Wednesday, 31 December 2008

NCWALA: UM ANO NOVO AFRICANO





Acho a Swazilandia um dos paises mais bonitos, simpaticos e acolhedores da Africa Austral. Dizendo isto, tenho obviamente em mente que, sobretudo em termos politicos, nem todos os Swazis, em particular os grupos contestarios do poder real, assim o veem. Mas, pretendo aqui falar de um dos aspectos mais fascinantes da cultura daquele pais, deixando de parte a politica: a manutencao das suas praticas e rituais tradicionais.

Quando la’ estive, aqui ha’ uns anos, tive a honra de ser presenteada com representacoes de alguns dos mais importantes desses rituais, sempre incluindo dancas, feitas por grupos culturais tradicionais patrocinados pelo governo, que o fazem regularmente para assistencias compostas principalmente por visitantes estrangeiros e alunos das escolas primarias nacionais. Entre esses rituais e dancas nao constava, por razoes que a seguir se tornarao obvias, o Ncwala (tambem escrito Incwala) – o mais importante cerimonial tradicional nacional, seguido do Umhlanga ou Reed Dance, tambem conhecido como “Danca ou Cerimonial das Virgens”, que se realiza todos os anos em Agosto/Setembro.



O Ncwala sagrado, ou “Cerimonia dos Primeiros Frutos”, que esta’ neste momento a decorrer naquele pais, tem lugar em finais de Dezembro/principio de Janeiro de cada ano e destina-se a renovar a forca do Rei e da Nacao Swazi para o ano seguinte. Tendo visto aqui o significado e os rituais do Kwanzaa, e’-nos possivel estabelecer paralelos significativos entre este e o Ncwala, nomeadamente no que diz respeito ao periodo do ano em que tem lugar, a sua duracao, o lugar central dos “primeiros frutos”, a atribuicao de significados especificos a cada um dos dias que os compoem, o regresso simbolico as terras ancestrais e a agua (do mar e dos rios) – esta a um nivel menos obvio, ou directo, porquanto a ligacao entre o cerimonial do Kwanzaa e o rio Kwanza e’ aqui, salvo melhor informacao, apenas especulativa.



Nao e’ feito qualquer anuncio da data oficial do dia principal do Ncwala. E’ o quarto dia depois da lua cheia mais proxima do dia mais longo, 21 de Dezembro. O Ncwala significa “cerimonia dos primeiros frutos”, mas a prova da nova colheita pelo Rei e’ apenas um aspecto entre muitos neste longo cerimonial, tambem chamado “Cerimonia do Reinado”: quando nao ha’ Rei, nao ha’ Ncwala. Constitui alta traicao a realizacao do Ncwala por qualquer outra pessoa. Todos os Swazis podem participar nos actos publicos do Ncwala, especialmente no seu climax, o quarto dia do Grande Ncwala. As figuras centrais sao o Rei, a Rainha Mae, as esposas reais e seus filhos, os governadores reais (indunas), os chefes, os regimentos guerreiros e os bemanti ou “gente da agua”.



Na lua cheia de Novembro, os bemanti partem da casa da Rainha Mae em dois grupos: um maior que se dirige a kaTembe (Catembe, sul de Maputo – considerada a terra ancestral da Nacao Swazi), para recolher agua do mar e um grupo mais pequeno que vai recolher agua dos principais rios nacionais. Os bemanti regressam a capital real com a lua nova de Dezembro. Tem entao lugar o Pequeno Ncwala, marcado por dois dias de danca, musica e rituais que sao taboo durante o resto do ano. Quatorze dias depois comeca o Grande Ncwala, que assim decorre:



Primeiro Dia: Apanha do Lusekwane

Rapazes solteiros convergem para a aldeia da Rainha Mae, de onde o Rei lhes ordena que marchem cerca de 50 kilometros ate’ Egundvwini para cortar ramos de lusekwane (um arbusto local) sob a luz da lua cheia.



Segundo Dia: Deposicao do Lusekwane

Os rapazes regressam por volta da meia noite e depositam os seus ramos de lusekwane num enclausuramento especial no curral real. Enquanto os rapazes descansam da sua jornada, os mais velhos entrancam os ramos entre os postes do inhlambelo – o sanctuario privado do Rei.



Terceiro Dia: Dia do Touro

Manha – jovens rapazes cortam ramos do imbondvo negro (outro arbusto local) que sao adicionados ao inhlambelo.
Tarde – enquanto o Rei recebe os remedios tradicionais no seu santuario, um touro negro e’ aticado para fora do curral. Os rapazes do lusekwane agarram e dominam o touro e retornam-no ao santuario. Ai e’ sacrificado e dele sao retirados ingredientes rituais para o tratamento do Rei.



Quarto Dia: O Comer dos Primeiros Frutos e o Lancamento da Cabaca

O dia principal – todos os principais particiantes realizam um cerimonial espectacular dentro do enclausuramento, onde o Rei e regimentos guerreiros aparecem vestidos em indumentaria feita de peles de boi e leopardo e envergando os seus aderecos de guerra. O Rei trinca e cospe certas plantas da primeira colheita no seu inhlambelo. Em seguida ele come parte do interior de uma cabaca (abobora) sagrada, luselwa, e lanca-a para fora do inhlambelo, onde e’ apanhada com um escudo negro por um dos rapazes do lusekwane. So’ depois deste ritual e’ permitido ao resto dos Swazis consumirem as novas colheitas.



Quinto Dia: Dia de Abstinencia, Descanso e Meditacao

O Rei permanece em reclusao na “grande cubata”. Os bemanti circulam pela capital real fazendo cumprir as regras deste dia: nenhum contacto sexual, tocar de agua, uso de adornos, sentar em cadeiras ou esteiras, apertar de maos, cossar-se, cantar, dancar ou galhofar.



Sexto Dia: Dia do Tronco

Os regimentos guerreiros marcham para uma floresta e regressam com troncos de lenha. Os mais velhos preparam uma fogueira no centro do enclausuramento. Nele sao queimados certos objectos rituais, marcando o fim do ano velho, enquanto os participantes principais dancam e cantam cancoes que sao taboo durante o resto do ano. O Rei mantem-se em reclusao ate’ a lua cheia seguinte quando, para significar o inicio do novo ano, os ramos do lusekwane sao removidos e queimados numa monumental fogueira, sendo entao os espiritos dos ancestrais invocados para a apagar com agua da chuva. O Ncwala termina com um grande banquete.



E assim nasce um Ano Novo numa Nacao Africana!


[Parcialmente traduzido daqui]






Acho a Swazilandia um dos paises mais bonitos, simpaticos e acolhedores da Africa Austral. Dizendo isto, tenho obviamente em mente que, sobretudo em termos politicos, nem todos os Swazis, em particular os grupos contestarios do poder real, assim o veem. Mas, pretendo aqui falar de um dos aspectos mais fascinantes da cultura daquele pais, deixando de parte a politica: a manutencao das suas praticas e rituais tradicionais.

Quando la’ estive, aqui ha’ uns anos, tive a honra de ser presenteada com representacoes de alguns dos mais importantes desses rituais, sempre incluindo dancas, feitas por grupos culturais tradicionais patrocinados pelo governo, que o fazem regularmente para assistencias compostas principalmente por visitantes estrangeiros e alunos das escolas primarias nacionais. Entre esses rituais e dancas nao constava, por razoes que a seguir se tornarao obvias, o Ncwala (tambem escrito Incwala) – o mais importante cerimonial tradicional nacional, seguido do Umhlanga ou Reed Dance, tambem conhecido como “Danca ou Cerimonial das Virgens”, que se realiza todos os anos em Agosto/Setembro.



O Ncwala sagrado, ou “Cerimonia dos Primeiros Frutos”, que esta’ neste momento a decorrer naquele pais, tem lugar em finais de Dezembro/principio de Janeiro de cada ano e destina-se a renovar a forca do Rei e da Nacao Swazi para o ano seguinte. Tendo visto aqui o significado e os rituais do Kwanzaa, e’-nos possivel estabelecer paralelos significativos entre este e o Ncwala, nomeadamente no que diz respeito ao periodo do ano em que tem lugar, a sua duracao, o lugar central dos “primeiros frutos”, a atribuicao de significados especificos a cada um dos dias que os compoem, o regresso simbolico as terras ancestrais e a agua (do mar e dos rios) – esta a um nivel menos obvio, ou directo, porquanto a ligacao entre o cerimonial do Kwanzaa e o rio Kwanza e’ aqui, salvo melhor informacao, apenas especulativa.



Nao e’ feito qualquer anuncio da data oficial do dia principal do Ncwala. E’ o quarto dia depois da lua cheia mais proxima do dia mais longo, 21 de Dezembro. O Ncwala significa “cerimonia dos primeiros frutos”, mas a prova da nova colheita pelo Rei e’ apenas um aspecto entre muitos neste longo cerimonial, tambem chamado “Cerimonia do Reinado”: quando nao ha’ Rei, nao ha’ Ncwala. Constitui alta traicao a realizacao do Ncwala por qualquer outra pessoa. Todos os Swazis podem participar nos actos publicos do Ncwala, especialmente no seu climax, o quarto dia do Grande Ncwala. As figuras centrais sao o Rei, a Rainha Mae, as esposas reais e seus filhos, os governadores reais (indunas), os chefes, os regimentos guerreiros e os bemanti ou “gente da agua”.



Na lua cheia de Novembro, os bemanti partem da casa da Rainha Mae em dois grupos: um maior que se dirige a kaTembe (Catembe, sul de Maputo – considerada a terra ancestral da Nacao Swazi), para recolher agua do mar e um grupo mais pequeno que vai recolher agua dos principais rios nacionais. Os bemanti regressam a capital real com a lua nova de Dezembro. Tem entao lugar o Pequeno Ncwala, marcado por dois dias de danca, musica e rituais que sao taboo durante o resto do ano. Quatorze dias depois comeca o Grande Ncwala, que assim decorre:



Primeiro Dia: Apanha do Lusekwane

Rapazes solteiros convergem para a aldeia da Rainha Mae, de onde o Rei lhes ordena que marchem cerca de 50 kilometros ate’ Egundvwini para cortar ramos de lusekwane (um arbusto local) sob a luz da lua cheia.



Segundo Dia: Deposicao do Lusekwane

Os rapazes regressam por volta da meia noite e depositam os seus ramos de lusekwane num enclausuramento especial no curral real. Enquanto os rapazes descansam da sua jornada, os mais velhos entrancam os ramos entre os postes do inhlambelo – o sanctuario privado do Rei.



Terceiro Dia: Dia do Touro

Manha – jovens rapazes cortam ramos do imbondvo negro (outro arbusto local) que sao adicionados ao inhlambelo.
Tarde – enquanto o Rei recebe os remedios tradicionais no seu santuario, um touro negro e’ aticado para fora do curral. Os rapazes do lusekwane agarram e dominam o touro e retornam-no ao santuario. Ai e’ sacrificado e dele sao retirados ingredientes rituais para o tratamento do Rei.



Quarto Dia: O Comer dos Primeiros Frutos e o Lancamento da Cabaca

O dia principal – todos os principais particiantes realizam um cerimonial espectacular dentro do enclausuramento, onde o Rei e regimentos guerreiros aparecem vestidos em indumentaria feita de peles de boi e leopardo e envergando os seus aderecos de guerra. O Rei trinca e cospe certas plantas da primeira colheita no seu inhlambelo. Em seguida ele come parte do interior de uma cabaca (abobora) sagrada, luselwa, e lanca-a para fora do inhlambelo, onde e’ apanhada com um escudo negro por um dos rapazes do lusekwane. So’ depois deste ritual e’ permitido ao resto dos Swazis consumirem as novas colheitas.



Quinto Dia: Dia de Abstinencia, Descanso e Meditacao

O Rei permanece em reclusao na “grande cubata”. Os bemanti circulam pela capital real fazendo cumprir as regras deste dia: nenhum contacto sexual, tocar de agua, uso de adornos, sentar em cadeiras ou esteiras, apertar de maos, cossar-se, cantar, dancar ou galhofar.



Sexto Dia: Dia do Tronco

Os regimentos guerreiros marcham para uma floresta e regressam com troncos de lenha. Os mais velhos preparam uma fogueira no centro do enclausuramento. Nele sao queimados certos objectos rituais, marcando o fim do ano velho, enquanto os participantes principais dancam e cantam cancoes que sao taboo durante o resto do ano. O Rei mantem-se em reclusao ate’ a lua cheia seguinte quando, para significar o inicio do novo ano, os ramos do lusekwane sao removidos e queimados numa monumental fogueira, sendo entao os espiritos dos ancestrais invocados para a apagar com agua da chuva. O Ncwala termina com um grande banquete.



E assim nasce um Ano Novo numa Nacao Africana!


[Parcialmente traduzido daqui]


THIS MONTH LAST YEAR (12)

O mes de Dezembro do ano passado comecou com um apontamento sobre uma das muitas realizacoes da Diaspora Africana, no caso uma reuniao em Londres sob o tema “African Ambassadors and the African Diaspora as Economic Gateways”.
Seguiu-se-lhe outro sobre um dos regulares Cyber Seminars do Conselho Noruegues para Africa entitulado “Climate Change and Africa: who is responsible for addressing the consequences?”.

O mes foi particularmente marcado pela Cimeira EU-Africa em Lisboa, com quatro posts, um dos quais com um artigo meu, “The EU-Africa Lisbon Summit and the Future of Africa”, que foi publicado, por iniciativa do meu amigo BRE, em parceria com o Atlantic Community e o Die Welt Online.

Outros destaques: o inicio da serie “Local Voices Offline”, a descoberta de que James Watson (Nobel da Medicina de 1962 por ter descoberto a estrutura da molecula de ADN e que notavelmente afirmara que “os negros sao menos inteligentes que os brancos”) possui genes negros numa proporcao 16 vezes superior a media dos europeus brancos. Foi tambem marcado o assassinato de Benazir Bhutto.

