Wednesday 30 April 2008

THIS MONTH LAST YEAR (4)

Bem, nao sei se sera’ pelas suas alegadas “chuvas mil”, ou por qualquer outra estranha razao, mas Abril parece ser um mes bastante fertil em makas… pelo menos neste blog.
Assim, houve aqui a “Cronica de uma Maka Anunciada” e seus desenvolvimentos; o encerramento temporario do blog por causa de outra maka absolutamente revoltante, provocada por alguem manifestamente incapaz de discernir entre o endereco deste blog e o endereco de um qualquer hospital psiquiatrico… e, ainda, o prenuncio de uma ‘maka que nao foi’ porque assim resolvi que deveria ser: tratar afirmacoes como “(…) compram 'arte africana', o que quer que isso seja (…)”, feitas seja por quem for e dirigidas a quem quer que seja, com a ironia que me parecem merecer… E ainda bem que aquela maka ‘nao foi’, porque creio ter assim poupado o seu autor de um ‘kibeto’ similar (embora, quero crer, de menor dimensao) ao que no mes que hoje finda tem estado a provocar…

Mas, nem so’ de makas viveu este blog em Abril do ano passado. Alias, aquele tera’ talvez sido um dos meses tematicamente mais diversificados aqui. Vejamos:

- Falou-se de Historia: em ‘Late Sunday Service’, onde apresento, pela primeira vez em algum lugar, uma foto de familia; num outro post em que, a proposito de um poema de Noemia de Sousa, ‘Magaica’, introduzo algumas breves notas sobre a Historia Economica da Africa Austral, e tambem no 25 de Abril, com a primeira parte de um interessante documentario da BBC sobre a experiencia Cubana em Africa;

- Houve, como sempre, musica, com destaque para Billie Holiday (na sequencia de uma interessante exchange de notas musicais dos Gershwin com a SG) e Mafikizolo;

- Falou-se de politica: no ‘Global Day for Darfur’; em ‘Afrika: What Price a Brain?’ (onde se discutem, nos comentarios, algumas das questoes resurgidas aqui nos ultimos dias a proposito da chamada ‘Recolonizacao’); em ‘Sunday Paper’, a proposito de um artigo sobre as petro-elites; no terceiro episodio da serie “Obama vs. Clinton”, e na campanha de que aqui fiz eco pela libertacao do jornalista Britanico Alan Johnston (com a mesma motivacao que o fiz, mais recentemente, pela libertacao do jornalista Angolano Graca Campos);

- Houve fait-divers: em ‘Oh D(G)ear!’; no show de danca e batuke de George Bush; no ultimo (unico?) sumario de ‘Makas na Sanzala Global’ que aqui fiz (afinal, sempre houve mais makas…), no Pavement Art dedicado aos meus sobrinhos mais entusiastas deste blog e no eminentemente sarcastico ‘Doggy Life’…

- Mostraram-se estados de alma e de natureza, em ‘Angola nao e’ so’ Lu(a)nda’ (onde se podem ver os efeitos das chuvas mil de Abril no Soyo) e em ‘Glory Days’;

Highlights? Dois posts - um sobre danca: “It’s Friday!”, e outro sobre, digamos, ‘arte, vida & cultura’: “Jean-Michel Basquiat… or Those Six Degrees of Separation”, - que, ja’ agora, devo explicitar foram particularmente motivados por duas das makas a que me refiro no inicio deste texto…
Bem, nao sei se sera’ pelas suas alegadas “chuvas mil”, ou por qualquer outra estranha razao, mas Abril parece ser um mes bastante fertil em makas… pelo menos neste blog.
Assim, houve aqui a “Cronica de uma Maka Anunciada” e seus desenvolvimentos; o encerramento temporario do blog por causa de outra maka absolutamente revoltante, provocada por alguem manifestamente incapaz de discernir entre o endereco deste blog e o endereco de um qualquer hospital psiquiatrico… e, ainda, o prenuncio de uma ‘maka que nao foi’ porque assim resolvi que deveria ser: tratar afirmacoes como “(…) compram 'arte africana', o que quer que isso seja (…)”, feitas seja por quem for e dirigidas a quem quer que seja, com a ironia que me parecem merecer… E ainda bem que aquela maka ‘nao foi’, porque creio ter assim poupado o seu autor de um ‘kibeto’ similar (embora, quero crer, de menor dimensao) ao que no mes que hoje finda tem estado a provocar…

Mas, nem so’ de makas viveu este blog em Abril do ano passado. Alias, aquele tera’ talvez sido um dos meses tematicamente mais diversificados aqui. Vejamos:

- Falou-se de Historia: em ‘Late Sunday Service’, onde apresento, pela primeira vez em algum lugar, uma foto de familia; num outro post em que, a proposito de um poema de Noemia de Sousa, ‘Magaica’, introduzo algumas breves notas sobre a Historia Economica da Africa Austral, e tambem no 25 de Abril, com a primeira parte de um interessante documentario da BBC sobre a experiencia Cubana em Africa;

- Houve, como sempre, musica, com destaque para Billie Holiday (na sequencia de uma interessante exchange de notas musicais dos Gershwin com a SG) e Mafikizolo;

- Falou-se de politica: no ‘Global Day for Darfur’; em ‘Afrika: What Price a Brain?’ (onde se discutem, nos comentarios, algumas das questoes resurgidas aqui nos ultimos dias a proposito da chamada ‘Recolonizacao’); em ‘Sunday Paper’, a proposito de um artigo sobre as petro-elites; no terceiro episodio da serie “Obama vs. Clinton”, e na campanha de que aqui fiz eco pela libertacao do jornalista Britanico Alan Johnston (com a mesma motivacao que o fiz, mais recentemente, pela libertacao do jornalista Angolano Graca Campos);

- Houve fait-divers: em ‘Oh D(G)ear!’; no show de danca e batuke de George Bush; no ultimo (unico?) sumario de ‘Makas na Sanzala Global’ que aqui fiz (afinal, sempre houve mais makas…), no Pavement Art dedicado aos meus sobrinhos mais entusiastas deste blog e no eminentemente sarcastico ‘Doggy Life’…

- Mostraram-se estados de alma e de natureza, em ‘Angola nao e’ so’ Lu(a)nda’ (onde se podem ver os efeitos das chuvas mil de Abril no Soyo) e em ‘Glory Days’;

Highlights? Dois posts - um sobre danca: “It’s Friday!”, e outro sobre, digamos, ‘arte, vida & cultura’: “Jean-Michel Basquiat… or Those Six Degrees of Separation”, - que, ja’ agora, devo explicitar foram particularmente motivados por duas das makas a que me refiro no inicio deste texto…

Tuesday 29 April 2008

HOW SAD...

Yes, the reverend wrong came back from the dead… with a vengeance!
But, is he saying
“I’m the father you never had... I made you, so I’ll un-make you!
Yes, you said that you couldn’t disown me, but you also dared to say 'we've heard my former pastor, Reverend Jeremiah Wright, use incendiary language to express views that have the potential not only to widen the racial divide, but views that denigrate both the greatness and the goodness of our nation; that rightly offend white and black alike.'
You lost an opportunity there, son...
So, now I’m the one who’s gonna disown you and totally derail your campaign! It doesn’t matter to me, you are a politician but I only respond to God. You may go down in History as the first Black American President that never was, but that story will never be written without my role in it being mentioned! That’s all that matters to me and may God help me in my sacred mission to destroy yours and all your supporters’ dreams! God damn you and America! God bless me and only me!”
Or is he just the most self-centred, egocentric, megalomaniac, jealousy-driven prick ever to make himself a total fool in front of the entire world? Both, I think.
Now, what’s Obama to do? Keep saying “papa don’t preach” or definitively cut off any remaining open lines with him? The latter, I think.

***

Update (30/04/08) - Later, yesterday, Obama did the latter:



Yes, the reverend wrong came back from the dead… with a vengeance!
But, is he saying
“I’m the father you never had... I made you, so I’ll un-make you!
Yes, you said that you couldn’t disown me, but you also dared to say 'we've heard my former pastor, Reverend Jeremiah Wright, use incendiary language to express views that have the potential not only to widen the racial divide, but views that denigrate both the greatness and the goodness of our nation; that rightly offend white and black alike.'
You lost an opportunity there, son...
So, now I’m the one who’s gonna disown you and totally derail your campaign! It doesn’t matter to me, you are a politician but I only respond to God. You may go down in History as the first Black American President that never was, but that story will never be written without my role in it being mentioned! That’s all that matters to me and may God help me in my sacred mission to destroy yours and all your supporters’ dreams! God damn you and America! God bless me and only me!”
Or is he just the most self-centred, egocentric, megalomaniac, jealousy-driven prick ever to make himself a total fool in front of the entire world? Both, I think.
Now, what’s Obama to do? Keep saying “papa don’t preach” or definitively cut off any remaining open lines with him? The latter, I think.

***

Update (30/04/08) - Later, yesterday, Obama did the latter:



Friday 25 April 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA (7)


Eu nao disse que o 'kibeto' ia continuar?
Na continuacao da ja' tristemente celebre Maka de 1 Jose' contra 3 Antonios, este fim de semana poderao encontrar no SA duas replicas 'a ultima replica de Agualusa...


Luis Kandjimbo, em "A TRADIÇÃO LITERÁRIA ANGOLANA E O GRAU ZERO DA MEMÓRIA DE UM ESCRITOR":


Que motivação subjaz à exaltação dos estudos clássicos de Leopold Senghor realizados na Universidade da Sorbonne, quando se esquece que, nas décadas de 40 e 50, Agostinho Neto foi dos primeiros negros angolanos a realizar os seus estudos de Medicina nas Universidades de Coimbra e de Lisboa? Ou será porque a alusão que Senghor faz à origem portuguesa do nome e à gota de sangue português representa uma virtude luso-tropical? Vê-se logo que o suposto juízo estético sobre a poesia de Agostinho Neto resvala para um registo biografista com laivos deterministas sem relevância crítica.
(...)
Afirmar que Agostinho Neto (1922-1979) foi um político que frequentou a poesia e Senghor (1906-2001) um poeta que frequentou a política é, na verdade, um trocadilho que constitui o cúmulo da bazófia. Conhecendo bem as literaturas africanas de língua francesa e inglesa, considero que semelhantes afirmações revelam a mais desbragada irresponsabilidade do acto judicativo e hermenêutico. Por isso, tenho dúvidas que quem assim pensa, conheça verdadeiramente as trajectórias biográficas dos dois escritores mencionados.
(...)
Como compreender que (JE Agualusa) venha emitir juízos estéticos depreciativos acerca de três poetas angolanos importantes, revelando pertencer a uma tradição literária universal? Como se explica que ganhe fortuna crítica em nome da tradição literária angolana cuja existência nega com frequência, tal como fez mais recentemente numa entrevista concedida ao conhecido humorista brasileiro Jô Soares?

