT VOTE IS THE ONE WE MAKE WITH OUR DOLLARS AND AFTER THE LAST TWO PRESIDENTIAL ELECTIONS, I'M SURE THE VOTE WITH THE
> DOLLAR IS THE ONLY ONE THEY ALWAYS COUNT, NO MATTER IF THE PERSON GIVING THE DOLLARS IS WHITE, BLACK, BROWN, YELLOW OR POCKADOT.
> >
> >WE CAN MAKE A DIFFERENCE!
> >LASTLY, KNOW THAT BLACK WOMEN ARE 20 MILLION STRONG AND WE SIMPLY AIN'T TAKING THE DISRESPECT ANYMORE. WE DON'T HAVE TO BECAUSE WE ARE
> HUGE CONSUMERS AND IF WE TIGHTEN UP OUR POCKETBOOKS, THAT MEANS SEVERE DECLINES FOR THEIR REVENUES.
> >
> >POWER BACK TO THE PEOPLE!
> >
> >KNOW THAT TOGETHER WE WILL CHANGE THE WORLD!
> >
> >PASS THIS ALL OVER THE INTERNET BY TELLING A FRIEND AND TELL THEM TO JOIN THE BLACK WOMAN'S MOVEMENT AT: www.BlackWomenNeedLoveToo.com
> >
> >
Date: Sun, 9 Sep 2007 09:47:37 +0100
Subject: ATTACK on the Black Woman
(…) wrote:
> >
> >This past week has been one filled with many arrogant insults to Black women:
>
> >* Angelina Jolie playing a Black woman in the movie, "A Mighty Heart" and no one
> >in the major media is discussing this complete disregard that Black women can be
> >extraordinary and motivated by love just like any other woman can. A black woman
> >can't be the object of a White man's desire, but according to the media, only a White
> >woman can be the object of all men's desires. RACIST!
> >
> >* The Obama Crush video is still being promoted nationwide. This young White woman
> >is calling out the herd of White women to charge Barack-ster to get him to be with
> >one of them. I guess the popular mindset is supposed to be that a Black woman just
> >cannot be what a good, smart, talented, millionaire man wants; he's got to want a
> >sexy White thing just like any other Black man with resources. The woman in the video
> >is a paid actress that probably isn't even a real Obama supporter and didn't even sing the horrible song.
> >
> >WE MUST BOYCOTT ALL THESE ENTITIES, ESPECIALLY THE ANGELINA JOLIE MOVIE. I GUESS SHE THOUGHT IT WOULD BE A COMPLIMENT TO THE BLACK
> RACE FOR HER PLAY A BLACK WOMAN. I DON'T THINK BLACK PEOPLE TELL WHITE PEOPLE HOW MUCH THEIR THOUGHTS AND ACTIONS OF BLACK INFERIORITY REALLY OFFENDS US.
> >
> >THE MOST IMPORTANT VOTE IS THE ONE WE MAKE WITH OUR DOLLARS AND AFTER THE LAST TWO PRESIDENTIAL ELECTIONS, I'M SURE THE VOTE WITH THE
> DOLLAR IS THE ONLY ONE THEY ALWAYS COUNT, NO MATTER IF THE PERSON GIVING THE DOLLARS IS WHITE, BLACK, BROWN, YELLOW OR POCKADOT.
> >
> >WE CAN MAKE A DIFFERENCE!
> >LASTLY, KNOW THAT BLACK WOMEN ARE 20 MILLION STRONG AND WE SIMPLY AIN'T TAKING THE DISRESPECT ANYMORE. WE DON'T HAVE TO BECAUSE WE ARE
> HUGE CONSUMERS AND IF WE TIGHTEN UP OUR POCKETBOOKS, THAT MEANS SEVERE DECLINES FOR THEIR REVENUES.
> >
> >POWER BACK TO THE PEOPLE!
> >
> >KNOW THAT TOGETHER WE WILL CHANGE THE WORLD!
> >
> >PASS THIS ALL OVER THE INTERNET BY TELLING A FRIEND AND TELL THEM TO JOIN THE BLACK WOMAN'S MOVEMENT AT: www.BlackWomenNeedLoveToo.com
> >
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Monday, 1 October 2007
SOBRE O "27 DE MAIO": IV. A "COMISSAO DAS LAGRIMAS"
POETS FOR OXFAM
Life Lines 2 - POETS FOR OXFAM - Edited by Todd Swift
On this audio CD 56 of the English-speaking world's most acclaimed poets each perform a piece selected from their own repertoire. They have donated their time free, and have waived all of their publishing and performance rights for this recording. All profits from the sale of this unique CD go towards Oxfam's work, in more than 60 countries. (Published 2007)
Life Lines 2 - POETS FOR OXFAM - Edited by Todd Swift
On this audio CD 56 of the English-speaking world's most acclaimed poets each perform a piece selected from their own repertoire. They have donated their time free, and have waived all of their publishing and performance rights for this recording. All profits from the sale of this unique CD go towards Oxfam's work, in more than 60 countries. (Published 2007)