Highlights: A primeira entrevista do jornalista angolano Graca Campos depois da sua conturbada detencao em Luanda, concedida em exclusivo a este blog e dois artigos de fundo, um sobre a vida, obra e legado de Otis Redding, quarenta anos depois da sua morte (ele que haveria de ser recentemente ressuscitado pela historica vitoria de Obama…), e outro sobre a legendaria revista Sul-Africana Drum.

O mes de Dezembro do ano passado comecou com um apontamento sobre uma das muitas realizacoes da Diaspora Africana, no caso uma reuniao em Londres sob o tema “African Ambassadors and the African Diaspora as Economic Gateways”.
Seguiu-se-lhe outro sobre um dos regulares Cyber Seminars do Conselho Noruegues para Africa entitulado “Climate Change and Africa: who is responsible for addressing the consequences?”.

O mes foi particularmente marcado pela Cimeira EU-Africa em Lisboa, com quatro posts, um dos quais com um artigo meu, “The EU-Africa Lisbon Summit and the Future of Africa”, que foi publicado, por iniciativa do meu amigo BRE, em parceria com o Atlantic Community e o Die Welt Online.

Outros destaques: o inicio da serie “Local Voices Offline”, a descoberta de que James Watson (Nobel da Medicina de 1962 por ter descoberto a estrutura da molecula de ADN e que notavelmente afirmara que “os negros sao menos inteligentes que os brancos”) possui genes negros numa proporcao 16 vezes superior a media dos europeus brancos. Foi tambem marcado o assassinato de Benazir Bhutto.

Highlights: A primeira entrevista do jornalista angolano Graca Campos depois da sua conturbada detencao em Luanda, concedida em exclusivo a este blog e dois artigos de fundo, um sobre a vida, obra e legado de Otis Redding, quarenta anos depois da sua morte (ele que haveria de ser recentemente ressuscitado pela historica vitoria de Obama…), e outro sobre a legendaria revista Sul-Africana Drum.

HERE THEY GO AGAIN...

This mixed-race couple, Dean Durrant and Alison Spooner, had already stunned the world with their first set of twins, one 'white' and one 'black', seven years ago. Now, they did it again!

Read more here.
This mixed-race couple, Dean Durrant and Alison Spooner, had already stunned the world with their first set of twins, one 'white' and one 'black', seven years ago. Now, they did it again!

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Monday, 29 December 2008

THIS MONTH TWO YEARS AGO

Dezembro de 2006 foi o primeiro mes de existencia deste blog. Ainda marcado pelo entusiasmo inocente dos primeiros tempos… Na verdade, tal entusiasmo haveria de perdurar por mais algum tempo… Na verdade, em certa medida ainda existe… mas menos despreocupado, mais guardado… lest this entire blogging experience turn out a total nightmare!

Bom, o primeiro post substantivo foi sobre uma viagem a Tunisia ao som do Dizzie Gillespie e ao sabor de the’ a la menthe. Pelo meio, dois posts 'avulsos', um deles sobre a experiencia politica da Africa do Sul, que continuo a achar merecer alguma reflexao em Angola. Seguiu-se a primeira “Maka na Sanzala” deste blog, com uma serie sobre uma das “homilias” do Mia Couto. Tinha na altura pensado em “recozinhar” uma a uma as “receitas” nela contidas, mas acabei por ficar-me apenas por algumas questoes a volta dos generos musicais rap e hipop. Creio, todavia, ter tocado um pouco nas outras ao longo da existencia do blog. Ha’, porem, uma coisa que talvez nao tenha ficado suficientemente clara na altura: a minha “embirracao” nao e’ exactamente com o Mia Couto ou com os seus escritos, embora nao negue que detesto “homilias”, particularmente se fora da igreja e, pior ainda, se sao pushed down my throat...

Na verdade, talvez nao lhes tivesse dado tanta importancia se nao me tivesse apercebido a partir de determinada altura da forma como elas estavam a ser usadas por certas pessoas como “armas de arremesso” a nivel pessoal. Em particular, a que me marcou especialmente e me motivou a comecar a prestar-lhes mais atencao, foi uma entitulada “os sete sapatos sujos”… Conto brevemente: ela foi-me enviada pela primeira vez por um ‘miudo’ angolano que tinha entrado, sem ter passado por nenhum concurso ou por qualquer outro processo selectivo competitivo, como estagiario (embora reclamasse o titulo de, e se comportasse como, ‘funcionario efectivo’…) para uma organizacao em que eu me encontrava a trabalhar depois de ter passado por um concurso internacional… Ora, a forma como o fez, deixou-me sem qualquer duvida de que o fazia com intencoes abertamente agressivas contra mim. Porque? Inicialmente nao percebi muito bem (ainda estava numa altura da minha vida e da minha relacao com angolanos em que facilmente passava por cima de muita coisa que julgava sem quaisquer consequencias, ate’ que fui levada a perceber inequivocamente e de uma vez por todas que assim nao o era exactamente… e’ que, so’ muito recentemente me dei conta de que a inveja e o odio existem mesmo e os portadores de tais maleitas quando nao matam, mordem!), ate’ porque nao conhecia o tal 'miudo' de nenhum outro lado e tao pouco ele me conhecia a mim…

Mas o que fiquei a saber, sem muita margem para duvidas, a partir daquele episodio, foi que a(s) nossa(s) sociedade(s) parece(m) ter deixado de ter capacidade de introspeccao, auto-critica e auto-avaliacao (elas que tanto se prezavam dos seus metodos dialecticos de critica e auto-critica marxista…), ao ponto de ter produzido, sobretudo nas ultimas decadas, a todos os niveis, muito pessoal que, pura e simplesmente, nao se enxerga… e.g., naquela mesma organizacao, tomei contacto pela primeira vez com pessoas que achavam ser desprestigiante alguem ter que se candidatar formalmente a um emprego e ter que ser submetida a entrevistas e testes para tal, gabando-se pelo meio de como tinham obtido todos os empregos que tiveram na vida exclusivamente atraves das suas bem posicionadas amizades… ou com alegados PhDs, supostamente feitos em universidades cujos nomes se escusavam sempre a revelar, que para tal organizacao tambem entraram atraves de cunhas sem que ninguem alguma vez se tivesse preocupado em verificar os respectivos certificados academicos ou relevantes referencias profissionais, o que nao os coibia, no entanto, ou talvez por isso mesmo, de constantemente tentarem atacar as credenciais academicas e profissionais de quem efectivamente as possuia e que as evidenciava atraves do seu trabalho, o qual tentavam sabotar das formas mais soezes… passando por outros que, depois de algumas semanas de la’ estarem, diziam que pela primeira vez se tinham 'sentido gente' por terem acabado de mandar vir do Dubai um BMW em terceira ou quarta mao e, talvez com base nesse recem-adquirido 'estatuto de gente', passadas outras poucas semanas, se sentiam 'homens o suficiente' para se lancarem ao mais despudorado assedio moral e sexual e a dirigirem ataques pornograficos a quem lhes parecia "demasiado impoluta, academica e profissional" para o que estavam habituados e, talvez tambem, "demasiado acima deles", pelo que se sentiam compelidos a agir como quem pergunta "quem e' que ela pensa que e'?!!!"... Sendo que o facto de eu ter a minha consciencia tranquila, reputacao limpa e cabeca levantada perante qualquer tipo de calunia e difamacao, apenas contribuia para lhes aumentar a raiva!

Em suma, a(s) nossa(s) sociedade(s) parece(m) ter produzido uma inversao de valores tal (se e' que ainda se pode falar na existencia de valores de qualquer especie naquelas sociedades...), que a total falta de padroes etico-morais, o sistema da cunha para a obtencao de empregos e ascensao profissional, o trafico de influencias generalizado e a falta generalizada de mecanismos de avaliacao, supervisao e punicao de certos comportamentos no local de trabalho, em suma, a total cultura da irresponsabilidade, da imoralidade e da impunidade, por entre um clima generalizado de intriga, calunia e difamacao, levou aquele 'miudo' a pensar que eu e’ que tinha "os sapatos sujos" e nao ele… De todo o modo, o que tambem acabou por ficar claro, atraves de outras associacoes e evidencias, foi que aquela “arremessada”, usando a “homilia” do Mia Couto como arma, nao tinha exactamente a ver comigo, como pessoa ou como profissional mas, entre outras coisas, com alguns dos meus escritos, nomeadamente algumas das minhas cronicas no SA, que tudo indica me criaram a fama em certos circulos de ter complexos de colonizada e de culpar o colono por tudo e mais alguma coisa… e tambem com a circulacao que na altura la' fiz de artigos como este de David Sogge, que quanto a mim retrata perfeitamente aquela organizacao...

Mas, nem a realizacao desse facto me teria provocado grande mossa se ao menos eu tivesse vislumbrado, quer naquele miudo, quer noutras pessoas que das mais diversas formas e atraves dos mais diversos meios teem manifestado o mesmo tipo de reaccao agressiva a alguns dos meus escritos, algum interesse, disponibilidade, ou mesmo capacidade (desculpem-me a aparente presuncao, mas e' mesmo isso...), para discutir as ideias que tanta mossa lhes parecem ter causado. Pelo menos eu tento discutir de forma logica e directa as ideias ou questoes com as quais nao concordo, mesmo que tal discussao venha a demonstrar que eu estava completamente equivocada. Foi isso que me propus fazer aqui, naquele ja’ longinquo mes de Dezembro, com a ultima das “homilias” do Mia Couto com que tinha na altura sido recentemente brindada

E sobre ela tenho apenas a acrescentar que nao tenho nada contra a musica classica – na verdade, tive ao longo da minha vida, e continuo a ter, uma significativa exposicao a ela, quer em termos de audicao, quer de treino formal, mas sobre isso talvez fale noutra altura –, o que tenho, isso sim, e’ um grande desconforto perante discursos que evidenciam uma certa ideia redutora de cultura, tornando os seus autores completamente incapazes de sequer ouvir, e muito menos avaliar, outras formas de expressao musical, ou cultural de forma geral. E tal desconforto pode transformar-se em ira quando tais discursos sao usados aleatoria, gratuita e agressivamente como armas de arremesso por gente que, por sinal, ate’ pouco ou nada sabe sobre musica classica, quando nao a detesta pura e simplesmente, ou que, tal como nos casos que acima descrevi, evidencia no seu quotidiano exactamente o tipo de comportamentos que as tais “homilias” aparentemente visam denunciar! Preferiria continuar a nao ter que menciona-los publicamente, ainda que apenas da forma muito breve e parcial com que aqui o fiz, nao tivessem outros casos similares, particularmente nas ultimas semanas, me sugerido que o meu silencio sobre eles parece estar a ser interpretado por alguns, entre outras coisas, no minimo, como “quem cala consente!”…

Moving on, ficaram registados naquele mes ainda alguns outros temas para reflexao, e.g. Mahmood Mamdani sobre o estado da educacao superior em Africa e David Sogge sobre “as miragens da ajuda internacional” e alguns eventos do mes, como o falecimento de James Brown, o documentario “Oxala’ Crescam Pitangas”, a atribuicao do Grande Premio de Escultura Ensarte ao artista Mayembe, a execucao de Saddam Hussein e, a finalizar, a reabertura do Museu do Zaire.

Highlights: os dois primeiros (timidos…) posts deste blog e os dois dedicados a Tunisia (A Night in Tunisia e Tunisia Blues), mais o, que acabou por lhes ficar associado, sobre o livro Pieds Blancs de Houda Rouane.



P.S.: E ja' agora, para que nao fique como o "odd one out", mencao especialissima ao verdadeiro primeiro post deste blog, no ultimo dia de Novembro daquele ano, aqui.
Dezembro de 2006 foi o primeiro mes de existencia deste blog. Ainda marcado pelo entusiasmo inocente dos primeiros tempos… Na verdade, tal entusiasmo haveria de perdurar por mais algum tempo… Na verdade, em certa medida ainda existe… mas menos despreocupado, mais guardado… lest this entire blogging experience turn out a total nightmare!

Bom, o primeiro post substantivo foi sobre uma viagem a Tunisia ao som do Dizzie Gillespie e ao sabor de the’ a la menthe. Pelo meio, dois posts 'avulsos', um deles sobre a experiencia politica da Africa do Sul, que continuo a achar merecer alguma reflexao em Angola. Seguiu-se a primeira “Maka na Sanzala” deste blog, com uma serie sobre uma das “homilias” do Mia Couto. Tinha na altura pensado em “recozinhar” uma a uma as “receitas” nela contidas, mas acabei por ficar-me apenas por algumas questoes a volta dos generos musicais rap e hipop. Creio, todavia, ter tocado um pouco nas outras ao longo da existencia do blog. Ha’, porem, uma coisa que talvez nao tenha ficado suficientemente clara na altura: a minha “embirracao” nao e’ exactamente com o Mia Couto ou com os seus escritos, embora nao negue que detesto “homilias”, particularmente se fora da igreja e, pior ainda, se sao pushed down my throat...