[Aqui]


Adriano dos Santos Junior, em "O SEU A SEU DONO":

O que não estamos de acordo é com o fundamento de Agualusa, segundo o qual Leopold Senghor tenha sido um grande poeta por ter ido beber à fonte da Grécia Antiga para além das tradições africanas, ter estudado na Sorbonne, ter tido orgulho pela sua «gota de sangue português», evocada num dos seus grandes poemas transcritos por Agualusa, e ter publicado onze livros, enquanto que Agostinho Neto não poderia ser um grande poeta porque não teria ido beber à bica da Grécia antiga, não passou pela Sorbonne e não publicou assim tantos livros. Para nós Leopold Senghor e Agostinho Neto foram grandes poetas pelas suas obras, independentemente dos santuários do saber que tenha frequentado ou visitado.
Por mais que devamos incentivar os nossos literatos a produzirem muito e terem o máximo apego à Cultura quer seja clássica ou tradicional, não nos podemos esquecer que o Poeta nasce e o Erudito faz-se. Há Poetas analfabetos e Eruditos incapazes de engendrar um poema. Por outro lado, os critérios para a classificação de escritores, poetas, contistas, romancistas, etc., não têm como factor essencial a quantidade de obras publicadas nem o número de versos ou de páginas das mesmas, mas sim a sua qualidade. Existem poetas de um poema só, contistas de um conto só e romancistas de um só romance. Embora possam ser excepções, literaturas relevantes de vários povos e em diversas épocas, registam casos em que autores de uma só obra integram as mesmas galerias que as de outros mais fecundos e com todo o merecimento.
(...)
«…Talvez se justifique aqui acrescentar, para concluir, que gosto muito de escutar os versos de Agostinho Neto musicados por Rui Mingas. Gosto deles, como centenas de milhares de angolanos, devido à arte de Rui Mingas e também porque fazem parte do meu imaginário, e isto independentemente da sua qualidade literária…», revela Agualusa. A nosso ver, a beleza e o sucesso dos versos de Agostinho Neto musicados por Rui Mingas, que o nosso grande escritor adora escutar, não depende apenas da intervenção do genial compositor; Agualusa atribui todo mérito a Rui Mingas porque se recusa a perceber que os poemas de Agostinho Neto, por si sós, têm uma musicalidade intrínseca, «uma melodia silenciosa», como diria o poeta João Maimona referindo-se à poesia de António Jacinto. Interagindo e complementando-se, os talentos do poeta e do cancionista produziram as maravilhas que encantam até os desafectos.

[Aqui]


“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre

Eu nao disse que o 'kibeto' ia continuar?
Na continuacao da ja' tristemente celebre Maka de 1 Jose' contra 3 Antonios, este fim de semana poderao encontrar no SA duas replicas 'a ultima replica de Agualusa...


Luis Kandjimbo, em "A TRADIÇÃO LITERÁRIA ANGOLANA E O GRAU ZERO DA MEMÓRIA DE UM ESCRITOR":


Que motivação subjaz à exaltação dos estudos clássicos de Leopold Senghor realizados na Universidade da Sorbonne, quando se esquece que, nas décadas de 40 e 50, Agostinho Neto foi dos primeiros negros angolanos a realizar os seus estudos de Medicina nas Universidades de Coimbra e de Lisboa? Ou será porque a alusão que Senghor faz à origem portuguesa do nome e à gota de sangue português representa uma virtude luso-tropical? Vê-se logo que o suposto juízo estético sobre a poesia de Agostinho Neto resvala para um registo biografista com laivos deterministas sem relevância crítica.
(...)
Afirmar que Agostinho Neto (1922-1979) foi um político que frequentou a poesia e Senghor (1906-2001) um poeta que frequentou a política é, na verdade, um trocadilho que constitui o cúmulo da bazófia. Conhecendo bem as literaturas africanas de língua francesa e inglesa, considero que semelhantes afirmações revelam a mais desbragada irresponsabilidade do acto judicativo e hermenêutico. Por isso, tenho dúvidas que quem assim pensa, conheça verdadeiramente as trajectórias biográficas dos dois escritores mencionados.
(...)
Como compreender que (JE Agualusa) venha emitir juízos estéticos depreciativos acerca de três poetas angolanos importantes, revelando pertencer a uma tradição literária universal? Como se explica que ganhe fortuna crítica em nome da tradição literária angolana cuja existência nega com frequência, tal como fez mais recentemente numa entrevista concedida ao conhecido humorista brasileiro Jô Soares?

[Aqui]


Adriano dos Santos Junior, em "O SEU A SEU DONO":

O que não estamos de acordo é com o fundamento de Agualusa, segundo o qual Leopold Senghor tenha sido um grande poeta por ter ido beber à fonte da Grécia Antiga para além das tradições africanas, ter estudado na Sorbonne, ter tido orgulho pela sua «gota de sangue português», evocada num dos seus grandes poemas transcritos por Agualusa, e ter publicado onze livros, enquanto que Agostinho Neto não poderia ser um grande poeta porque não teria ido beber à bica da Grécia antiga, não passou pela Sorbonne e não publicou assim tantos livros. Para nós Leopold Senghor e Agostinho Neto foram grandes poetas pelas suas obras, independentemente dos santuários do saber que tenha frequentado ou visitado.
Por mais que devamos incentivar os nossos literatos a produzirem muito e terem o máximo apego à Cultura quer seja clássica ou tradicional, não nos podemos esquecer que o Poeta nasce e o Erudito faz-se. Há Poetas analfabetos e Eruditos incapazes de engendrar um poema. Por outro lado, os critérios para a classificação de escritores, poetas, contistas, romancistas, etc., não têm como factor essencial a quantidade de obras publicadas nem o número de versos ou de páginas das mesmas, mas sim a sua qualidade. Existem poetas de um poema só, contistas de um conto só e romancistas de um só romance. Embora possam ser excepções, literaturas relevantes de vários povos e em diversas épocas, registam casos em que autores de uma só obra integram as mesmas galerias que as de outros mais fecundos e com todo o merecimento.
(...)
«…Talvez se justifique aqui acrescentar, para concluir, que gosto muito de escutar os versos de Agostinho Neto musicados por Rui Mingas. Gosto deles, como centenas de milhares de angolanos, devido à arte de Rui Mingas e também porque fazem parte do meu imaginário, e isto independentemente da sua qualidade literária…», revela Agualusa. A nosso ver, a beleza e o sucesso dos versos de Agostinho Neto musicados por Rui Mingas, que o nosso grande escritor adora escutar, não depende apenas da intervenção do genial compositor; Agualusa atribui todo mérito a Rui Mingas porque se recusa a perceber que os poemas de Agostinho Neto, por si sós, têm uma musicalidade intrínseca, «uma melodia silenciosa», como diria o poeta João Maimona referindo-se à poesia de António Jacinto. Interagindo e complementando-se, os talentos do poeta e do cancionista produziram as maravilhas que encantam até os desafectos.

[Aqui]


“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre

Wednesday 23 April 2008

"RECOLONIZACAO": DUAS VARIACOES SOBRE O MESMO TEMA

O Semanario Portugues Expresso, publicou recentemente o seguinte artigo, sob o titulo "Rapidamente e em força para Angola":

"O Consulado Geral da República de Angola em Lisboa emitiu 342 vistos de trabalho em 2007, mais 271,7% que no ano anterior. As motivações que levam os quadros portugueses a ir trabalhar para Angola são várias, mas alguns especialistas em recrutamento garantem que o desemprego que agora se faz sentir em Portugal acaba por empurrar, de certa forma, muitas pessoas para uma ‘aventura’ em terras angolanas, onde as oportunidades se multiplicam em cada dia que passa.

O crescimento económico daquele país, que se mantém acima dos 27% ao ano, é a prova de que há ali muito por fazer. As empresas não hesitam em avançar, e pagam ordenados chorudos (entre 70 mil e 200 mil dólares americanos por ano) para convencerem profissionais qualificados a trocar Portugal por terras angolanas. “É inegável que se ganha muito bem em Angola. Mas também é preciso saber negociar os contratos de trabalho, que normalmente incluem casa e meio de transporte”, explica Mónica Guerreiro, a trabalhar em Angola desde 2002. Sublinha que, no seu caso, rumou para aquele país por falta de trabalho em Portugal e que, apesar de muitas contrariedades entretanto encontradas, não está arrependida da opção que fez.

O nome com que aqui se identifica é fictício, pois receia retaliações. Sublinha que já se sentiu discriminada por ser branca, e que domina um certo clima de angolanização no mercado de trabalho, nem sempre favorável à presença de quadros brancos em lugares que podem ser ocupados por naturais do país.
“Não está estabelecido por decreto, mas é verdade que se dá preferência a quadros angolanos”, nota uma fonte da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Angolana, que também pede para não ser identificada.“O problema é que Angola não dispõe de quadros superiores nem em quantidade nem em qualidade suficientes para suprir as necessidades das empresas que ali querem progredir”, explica Eduarda Luna Pais, directora da empresa de caça-talentos Egon Zender International."