Na verdade, talvez nao lhes tivesse dado tanta importancia se nao me tivesse apercebido a partir de determinada altura da forma como elas estavam a ser usadas por certas pessoas como “armas de arremesso” a nivel pessoal. Em particular, a que me marcou especialmente e me motivou a comecar a prestar-lhes mais atencao, foi uma entitulada “os sete sapatos sujos”… Conto brevemente: ela foi-me enviada pela primeira vez por um ‘miudo’ angolano que tinha entrado, sem ter passado por nenhum concurso ou por qualquer outro processo selectivo competitivo, como estagiario (embora reclamasse o titulo de, e se comportasse como, ‘funcionario efectivo’…) para uma organizacao em que eu me encontrava a trabalhar depois de ter passado por um concurso internacional… Ora, a forma como o fez, deixou-me sem qualquer duvida de que o fazia com intencoes abertamente agressivas contra mim. Porque? Inicialmente nao percebi muito bem (ainda estava numa altura da minha vida e da minha relacao com angolanos em que facilmente passava por cima de muita coisa que julgava sem quaisquer consequencias, ate’ que fui levada a perceber inequivocamente e de uma vez por todas que assim nao o era exactamente… e’ que, so’ muito recentemente me dei conta de que a inveja e o odio existem mesmo e os portadores de tais maleitas quando nao matam, mordem!), ate’ porque nao conhecia o tal 'miudo' de nenhum outro lado e tao pouco ele me conhecia a mim…

Mas o que fiquei a saber, sem muita margem para duvidas, a partir daquele episodio, foi que a(s) nossa(s) sociedade(s) parece(m) ter deixado de ter capacidade de introspeccao, auto-critica e auto-avaliacao (elas que tanto se prezavam dos seus metodos dialecticos de critica e auto-critica marxista…), ao ponto de ter produzido, sobretudo nas ultimas decadas, a todos os niveis, muito pessoal que, pura e simplesmente, nao se enxerga… e.g., naquela mesma organizacao, tomei contacto pela primeira vez com pessoas que achavam ser desprestigiante alguem ter que se candidatar formalmente a um emprego e ter que ser submetida a entrevistas e testes para tal, gabando-se pelo meio de como tinham obtido todos os empregos que tiveram na vida exclusivamente atraves das suas bem posicionadas amizades… ou com alegados PhDs, supostamente feitos em universidades cujos nomes se escusavam sempre a revelar, que para tal organizacao tambem entraram atraves de cunhas sem que ninguem alguma vez se tivesse preocupado em verificar os respectivos certificados academicos ou relevantes referencias profissionais, o que nao os coibia, no entanto, ou talvez por isso mesmo, de constantemente tentarem atacar as credenciais academicas e profissionais de quem efectivamente as possuia e que as evidenciava atraves do seu trabalho, o qual tentavam sabotar das formas mais soezes… passando por outros que, depois de algumas semanas de la’ estarem, diziam que pela primeira vez se tinham 'sentido gente' por terem acabado de mandar vir do Dubai um BMW em terceira ou quarta mao e, talvez com base nesse recem-adquirido 'estatuto de gente', passadas outras poucas semanas, se sentiam 'homens o suficiente' para se lancarem ao mais despudorado assedio moral e sexual e a dirigirem ataques pornograficos a quem lhes parecia "demasiado impoluta, academica e profissional" para o que estavam habituados e, talvez tambem, "demasiado acima deles", pelo que se sentiam compelidos a agir como quem pergunta "quem e' que ela pensa que e'?!!!"... Sendo que o facto de eu ter a minha consciencia tranquila, reputacao limpa e cabeca levantada perante qualquer tipo de calunia e difamacao, apenas contribuia para lhes aumentar a raiva!

Em suma, a(s) nossa(s) sociedade(s) parece(m) ter produzido uma inversao de valores tal (se e' que ainda se pode falar na existencia de valores de qualquer especie naquelas sociedades...), que a total falta de padroes etico-morais, o sistema da cunha para a obtencao de empregos e ascensao profissional, o trafico de influencias generalizado e a falta generalizada de mecanismos de avaliacao, supervisao e punicao de certos comportamentos no local de trabalho, em suma, a total cultura da irresponsabilidade, da imoralidade e da impunidade, por entre um clima generalizado de intriga, calunia e difamacao, levou aquele 'miudo' a pensar que eu e’ que tinha "os sapatos sujos" e nao ele… De todo o modo, o que tambem acabou por ficar claro, atraves de outras associacoes e evidencias, foi que aquela “arremessada”, usando a “homilia” do Mia Couto como arma, nao tinha exactamente a ver comigo, como pessoa ou como profissional mas, entre outras coisas, com alguns dos meus escritos, nomeadamente algumas das minhas cronicas no SA, que tudo indica me criaram a fama em certos circulos de ter complexos de colonizada e de culpar o colono por tudo e mais alguma coisa… e tambem com a circulacao que na altura la' fiz de artigos como este de David Sogge, que quanto a mim retrata perfeitamente aquela organizacao...

Mas, nem a realizacao desse facto me teria provocado grande mossa se ao menos eu tivesse vislumbrado, quer naquele miudo, quer noutras pessoas que das mais diversas formas e atraves dos mais diversos meios teem manifestado o mesmo tipo de reaccao agressiva a alguns dos meus escritos, algum interesse, disponibilidade, ou mesmo capacidade (desculpem-me a aparente presuncao, mas e' mesmo isso...), para discutir as ideias que tanta mossa lhes parecem ter causado. Pelo menos eu tento discutir de forma logica e directa as ideias ou questoes com as quais nao concordo, mesmo que tal discussao venha a demonstrar que eu estava completamente equivocada. Foi isso que me propus fazer aqui, naquele ja’ longinquo mes de Dezembro, com a ultima das “homilias” do Mia Couto com que tinha na altura sido recentemente brindada

E sobre ela tenho apenas a acrescentar que nao tenho nada contra a musica classica – na verdade, tive ao longo da minha vida, e continuo a ter, uma significativa exposicao a ela, quer em termos de audicao, quer de treino formal, mas sobre isso talvez fale noutra altura –, o que tenho, isso sim, e’ um grande desconforto perante discursos que evidenciam uma certa ideia redutora de cultura, tornando os seus autores completamente incapazes de sequer ouvir, e muito menos avaliar, outras formas de expressao musical, ou cultural de forma geral. E tal desconforto pode transformar-se em ira quando tais discursos sao usados aleatoria, gratuita e agressivamente como armas de arremesso por gente que, por sinal, ate’ pouco ou nada sabe sobre musica classica, quando nao a detesta pura e simplesmente, ou que, tal como nos casos que acima descrevi, evidencia no seu quotidiano exactamente o tipo de comportamentos que as tais “homilias” aparentemente visam denunciar! Preferiria continuar a nao ter que menciona-los publicamente, ainda que apenas da forma muito breve e parcial com que aqui o fiz, nao tivessem outros casos similares, particularmente nas ultimas semanas, me sugerido que o meu silencio sobre eles parece estar a ser interpretado por alguns, entre outras coisas, no minimo, como “quem cala consente!”…

Moving on, ficaram registados naquele mes ainda alguns outros temas para reflexao, e.g. Mahmood Mamdani sobre o estado da educacao superior em Africa e David Sogge sobre “as miragens da ajuda internacional” e alguns eventos do mes, como o falecimento de James Brown, o documentario “Oxala’ Crescam Pitangas”, a atribuicao do Grande Premio de Escultura Ensarte ao artista Mayembe, a execucao de Saddam Hussein e, a finalizar, a reabertura do Museu do Zaire.

Highlights: os dois primeiros (timidos…) posts deste blog e os dois dedicados a Tunisia (A Night in Tunisia e Tunisia Blues), mais o, que acabou por lhes ficar associado, sobre o livro Pieds Blancs de Houda Rouane.



P.S.: E ja' agora, para que nao fique como o "odd one out", mencao especialissima ao verdadeiro primeiro post deste blog, no ultimo dia de Novembro daquele ano, aqui.

Wednesday, 24 December 2008

Tuesday, 23 December 2008

KWANZAA: O NATAL AFRICANO



E’ interessante observar as varias manifestacoes culturais criadas pelos Afro-Americanos para se manterem tao proximos quanto possivel das suas origens ancestrais. Na verdade, em varias areas da sua vida, eles criaram mesmo uma especie de ‘micro-cultura’ de inspiracao Africana, embora nem sempre com uma clara ou directa correspondencia nas praticas culturais observaveis no continente – o que se devera’, por um lado, aos sincretismos culturais e religiosos de varia ordem e diferentes origens que os conformam e, por outro lado, as varias (per)mutacoes e con(sub)jugacoes culturais verificadas em Africa ao longo dos seculos.



E’ o caso do Kwanzaa (tambem escrito Kwaanza) que se celebra por esta altura do ano, durante sete dias - de 26 de Dezembro a 1 de Janeiro - coincidindo com o periodo do Natal Cristao (e tambem do Judaico Hanukkah) e Ano Novo. A sua criacao poderia ter sido inspirada no nosso rio Kwanza (Angola), mas reza a historia que nao o foi exactamente. Kwaanza deriva da expressao Kiswahili "matunda ya kwanza", que significa “primeiros frutos”, ou “comeco” – apelando assim ao acto da criacao, tal como acontece no Natal Cristao. Porem, sendo o Kiswahili uma lingua Bantu, e’ provavel que o nosso Kwanza tenha nela o mesmo significado… mas deixo isso aos especialistas.



A criacao do Kwanzaa, em meados da decada de sessenta do seculo passado, ficou a dever-se ao activista social Afro-Americano Ron Karenga, que explicou o seu objectivo como sendo “proporcionar aos Negros (Blacks, para ser fiel ao original e ao contexto …) uma alternativa as festividades existentes e dar-lhes uma oportunidade de se celebrarem a si proprios e a sua historia, em vez de simplesmente imitarem a pratica da sociedade dominante.”



Durante os sete dias do Kwanzaa praticam-se varios rituais, envolvendo libacoes, acender de velas, banquetes e oferta de presentes. Poder-se-ia entao dizer que nesse aspecto nao difere muito do Natal Cristao ou do Hanukkah. Mas e’ o significado, em Kiswahili, de cada um dos sete dias do Kwanzaa que estabelece a diferenciacao:



Umoja (Unidade) Obter e manter a unidade na familia, comunidade, nacao e raca.
Kujichagulia (Auto-Determinacao) Definir-nos a nos proprios, nomear-nos a nos proprios, criar por nos proprios e falar por nos proprios.
Ujima (Trabalho e Responsabilidade Colectiva) Construir e manter a comunidade coesa e fazer nossos os problemas dos nossos irmaos e irmas e resolve-los em conjunto.
Ujamaa (Economia Cooperativa) Construir e manter as nossas proprias propriedades, lojas e negocios e partilhar em conjunto dos seus lucros.
Nia (Proposito) Fazer nossa vocacao colectiva a construcao e o desenvolvimento da nossa comunidade com o objectivo de restaurar a grandeza tradicional do nosso povo.
Kuumba (Criatividade) Fazer sempre tudo o que pudermos, como pudermos, por forma a deixarmos a nossa comunidade mais bela e benefica do que como a herdamos.
Imani (Fe’) Acreditar com todo o nosso coracao nos nossos semelhantes, pais, professores, dirigentes e na justeza e vitoria da nossa luta.



E’ interessante observar as varias manifestacoes culturais criadas pelos Afro-Americanos para se manterem tao proximos quanto possivel das suas origens ancestrais. Na verdade, em varias areas da sua vida, eles criaram mesmo uma especie de ‘micro-cultura’ de inspiracao Africana, embora nem sempre com uma clara ou directa correspondencia nas praticas culturais observaveis no continente – o que se devera’, por um lado, aos sincretismos culturais e religiosos de varia ordem e diferentes origens que os conformam e, por outro lado, as varias (per)mutacoes e con(sub)jugacoes culturais verificadas em Africa ao longo dos seculos.



E’ o caso do Kwanzaa (tambem escrito Kwaanza) que se celebra por esta altura do ano, durante sete dias - de 26 de Dezembro a 1 de Janeiro - coincidindo com o periodo do Natal Cristao (e tambem do Judaico Hanukkah) e Ano Novo. A sua criacao poderia ter sido inspirada no nosso rio Kwanza (Angola), mas reza a historia que nao o foi exactamente. Kwaanza deriva da expressao Kiswahili "matunda ya kwanza", que significa “primeiros frutos”, ou “comeco” – apelando assim ao acto da criacao, tal como acontece no Natal Cristao. Porem, sendo o Kiswahili uma lingua Bantu, e’ provavel que o nosso Kwanza tenha nela o mesmo significado… mas deixo isso aos especialistas.



A criacao do Kwanzaa, em meados da decada de sessenta do seculo passado, ficou a dever-se ao activista social Afro-Americano Ron Karenga, que explicou o seu objectivo como sendo “proporcionar aos Negros (Blacks, para ser fiel ao original e ao contexto …) uma alternativa as festividades existentes e dar-lhes uma oportunidade de se celebrarem a si proprios e a sua historia, em vez de simplesmente imitarem a pratica da sociedade dominante.”



Durante os sete dias do Kwanzaa praticam-se varios rituais, envolvendo libacoes, acender de velas, banquetes e oferta de presentes. Poder-se-ia entao dizer que nesse aspecto nao difere muito do Natal Cristao ou do Hanukkah. Mas e’ o significado, em Kiswahili, de cada um dos sete dias do Kwanzaa que estabelece a diferenciacao:



Umoja (Unidade) Obter e manter a unidade na familia, comunidade, nacao e raca.
Kujichagulia (Auto-Determinacao) Definir-nos a nos proprios, nomear-nos a nos proprios, criar por nos proprios e falar por nos proprios.
Ujima (Trabalho e Responsabilidade Colectiva) Construir e manter a comunidade coesa e fazer nossos os problemas dos nossos irmaos e irmas e resolve-los em conjunto.
Ujamaa (Economia Cooperativa) Construir e manter as nossas proprias propriedades, lojas e negocios e partilhar em conjunto dos seus lucros.
Nia (Proposito) Fazer nossa vocacao colectiva a construcao e o desenvolvimento da nossa comunidade com o objectivo de restaurar a grandeza tradicional do nosso povo.
Kuumba (Criatividade) Fazer sempre tudo o que pudermos, como pudermos, por forma a deixarmos a nossa comunidade mais bela e benefica do que como a herdamos.
Imani (Fe’) Acreditar com todo o nosso coracao nos nossos semelhantes, pais, professores, dirigentes e na justeza e vitoria da nossa luta.

Monday, 22 December 2008

A RAINHA NZINGA MBANDI, URBI E ORBI – HA 345 ANOS, MORREU A “DIZONDA”

Rainha Nzinga Mbandi morreu há 345 anos

Por Simão Souindoula
Director do Museu da Escravatura de Angola e da Rede Internacional Bantulink


É a importante vertente que escolhemos analisar pela ocasião da passagem no dia 17 de Dezembro, data que marca a morte, em Santa Maria de Matamba - a tornada cristã - no ano de 1663, da “Dupla Soberana”.