[Continue lendo aqui]

Por seu turno, na sua ultima edicao, o Semanario Angolense publica, sob o titulo "
Jornalistas do Rossio em bicos de pés", a materia que se segue:

"Angola tornou-se nos últimos tempos bastante atractiva para expatriados e imigrantes de diversas nacionalidades, mas está mais ou menos verificado, ainda que pela observação empírica, que os portugueses estão entre os estrangeiros que chegam em maior número ao nosso país. Prova clara disso está no sotaque algarvio, trasmontano ou alentejano que marca os voos para Luanda provenientes de Lisboa, e que no aeroporto da capital angolana rapidamente se espalha pelos restaurantes, bares e hotéis superlotados da cidade. São os portugueses a correrem de regresso à antiga jóia da coroa.

Esta revoada migratória não é nociva para o país, e desde que contida em limites aceitáveis e que não periguem a nossa frágil estrutura de emprego, até se mostra positiva para os novos rumos da economia angolana. Em termos gerais, portanto, não há nada a objectar. É enterrar o machado do chauvinismo e da xenofobia. Porém, quando bem espremido, encontramos no fluxo da imigração portuguesa para Angola aspectos inquietantes em relação a um certo modus operandis. Trata-se de uma franja marginal, residual mesmo, no conjunto dos luso-cidadãos que aportam o país, mas que não deixa de fazer confusão. Não nos referimos aos comerciantes nem aos trolhas e pedreiros.

Em fuga do cada vez mais difícil mercado da media em Portugal, Angola também passou a ser apetecível a muitos profissionais da comunicação social portuguesa, sobretudo daqueles que possuem uma costela angolana ou que tenham vivido no nosso país na época colonial. A forma como esses últimos aterram em Angola não entra nos procedimentos comummente aceites pela ortodoxia migratória.

Basta um pouco mais de atenção para vermos como na imprensa portuguesa ou em órgãos de comunicação social do Estado angolano surgiram ultimamente jornalistas portugueses a assinarem artigos estranhos sobre Angola, cujo fito último é o de demonstrarem que tratam com maior profissionalismo os assuntos do país do que os seus colegas angolanos. Eivados de má-fé no plano deontológico, muitos destes artigos chegam a achincalhar a dignidade dos jornalistas angolanos."

[Leia mais aqui]
O Semanario Portugues Expresso, publicou recentemente o seguinte artigo, sob o titulo "Rapidamente e em força para Angola":

"O Consulado Geral da República de Angola em Lisboa emitiu 342 vistos de trabalho em 2007, mais 271,7% que no ano anterior. As motivações que levam os quadros portugueses a ir trabalhar para Angola são várias, mas alguns especialistas em recrutamento garantem que o desemprego que agora se faz sentir em Portugal acaba por empurrar, de certa forma, muitas pessoas para uma ‘aventura’ em terras angolanas, onde as oportunidades se multiplicam em cada dia que passa.

O crescimento económico daquele país, que se mantém acima dos 27% ao ano, é a prova de que há ali muito por fazer. As empresas não hesitam em avançar, e pagam ordenados chorudos (entre 70 mil e 200 mil dólares americanos por ano) para convencerem profissionais qualificados a trocar Portugal por terras angolanas. “É inegável que se ganha muito bem em Angola. Mas também é preciso saber negociar os contratos de trabalho, que normalmente incluem casa e meio de transporte”, explica Mónica Guerreiro, a trabalhar em Angola desde 2002. Sublinha que, no seu caso, rumou para aquele país por falta de trabalho em Portugal e que, apesar de muitas contrariedades entretanto encontradas, não está arrependida da opção que fez.

O nome com que aqui se identifica é fictício, pois receia retaliações. Sublinha que já se sentiu discriminada por ser branca, e que domina um certo clima de angolanização no mercado de trabalho, nem sempre favorável à presença de quadros brancos em lugares que podem ser ocupados por naturais do país.
“Não está estabelecido por decreto, mas é verdade que se dá preferência a quadros angolanos”, nota uma fonte da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Angolana, que também pede para não ser identificada.“O problema é que Angola não dispõe de quadros superiores nem em quantidade nem em qualidade suficientes para suprir as necessidades das empresas que ali querem progredir”, explica Eduarda Luna Pais, directora da empresa de caça-talentos Egon Zender International."

[Continue lendo aqui]

Por seu turno, na sua ultima edicao, o Semanario Angolense publica, sob o titulo "
Jornalistas do Rossio em bicos de pés", a materia que se segue:

"Angola tornou-se nos últimos tempos bastante atractiva para expatriados e imigrantes de diversas nacionalidades, mas está mais ou menos verificado, ainda que pela observação empírica, que os portugueses estão entre os estrangeiros que chegam em maior número ao nosso país. Prova clara disso está no sotaque algarvio, trasmontano ou alentejano que marca os voos para Luanda provenientes de Lisboa, e que no aeroporto da capital angolana rapidamente se espalha pelos restaurantes, bares e hotéis superlotados da cidade. São os portugueses a correrem de regresso à antiga jóia da coroa.

Esta revoada migratória não é nociva para o país, e desde que contida em limites aceitáveis e que não periguem a nossa frágil estrutura de emprego, até se mostra positiva para os novos rumos da economia angolana. Em termos gerais, portanto, não há nada a objectar. É enterrar o machado do chauvinismo e da xenofobia. Porém, quando bem espremido, encontramos no fluxo da imigração portuguesa para Angola aspectos inquietantes em relação a um certo modus operandis. Trata-se de uma franja marginal, residual mesmo, no conjunto dos luso-cidadãos que aportam o país, mas que não deixa de fazer confusão. Não nos referimos aos comerciantes nem aos trolhas e pedreiros.

Em fuga do cada vez mais difícil mercado da media em Portugal, Angola também passou a ser apetecível a muitos profissionais da comunicação social portuguesa, sobretudo daqueles que possuem uma costela angolana ou que tenham vivido no nosso país na época colonial. A forma como esses últimos aterram em Angola não entra nos procedimentos comummente aceites pela ortodoxia migratória.

Basta um pouco mais de atenção para vermos como na imprensa portuguesa ou em órgãos de comunicação social do Estado angolano surgiram ultimamente jornalistas portugueses a assinarem artigos estranhos sobre Angola, cujo fito último é o de demonstrarem que tratam com maior profissionalismo os assuntos do país do que os seus colegas angolanos. Eivados de má-fé no plano deontológico, muitos destes artigos chegam a achincalhar a dignidade dos jornalistas angolanos."

[Leia mais aqui]

Tuesday 22 April 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA (6)

“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre

Bom, tudo parece indicar que enquanto os apetites do aparentemente interminavel numero de replicantes as implicancias de Agualusa sobre a poesia de Neto (e de Jacinto, e de Cardoso – mas parece que a maka, chamemos-lhe a “Maka de 1 Jose' contra 3 Antonios”, tanto por parte do implicante, como dos replicantes, se restringe mesmo a poesia daquele que tera' sido eleito 'por unanimidade e aclamacao', “Poeta Maior da Nacao Angolana”…) nao estiverem completamente saciados, o ‘kibeto’ promete continuar ad-infinitum. Dos ultimos episodios, destaque vai para o que se segue:

Celso Malavoloneke despacha, do seu canto no SA, recados tanto para o implicante como para o mais inflamado dos replicantes:

RECADO I
Ao José Eduardo Agualusa, uma réplica: se por gostar desalmadamente da
poesia de Agostinho Neto não percebo rigorosamente nada de poesia, então
o senhor percebe ainda menos -se é que isso é possível - do papel essencial
da Arte e Literatura na vida dos povos

RECADO II
Ao Artur Queiroz outro recado: a poesia de Agostinho Neto não precisa de
ser defendida com linguagem de carroceiros brigando por uma picha de
cerveja barata numa taberna qualquer

RECADO III
A não ser que vocês os dois decidam fazê-lo algures em terras lusas, onde
essas baixarias parecem confundidas com democracia. Então porquê não
irem para lá e entabernarem-se, que assim deixa de ser problema nosso?
[Aqui]

Por seu lado, o implicante provocador de ‘toda a maka no museke’, para alem de uma primeira reaccao, registada aqui, disse mais de sua justica ao Novo Jornal:

Para me fazer compreender melhor, quanto ao assunto que me traz aqui, talvez seja útil comparar a obra e o trajecto de Agostinho Neto com o de outro grande nome do nacionalismo africano: Leopold Sedar Senghor. Agostinho Neto e Leopold Senghor tiveram percursos aparentemente semelhantes. Senghor foi o primeiro presidente do Senegal. Agostinho Neto foi o primeiro presidente de Angola. Ambos publicaram livros de poesia. Olhando com mais atenção, porém, começam a perceber-se as diferenças. Agostinho Neto foi um político que frequentou a poesia -por razões políticas. Senghor foi um poeta que frequentou a política - por razões poéticas.
(…)
Talvez se justifique aqui acrescentar, para concluir, que gosto muito de escutar os versos de Agostinho Neto musicados por Rui Mingas. Gosto deles, como centenas de milhares de angolanos, devido à arte de Rui Mingas e também porque fazem parte do meu imaginário, e isto independentemente da sua qualidade literária. Quando quero ler grande poesia, então procuro outros autores. E era aqui que eu queria chegar na entrevista ao Semanário Angolense.
[Aqui]

Agora, quem, apesar de tao penosamente elaborada explicacao, continue com o apetite insaciado (eu creio ter percebido tudo, excepto uma coisa, e espero com isto nao dar mais alento a outros eventuais replicantes a espera de vez: porque que o implicante, nas suas replicas aos replicantes, continua repetidamente a referir-se ao Semanario Angolese?), talvez consiga encontrar alguma luz na ‘Teoria Geral dos Xinguilamentos’, cientificamente exposta por Mestre Paulo Mulembo no Agora:

Queremos reportar-nos ao debate que se gerou em torno da entrevista dada pelo escritor Agualusa ao Jornal Angolense, que ao exprimir numa frase a sua opinião sobre a poesia de Agostinho Neto ("Neto é um poeta medíocre"), provocou uma onda de mal estar em certos sectores, a ponto de provocar xinguilamentos ou vontades de xinguilar.
(…)
"Xingar o Kilamba faz Xinguilar", "Kidi Kidi, Kididi Kididi". O professor começa por esta bonita marcação de identidade cultural (linguística) pese embora o sincretismo da primeira expressão, onde a força da rima clássica, portanto exógena, é conseguida através da apropriação gramatical da conjugação portuguesa. Não é pecado. A interface cultural produz estes empréstimos ou apropriações em todo legitimas de ambas as partes, angolana e portuguesa. Mas é exactamente por esta primeira afirmação: Xingar o Kilamba faz Xinguilar que queremos começar, na sincera esperança de poder acalmar o xinguilamento do Professor. Elegemos esta expressão porque achamos que é sobre ela que assenta toda a estrutura profunda da reacção do Professor, objectivada no texto.
(…)
Sabemos que a FRENTE, a FpD, tem uma proposta de código de conduta social, que serviria de pauta reguladora para a coexistência saudável entre nós. Pedimos que aí seja inscrito o princípio seguinte:
"Não vale Xinguilar, quem xinguilar perde a razão".
[Aqui]

Entenderam, oh replicantes de insaciaveis apetites? Assumindo que sim, passemos entao das makas literarias as mais substantivas makas da economia. Ou, mais especificamente, as makas do piteu que esta’ cada vez mais caro a nivel global e cujos efeitos se comecam a fazer sentir de forma dramatica em varias partes do mundo (so’ para citar os casos mais mediatizados, vimos nos ultimos dias violentos confrontos no Haiti e no Egipto por nao outra razao que o aumento vertiginoso dos precos de bens alimentares basicos):

No Novo Jornal, Fernando Pacheco, equaciona a crise alimentar em termos de proposicoes concretas para uma politica agricola mais autonoma e sustentavel em Angola:

Acabada a guerra, aumentou naturalmente o interesse na produção camponesa - que erradamente continua a ser considerada de subsistência, ignorando-se que ela foi responsável pela auto suficiência alimentar de Angola em termos líquidos até 1973 - pelo papel que pode ter na redução do peso do petróleo no Produto Interno Bruto. Como durante mais de trinta anos esta questão esteve longe do centro do debate nacional - excepto quando os preços do petróleo baixaram para níveis considerados inquietantes -, não há hoje ideias claras sobre a forma de lidar com ela.
[Aqui]

“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre

Bom, tudo parece indicar que enquanto os apetites do aparentemente interminavel numero de replicantes as implicancias de Agualusa sobre a poesia de Neto (e de Jacinto, e de Cardoso – mas parece que a maka, chamemos-lhe a “Maka de 1 Jose' contra 3 Antonios”, tanto por parte do implicante, como dos replicantes, se restringe mesmo a poesia daquele que tera' sido eleito 'por unanimidade e aclamacao', “Poeta Maior da Nacao Angolana”…) nao estiverem completamente saciados, o ‘kibeto’ promete continuar ad-infinitum. Dos ultimos episodios, destaque vai para o que se segue:

Celso Malavoloneke despacha, do seu canto no SA, recados tanto para o implicante como para o mais inflamado dos replicantes:

RECADO I
Ao José Eduardo Agualusa, uma réplica: se por gostar desalmadamente da
poesia de Agostinho Neto não percebo rigorosamente nada de poesia, então
o senhor percebe ainda menos -se é que isso é possível - do papel essencial
da Arte e Literatura na vida dos povos

RECADO II
Ao Artur Queiroz outro recado: a poesia de Agostinho Neto não precisa de
ser defendida com linguagem de carroceiros brigando por uma picha de
cerveja barata numa taberna qualquer

RECADO III
A não ser que vocês os dois decidam fazê-lo algures em terras lusas, onde
essas baixarias parecem confundidas com democracia. Então porquê não
irem para lá e entabernarem-se, que assim deixa de ser problema nosso?
[Aqui]

Por seu lado, o implicante provocador de ‘toda a maka no museke’, para alem de uma primeira reaccao, registada aqui, disse mais de sua justica ao Novo Jornal:

Para me fazer compreender melhor, quanto ao assunto que me traz aqui, talvez seja útil comparar a obra e o trajecto de Agostinho Neto com o de outro grande nome do nacionalismo africano: Leopold Sedar Senghor. Agostinho Neto e Leopold Senghor tiveram percursos aparentemente semelhantes. Senghor foi o primeiro presidente do Senegal. Agostinho Neto foi o primeiro presidente de Angola. Ambos publicaram livros de poesia. Olhando com mais atenção, porém, começam a perceber-se as diferenças. Agostinho Neto foi um político que frequentou a poesia -por razões políticas. Senghor foi um poeta que frequentou a política - por razões poéticas.
(…)
Talvez se justifique aqui acrescentar, para concluir, que gosto muito de escutar os versos de Agostinho Neto musicados por Rui Mingas. Gosto deles, como centenas de milhares de angolanos, devido à arte de Rui Mingas e também porque fazem parte do meu imaginário, e isto independentemente da sua qualidade literária. Quando quero ler grande poesia, então procuro outros autores. E era aqui que eu queria chegar na entrevista ao Semanário Angolense.
[Aqui]

Agora, quem, apesar de tao penosamente elaborada explicacao, continue com o apetite insaciado (eu creio ter percebido tudo, excepto uma coisa, e espero com isto nao dar mais alento a outros eventuais replicantes a espera de vez: porque que o implicante, nas suas replicas aos replicantes, continua repetidamente a referir-se ao Semanario Angolese?), talvez consiga encontrar alguma luz na ‘Teoria Geral dos Xinguilamentos’, cientificamente exposta por Mestre Paulo Mulembo no Agora:

Queremos reportar-nos ao debate que se gerou em torno da entrevista dada pelo escritor Agualusa ao Jornal Angolense, que ao exprimir numa frase a sua opinião sobre a poesia de Agostinho Neto ("Neto é um poeta medíocre"), provocou uma onda de mal estar em certos sectores, a ponto de provocar xinguilamentos ou vontades de xinguilar.
(…)
"Xingar o Kilamba faz Xinguilar", "Kidi Kidi, Kididi Kididi". O professor começa por esta bonita marcação de identidade cultural (linguística) pese embora o sincretismo da primeira expressão, onde a força da rima clássica, portanto exógena, é conseguida através da apropriação gramatical da conjugação portuguesa. Não é pecado. A interface cultural produz estes empréstimos ou apropriações em todo legitimas de ambas as partes, angolana e portuguesa. Mas é exactamente por esta primeira afirmação: Xingar o Kilamba faz Xinguilar que queremos começar, na sincera esperança de poder acalmar o xinguilamento do Professor. Elegemos esta expressão porque achamos que é sobre ela que assenta toda a estrutura profunda da reacção do Professor, objectivada no texto.
(…)
Sabemos que a FRENTE, a FpD, tem uma proposta de código de conduta social, que serviria de pauta reguladora para a coexistência saudável entre nós. Pedimos que aí seja inscrito o princípio seguinte:
"Não vale Xinguilar, quem xinguilar perde a razão".
[Aqui]

Entenderam, oh replicantes de insaciaveis apetites? Assumindo que sim, passemos entao das makas literarias as mais substantivas makas da economia. Ou, mais especificamente, as makas do piteu que esta’ cada vez mais caro a nivel global e cujos efeitos se comecam a fazer sentir de forma dramatica em varias partes do mundo (so’ para citar os casos mais mediatizados, vimos nos ultimos dias violentos confrontos no Haiti e no Egipto por nao outra razao que o aumento vertiginoso dos precos de bens alimentares basicos):

No Novo Jornal, Fernando Pacheco, equaciona a crise alimentar em termos de proposicoes concretas para uma politica agricola mais autonoma e sustentavel em Angola:

Acabada a guerra, aumentou naturalmente o interesse na produção camponesa - que erradamente continua a ser considerada de subsistência, ignorando-se que ela foi responsável pela auto suficiência alimentar de Angola em termos líquidos até 1973 - pelo papel que pode ter na redução do peso do petróleo no Produto Interno Bruto. Como durante mais de trinta anos esta questão esteve longe do centro do debate nacional - excepto quando os preços do petróleo baixaram para níveis considerados inquietantes -, não há hoje ideias claras sobre a forma de lidar com ela.
[Aqui]

Saturday 19 April 2008

AIME' CESAIRE (R.I.P.)

O poeta, dramaturgo e politico Aime' Cesaire, faleceu anteontem, aos 94 anos de idade, em Fort-de-France, cidade capital do seu pais natal, a Martinica, da qual foi sucessivamente eleito governador durante mais de cinco decadas.


Cesaire foi, com Senghor, um dos pais do Movimento da Negritude. Pensar em qualquer deles significa, para mim, associa-los a Mario Pinto de Andrade, que com eles participou activamente naquele movimento, como editor da Revista Presence Africaine e, enquanto estudante da Sorbonne, organizador do Primeiro Congresso Internacional de Escritores e Artistas Negros, que teve lugar naquela Universidade Parisiense, em 1956.

Tendo contado com o apoio de intelectuais de renome internacional, tais como André Gide, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Théodore Monod, Roger Bastide, Basil Davidson, Michel Leiris, George Padmore e Pablo Picasso (que desenhou o seu poster), 'aquele Congresso seminal participaram dezenas de escritores e artistas provenientes de Africa, Americas e Caraibas, entre os quais, para alem de Mario, Cesaire e Senghor, Richard Wright, René Depestre, Cheik Anta Diop, Abdoulaye Wade e Frantz Fanon.

E', pois, a memoria do tambem ja' falecido Mario Pinto de Andrade que recorro para lembrar Cesaire, a sua poesia e o seu legado politico-cultural:

"Ao abordarmos a epoca contemporanea, surge-nos o canto mais profundo que um poeta nascido na noite colonial jamais produziu: trata-se do Cahier d’un retour au pays natal de Aime’ Cesaire. Na sua palavra poetica “bela como o oxigenio nascente”, como escreveu Andre’ Breton, reside a fonte moderna da poesia africana de combate. A partir dela, comeca a leitura verdadeiramente poetica da opressao e do universo de todos os oprimidos.