Dia, surpreendemente, bem ordinário em Angola, apesar deste ter significado uma ruptura irreversível na evolução histórica de toda a parte ocidental da África central.

Tentaremos no quadro do presente exame, realçar os principais factos que provocaram o surgimento do mito da “Regina” do Ndongo e da Matamba, a sua gradual expansão na Europa e a perpetuação da tradição real que evoca esta “sacerdote” no além – Atlântico.
Apresentaremos, em seguida, os domínios que fixaram, nessas regiões ultra marinas, o mito da monarca, a importância das múltiplas iniciativas tomadas à volta desta figura e apreciação sobre a consideração que esta deve merecer.

Educação patriótica e Marcial

A singular estampilhagem da forte personalidade da futura heroína começa, desde a tenra idade, com o seu posicionamento parental visivelmente patrilinear.

Parece estar sob o cuidado particular do pai, que é, natural e duplamente, “Ngola” e “Kiluanji”, quer dizer, Líder Político e Chefe do Exército. A jovem, de forte corpulência física, será manifestamente marcada por uma educação muito patriótica e a adopção de uma conduta estritamente marcial. E inculcado a princesa, de temperamento já refractário, o espírito de bravura, o sentimento de honra, o sentido da diplomacia e da responsabilidade política e a intuição estratégica.

Esses traços de carácter serão perceptíveis durante toda a sua vida desta “ Nzinga Mbandi” que significa no Oriente do nosso pais, curiosas homofonia e homografia, “Homem-mulher”.

Com efeito, será necessário à futura e astuta Dona Anna de Sousa, todas essas características individuais para se impor junto dos seus irmãos, machistas convencidos, e demais familiares com espírito, naturalmente, conservador, cumprir as famosas duas missões diplomáticas, delicadas, efectuadas, corajosamente, e com brio, em 1622 e no ano seguinte, numa parte já ocupada do território do Ndongo, a muito desejada pela Coroa portuguesa, cidade - fortaleza de São Paulo de Loanda.

Parte da lenda da Embaixadora da ilha de Ndanji cristaliza-se a partir das referidas audiências, que decorreram num formato de conforto muito particular. Esses encontros, que envolveram as figuras dos Governadores da Colónia portuguesa, que tinham nem mais, nem menos, o título sintomático de Vice-Rei, cunharam definitivamente os espíritos na Colónia portuguesa e na metrópole sobre esta Princesa de ferro.

Marcaram igualmente as opiniões, o extraordinário domínio da língua portuguesa pela jovem diplomata vinda de Mbaka, se tivermos em conta o irrefragável testemunho do Padre italiano Cavazzi que confirma que a Regina “ …in idioma Portoghese nel quale era versatissima…”. A apreciação sobre o seu elevado grau de instrução sobre a língua e a civilização portuguesas e a sua viva inteligência estabeleceu, definitivamente, a sua auréola.

Outros factos erigirão, ao nível internacional, a lenda da “Federadora”, do proto – bantu sing- to attach, ligar.

Rainha Nzinga Mbandi morreu há 345 anos

Por Simão Souindoula
Director do Museu da Escravatura de Angola e da Rede Internacional Bantulink


É a importante vertente que escolhemos analisar pela ocasião da passagem no dia 17 de Dezembro, data que marca a morte, em Santa Maria de Matamba - a tornada cristã - no ano de 1663, da “Dupla Soberana”.

Dia, surpreendemente, bem ordinário em Angola, apesar deste ter significado uma ruptura irreversível na evolução histórica de toda a parte ocidental da África central.

Tentaremos no quadro do presente exame, realçar os principais factos que provocaram o surgimento do mito da “Regina” do Ndongo e da Matamba, a sua gradual expansão na Europa e a perpetuação da tradição real que evoca esta “sacerdote” no além – Atlântico.
Apresentaremos, em seguida, os domínios que fixaram, nessas regiões ultra marinas, o mito da monarca, a importância das múltiplas iniciativas tomadas à volta desta figura e apreciação sobre a consideração que esta deve merecer.

Educação patriótica e Marcial

A singular estampilhagem da forte personalidade da futura heroína começa, desde a tenra idade, com o seu posicionamento parental visivelmente patrilinear.

Parece estar sob o cuidado particular do pai, que é, natural e duplamente, “Ngola” e “Kiluanji”, quer dizer, Líder Político e Chefe do Exército. A jovem, de forte corpulência física, será manifestamente marcada por uma educação muito patriótica e a adopção de uma conduta estritamente marcial. E inculcado a princesa, de temperamento já refractário, o espírito de bravura, o sentimento de honra, o sentido da diplomacia e da responsabilidade política e a intuição estratégica.

Esses traços de carácter serão perceptíveis durante toda a sua vida desta “ Nzinga Mbandi” que significa no Oriente do nosso pais, curiosas homofonia e homografia, “Homem-mulher”.

Com efeito, será necessário à futura e astuta Dona Anna de Sousa, todas essas características individuais para se impor junto dos seus irmãos, machistas convencidos, e demais familiares com espírito, naturalmente, conservador, cumprir as famosas duas missões diplomáticas, delicadas, efectuadas, corajosamente, e com brio, em 1622 e no ano seguinte, numa parte já ocupada do território do Ndongo, a muito desejada pela Coroa portuguesa, cidade - fortaleza de São Paulo de Loanda.

Parte da lenda da Embaixadora da ilha de Ndanji cristaliza-se a partir das referidas audiências, que decorreram num formato de conforto muito particular. Esses encontros, que envolveram as figuras dos Governadores da Colónia portuguesa, que tinham nem mais, nem menos, o título sintomático de Vice-Rei, cunharam definitivamente os espíritos na Colónia portuguesa e na metrópole sobre esta Princesa de ferro.

Marcaram igualmente as opiniões, o extraordinário domínio da língua portuguesa pela jovem diplomata vinda de Mbaka, se tivermos em conta o irrefragável testemunho do Padre italiano Cavazzi que confirma que a Regina “ …in idioma Portoghese nel quale era versatissima…”. A apreciação sobre o seu elevado grau de instrução sobre a língua e a civilização portuguesas e a sua viva inteligência estabeleceu, definitivamente, a sua auréola.

Outros factos erigirão, ao nível internacional, a lenda da “Federadora”, do proto – bantu sing- to attach, ligar.

Wednesday, 17 December 2008

SOBRE O (IMPOSSIVEL?) DEBATE DA QUESTAO ZIMBABWEANA

No seguimento do debate suscitado, entre outros, pelo artigo do antropologo Mahmood Mamdani, este artigo do sociologo mocambicano Elisio Macamo:

Porquê é tão difícil discutir o Zimbabwe?

Eu sou por uma abordagem analítica. Reconheço a legitimidade e a razão de ser da abordagem normativa. Devo, contudo, também dizer que não fazemos parte do mesmo contexto de discussão. O seu debate não é o meu. E pior. A forma como alguns deles debatem mete muito medo. A insistência na adopção das suas posições normativas como condição de continuação de discussão não é, na essência, diferente do posicionamento de Mugabe que eles próprios criticam. Uma das razões que leva Mugabe a ser intolerante para com aqueles que não concordam com ele é justamente esta convicção de que em questões morais não é possível qualquer tipo de compromisso.
(...)
Mas isto é que é integridade intelectual. Não está em questão saber como Mahmood Mamdani se posiciona moralmente em relação a Mugabe. A questão é saber como perceber aquele problema. E ter a coragem de fazer o exercício de reflexão, mesmo sob o risco de se enganar e interpretar certos dados de forma inapropriada. Se outras abordagens analíticas mostrarem que ele está equivocado, muito bem, não há problema. Como bom académico que ele é vai de certeza rever as suas posições. Não obstante, ele não vai fazer essa revisão em função da necessidade de diabolizar seja quem for. Ele vai fazer a revisão em função de analisar cada vez melhor o problema. O sofrimento do povo zimbabweano exige esta solidariedade analítica dos académicos. Não exige o simples alinhamento com a opinião da maioria. Exige que sejamos mais rigorosos na análise. Essa é a melhor ajuda que podemos prestar ao Zimbabwe.


***

NÃO é fácil discutir o Zimbabwe. Essa dificuldade não se prende apenas à própria natureza bicuda do assunto. Ela prende-se também ao facto de que o assunto polariza e conduz os intervenientes na discussão aos extremos. Talvez não fosse mau reflectir sobre esta polarização, pois em certa medida ela impede uma abordagem útil de um problema que precisa de ser ultrapassado. O meu palpite é de que é difícil discutir o problema do Zimbabwe porque são privilegiadas duas abordagens que me parecem incompatíveis entre si. E não só. Uma dessas abordagens já provou ser não só parte da solução, como também parte do problema. Para simplificar as coisas chamemos às duas abordagens de normativa e analítica.

A defesa de uma ou outra abordagem é, em princípio, legítima. Isso está, portanto, fora de questão. O que interessa saber, contudo, é se uma ou outra são úteis ou não para uma reflexão produtiva do caso zimbabweano. Por abordagem normativa podemos entender duas coisas. Uma é a tendência de procurar saber o que fazer perante a situação. Isto é patente na insistência em articular a solução do problema ao afastamento de Robert Mugabe do poder. Essa é a resposta para a questão de saber o que fazer no Zimbabwe. Afastar Mugabe, o tirano, como se diz. A outra coisa que podemos entender por abordagem normativa é a preferência por uma discussão que faz apelos morais como base de avaliação da plausibilidade do que se diz sobre o assunto.

Esta dimensão manifesta-se de várias maneiras, todas elas ligadas a problemas lógicos de argumentação que precisariam de mais espaço para serem expostos com cuidado. De momento, podemos reter o tipo de linguagem que é privilegiado, isto é, uma linguagem bastante emotiva, uma tendência de estabelecer relações de causalidade bastante problemáticas, bem como os ataques às pessoas que dizem coisas diferentes do que é defendido pela abordagem normativa. Tudo isto é feito no sentido de descrever o problema de maneira a que não sejam razões fundamentadas que contam para se perceber o problema, mas sim emoções. Talvez seja importante destacar aqui que a abordagem normativa não se limita apenas aos que defendem que Mugabe deve sair do poder como condição de resolução do problema; mesmo aqueles que defendem que tudo é conspiração de brancos contra pretos resvalam por aí. Interessam-me, contudo, os outros, porque são eles que tornam difícil uma intervenção menos normativa.

A outra abordagem é analítica. A preocupação aqui é em perceber o que se está a passar naquele país. Caracteristicamente, os da abordagem normativa vão retorquir que não há mais nada a perceber. Mas essa preocupação assenta na necessidade de apreciar as razões que os vários actores envolvidos no assunto têm para assumir as posições que assumem e as acções que praticam. Porque é que Robert Mugabe está preparado para desafiar todo o mundo da maneira como o faz? Porque é que Morgan Tsvangirai acha que pode prescindir dos préstimos da região? Porque é que a comunidade internacional acha que as sanções são oportunas? Portanto, é preciso perceber isto e, acima de tudo, perceber o contexto que torna esses posicionamentos possíveis.

Uma comunidade internacional mais sensível à história, aos constrangimentos regionais, à evolução do problema zimbabweano teria sido rejeitada como interlocutor válido por Mugabe? O que se passou com o contexto para que o mesmo Mugabe que aceitou de forma pragmática as disposições do Acordo de Lancaster, muito embora adiasse a colheita dos frutos da razão da luta, nomeadamente um ordenamento económico justo, viesse mais tarde a fazer ouvidos de mercador à comunidade internacional? A simples apetência pelo poder? A falta de credenciais democráticas? De que maneira é que o contexto pode chegar mesmo a limitar as próprias opções dos actores?

[Continue lendo aqui]
No seguimento do debate suscitado, entre outros, pelo artigo do antropologo Mahmood Mamdani, este artigo do sociologo mocambicano Elisio Macamo:

Porquê é tão difícil discutir o Zimbabwe?

Eu sou por uma abordagem analítica. Reconheço a legitimidade e a razão de ser da abordagem normativa. Devo, contudo, também dizer que não fazemos parte do mesmo contexto de discussão. O seu debate não é o meu. E pior. A forma como alguns deles debatem mete muito medo. A insistência na adopção das suas posições normativas como condição de continuação de discussão não é, na essência, diferente do posicionamento de Mugabe que eles próprios criticam. Uma das razões que leva Mugabe a ser intolerante para com aqueles que não concordam com ele é justamente esta convicção de que em questões morais não é possível qualquer tipo de compromisso.
(...)
Mas isto é que é integridade intelectual. Não está em questão saber como Mahmood Mamdani se posiciona moralmente em relação a Mugabe. A questão é saber como perceber aquele problema. E ter a coragem de fazer o exercício de reflexão, mesmo sob o risco de se enganar e interpretar certos dados de forma inapropriada. Se outras abordagens analíticas mostrarem que ele está equivocado, muito bem, não há problema. Como bom académico que ele é vai de certeza rever as suas posições. Não obstante, ele não vai fazer essa revisão em função da necessidade de diabolizar seja quem for. Ele vai fazer a revisão em função de analisar cada vez melhor o problema. O sofrimento do povo zimbabweano exige esta solidariedade analítica dos académicos. Não exige o simples alinhamento com a opinião da maioria. Exige que sejamos mais rigorosos na análise. Essa é a melhor ajuda que podemos prestar ao Zimbabwe.


***

NÃO é fácil discutir o Zimbabwe. Essa dificuldade não se prende apenas à própria natureza bicuda do assunto. Ela prende-se também ao facto de que o assunto polariza e conduz os intervenientes na discussão aos extremos. Talvez não fosse mau reflectir sobre esta polarização, pois em certa medida ela impede uma abordagem útil de um problema que precisa de ser ultrapassado. O meu palpite é de que é difícil discutir o problema do Zimbabwe porque são privilegiadas duas abordagens que me parecem incompatíveis entre si. E não só. Uma dessas abordagens já provou ser não só parte da solução, como também parte do problema. Para simplificar as coisas chamemos às duas abordagens de normativa e analítica.

A defesa de uma ou outra abordagem é, em princípio, legítima. Isso está, portanto, fora de questão. O que interessa saber, contudo, é se uma ou outra são úteis ou não para uma reflexão produtiva do caso zimbabweano. Por abordagem normativa podemos entender duas coisas. Uma é a tendência de procurar saber o que fazer perante a situação. Isto é patente na insistência em articular a solução do problema ao afastamento de Robert Mugabe do poder. Essa é a resposta para a questão de saber o que fazer no Zimbabwe. Afastar Mugabe, o tirano, como se diz. A outra coisa que podemos entender por abordagem normativa é a preferência por uma discussão que faz apelos morais como base de avaliação da plausibilidade do que se diz sobre o assunto.

Esta dimensão manifesta-se de várias maneiras, todas elas ligadas a problemas lógicos de argumentação que precisariam de mais espaço para serem expostos com cuidado. De momento, podemos reter o tipo de linguagem que é privilegiado, isto é, uma linguagem bastante emotiva, uma tendência de estabelecer relações de causalidade bastante problemáticas, bem como os ataques às pessoas que dizem coisas diferentes do que é defendido pela abordagem normativa. Tudo isto é feito no sentido de descrever o problema de maneira a que não sejam razões fundamentadas que contam para se perceber o problema, mas sim emoções. Talvez seja importante destacar aqui que a abordagem normativa não se limita apenas aos que defendem que Mugabe deve sair do poder como condição de resolução do problema; mesmo aqueles que defendem que tudo é conspiração de brancos contra pretos resvalam por aí. Interessam-me, contudo, os outros, porque são eles que tornam difícil uma intervenção menos normativa.

A outra abordagem é analítica. A preocupação aqui é em perceber o que se está a passar naquele país. Caracteristicamente, os da abordagem normativa vão retorquir que não há mais nada a perceber. Mas essa preocupação assenta na necessidade de apreciar as razões que os vários actores envolvidos no assunto têm para assumir as posições que assumem e as acções que praticam. Porque é que Robert Mugabe está preparado para desafiar todo o mundo da maneira como o faz? Porque é que Morgan Tsvangirai acha que pode prescindir dos préstimos da região? Porque é que a comunidade internacional acha que as sanções são oportunas? Portanto, é preciso perceber isto e, acima de tudo, perceber o contexto que torna esses posicionamentos possíveis.

Uma comunidade internacional mais sensível à história, aos constrangimentos regionais, à evolução do problema zimbabweano teria sido rejeitada como interlocutor válido por Mugabe? O que se passou com o contexto para que o mesmo Mugabe que aceitou de forma pragmática as disposições do Acordo de Lancaster, muito embora adiasse a colheita dos frutos da razão da luta, nomeadamente um ordenamento económico justo, viesse mais tarde a fazer ouvidos de mercador à comunidade internacional? A simples apetência pelo poder? A falta de credenciais democráticas? De que maneira é que o contexto pode chegar mesmo a limitar as próprias opções dos actores?

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MAHMOOD MAMDANI ON ZIMBABWE

Mahmood Mamdani, a Ugandan of Asian origin, is Herbert Lehman Professor of Government in the Departments of Anthropology, Political Science and International Affairs at Columbia University and was recently elected one of the world's top 10 intellectuals. In this recently published article he expresses his views on the Zimbabwean crisis.

Lessons of Zimbabwe
Mahmood Mamdani

It is hard to think of a figure more reviled in the West than Robert Mugabe. Liberal and conservative commentators alike portray him as a brutal dictator, and blame him for Zimbabwe’s descent into hyperinflation and poverty. The seizure of white-owned farms by his black supporters has been depicted as a form of thuggery, and as a cause of the country’s declining production, as if these lands were doomed by black ownership. Sanctions have been imposed, and opposition groups funded with the explicit aim of unseating him.

There is no denying Mugabe’s authoritarianism, or his willingness to tolerate and even encourage the violent behaviour of his supporters. His policies have helped lay waste the country’s economy, though sanctions have played no small part, while his refusal to share power with the country’s growing opposition movement, much of it based in the trade unions, has led to a bitter impasse. This view of Zimbabwe’s crisis can be found everywhere, from the Economist and the Financial Times to the Guardian and the New Statesman, but it gives us little sense of how Mugabe has managed to survive. For he has ruled not only by coercion but by consent, and his land reform measures, however harsh, have won him considerable popularity, not just in Zimbabwe but throughout southern Africa. In any case, the preoccupation with his character does little to illuminate the socio-historical issues involved.

Many have compared Mugabe to Idi Amin and the land expropriation in Zimbabwe to the Asian expulsion in Uganda. The comparison isn’t entirely off the mark. I was one of the 70,000 people of South Asian descent booted out by Idi Amin in 1972; I returned to Uganda in 1979. My abiding recollection of my first few months back is that no one I met opposed Amin’s expulsion of ‘Asians’. Most merely said: ‘It was bad the way he did it.’ The same is likely to be said of the land transfers in Zimbabwe.

What distinguishes Mugabe and Amin from other authoritarian rulers is not their demagoguery but the fact that they projected themselves as champions of mass justice and successfully rallied those to whom justice had been denied by the colonial system. Not surprisingly, the justice dispensed by these demagogues mirrored the racialised injustice of the colonial system. In 1979 I began to realise that whatever they made of Amin’s brutality, the Ugandan people experienced the Asian expulsion of 1972 – and not the formal handover in 1962 – as the dawn of true independence. The people of Zimbabwe are likely to remember 2000-3 as the end of the settler colonial era. Any assessment of contemporary Zimbabwe needs to begin with this sobering fact.

[Keep reading here]


*****

N.B.1: You can read another interesting article by Mahmood Mamdani about Africa here.

N.B. 2: My own two lwei (that's the Angolan equivalent to two pence , tuppence, or two cents) on Zimbabwe and African post-colonial issues in general can be found - among other places, such as my 2000 MSc Dissertation, whose bibliography, incidentally, includes one of the authors cited by Mamdani: Phimister, on 'Commodity Relations and Class Formation in the Zimbabwean Countryside, 1898-1920', Journal of Pesant Studies 13,4 (1986) - here and here.

N.B.3: Se preferir ler algo sobre o assunto em Portugues, click aqui.
Mahmood Mamdani, a Ugandan of Asian origin, is Herbert Lehman Professor of Government in the Departments of Anthropology, Political Science and International Affairs at Columbia University and was recently elected one of the world's top 10 intellectuals. In this recently published article he expresses his views on the Zimbabwean crisis.

Lessons of Zimbabwe
Mahmood Mamdani

It is hard to think of a figure more reviled in the West than Robert Mugabe. Liberal and conservative commentators alike portray him as a brutal dictator, and blame him for Zimbabwe’s descent into hyperinflation and poverty. The seizure of white-owned farms by his black supporters has been depicted as a form of thuggery, and as a cause of the country’s declining production, as if these lands were doomed by black ownership. Sanctions have been imposed, and opposition groups funded with the explicit aim of unseating him.

There is no denying Mugabe’s authoritarianism, or his willingness to tolerate and even encourage the violent behaviour of his supporters. His policies have helped lay waste the country’s economy, though sanctions have played no small part, while his refusal to share power with the country’s growing opposition movement, much of it based in the trade unions, has led to a bitter impasse. This view of Zimbabwe’s crisis can be found everywhere, from the Economist and the Financial Times to the Guardian and the New Statesman, but it gives us little sense of how Mugabe has managed to survive. For he has ruled not only by coercion but by consent, and his land reform measures, however harsh, have won him considerable popularity, not just in Zimbabwe but throughout southern Africa. In any case, the preoccupation with his character does little to illuminate the socio-historical issues involved.

Many have compared Mugabe to Idi Amin and the land expropriation in Zimbabwe to the Asian expulsion in Uganda. The comparison isn’t entirely off the mark. I was one of the 70,000 people of South Asian descent booted out by Idi Amin in 1972; I returned to Uganda in 1979. My abiding recollection of my first few months back is that no one I met opposed Amin’s expulsion of ‘Asians’. Most merely said: ‘It was bad the way he did it.’ The same is likely to be said of the land transfers in Zimbabwe.

What distinguishes Mugabe and Amin from other authoritarian rulers is not their demagoguery but the fact that they projected themselves as champions of mass justice and successfully rallied those to whom justice had been denied by the colonial system. Not surprisingly, the justice dispensed by these demagogues mirrored the racialised injustice of the colonial system. In 1979 I began to realise that whatever they made of Amin’s brutality, the Ugandan people experienced the Asian expulsion of 1972 – and not the formal handover in 1962 – as the dawn of true independence. The people of Zimbabwe are likely to remember 2000-3 as the end of the settler colonial era. Any assessment of contemporary Zimbabwe needs to begin with this sobering fact.

[Keep reading here]


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N.B.1: You can read another interesting article by Mahmood Mamdani about Africa here.

N.B. 2: My own two lwei (that's the Angolan equivalent to two pence , tuppence, or two cents) on Zimbabwe and African post-colonial issues in general can be found - among other places, such as my 2000 MSc Dissertation, whose bibliography, incidentally, includes one of the authors cited by Mamdani: Phimister, on 'Commodity Relations and Class Formation in the Zimbabwean Countryside, 1898-1920', Journal of Pesant Studies 13,4 (1986) - here and here.

N.B.3: Se preferir ler algo sobre o assunto em Portugues, click aqui.

Monday, 15 December 2008

Friday, 12 December 2008

OUI NOUS POUVONS!

Sera' que e' desta que os Franceses fazem as pazes com os Americanos, ou sera' esta apenas mais uma manifestacao da sua legendaria rivalidade?
Primeiro, um grupo de notaveis emitiu este manifesto, que aqui notei na altura.
Depois, Mme. Sarkozy aludiu aqui , en passant, as "semelhancas" entre o background de Obama e o do seu marido.
Agora, em Paris, alguem se lembrou disto...

[Plus ici]

Sera' que e' desta que os Franceses fazem as pazes com os Americanos, ou sera' esta apenas mais uma manifestacao da sua legendaria rivalidade?
Primeiro, um grupo de notaveis emitiu
este manifesto, que aqui notei na altura.
Depois, Mme. Sarkozy aludiu aqui , en passant, as "semelhancas" entre o background de Obama e o do seu marido.
Agora, em Paris, alguem se lembrou disto...

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Thursday, 11 December 2008

OS DIREITOS HUMANOS E OS OBJECTIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILENIO

Cortesia do amigo Luis, este relatorio lancado ontem em Lisboa.
Clique na imagem para aceder.
Cortesia do amigo Luis, este relatorio lancado ontem em Lisboa.
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Wednesday, 10 December 2008

O FIM DA ECONOMIA DE CASINO COMO FIM DAS IDEOLOGIAS...

Ja’ aqui toquei ao de leve na forma como alguns veem a actual crise economica global como “o fim da economia de casino”. Tambem ja’ aqui tinha feito uma breve alusao ao “ideologos de todo o mundo uni-vos!” como um possivel slogan a ser adoptado na nova “era Obama” que ai vem...

Mas em nenhuma dessas ocasioes me passou pela cabeca algo como isto:
O governador do Banco Central do Zimbabwe (Reserve Bank of Zimbabwe – RBZ), Gideon Gono, acaba de lancar um livro entitulado “A Economia de Casino do Zimbabwe: Medidas Extraordinarias para Desafios Extraordinarios”.

Segundo ele, “no meu humilde livro, nao lido tanto com a minha historia pessoal, mas tento principalmente lancar luz sobre as profundas questoes filosoficas que marcaram a orientacao e a conduta do RBZ sob a minha supervisao nos ultimos cinco anos. Assim que arregacei as mangas para comecar a trabalhar a 1 de Dezembro de 2003, fui confrontado pela crua realidade da nossa economia degenerando-se literalmente numa economia de casino, devido a ganancia individual e, em alguns casos, colectiva, indisciplina, corrupcao, fraude e uma geral falta de unidade de objectivos entre os stakeholders.”

Nao se poderia aplicar essa descricao a Wall Street dos ultimos anos? Veja-se, em particular, como a crise ali e' atribuida as facilidades de acesso ao credito habitacional concedidas, durante as administracoes Carter e Clinton, a comunidade negra na America e as analogias entre essa analise e a questao da redistribuicao da terra na base da crise no Zimbabwe... Nao poderia esse livro ter sido escrito por Alan Greenspan ou, talvez mais apropriadamente, por Ben Bernanke? Nao sera’ a possibilidade de pronunciar Gono, Greenspan e Bernanke (e, ja’ agora, Melo e Cockburn) numa mesma frase, o prenuncio do “fim das ideologias”?

Mas o fantastico desta historia nao termina ai. Diz Gono, recentemente reconduzido por Mugabe na governacao do RBZ, que George Bush e Condoleezza Rice lhe ofereceram um posto de chefia no Banco Mundial, tendo o board deste reunido tres vezes para o convencer a aceita-lo, mas... ele regeitou a oferta.

Ja’ aqui toquei ao de leve na forma como alguns veem a actual crise economica global como “o fim da economia de casino”. Tambem ja’ aqui tinha feito uma breve alusao ao “ideologos de todo o mundo uni-vos!” como um possivel slogan a ser adoptado na nova “era Obama” que ai vem...

Mas em nenhuma dessas ocasioes me passou pela cabeca algo como isto:
O governador do Banco Central do Zimbabwe (Reserve Bank of Zimbabwe – RBZ), Gideon Gono, acaba de lancar um livro entitulado “A Economia de Casino do Zimbabwe: Medidas Extraordinarias para Desafios Extraordinarios”.