Africa
nao receies – o combate e’ novo
a torrente viva do teu sangue elabora sem descanso
uma nova estacao; a noite e’ hoje no fundo dos mares
o enorme e instavel dorso de um astro meio adormecido
prossegue o teu combate – ainda que tenhas para conjurar
[o espaco]
o espaco apenas do teu nome irritado pelas secas


Ao longo da accao de um dos primeiros movimentos politicos unitarios fundados em Africa depois da Segunda Guerra Mundial, em 1946, em Bamako (Mali) referimo-nos ao Rassemblement Democratique Africain – a poesia traz o testemunho vivo desse combate. Os poemas publicados no orgao do RDA, Le Reveil (O Despertar), elucidam as batalhas em curso e abrem horizontes ao futuro em criacao.

Esses poetas cantam uma realidade que em breve sera’ ultrapassada pela propria evolucao do combate politico. Raros sao aqueles que reencontram a inspiracao, a conviccao ou o talento necessarios para exaltar o conteudo da independencia nacional conquistada pelos seus paises. Mas entre os poetas que se revelam depois da geracao do RDA, o nome de David Diop, tragicamente desaparecido em 1960, retem a nossa atencao. Embora a sua obra esteja limitada a um so’ livro de poemas (Coups de Pilon), ela exerce ainda hoje uma profunda influencia a escala do continente.

Tomando posicao desde a primeira hora, pela reabilitacao cultural dos valores africanos, David Diop, inscreve a sua poesia no contexto do combate geral pela independencia africana. Assume-se como vitima entre as vitimas do massacre de Dimbokro na Costa do Marfim ou do campo de concentracao de Poulo Condor no Vietname. David Diop, que reune talento poetico e generosidade militante, e’, para as geracoes das 'independencias africanas', o anunciador da 'primavera que tomara’ corpo sobre os nossos passos de claridade'."

in “Antologia Tematica de Poesia Africana (2) – O Canto Armado”
(segunda edicao, 1980)
Instituto Caboverdeano do Livro
© Mario de Andrade/ Sa’ da Costa Editora

O poeta, dramaturgo e politico Aime' Cesaire, faleceu anteontem, aos 94 anos de idade, em Fort-de-France, cidade capital do seu pais natal, a Martinica, da qual foi sucessivamente eleito governador durante mais de cinco decadas.


Cesaire foi, com Senghor, um dos pais do Movimento da Negritude. Pensar em qualquer deles significa, para mim, associa-los a Mario Pinto de Andrade, que com eles participou activamente naquele movimento, como editor da Revista Presence Africaine e, enquanto estudante da Sorbonne, organizador do Primeiro Congresso Internacional de Escritores e Artistas Negros, que teve lugar naquela Universidade Parisiense, em 1956.

Tendo contado com o apoio de intelectuais de renome internacional, tais como André Gide, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Théodore Monod, Roger Bastide, Basil Davidson, Michel Leiris, George Padmore e Pablo Picasso (que desenhou o seu poster), 'aquele Congresso seminal participaram dezenas de escritores e artistas provenientes de Africa, Americas e Caraibas, entre os quais, para alem de Mario, Cesaire e Senghor, Richard Wright, René Depestre, Cheik Anta Diop, Abdoulaye Wade e Frantz Fanon.

E', pois, a memoria do tambem ja' falecido Mario Pinto de Andrade que recorro para lembrar Cesaire, a sua poesia e o seu legado politico-cultural:

"Ao abordarmos a epoca contemporanea, surge-nos o canto mais profundo que um poeta nascido na noite colonial jamais produziu: trata-se do Cahier d’un retour au pays natal de Aime’ Cesaire. Na sua palavra poetica “bela como o oxigenio nascente”, como escreveu Andre’ Breton, reside a fonte moderna da poesia africana de combate. A partir dela, comeca a leitura verdadeiramente poetica da opressao e do universo de todos os oprimidos.

Africa
nao receies – o combate e’ novo
a torrente viva do teu sangue elabora sem descanso
uma nova estacao; a noite e’ hoje no fundo dos mares
o enorme e instavel dorso de um astro meio adormecido
prossegue o teu combate – ainda que tenhas para conjurar
[o espaco]
o espaco apenas do teu nome irritado pelas secas


Ao longo da accao de um dos primeiros movimentos politicos unitarios fundados em Africa depois da Segunda Guerra Mundial, em 1946, em Bamako (Mali) referimo-nos ao Rassemblement Democratique Africain – a poesia traz o testemunho vivo desse combate. Os poemas publicados no orgao do RDA, Le Reveil (O Despertar), elucidam as batalhas em curso e abrem horizontes ao futuro em criacao.

Esses poetas cantam uma realidade que em breve sera’ ultrapassada pela propria evolucao do combate politico. Raros sao aqueles que reencontram a inspiracao, a conviccao ou o talento necessarios para exaltar o conteudo da independencia nacional conquistada pelos seus paises. Mas entre os poetas que se revelam depois da geracao do RDA, o nome de David Diop, tragicamente desaparecido em 1960, retem a nossa atencao. Embora a sua obra esteja limitada a um so’ livro de poemas (Coups de Pilon), ela exerce ainda hoje uma profunda influencia a escala do continente.

Tomando posicao desde a primeira hora, pela reabilitacao cultural dos valores africanos, David Diop, inscreve a sua poesia no contexto do combate geral pela independencia africana. Assume-se como vitima entre as vitimas do massacre de Dimbokro na Costa do Marfim ou do campo de concentracao de Poulo Condor no Vietname. David Diop, que reune talento poetico e generosidade militante, e’, para as geracoes das 'independencias africanas', o anunciador da 'primavera que tomara’ corpo sobre os nossos passos de claridade'."

in “Antologia Tematica de Poesia Africana (2) – O Canto Armado”
(segunda edicao, 1980)
Instituto Caboverdeano do Livro
© Mario de Andrade/ Sa’ da Costa Editora

Thursday 17 April 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA (5)

“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre

Numa longa entrevista ao jornal A Capital, o director do Semanario Angolense (SA), Graca Campos, disserta sobre a actual panaramica da imprensa privada em Angola:


[Aqui]


No Jornal Angolense, Wilson Dada (Reginaldo Silva), conduz-nos pelos intersticios da pre-campanha eleitoral ja' iniciada:

“Depois do que aconteceu com as passeatas e meetings (comícios/ bebidos/maratonas) organizados pelo MPLA no último fim-desemana um pouco por todo o país, generosamente amplificados e ampliados pela sempre fiel comunicação social estatal, pode-se dizer que oficialmente teve inicio a pré-campanha eleitoral, embora a lei eleitoral não preveja nenhum período com esta designação.”


O kulunista partilha tambem algumas recebidas 'licoes de jornalismo' com os seus leitores:

“O reino da objectividade é a informação, a notícia, a cobertura, a reportagem, a análise, assim como o reino da tomada de posição era a opinião, o comentário, o artigo, o editorial. E fundamental separar e distinguir informação de opinião, indicar as diferenças de conteúdo e forma dos géneros jornalísticos, e apresentar toda a produção jornalística ao leitor/telespectador de forma a que ele perceba imediatamente o que é a exposição da realidade e o que é o juízo de valor". [Aqui]

No SA, o linguista e tradutor Adérito Miranda introduz-nos o “Segmento Mba como música”, na sua serie sobre “Linguística Bantu a partir do Kimbundu”:

"Conhecemos o segmento Mba com dois significados, sendo um no reino animal (pessoas, animais, população), que já foi aqui tratado abundantemente, e outro na música, como se pode ver nos vocábulos acima referenciados. Na música, o Mba representa ou reproduz fonologicamente uma batida no tambor ou em qualquer outro instrumento de percussão. Façamos então uma breve análise sobre aqueles casos." [Aqui]

Ainda no SA, Luis Kandjimbo apresenta uma recensao critica da obra de Arnaldo Santos, detendo-se particularmente no seu romance “A Casa Velha das Margens”:

“O autor do romance em apreço é natural de Luanda, onde nasceu em 1935. Fez os estudos primários e secundários em Luanda. Na década de 50, integrou o chamado «grupo da Cultura». Colaborou em várias publicações periódicas luandenses, entre as quais a revista Cultura, o Jornal de Angola (da década de 60), Abc e Mensagem da Casa dos Estudantes do Império. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos (Uea). Passou a infância e a adolescência no bairro do Kinaxixi, topónimo que ocupa um lugar privilegiado na sua produção narrativa. Aos vinte anos de idade, publicou a sua primeira colectânea de contos, intitulada Quinaxixi. Com o livro de crónicas Tempo do Munhungo, arrebatou em 1968 o Prémio Mota Veiga, um dos poucos existentes em Luanda, nas décadas de 60 e 70.

Preciosista na depuração do texto narrativo curto e avaro da economia dos seus elementos, Arnaldo Santos submete a língua portuguesa a um singular tratamento articulando formas de expressão resultantes de modelos de comunicação angolanos a correspondentes formas de conteúdo. No dizer de Jorge Macedo, ele usa «lexias-kimbundo no interior de um português de luzidia correcção». Devido a esse labor oficinal, a sua obra narrativa não conheceu variações até à década de 90, gravitando em torno da forma breve do texto narrativo, entre o conto (Kinaxixi) e a crónica (Tempo do Munhungo). O seu romance que anuncia um outro fôlego, A Boneca de Quilengues, é publicado em 1991. No panorama da ficção narrativa angolana, é uma referência incontornável.” [Aqui]
“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre

Numa longa entrevista ao jornal A Capital, o director do Semanario Angolense (SA), Graca Campos, disserta sobre a actual panaramica da imprensa privada em Angola:


[Aqui]


No Jornal Angolense, Wilson Dada (Reginaldo Silva), conduz-nos pelos intersticios da pre-campanha eleitoral ja' iniciada:

“Depois do que aconteceu com as passeatas e meetings (comícios/ bebidos/maratonas) organizados pelo MPLA no último fim-desemana um pouco por todo o país, generosamente amplificados e ampliados pela sempre fiel comunicação social estatal, pode-se dizer que oficialmente teve inicio a pré-campanha eleitoral, embora a lei eleitoral não preveja nenhum período com esta designação.”