Segundo ele, “no meu humilde livro, nao lido tanto com a minha historia pessoal, mas tento principalmente lancar luz sobre as profundas questoes filosoficas que marcaram a orientacao e a conduta do RBZ sob a minha supervisao nos ultimos cinco anos. Assim que arregacei as mangas para comecar a trabalhar a 1 de Dezembro de 2003, fui confrontado pela crua realidade da nossa economia degenerando-se literalmente numa economia de casino, devido a ganancia individual e, em alguns casos, colectiva, indisciplina, corrupcao, fraude e uma geral falta de unidade de objectivos entre os stakeholders.”

Nao se poderia aplicar essa descricao a Wall Street dos ultimos anos? Veja-se, em particular, como a crise ali e' atribuida as facilidades de acesso ao credito habitacional concedidas, durante as administracoes Carter e Clinton, a comunidade negra na America e as analogias entre essa analise e a questao da redistribuicao da terra na base da crise no Zimbabwe... Nao poderia esse livro ter sido escrito por Alan Greenspan ou, talvez mais apropriadamente, por Ben Bernanke? Nao sera’ a possibilidade de pronunciar Gono, Greenspan e Bernanke (e, ja’ agora, Melo e Cockburn) numa mesma frase, o prenuncio do “fim das ideologias”?

Mas o fantastico desta historia nao termina ai. Diz Gono, recentemente reconduzido por Mugabe na governacao do RBZ, que George Bush e Condoleezza Rice lhe ofereceram um posto de chefia no Banco Mundial, tendo o board deste reunido tres vezes para o convencer a aceita-lo, mas... ele regeitou a oferta.

HUMAN RIGHTS: LOOKING BEYOND THE DECLARATION(S)

It’s 60 years today since the adoption of the UN Universal Declaration of Human Rights.
So, today’s date was “absurdly” made Human Rights Day.
Isn’t it absurd that we, humans, should have a day to celebrate, or simply be reminded of, our rights? Aren’t we supposed to be entitled to human rights every single day of our lives?
Yet, these too become “absurd” questions in the face of the absurdly frequent violations of human rights everywhere, everyday, in the world.
And they often become even more “absurd” when, as we try to find answers to questions such as “what exactly constitutes a 'human rights violation' to different people in different contexts?”, we come across the many layers there are to human rights issues beyond what “universal” declarations usually manage to convey.
That’s the sort of question Australian cartoonist Nicholson addresses in what he called the “Great Wall of Feminism”, depicting how, in the context of women's rights (it was his take on the Beijing Declaration), the exact same issues are experienced on either side of the divide (left-click on the image for a better reading):


*****
N.B.: Apesar de apenas ter visto este cartoon pela primeira vez no proprio dia em que aqui o postei, ele ilustra de algum modo algumas das questoes que tinha em mente neste post e tambem neste artigo e nesta discussao.
Isn’t it absurd that we, humans, should have a day to celebrate, or simply be reminded of, our rights? Aren’t we supposed to be entitled to human rights every single day of our lives?
Yet, these too become “absurd” questions in the face of the absurdly frequent violations of human rights everywhere, everyday, in the world.
And they often become even more “absurd” when, as we try to find answers to questions such as “what exactly constitutes a 'human rights violation' to different people in different contexts?”, we come across the many layers there are to human rights issues beyond what “universal” declarations usually manage to convey.
That’s the sort of question Australian cartoonist Nicholson addresses in what he called the “Great Wall of Feminism”, depicting how, in the context of women's rights (it was his take on the Beijing Declaration), the exact same issues are experienced on either side of the divide (left-click on the image for a better reading):


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N.B.: Apesar de apenas ter visto este cartoon pela primeira vez no proprio dia em que aqui o postei, ele ilustra de algum modo algumas das questoes que tinha em mente neste post e tambem neste artigo e nesta discussao.

Friday, 5 December 2008

ANGOLA: PAIS XENOFOBO?






Aqui ha’ uns anos, ao final de uma apresentacao que fiz durante uma serie de workshops sobre implementacao de politicas que dirigi em Johanesburgo para uma assistencia multinacional (que, por sinal, incluia dois angolanos, quadros do Ministerio da Educacao de Angola), alguem, um jovem sul-africano, fez uma intervencao dizendo algo como “quando as politicas sao deficientes, criam-se mecanismos assepticos para as validar”, ou qualquer coisa assim parecida… Bom, o facto e’ que o jovem nao tinha inicialmente entendido ‘patavina’ do mecanismo de monitorizacao da implementacao de politicas que ali tinha apresentado, por ser uma absoluta novidade na regiao, mas acabou depois por ficar com pelo menos "uma ideia".

Vem esta estoria a proposito deste interessante artigo de Pepetela. Por duas razoes: primeiro, porque retive daquela tirada do jovem sul-africano a palavra “asseptico”, por ter sido a primeira vez que a ouvi usada num contexto de formulacao, implementacao, monitorizacao e avaliacao de politicas; segundo, porque me parece que ha’ algo de “asseptico” na forma como Pepetela trata a questao da imigracao em Angola – nao tanto assim como ela e’ tratada neste artigo, por exemplo, mas “asseptico” de todo o modo.

Porque “asseptico”? Por, na minha modesta opiniao, me parecerem haver substanciais diferencas qualitativas (independentemente dos numeros em questao, ou seja das diferencas quantitativas) entre aqueles fluxos em diferentes periodos historicos. Isto e’, nao me parece, por exemplo, que a ocupacao colonial, o comercio transatlantico de escravos, ou os mais recentes fluxos migratorios pelas mais variadas razoes, desde politicas, de guerra, de estudo, ou economicas, se possam colocar ao mesmo nivel das migracoes pre-coloniais Bantu. Sera’ que podem estas ser classificadas como “imigracoes”? Havia fronteiras claramente definidas na altura em que elas se verificaram? Havia estados estruturados em todas as regioes em que elas tiveram lugar? Eram anteriormente povoadas todas as regioes "ocupadas" pelos Bantu ao longo das suas migracoes? Sera’ irrelevante geografica, antropologica, cultural e politicamente que elas tenham ocorrido dentro, i.e. de e para, Africa, por povos de origem Africana? Sera’ irrelevante historica e sociologicamente o facto de elas terem ocorrido durante milenios, enquanto a ocupacao colonial decorreu durante ‘apenas’ seculos (e em varios casos, incluindo em vastas regioes de Angola, ‘apenas’ decadas) e a actual vaga imigratoria conta menos de uma decada? Nao me proponho, no entanto, com este post discutir todas essas questoes, pelo que acrescentarei apenas as seguintes observacoes:

i) Nao pretendendo negar a possivel existencia de xenofobia no pais, o que me parece estar em causa em Angola e’ muito mais uma questao de nao se ter ainda criado um ambiente suficientemente acolhedor e integrador para os proprios angolanos que regressam ou que o pretendem fazer, nem proporcionado garantias suficientes aos nacionais de forma geral de que a actual entrada em massa de estrangeiros, claramente por razoes economicas, nao constitui um crowding out das suas proprias oportunidades economicas, sociais, educacionais e culturais. Porque, quanto a mim, o que se passa neste momento em Angola e’ uma acerrima e desabrida competicao, respeitando poucas ou nenhumas regras, pelos recursos escassos que, apesar de todas as sugestoes em contrario, ainda constituem as oportunidades que acabo de referir no actual quadro institucional, politico, economico e social do pais.

ii) As minhas proprias experiencias a esse nivel, deixam-me muito poucas duvidas de que, a haver xenofobia, ela e’ virada de forma por vezes ainda mais violenta e intolerante (talvez apenas comparavel a que sempre foi dirigida aos chamados regressados do Congo...) contra nacionais, particularmente se de origem Bantu, que tenham saido do pais durante o periodo post-independencia, especialmente os que sairam para estudar e que, pelas mais variadas razoes, nao regressaram imediatamente apos os seus estudos, nos casos em que os tenham completado.

O que sistematicamente se omite, porem, nessas manifestacoes de intolerancia (que de certo modo confirmam o que aqui disse sobre o estado mental de pelo menos parte da actual sociedade angolana) [*] e’ que, na maior parte dos casos, aqueles estudantes foram “empurrados” para fora do pais [**], quando nao literalmente expulsos, por politicas de formacao de quadros no exterior, no melhor dos casos, deficientes, segregacionistas e discriminatorias e, no pior, completamente falhadas, persecutorias, atentatorias da sua mais minima dignidade pessoal e violadoras dos seus mais elementares direitos humanos![***]

O que se faz tudo por esquecer, escamotear e negar em tais soezes, cobardes e criminosos ataques, e’ que alguns desses estudantes tiveram que tomar por sua propria conta e risco, pessoal e financeiramente, trabalhando honestamente, o “refazer” das suas qualificacoes academicas, tecnicas e profissionais em condicoes totalmente competitivas no estrangeiro, sem qualquer respaldo do Estado Angolano, ou, ja' agora, de qualquer outra instituicao, nacional ou estrangeira, publica ou privada. Por essa razao, se ha’ algo que eles nao temem e’ a livre competicao com estrangeiros no seu proprio pais! Mas a questao e’ que essa competicao, a semelhanca daquela a que estao habituados, tem que ser justa, objectiva, transparente, regrada, regulada e monitorizada. Nao e’, infelizmente, o que se passa neste momento em Angola, o que apenas contribui para a depauperacao do ja’ pauperrimo stock de capital humano do pais. Infelizmente tambem, essa nao e’ uma realidade exclusiva de Angola (embora ela seja ai exacerbada, por um lado, por uma propensao, quica unica em Africa, para se associar "desenvolvimento" e "civilizacao" com "estrangeiro nao Bantu" e, por outro lado, pelas recentes elevadas taxas de crescimento a custa do petroleo e pelas ditas "imensas riquezas do pais"...), verificando-se tambem nos varios paises Africanos que, independentemente das ideologias subjacentes as politicas que adoptaram desde as respectivas independencias, se veem imersos em eternos ciclos viciosos de dependencia, pobreza e sub-desenvolvimento, como aqui bem o ilustra o academico Francis Njubi.

iii) Volto brevemente a Johanesburgo para sugerir que, por forma a precaverem-se, entre outros possiveis, efeitos secundarios negativos e manifestacoes reactivas como esta, se adopte em Angola uma clara politica de imigracao e um eficiente mecanismo de monitorizacao (nao “asseptico”) dos actuais fluxos migratorios do e para o pais, que podera’ ser assente, entre outros, nos numeros de que Pepetela fala. Idealmente, tal politica de imigracao devera’ ser complementada, a par de uma seria politica de emprego, por uma robusta politica de formacao, avaliacao e requalificacao, que valorize e dignifique os quadros nacionais, tenham-se eles formado dentro ou fora do pais, e que maximize o stock de capital humano da nacao. Mas, sobretudo, que nunca se perca de vista nesse processo que nenhuma grande economia, sociedade, ou civilizacao deste mundo foi feita exclusivamente por meia duzia de Professores Doutores politica e ideologicamente alinhados em 'comites da especialidade' ou arregimentados por NGOs financiadas pelo estrangeiro, Colunistas ad-hoc, Militares, Artistas, Escritores e ... Estrangeiros.

*****

[*] Movidas, nos casos mais perturbadores, por noveis ‘colunistas’ numa certa imprensa que, aparentemente ao servico das mais escusas e sordidas agendas pessoais, assim demonstrando a mais gritante falta de profissionalismo, ao mesmo tempo que nao se cansam de promover a ida rapidamente e em forca para Angola de estrangeiros cujas qualificacoes e motivacoes nao lhes passa pela cabeca questionar (como os bons complexados subservientes que se prezam de ser... indeed, 'o problema' (nao e' segredo nenhum!) esta' e sempre esteve na cabeca deles, ou seja, nos seus mediocres e piquinininhos cerebros... ja' para nao falar nos seus diminutos fisicos... a medida, imagem e semelhanca dos quais projectam o pais...), se parecem vir, arrogante e ignorantemente, ‘especializando’ e 'post-graduando' em ‘avaliar’ e ‘julgar’, sem quaisquer habilitacoes ou competencias para tal (a nao ser talvez a sua vocacao natural para “comissarios politicos” de ocasiao, ou oficiais subalternos de uma qualquer "inquisicao"), do alto das suas auto-instituidas catedras, alguns quadros nacionais.

Sendo ainda mais revoltante o facto de alguns desses ‘colunistas’ (que, ademais, nao se coibem de incluir nos seus nojentos, venenosos, irresponsaveis e desumanos vituperios os filhos de quadros no exterior que, tambem eles, se formaram exclusivamente a custa do seu proprio sacrificio e dos seus pais ou, como no meu caso, da sua mae…), terem tambem, e sem quaisquer razoes de forca maior, “emigrado” durante longos anos no post-independencia para la vie en rose noutras paragens, onde viveram sempre a custa de outrem - por sinal, mulheres... o que diz muito sobre a sua auto-proclamada macheza e tera' levado alguem que, de outro modo, lhes deveria o maximo respeito a cantar-lhes o refrao les hommes sont des couchons...-, sem nunca terem trabalhado ou estudado... e que recentemente regressaram a Angola como "empresarios" (...depois de terem fugido de outras 'pastagens' onde afundaram empresas que criaram com dinheiros publicos e que esbanjaram em proveito proprio...) e com estatutos de "herois" e "antigos combatentes" (isto e', passaram subita, oportunistica e novo-riquisticamente a ter tudo, incluindo "palacios", e a "ser tudo" numa sociedade em que a experiencia vivencial da generalidade dos antigos combatentes e' retratada pela frase "ate' voce ja' nao es nada"...) mas, contudo, sem qualquer valor acrescentado para oferecer ao pais, o que talvez justifique toda a sua sanha canina, raivosa e assassina…

[**] Em particular durante o consulado de um notabilissimo e bastante versatil embaixador/musico/atleta/recem-graduado em Cuba, de quem um dos tais 'colunistas' aqui referidos e' um dedicado pupilo (ou, talvez melhor dito, kaxiko!) de longa data e cujo "disco de ouro negro" foi 'prefaciado' por Pepetela - nao que umas coisas tenham necessariamente a ver com outras, trata-se apenas de assinalar aqui algumas notaveis coincidencias...