O kulunista partilha tambem algumas recebidas 'licoes de jornalismo' com os seus leitores:

“O reino da objectividade é a informação, a notícia, a cobertura, a reportagem, a análise, assim como o reino da tomada de posição era a opinião, o comentário, o artigo, o editorial. E fundamental separar e distinguir informação de opinião, indicar as diferenças de conteúdo e forma dos géneros jornalísticos, e apresentar toda a produção jornalística ao leitor/telespectador de forma a que ele perceba imediatamente o que é a exposição da realidade e o que é o juízo de valor". [Aqui]

No SA, o linguista e tradutor Adérito Miranda introduz-nos o “Segmento Mba como música”, na sua serie sobre “Linguística Bantu a partir do Kimbundu”:

"Conhecemos o segmento Mba com dois significados, sendo um no reino animal (pessoas, animais, população), que já foi aqui tratado abundantemente, e outro na música, como se pode ver nos vocábulos acima referenciados. Na música, o Mba representa ou reproduz fonologicamente uma batida no tambor ou em qualquer outro instrumento de percussão. Façamos então uma breve análise sobre aqueles casos." [Aqui]

Ainda no SA, Luis Kandjimbo apresenta uma recensao critica da obra de Arnaldo Santos, detendo-se particularmente no seu romance “A Casa Velha das Margens”:

“O autor do romance em apreço é natural de Luanda, onde nasceu em 1935. Fez os estudos primários e secundários em Luanda. Na década de 50, integrou o chamado «grupo da Cultura». Colaborou em várias publicações periódicas luandenses, entre as quais a revista Cultura, o Jornal de Angola (da década de 60), Abc e Mensagem da Casa dos Estudantes do Império. É membro fundador da União dos Escritores Angolanos (Uea). Passou a infância e a adolescência no bairro do Kinaxixi, topónimo que ocupa um lugar privilegiado na sua produção narrativa. Aos vinte anos de idade, publicou a sua primeira colectânea de contos, intitulada Quinaxixi. Com o livro de crónicas Tempo do Munhungo, arrebatou em 1968 o Prémio Mota Veiga, um dos poucos existentes em Luanda, nas décadas de 60 e 70.

Preciosista na depuração do texto narrativo curto e avaro da economia dos seus elementos, Arnaldo Santos submete a língua portuguesa a um singular tratamento articulando formas de expressão resultantes de modelos de comunicação angolanos a correspondentes formas de conteúdo. No dizer de Jorge Macedo, ele usa «lexias-kimbundo no interior de um português de luzidia correcção». Devido a esse labor oficinal, a sua obra narrativa não conheceu variações até à década de 90, gravitando em torno da forma breve do texto narrativo, entre o conto (Kinaxixi) e a crónica (Tempo do Munhungo). O seu romance que anuncia um outro fôlego, A Boneca de Quilengues, é publicado em 1991. No panorama da ficção narrativa angolana, é uma referência incontornável.” [Aqui]

Tuesday 15 April 2008

OS PRUBULEMA KE'STAMOS KU ELES...

Este post destina-se primordialmente a parabenizar o Salucombo Jr. pelo seu terceiro aniversario na blogosfera. Parabens Attelier dos Mangueirinhas!
E' tambem, para mim, uma oportunidade para zuelar um pouco sobre a questao da preservacao da arquitectura urbana em Luanda e em Angola em geral, que tantos debates tem gerado, na blogosfera e nao so'. As consideracoes que se seguem constituem uma versao editada de um comentario meu no Attelier dos Mangueirinhas, em resposta ao Salucombo Jr., no contexto deste post dele, de onde as fotografias aqui expostas tambem foram tomadas de emprestimo.

1. Todas as ex-potencias coloniais se envolvem, de uma forma ou de outra, na defesa dos seus patrimonios culturais no mundo e especialmente nas suas ex-colonias e isso passa normalmente pelo investimento em projectos de reconstrucao e manutencao, particularmente se essas ex-colonias tiverem passado por longos periodos de guerra. No caso de Angola, tal investimento (incluindo nao so’ financiamento, mas tambem ‘educacao cultural’ sobre esse patrimonio) seria ainda mais justificado pelo facto de a ex-potencia colonial nao ter sido alheia as razoes da guerra – bastaria, por exemplo, ter promovido e garantido um processo de descolonizacao mais atempado, responsavel e assumido e, consequentemente, menos catastrofico…

2. Nos casos em que tal se verifica, tais projectos de investimento sao, via de regra, feitos em parceria com o pais alvo e sob acordos inter-governamentais: nao teem, portanto, necessariamente a ver com “neocolonizacao”. E, afinal, o que e’ mais passivel de ser considerado “neocolonizacao”? A manutencao de um patrimonio cultural, ou o dominio de praticamente todo o sector bancario (e seus respectivos recursos humanos) e outros sectores importantes da economia de um pais? E, ja’ agora, quantas dessas novas torres de vidro nao se destinarao, porventura, directa ou indirectamente, a bancos ou outros interesses economicos portugueses? Mas, independementemente de quem tem ou nao o ‘dever e obrigacao’, ou de quem tem ‘mais ou menos dinheiro’ (ja’ agora dir-te-ei que alguns projectos desse tipo sao patrocinados e financiados por instituicoes supra-nacionais, como a UE ou a UNESCO - veja-se, por favor, o caso de Mbanza Kongo, sem duvida o mais flagrante exemplo de destruicao de um patrimonio historico-cultural, nao so' de Angola, como da humanidade!), eu falei em Portugal “assumir a lideranca” e isso pode resumir-se apenas a apresentar propostas/projectos concretos ao governo Angolano nesse sentido. Toma, por exemplo, o caso da escola portuguesa que foi instalada, por Portugal, ha’ varios anos em Luanda: qual foi o seu objectivo? Certamente nao outro que a manutencao da lingua e da cultura portuguesa – porque nao pensar-se no mesmo tipo de investimento em relacao ao patrimonio arquitectonico portugues?

3. Agora, passemos aquele que e’ talvez o aspecto mais importante dessa questao: em qualquer economia bem gerida (excepto em paises socialistas/comunistas, que Angola, malgre’ tout, nunca foi… quando muito, Angola foi ate’ ha’ 6 anos atras uma economia de guerra) ha’ uma clara delimitacao do papel do estado na economia, mediante a qual os investimentos publicos devem ser reservados aos bens publicos. E a definicao de bens publicos pode ser mais ou menos lata, mas e’ clara o suficiente: em termos gerais, e’considerado “bem publico” aquele que pode ser usufruido por qualquer membro do publico. Aqui poder-se-ha defender que a traca arquitetonica portuguesa (tal como outros bens do patrimonio historico de Angola) e’ um “bem publico” na medida em que qualquer membro do publico ao apenas poder olhar para ela estara’ a usufruir de um “bem cultural”. Ate’ ai muito bem. Mas poe-se entao a questao de saber, em termos mais estritos, se um determinado bem considerado “cultural” e’ propriedade publica ou privada? Isto e’, esta' nas maos do estado ou de um particular? E aqui as aguas do orcamento do estado teem que ser rigorosamente separadas: se e’ publica, cabe ao estado nele investir, se e’ privada, isso cabe ao particular que a possui. O papel do estado ai deve limitar-se a legislar e regulamentar os criterios da sua planificacao e manutencao;

4. Do ponto anterior segue-se que: em qualquer pais, mas mais fundamentalmente num pais com os niveis de pobreza que Angola apresenta, quais devem ser as prioridades dos gastos publicos? Nao me parece haver muito lugar para duvidas que elas devem ser direccionadas para os “bens indubitavelmente publicos”, isto e’, aqueles sem os quais nao havera membros do publico suficientes para usufruirem de “bens culturais”, sejam eles portugueses ou nao e por melhor mantidos que sejam. Falamos aqui de Saude, Alimentacao, Educacao, Sanidade e Saneamento, Transportes e Emprego, so’ para citar os mais vitais. E e’ para essas areas que as reivindicacoes do “publico em geral” sao geralmente e devem ser direccionadas, nao so’ em Angola e nao so’ em paises subdesenvolvidos, como em todo o mundo. E e’ tambem por essa razao fundamental que os governos interessados na manutencao do seu patrimonio cultural no mundo, com ou sem o apoio de instituicoes financeiras ou culturais internacionais, teem interesse em investir nesse patrimonio – porque esse investimento nao cabe estritamente ao governo do “pais herdeiro”. Ora, tais governos interessados poderao tambem ter consideraveis restricoes aos seus orcamentos publicos disponiveis para esse efeito e nesses casos recorrem as suas instituicoes privadas, sejam elas bancos ou fundacoes culturais especificamente criadas para tal. E aqui o papel dos bancos privados, por isso falei nos bancos portugueses em Angola, na aquisicao desses bens e/ou na concessao de financiamento para a sua manutencao.

Portanto, em resumo, a mensagem que te pretendia transmitir e’ que, como “nativos” que todos somos, nao nos ficaria nada mal um pouco de humildade em relacao as nossas proprias limitacoes de todo o tipo. E, tambem, que precisamos, principalmente voces da geracao mais jovem, de ter uma atitude mais proactiva/positiva, e menos reactiva/negativa, mais racional e menos emotiva, mas sobretudo mais pragmatica e menos dogmatica, em relacao a reconstrucao do nosso pais em todos os dominios – ate’ porque ja’ deviamos andar todos cansados de guerras por causa de ideologias que pouco ou nada teem a ver connosco...
Nao pretendo com isto dar uma de ‘patriota’, e muito menos ‘patrioteira’, ate’ porque tambem tenho as minhas criticas em relacao ao modelo de crescimento, incluindo a essas torres de vidro, que esta’ a ser seguido em Angola – criticas essas que fiz publicar nacional e internacionalmente.

***

P.S. - (28/04/09) - Acabo de encontrar esta noticia no Jornal Angolense:

O património histórico-cultural de Angola e a problemática da sua conservação e restauração foi o tema da comunicação apresentada quinta-feira, pelo Embaixador-delegado permanente de Angola junto da UNESCO, Almerindo Jaka Jamba, num debate organizado pela Fundação Luso-Africana para a Cultura (FLAC).

[Ler mais aqui]

Este post destina-se primordialmente a parabenizar o Salucombo Jr. pelo seu terceiro aniversario na blogosfera. Parabens Attelier dos Mangueirinhas!
E' tambem, para mim, uma oportunidade para zuelar um pouco sobre a questao da preservacao da arquitectura urbana em Luanda e em Angola em geral, que tantos debates tem gerado, na blogosfera e nao so'. As consideracoes que se seguem constituem uma versao editada de um comentario meu no Attelier dos Mangueirinhas, em resposta ao Salucombo Jr., no contexto deste post dele, de onde as fotografias aqui expostas tambem foram tomadas de emprestimo.

1. Todas as ex-potencias coloniais se envolvem, de uma forma ou de outra, na defesa dos seus patrimonios culturais no mundo e especialmente nas suas ex-colonias e isso passa normalmente pelo investimento em projectos de reconstrucao e manutencao, particularmente se essas ex-colonias tiverem passado por longos periodos de guerra. No caso de Angola, tal investimento (incluindo nao so’ financiamento, mas tambem ‘educacao cultural’ sobre esse patrimonio) seria ainda mais justificado pelo facto de a ex-potencia colonial nao ter sido alheia as razoes da guerra – bastaria, por exemplo, ter promovido e garantido um processo de descolonizacao mais atempado, responsavel e assumido e, consequentemente, menos catastrofico…

2. Nos casos em que tal se verifica, tais projectos de investimento sao, via de regra, feitos em parceria com o pais alvo e sob acordos inter-governamentais: nao teem, portanto, necessariamente a ver com “neocolonizacao”. E, afinal, o que e’ mais passivel de ser considerado “neocolonizacao”? A manutencao de um patrimonio cultural, ou o dominio de praticamente todo o sector bancario (e seus respectivos recursos humanos) e outros sectores importantes da economia de um pais? E, ja’ agora, quantas dessas novas torres de vidro nao se destinarao, porventura, directa ou indirectamente, a bancos ou outros interesses economicos portugueses? Mas, independementemente de quem tem ou nao o ‘dever e obrigacao’, ou de quem tem ‘mais ou menos dinheiro’ (ja’ agora dir-te-ei que alguns projectos desse tipo sao patrocinados e financiados por instituicoes supra-nacionais, como a UE ou a UNESCO - veja-se, por favor, o caso de Mbanza Kongo, sem duvida o mais flagrante exemplo de destruicao de um patrimonio historico-cultural, nao so' de Angola, como da humanidade!), eu falei em Portugal “assumir a lideranca” e isso pode resumir-se apenas a apresentar propostas/projectos concretos ao governo Angolano nesse sentido. Toma, por exemplo, o caso da escola portuguesa que foi instalada, por Portugal, ha’ varios anos em Luanda: qual foi o seu objectivo? Certamente nao outro que a manutencao da lingua e da cultura portuguesa – porque nao pensar-se no mesmo tipo de investimento em relacao ao patrimonio arquitectonico portugues?

3. Agora, passemos aquele que e’ talvez o aspecto mais importante dessa questao: em qualquer economia bem gerida (excepto em paises socialistas/comunistas, que Angola, malgre’ tout, nunca foi… quando muito, Angola foi ate’ ha’ 6 anos atras uma economia de guerra) ha’ uma clara delimitacao do papel do estado na economia, mediante a qual os investimentos publicos devem ser reservados aos bens publicos. E a definicao de bens publicos pode ser mais ou menos lata, mas e’ clara o suficiente: em termos gerais, e’considerado “bem publico” aquele que pode ser usufruido por qualquer membro do publico. Aqui poder-se-ha defender que a traca arquitetonica portuguesa (tal como outros bens do patrimonio historico de Angola) e’ um “bem publico” na medida em que qualquer membro do publico ao apenas poder olhar para ela estara’ a usufruir de um “bem cultural”. Ate’ ai muito bem. Mas poe-se entao a questao de saber, em termos mais estritos, se um determinado bem considerado “cultural” e’ propriedade publica ou privada? Isto e’, esta' nas maos do estado ou de um particular? E aqui as aguas do orcamento do estado teem que ser rigorosamente separadas: se e’ publica, cabe ao estado nele investir, se e’ privada, isso cabe ao particular que a possui. O papel do estado ai deve limitar-se a legislar e regulamentar os criterios da sua planificacao e manutencao;

4. Do ponto anterior segue-se que: em qualquer pais, mas mais fundamentalmente num pais com os niveis de pobreza que Angola apresenta, quais devem ser as prioridades dos gastos publicos? Nao me parece haver muito lugar para duvidas que elas devem ser direccionadas para os “bens indubitavelmente publicos”, isto e’, aqueles sem os quais nao havera membros do publico suficientes para usufruirem de “bens culturais”, sejam eles portugueses ou nao e por melhor mantidos que sejam. Falamos aqui de Saude, Alimentacao, Educacao, Sanidade e Saneamento, Transportes e Emprego, so’ para citar os mais vitais. E e’ para essas areas que as reivindicacoes do “publico em geral” sao geralmente e devem ser direccionadas, nao so’ em Angola e nao so’ em paises subdesenvolvidos, como em todo o mundo. E e’ tambem por essa razao fundamental que os governos interessados na manutencao do seu patrimonio cultural no mundo, com ou sem o apoio de instituicoes financeiras ou culturais internacionais, teem interesse em investir nesse patrimonio – porque esse investimento nao cabe estritamente ao governo do “pais herdeiro”. Ora, tais governos interessados poderao tambem ter consideraveis restricoes aos seus orcamentos publicos disponiveis para esse efeito e nesses casos recorrem as suas instituicoes privadas, sejam elas bancos ou fundacoes culturais especificamente criadas para tal. E aqui o papel dos bancos privados, por isso falei nos bancos portugueses em Angola, na aquisicao desses bens e/ou na concessao de financiamento para a sua manutencao.

Portanto, em resumo, a mensagem que te pretendia transmitir e’ que, como “nativos” que todos somos, nao nos ficaria nada mal um pouco de humildade em relacao as nossas proprias limitacoes de todo o tipo. E, tambem, que precisamos, principalmente voces da geracao mais jovem, de ter uma atitude mais proactiva/positiva, e menos reactiva/negativa, mais racional e menos emotiva, mas sobretudo mais pragmatica e menos dogmatica, em relacao a reconstrucao do nosso pais em todos os dominios – ate’ porque ja’ deviamos andar todos cansados de guerras por causa de ideologias que pouco ou nada teem a ver connosco...
Nao pretendo com isto dar uma de ‘patriota’, e muito menos ‘patrioteira’, ate’ porque tambem tenho as minhas criticas em relacao ao modelo de crescimento, incluindo a essas torres de vidro, que esta’ a ser seguido em Angola – criticas essas que fiz publicar nacional e internacionalmente.

***

P.S. - (28/04/09) - Acabo de encontrar esta noticia no Jornal Angolense:

O património histórico-cultural de Angola e a problemática da sua conservação e restauração foi o tema da comunicação apresentada quinta-feira, pelo Embaixador-delegado permanente de Angola junto da UNESCO, Almerindo Jaka Jamba, num debate organizado pela Fundação Luso-Africana para a Cultura (FLAC).

[Ler mais aqui]

Monday 14 April 2008

OBAMA VS. CLINTON: THE MOTHER OF ALL BATTLES! (11)

'THE ELITIST'!

I started mentally writing this post as I watched Hillary Clinton and Barack Obama expound on their views about faith and religion on CNN’s “Compassion Forum” last night. Apart from the points relating to inter-faith dialogue in the global arena brought in by Obama, it was mainly a domestic affair and, to be honest, faith and religion discussions, particularly in the American context, is not something I’d normally engage in. However, there was an angle to it that surely caught everybody’s interest, including mine, namely the new line of fire launched by Hillary (and McCain, but he was not present at yesterday’s forum) on Obama for saying, a few days ago, that “decades of lost jobs and unfulfilled promises from Washington have left some Pennsylvanians ‘bitter’ and clinging to guns or religion or antipathy to people who aren't like them or anti-immigrant sentiment or anti-trade sentiment as a way to explain their frustrations."


For these, by his own admission, ‘clumsy’ words, Obama is now being painted by his opponents as “out of touch with ordinary, particularly blue collar, Americans”, “patronising”, “contemptuous”, “condescending”, in short, an “elitist”! He did his best to dismiss the deliberate misconstruction of what he really meant but, of course, because it is all politically motivated, it will be milked till the last drop. Well, let me say this: though it is bound to cost him some votes in the upcoming election in Pennsylvania, I don’t think that this will cost him the possible nomination by the Democratic Party and will eventually fade away much easier than the Reverend Wright debacle (hopefully helped by the upcoming Pope’s visit to the US).

However, there is a dimension to this issue that touches me on a personal level. I explain: in my life experience, particularly in most recent years, I’ve been observing this interesting, but disturbing, phenomenon, whereby – be it in contests for power at any level, or simply in the trivial course of people trying to assert themselves in any sort of social relationships – some will make a point of going out of their way to invert the terms of a particular equation, e.g. the true elitist will do all s/he can to accuse the other of elitism, the true racist will try anything to portray the other as racist, the gender-insensitive will willy-nilly paint the other as a misogynist, the unsure about their African roots and/or identity, or totally lacking any, will relentlessly play the “more African than thou” game against the true African (yes, there is such a thing!)... The examples could go on and on.

So, here we have a Barack Obama, who was the son of an absent father, raised, at times on food stamps, by a single mother and not exactly rich grandparents, who financed his studies with student loans, whose professional career was mostly developed within working class communities, who is a practicing religious man and, not totally irrelevant to this entire discussion, who is an African-American with all the adversities the ‘condition’ entails in the US and virtually anywhere in the world, being pitched to the public exclusively as a ‘Harvard graduate’, therefore an ‘elitist’, by those who were born in privilege and raised by the rules of the true American elite for generations… And, not only that, have been widely known for notorious elitist statements and behaviour.