[***] O que faz com que esses afoitos noveis 'colunistas' novo-jornaleiros estejam a incorrer, no minimo, numa multipla violacao dos direitos humanos das suas vitimas (pela qual apenas nao sao imediatamente responsabilizados legalmente porque nao teem coragem suficiente, como despreziveis cobardes que sao, de desferir os seus vis ataques aberta e directamente...), porquanto assim reza a Declaracao Universal dos Direitos Humanos:

Artigo 12°- Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13° - 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 19° - Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

... Isto em adicao a violacao de todas as politicas, disposicoes e declaracoes nacionais, regionais e internacionais respeitantes a promocao da Mulher e a defesa dos seus direitos, consagrados, entre outros documentos, na Declaracao de Beijing. O que apenas confirma tudo quanto aqui disse sobre um certo tipo de homem africano... sendo certo que muito mais ha' a dizer, em particular sobre um certo tipo de invertebrado angolano!

... Isto para nem sequer mencionar os mais elementares principios de educacao, cavalheirismo e civilidade (particularmente quando nao se conhece de parte alguma quem tao obcecada e apaixonadamente se tenta vitimar)!

... Isto para nem sequer falar na imoralidade em que incorrem...

Mas... como no fundo apenas me metem, como sempre me meteram, pena (muita pena mesmo!) ... e como, ao que dizem, teem um Ingles 'nao cursivo' (o que quer que isso seja...), dedico-lhes este poema. Desculpem-me ser da autoria de uma Mulher Negra...

[Crescam e Aparecam!]


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White Negritude






Aqui ha’ uns anos, ao final de uma apresentacao que fiz durante uma serie de workshops sobre implementacao de politicas que dirigi em Johanesburgo para uma assistencia multinacional (que, por sinal, incluia dois angolanos, quadros do Ministerio da Educacao de Angola), alguem, um jovem sul-africano, fez uma intervencao dizendo algo como “quando as politicas sao deficientes, criam-se mecanismos assepticos para as validar”, ou qualquer coisa assim parecida… Bom, o facto e’ que o jovem nao tinha inicialmente entendido ‘patavina’ do mecanismo de monitorizacao da implementacao de politicas que ali tinha apresentado, por ser uma absoluta novidade na regiao, mas acabou depois por ficar com pelo menos "uma ideia".

Vem esta estoria a proposito deste interessante artigo de Pepetela. Por duas razoes: primeiro, porque retive daquela tirada do jovem sul-africano a palavra “asseptico”, por ter sido a primeira vez que a ouvi usada num contexto de formulacao, implementacao, monitorizacao e avaliacao de politicas; segundo, porque me parece que ha’ algo de “asseptico” na forma como Pepetela trata a questao da imigracao em Angola – nao tanto assim como ela e’ tratada neste artigo, por exemplo, mas “asseptico” de todo o modo.

Porque “asseptico”? Por, na minha modesta opiniao, me parecerem haver substanciais diferencas qualitativas (independentemente dos numeros em questao, ou seja das diferencas quantitativas) entre aqueles fluxos em diferentes periodos historicos. Isto e’, nao me parece, por exemplo, que a ocupacao colonial, o comercio transatlantico de escravos, ou os mais recentes fluxos migratorios pelas mais variadas razoes, desde politicas, de guerra, de estudo, ou economicas, se possam colocar ao mesmo nivel das migracoes pre-coloniais Bantu. Sera’ que podem estas ser classificadas como “imigracoes”? Havia fronteiras claramente definidas na altura em que elas se verificaram? Havia estados estruturados em todas as regioes em que elas tiveram lugar? Eram anteriormente povoadas todas as regioes "ocupadas" pelos Bantu ao longo das suas migracoes? Sera’ irrelevante geografica, antropologica, cultural e politicamente que elas tenham ocorrido dentro, i.e. de e para, Africa, por povos de origem Africana? Sera’ irrelevante historica e sociologicamente o facto de elas terem ocorrido durante milenios, enquanto a ocupacao colonial decorreu durante ‘apenas’ seculos (e em varios casos, incluindo em vastas regioes de Angola, ‘apenas’ decadas) e a actual vaga imigratoria conta menos de uma decada? Nao me proponho, no entanto, com este post discutir todas essas questoes, pelo que acrescentarei apenas as seguintes observacoes:

i) Nao pretendendo negar a possivel existencia de xenofobia no pais, o que me parece estar em causa em Angola e’ muito mais uma questao de nao se ter ainda criado um ambiente suficientemente acolhedor e integrador para os proprios angolanos que regressam ou que o pretendem fazer, nem proporcionado garantias suficientes aos nacionais de forma geral de que a actual entrada em massa de estrangeiros, claramente por razoes economicas, nao constitui um crowding out das suas proprias oportunidades economicas, sociais, educacionais e culturais. Porque, quanto a mim, o que se passa neste momento em Angola e’ uma acerrima e desabrida competicao, respeitando poucas ou nenhumas regras, pelos recursos escassos que, apesar de todas as sugestoes em contrario, ainda constituem as oportunidades que acabo de referir no actual quadro institucional, politico, economico e social do pais.

ii) As minhas proprias experiencias a esse nivel, deixam-me muito poucas duvidas de que, a haver xenofobia, ela e’ virada de forma por vezes ainda mais violenta e intolerante (talvez apenas comparavel a que sempre foi dirigida aos chamados regressados do Congo...) contra nacionais, particularmente se de origem Bantu, que tenham saido do pais durante o periodo post-independencia, especialmente os que sairam para estudar e que, pelas mais variadas razoes, nao regressaram imediatamente apos os seus estudos, nos casos em que os tenham completado.

O que sistematicamente se omite, porem, nessas manifestacoes de intolerancia (que de certo modo confirmam o que aqui disse sobre o estado mental de pelo menos parte da actual sociedade angolana) [*] e’ que, na maior parte dos casos, aqueles estudantes foram “empurrados” para fora do pais [**], quando nao literalmente expulsos, por politicas de formacao de quadros no exterior, no melhor dos casos, deficientes, segregacionistas e discriminatorias e, no pior, completamente falhadas, persecutorias, atentatorias da sua mais minima dignidade pessoal e violadoras dos seus mais elementares direitos humanos![***]

O que se faz tudo por esquecer, escamotear e negar em tais soezes, cobardes e criminosos ataques, e’ que alguns desses estudantes tiveram que tomar por sua propria conta e risco, pessoal e financeiramente, trabalhando honestamente, o “refazer” das suas qualificacoes academicas, tecnicas e profissionais em condicoes totalmente competitivas no estrangeiro, sem qualquer respaldo do Estado Angolano, ou, ja' agora, de qualquer outra instituicao, nacional ou estrangeira, publica ou privada. Por essa razao, se ha’ algo que eles nao temem e’ a livre competicao com estrangeiros no seu proprio pais! Mas a questao e’ que essa competicao, a semelhanca daquela a que estao habituados, tem que ser justa, objectiva, transparente, regrada, regulada e monitorizada. Nao e’, infelizmente, o que se passa neste momento em Angola, o que apenas contribui para a depauperacao do ja’ pauperrimo stock de capital humano do pais. Infelizmente tambem, essa nao e’ uma realidade exclusiva de Angola (embora ela seja ai exacerbada, por um lado, por uma propensao, quica unica em Africa, para se associar "desenvolvimento" e "civilizacao" com "estrangeiro nao Bantu" e, por outro lado, pelas recentes elevadas taxas de crescimento a custa do petroleo e pelas ditas "imensas riquezas do pais"...), verificando-se tambem nos varios paises Africanos que, independentemente das ideologias subjacentes as politicas que adoptaram desde as respectivas independencias, se veem imersos em eternos ciclos viciosos de dependencia, pobreza e sub-desenvolvimento, como aqui bem o ilustra o academico Francis Njubi.

iii) Volto brevemente a Johanesburgo para sugerir que, por forma a precaverem-se, entre outros possiveis, efeitos secundarios negativos e manifestacoes reactivas como esta, se adopte em Angola uma clara politica de imigracao e um eficiente mecanismo de monitorizacao (nao “asseptico”) dos actuais fluxos migratorios do e para o pais, que podera’ ser assente, entre outros, nos numeros de que Pepetela fala. Idealmente, tal politica de imigracao devera’ ser complementada, a par de uma seria politica de emprego, por uma robusta politica de formacao, avaliacao e requalificacao, que valorize e dignifique os quadros nacionais, tenham-se eles formado dentro ou fora do pais, e que maximize o stock de capital humano da nacao. Mas, sobretudo, que nunca se perca de vista nesse processo que nenhuma grande economia, sociedade, ou civilizacao deste mundo foi feita exclusivamente por meia duzia de Professores Doutores politica e ideologicamente alinhados em 'comites da especialidade' ou arregimentados por NGOs financiadas pelo estrangeiro, Colunistas ad-hoc, Militares, Artistas, Escritores e ... Estrangeiros.

*****

[*] Movidas, nos casos mais perturbadores, por noveis ‘colunistas’ numa certa imprensa que, aparentemente ao servico das mais escusas e sordidas agendas pessoais, assim demonstrando a mais gritante falta de profissionalismo, ao mesmo tempo que nao se cansam de promover a ida rapidamente e em forca para Angola de estrangeiros cujas qualificacoes e motivacoes nao lhes passa pela cabeca questionar (como os bons complexados subservientes que se prezam de ser... indeed, 'o problema' (nao e' segredo nenhum!) esta' e sempre esteve na cabeca deles, ou seja, nos seus mediocres e piquinininhos cerebros... ja' para nao falar nos seus diminutos fisicos... a medida, imagem e semelhanca dos quais projectam o pais...), se parecem vir, arrogante e ignorantemente, ‘especializando’ e 'post-graduando' em ‘avaliar’ e ‘julgar’, sem quaisquer habilitacoes ou competencias para tal (a nao ser talvez a sua vocacao natural para “comissarios politicos” de ocasiao, ou oficiais subalternos de uma qualquer "inquisicao"), do alto das suas auto-instituidas catedras, alguns quadros nacionais.

Sendo ainda mais revoltante o facto de alguns desses ‘colunistas’ (que, ademais, nao se coibem de incluir nos seus nojentos, venenosos, irresponsaveis e desumanos vituperios os filhos de quadros no exterior que, tambem eles, se formaram exclusivamente a custa do seu proprio sacrificio e dos seus pais ou, como no meu caso, da sua mae…), terem tambem, e sem quaisquer razoes de forca maior, “emigrado” durante longos anos no post-independencia para la vie en rose noutras paragens, onde viveram sempre a custa de outrem - por sinal, mulheres... o que diz muito sobre a sua auto-proclamada macheza e tera' levado alguem que, de outro modo, lhes deveria o maximo respeito a cantar-lhes o refrao les hommes sont des couchons...-, sem nunca terem trabalhado ou estudado... e que recentemente regressaram a Angola como "empresarios" (...depois de terem fugido de outras 'pastagens' onde afundaram empresas que criaram com dinheiros publicos e que esbanjaram em proveito proprio...) e com estatutos de "herois" e "antigos combatentes" (isto e', passaram subita, oportunistica e novo-riquisticamente a ter tudo, incluindo "palacios", e a "ser tudo" numa sociedade em que a experiencia vivencial da generalidade dos antigos combatentes e' retratada pela frase "ate' voce ja' nao es nada"...) mas, contudo, sem qualquer valor acrescentado para oferecer ao pais, o que talvez justifique toda a sua sanha canina, raivosa e assassina…

[**] Em particular durante o consulado de um notabilissimo e bastante versatil embaixador/musico/atleta/recem-graduado em Cuba, de quem um dos tais 'colunistas' aqui referidos e' um dedicado pupilo (ou, talvez melhor dito, kaxiko!) de longa data e cujo "disco de ouro negro" foi 'prefaciado' por Pepetela - nao que umas coisas tenham necessariamente a ver com outras, trata-se apenas de assinalar aqui algumas notaveis coincidencias...

[***] O que faz com que esses afoitos noveis 'colunistas' novo-jornaleiros estejam a incorrer, no minimo, numa multipla violacao dos direitos humanos das suas vitimas (pela qual apenas nao sao imediatamente responsabilizados legalmente porque nao teem coragem suficiente, como despreziveis cobardes que sao, de desferir os seus vis ataques aberta e directamente...), porquanto assim reza a Declaracao Universal dos Direitos Humanos:

Artigo 12°- Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a protecção da lei.

Artigo 13° - 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 19° - Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

... Isto em adicao a violacao de todas as politicas, disposicoes e declaracoes nacionais, regionais e internacionais respeitantes a promocao da Mulher e a defesa dos seus direitos, consagrados, entre outros documentos, na Declaracao de Beijing. O que apenas confirma tudo quanto aqui disse sobre um certo tipo de homem africano... sendo certo que muito mais ha' a dizer, em particular sobre um certo tipo de invertebrado angolano!

... Isto para nem sequer mencionar os mais elementares principios de educacao, cavalheirismo e civilidade (particularmente quando nao se conhece de parte alguma quem tao obcecada e apaixonadamente se tenta vitimar)!

... Isto para nem sequer falar na imoralidade em que incorrem...

Mas... como no fundo apenas me metem, como sempre me meteram, pena (muita pena mesmo!) ... e como, ao que dizem, teem um Ingles 'nao cursivo' (o que quer que isso seja...), dedico-lhes este poema. Desculpem-me ser da autoria de uma Mulher Negra...

[Crescam e Aparecam!]


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White Negritude

Wednesday, 3 December 2008

COMO ENTENDO AS ESCOLHAS DE OBAMA

A pouco mais de um mes entre a sua historica vitoria eleitoral e a inauguracao formal da sua Administracao, Barack Obama (BO) comeca a mostrar “as suas garras” como Presidente Eleito dos EUA. Porque a etiqueta institucional dita que os EUA so’ podem ter um Presidente de cada vez (“one President at a time”), BO tem ocupado este interim, em primeiro lugar, com uma leitura que contem muito do que se podera’ esperar da sua Presidencia – a da experiencia do “Team of Rivals” (“Equipa de Rivais”) de Abraham Lincoln – e, em segundo lugar, com as primeiras nomeacoes para a sua Administracao, que parecem ser ditadas directamente por aquela leitura.

Se o primeiro sinal da transcricao a letra daquela leitura tera’ sido dado pelo seu encontro formal post-eleitoral com John McCain e mencoes a possibilidade de virem a trabalhar juntos - algo que, de algum modo, aqui ‘me cheirou’, por, em termos nao estritamente de politics (o que talvez mais directamente pudesse conduzir a um GUN ou GURN a nossa maneira...), mas de policy e como individuos, o changer e o maverick nao me parecerem muito distantes, excepto no que diz respeito a guerra no Iraque e aos pormenores relativos as medidas mais efectivas para ultrapassar a crise economica -, o full monty revela-se agora com as nomeacoes das suas equipas economica e de defesa e seguranca, respectivamente.

Quanto a equipa economica, em termos substantivos pouco ou nada me parece inusitado num contexto em que o mais notavel critico da politica economica da Administracao Bush, de seu nome Paul Krugman, expressa publicamente a sua concordancia com um dos mais notaveis conselheiros economicos de Bush, de seu nome Greg Mankiw, no que cada vez mais se vai tornando consensual para a resolucao da actual crise economica: uma seria revisitacao de Keynesian Economics.

Ja’ quanto a equipa de defesa e seguranca, as coisas parecem mais problematicas… ou talvez nao. Como aqui notei na altura, Hillary Clinton, agora nomeada para o posto de Secretaria de Estado, pareceu-me ter uma estrategia mais firmemente fundada na diplomacia do que qualquer dos outros candidatos Democratas, ainda mais que Obama ou Richardson – este agora em vias de ser nomeado Secretario para o Comercio –, estrategia que, no que respeita ao mundo em desenvolvimento, se apresenta potenciada (salvo em possiveis areas de conflito de interesses) pelos compromissos assumidos pelo seu marido sob o Clinton Global Initiative. No que respeita a mais controversa nomeacao de Robert Gates – por significar a manutencao no posto nao so’ de um Republicano, mas de alguem que serviu activamente a insensivel estrategia belicista de Bush como Secretario para a Defesa –, parece-me que o proprio disse o essencial sobre o assunto na sua conferencia de imprensa de ontem: “O Pentagono sera’ diferente sob a Administracao Obama; havera’ certamente discordancias entre membros da equipa, mas elas serao decididas pelo Presidente.” Ou seja, e traduzindo-o para o meu proprio entendimento, change is in the eye of the beholder, o beholder sendo, neste caso, o Presidente dos EUA, Barack Obama (mantendo, no entanto, em mente que beholders somos tambem todos nos, os que, com as mais diversas motivacoes, fizemos significar Obama com Change). Mas tambem pode ser que BO veja as coisas em termos mais pragmaticos, e.g.: “let them sort out the mess they started!”…

Em qualquer dos casos, BO justificou assim as suas nomeacoes: “as pessoas nao votaram por ideologias, mas sim por um governo inteligente e funcional, que esteja acima de ideologias” (ideologos de todo o mundo uni-vos!). Mas, questoes de leituras, personalidades e ideologias a parte, resta uma questao incontornavel, que julgo partilhar com nao poucos dos que povoam o vasto universo de apoiantes de BO durante a sua campanha presidencial: porque nao mais faces “negras” (controversias sobre a questao da “raca” oblige…) na nova Administracao? Well, talvez nos sirva (pelo menos ate' la’ mais para meados do seu mandato, i.e. de 2010 em diante, quando for possivel avaliar os impactos reais das suas politicas nas relacoes raciais nos EUA e, ja’ agora, no resto do mundo), a lembranca de que he ran on a post-racial ticket, ou seja, no unico ticket que permitiria a qualquer candidato nao-branco ser eleito para a Casa Branca, independentemente da questao real de estarmos ou nao numa post-racial era – questao que aqui se tenta avaliar de forma objectiva e aqui de forma satirica... Esperemos, pois, para ver.
A pouco mais de um mes entre a sua historica vitoria eleitoral e a inauguracao formal da sua Administracao, Barack Obama (BO) comeca a mostrar “as suas garras” como Presidente Eleito dos EUA. Porque a etiqueta institucional dita que os EUA so’ podem ter um Presidente de cada vez (“one President at a time”), BO tem ocupado este interim, em primeiro lugar, com uma leitura que contem muito do que se podera’ esperar da sua Presidencia – a da experiencia do “Team of Rivals” (“Equipa de Rivais”) de Abraham Lincoln – e, em segundo lugar, com as primeiras nomeacoes para a sua Administracao, que parecem ser ditadas directamente por aquela leitura.

Se o primeiro sinal da transcricao a letra daquela leitura tera’ sido dado pelo seu encontro formal post-eleitoral com John McCain e mencoes a possibilidade de virem a trabalhar juntos - algo que, de algum modo, aqui ‘me cheirou’, por, em termos nao estritamente de politics (o que talvez mais directamente pudesse conduzir a um GUN ou GURN a nossa maneira...), mas de policy e como individuos, o changer e o maverick nao me parecerem muito distantes, excepto no que diz respeito a guerra no Iraque e aos pormenores relativos as medidas mais efectivas para ultrapassar a crise economica -, o full monty revela-se agora com as nomeacoes das suas equipas economica e de defesa e seguranca, respectivamente.

Quanto a equipa economica, em termos substantivos pouco ou nada me parece inusitado num contexto em que o mais notavel critico da politica economica da Administracao Bush, de seu nome Paul Krugman, expressa publicamente a sua concordancia com um dos mais notaveis conselheiros economicos de Bush, de seu nome Greg Mankiw, no que cada vez mais se vai tornando consensual para a resolucao da actual crise economica: uma seria revisitacao de Keynesian Economics.

Ja’ quanto a equipa de defesa e seguranca, as coisas parecem mais problematicas… ou talvez nao. Como aqui notei na altura, Hillary Clinton, agora nomeada para o posto de Secretaria de Estado, pareceu-me ter uma estrategia mais firmemente fundada na diplomacia do que qualquer dos outros candidatos Democratas, ainda mais que Obama ou Richardson – este agora em vias de ser nomeado Secretario para o Comercio –, estrategia que, no que respeita ao mundo em desenvolvimento, se apresenta potenciada (salvo em possiveis areas de conflito de interesses) pelos compromissos assumidos pelo seu marido sob o Clinton Global Initiative. No que respeita a mais controversa nomeacao de Robert Gates – por significar a manutencao no posto nao so’ de um Republicano, mas de alguem que serviu activamente a insensivel estrategia belicista de Bush como Secretario para a Defesa –, parece-me que o proprio disse o essencial sobre o assunto na sua conferencia de imprensa de ontem: “O Pentagono sera’ diferente sob a Administracao Obama; havera’ certamente discordancias entre membros da equipa, mas elas serao decididas pelo Presidente.” Ou seja, e traduzindo-o para o meu proprio entendimento, change is in the eye of the beholder, o beholder sendo, neste caso, o Presidente dos EUA, Barack Obama (mantendo, no entanto, em mente que beholders somos tambem todos nos, os que, com as mais diversas motivacoes, fizemos significar Obama com Change). Mas tambem pode ser que BO veja as coisas em termos mais pragmaticos, e.g.: “let them sort out the mess they started!”…

Em qualquer dos casos, BO justificou assim as suas nomeacoes: “as pessoas nao votaram por ideologias, mas sim por um governo inteligente e funcional, que esteja acima de ideologias” (ideologos de todo o mundo uni-vos!). Mas, questoes de leituras, personalidades e ideologias a parte, resta uma questao incontornavel, que julgo partilhar com nao poucos dos que povoam o vasto universo de apoiantes de BO durante a sua campanha presidencial: porque nao mais faces “negras” (controversias sobre a questao da “raca” oblige…) na nova Administracao? Well, talvez nos sirva (pelo menos ate' la’ mais para meados do seu mandato, i.e. de 2010 em diante, quando for possivel avaliar os impactos reais das suas politicas nas relacoes raciais nos EUA e, ja’ agora, no resto do mundo), a lembranca de que he ran on a post-racial ticket, ou seja, no unico ticket que permitiria a qualquer candidato nao-branco ser eleito para a Casa Branca, independentemente da questao real de estarmos ou nao numa post-racial era – questao que aqui se tenta avaliar de forma objectiva e aqui de forma satirica... Esperemos, pois, para ver.

Monday, 1 December 2008

DESTAQUES (IRRESISTIVEIS…) DAS ULTIMAS EDICOES DOS SEMANARIOS ANGOLANOS

Tendo dito aqui que terminava a serie “Ecos da Imprensa Angolana”, tambem prometi na altura que continuaria, malgre tout, a dar conta neste blog das minhas leituras da dita imprensa. Assim, do que me chegou dos semanarios da ultima semana, nao resisto a postar aqui os seguintes registos:

O SA da-nos conta da instituicao de uma comissao mandatada pelo Presidente da Republica para divisar a criacao do primeiro Fundo Soberano Angolano (FSA), sobre o qual fonte abalizada me deixa saber que eu terei sido a primeira pessoa a sugerir na imprensa angolana (no meu artigo Que Fazer?):

[Aqui]

Ainda no SA, um relatorio compreensivo das conclusoes de uma auditoria da UNITA as ultimas eleicoes legislativas no pais, que se vem juntar a anteriores relatorios similares, nomeadamente o do Human Rights Watch, neste blog oportunamente apresentado e comentado:

[Aqui]
[Podera' tambem consultar o Relatorio Final da Missao de Observacao Eleitoral da Uniao Europeia aqui.]

E um comentario a vitoria do angolano Ricco no Big Brother Africa III:


O NJ tras esta ‘foto da semana’ que poderia ser entitulada “E’ Funge!”:


Ainda do NJ, os seguintes destaques:

Uma controversia a volta da “historia verdadeira de Cuba em Angola”, ocorrida durante a primeira edicao do FIC de Luanda, envolvendo alegados ‘problemas tecnicos’, ‘censura’ e a que podera’ ser tida como a ‘primeira tour de force’ da recem-nomeada Ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva:*

[Aqui]

E uma entrevista com Sara Moldoror, companheira de Mario Pinto de Andrade durante um periodo significativo da sua vida, cineasta e homenageada com o ‘Trofeu Homenagem’ do FIC, que lhe foi entregue pela acima citada Ministra da Cultura, pelo seu contributo ao cinema Angolano, nomeadamente com o filme “Sambizanga”:

[Aqui]

Entretanto, o novo semanario O Pais, que pode ser encontrado online aqui, ja' se encontra em circulacao e tras no seu primeiro numero uma interessante materia sobre a poligamia em Angola.

*****

*P.S.: Podera' encontrar aqui uma reportagem de O Pais sobre o FIC, onde se reporta que o alegadamente censurado documentario "Cuba - Uma Odisseia Africana" acabou por vencer o premio do certame para a sua categoria.

*P.P.S.: Finalmente, acabei por descobrir recentemente (Marco de 2009) em Luanda que este "Cuba - Uma Odisseia Africana" e', nem mais nem menos, o documentario que vi na BBC ha' dois anos, sob o titulo "Cuba!Africa!Revolution!", sobre o qual aqui reportei na altura.
Tendo dito aqui que terminava a serie “Ecos da Imprensa Angolana”, tambem prometi na altura que continuaria, malgre tout, a dar conta neste blog das minhas leituras da dita imprensa. Assim, do que me chegou dos semanarios da ultima semana, nao resisto a postar aqui os seguintes registos:

O SA da-nos conta da instituicao de uma comissao mandatada pelo Presidente da Republica para divisar a criacao do primeiro Fundo Soberano Angolano (FSA), sobre o qual fonte abalizada me deixa saber que eu terei sido a primeira pessoa a sugerir na imprensa angolana (no meu artigo Que Fazer?):

[Aqui]

Ainda no SA, um relatorio compreensivo das conclusoes de uma auditoria da UNITA as ultimas eleicoes legislativas no pais, que se vem juntar a anteriores relatorios similares, nomeadamente o do Human Rights Watch, neste blog oportunamente apresentado e comentado:

[Aqui]
[Podera' tambem consultar o Relatorio Final da Missao de Observacao Eleitoral da Uniao Europeia aqui.]

E um comentario a vitoria do angolano Ricco no Big Brother Africa III:


O NJ tras esta ‘foto da semana’ que poderia ser entitulada “E’ Funge!”:


Ainda do NJ, os seguintes destaques:

Uma controversia a volta da “historia verdadeira de Cuba em Angola”, ocorrida durante a primeira edicao do FIC de Luanda, envolvendo alegados ‘problemas tecnicos’, ‘censura’ e a que podera’ ser tida como a ‘primeira tour de force’ da recem-nomeada Ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva:*

[Aqui]

E uma entrevista com Sara Moldoror, companheira de Mario Pinto de Andrade durante um periodo significativo da sua vida, cineasta e homenageada com o ‘Trofeu Homenagem’ do FIC, que lhe foi entregue pela acima citada Ministra da Cultura, pelo seu contributo ao cinema Angolano, nomeadamente com o filme “Sambizanga”:

[Aqui]

Entretanto, o novo semanario O Pais, que pode ser encontrado online aqui, ja' se encontra em circulacao e tras no seu primeiro numero uma interessante materia sobre a poligamia em Angola.

*****

*P.S.: Podera' encontrar aqui uma reportagem de O Pais sobre o FIC, onde se reporta que o alegadamente censurado documentario "Cuba - Uma Odisseia Africana" acabou por vencer o premio do certame para a sua categoria.

*P.P.S.: Finalmente, acabei por descobrir recentemente (Marco de 2009) em Luanda que este "Cuba - Uma Odisseia Africana" e', nem mais nem menos, o documentario que vi na BBC ha' dois anos, sob o titulo "Cuba!Africa!Revolution!", sobre o qual aqui reportei na altura.