I mean, how much must someone lack in elitism (… racism? I wouldn’t even go there…) to despise the American Civil Rights Movement to the point of opposing the institution of a holiday in memory of Martin Luther King Jr., as McCain did? Of course, he expressly went to Memphis to apologise for it on the recently marked 40th anniversary of Dr. King’s assassination, but… Or, how closely ‘in touch’ with the feelings of ordinary people can someone be to say on TV that “I’m not seating here like some little woman 'stand by your man' like Tammy Wynette” – when that’s effectively what she was doing – as Hillary did to save her husband from impeachment over a certain sexual scandal in the White House?

Played, as it is in this case, at the highest level of the political arena, this game can be either inconsequential, or utterly destructive, depending on the correlation of forces at presence in one particular moment. And as these stand right now, it will most probably be of relatively minor consequence for Obama’s chances in the current American primaries. He can regret the effect of his words, as he did, but eventually laugh it all off with just something like “shame on you Hillary, you should know better!”, as he also did.

However, when the same game is played, as it often is in my experience, against more vulnerable people, who – exclusively by virtue of their strenuous effort at making the most of the opportunities they fought for and their determination to succeed against all odds, when they could have chosen much easier paths in life – come to be perceived as part of an elite born with a silver spoon in their mouth and, as a result of that, ostracised and antagonised by all sorts of opportunist, jealous, envious, manipulative and populist ‘warriors’ and 'young turks' so prevalent in certain ‘influential’ African or African-minded quarters, in the blogosphere and elsewhere, it can only be destructive. And sad, very sad indeed. And, as always, it’s good old Mamma Africa that ends up paying the price of all such utter nonsense…
'THE ELITIST'!

I started mentally writing this post as I watched Hillary Clinton and Barack Obama expound on their views about faith and religion on CNN’s “Compassion Forum” last night. Apart from the points relating to inter-faith dialogue in the global arena brought in by Obama, it was mainly a domestic affair and, to be honest, faith and religion discussions, particularly in the American context, is not something I’d normally engage in. However, there was an angle to it that surely caught everybody’s interest, including mine, namely the new line of fire launched by Hillary (and McCain, but he was not present at yesterday’s forum) on Obama for saying, a few days ago, that “decades of lost jobs and unfulfilled promises from Washington have left some Pennsylvanians ‘bitter’ and clinging to guns or religion or antipathy to people who aren't like them or anti-immigrant sentiment or anti-trade sentiment as a way to explain their frustrations."


For these, by his own admission, ‘clumsy’ words, Obama is now being painted by his opponents as “out of touch with ordinary, particularly blue collar, Americans”, “patronising”, “contemptuous”, “condescending”, in short, an “elitist”! He did his best to dismiss the deliberate misconstruction of what he really meant but, of course, because it is all politically motivated, it will be milked till the last drop. Well, let me say this: though it is bound to cost him some votes in the upcoming election in Pennsylvania, I don’t think that this will cost him the possible nomination by the Democratic Party and will eventually fade away much easier than the Reverend Wright debacle (hopefully helped by the upcoming Pope’s visit to the US).

However, there is a dimension to this issue that touches me on a personal level. I explain: in my life experience, particularly in most recent years, I’ve been observing this interesting, but disturbing, phenomenon, whereby – be it in contests for power at any level, or simply in the trivial course of people trying to assert themselves in any sort of social relationships – some will make a point of going out of their way to invert the terms of a particular equation, e.g. the true elitist will do all s/he can to accuse the other of elitism, the true racist will try anything to portray the other as racist, the gender-insensitive will willy-nilly paint the other as a misogynist, the unsure about their African roots and/or identity, or totally lacking any, will relentlessly play the “more African than thou” game against the true African (yes, there is such a thing!)... The examples could go on and on.

So, here we have a Barack Obama, who was the son of an absent father, raised, at times on food stamps, by a single mother and not exactly rich grandparents, who financed his studies with student loans, whose professional career was mostly developed within working class communities, who is a practicing religious man and, not totally irrelevant to this entire discussion, who is an African-American with all the adversities the ‘condition’ entails in the US and virtually anywhere in the world, being pitched to the public exclusively as a ‘Harvard graduate’, therefore an ‘elitist’, by those who were born in privilege and raised by the rules of the true American elite for generations… And, not only that, have been widely known for notorious elitist statements and behaviour.

I mean, how much must someone lack in elitism (… racism? I wouldn’t even go there…) to despise the American Civil Rights Movement to the point of opposing the institution of a holiday in memory of Martin Luther King Jr., as McCain did? Of course, he expressly went to Memphis to apologise for it on the recently marked 40th anniversary of Dr. King’s assassination, but… Or, how closely ‘in touch’ with the feelings of ordinary people can someone be to say on TV that “I’m not seating here like some little woman 'stand by your man' like Tammy Wynette” – when that’s effectively what she was doing – as Hillary did to save her husband from impeachment over a certain sexual scandal in the White House?

Played, as it is in this case, at the highest level of the political arena, this game can be either inconsequential, or utterly destructive, depending on the correlation of forces at presence in one particular moment. And as these stand right now, it will most probably be of relatively minor consequence for Obama’s chances in the current American primaries. He can regret the effect of his words, as he did, but eventually laugh it all off with just something like “shame on you Hillary, you should know better!”, as he also did.

However, when the same game is played, as it often is in my experience, against more vulnerable people, who – exclusively by virtue of their strenuous effort at making the most of the opportunities they fought for and their determination to succeed against all odds, when they could have chosen much easier paths in life – come to be perceived as part of an elite born with a silver spoon in their mouth and, as a result of that, ostracised and antagonised by all sorts of opportunist, jealous, envious, manipulative and populist ‘warriors’ and 'young turks' so prevalent in certain ‘influential’ African or African-minded quarters, in the blogosphere and elsewhere, it can only be destructive. And sad, very sad indeed. And, as always, it’s good old Mamma Africa that ends up paying the price of all such utter nonsense…

Sunday 13 April 2008

LOCAL VOICES OFFLINE (12)

Things someone, somewhere in the world, was talking about but you probably weren’t listening…






Free file hosting by Ripway.com



Compras

Obs: There were interesting developments since my two previous takes on this series on Cuba, where the restrictions on access by Cubans to cellphones and tourist hotels were raised: both restrictions have been lifted!

Things someone, somewhere in the world, was talking about but you probably weren’t listening…






Free file hosting by Ripway.com



Compras

Obs: There were interesting developments since my two previous takes on this series on Cuba, where the restrictions on access by Cubans to cellphones and tourist hotels were raised: both restrictions have been lifted!

Tuesday 8 April 2008

“ELOGIO DA MEDIOCRIDADE”



POEMAS DE ANTÓNIO JACINTO
(in “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)

SENSAÇÕES

Inebriam-me as superfícies
Mas gosto mais dos
(Oh! volúpias sênsuas!)
Volumes dos sólidos de revolução.

Êxtase
a resolução gráfica de qualquer equação

O poema é uma resolução gráfica
Uma frémita resolução gráfica

O poeta circuncentro
da presença geométrica polidimensional
- HUMANIDADE!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


AH! SE PUDÉSSEIS AQUI VER POESIA QUE NÃO HÁ!

Um rectângulo oco na parede caiada Mãe

Três barras de ferro horizontais Mãe
Na vertical oito varões Mãe
Ao todo
vinte e quatro quadrados Mãe
No aro exterior
Dois caixilhos Mãe
somam
doze rectângulos de vidro Mãe
As barras e os varões Mãe
projectam sombras nos vidros
feitos espelhos Mãe

Lá fora é noite Mãe
O campo
a povoação
a ilha
o arquipélago
O mundo que não se vê Mãe
Dum lado e doutro, a Morte, Mãe
A morte como a sombra que passa pela vidraça Mãe

A morte sem boca sem rosto sem gritos Mãe
E lá fora é o lá fora que se não vê Mãe

Cale-se o que não se vê Mãe
e veja-se o que se sente Mãe
que o poema está no que
e como se vê, Mãe
Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Mãe
aqui não há poesia
É triste, Mãe
Já não haver poesia
Mãe, não há poesia, não há
Mãe

Num cavalo de nuvens brancas
o luar incendeia carícias
e vem, por sobre meu rosto magro
deixar teus beijos Mãe, teus beijos Mãe

Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


LOUCURA

“nem todos atingem a craveira de poderem ser doidos, risco inerente à verdade e ao ser”

“não é doido quem quer”
JACQUES LACAN

A loucura é uma confirmação
sangue
na coragem de ser louco
na natureza
e veios de oiro
e máscara

A loucura
é afirmação humana
crónica indiferença
da coragem-alienação
orelha de Vicente Van Gogh

Um passo em frente
iluminado o vegetal
(há clorofila no louco)
e tortura estimulante

sangue rítmico
em ondas insanas
amor-sexo-amor
mar-sal
e nada
ou noite
mitos e símbolos
loucos
e tu poesia
Tua beleza
vinho-rubi
lábios-sangue
sol lá fora
Poesia!

C.T. Chão Bom, 25.7.69


CENSURA

Deram-me o gabarit
Para edificar o poema
A área coberta e
Dos passeios a largura

Os cuidados de incêndio
Um pouco de sanidade urbana
Do compêndio
E abertos postigos às vigilâncias dos vizinhos

Tudo com reguladas vistorias
Ritos de aços e cadinhos
Irresponsabilidades frias

Mania impossível da comissão incrível
- Eia fantasmas de murquir estrelas
Poema não tem cota de nível!

C.T. Chão Bom, versão de 30.7.79

***

Caro Jacinto: Um abraço. São belíssimos os poemas. 6 vão já para Vida e Cultura. O conto e os dez serão para a Gazeta Lavra & Oficina, que sairá muito mais tarde, lá para o fim deste ano. Tens de publicar os teus inéditos: não é justo não os podermos conhecer e, até, como exemplo, na hora que passa, de qualidade e dignidade. Não são palavras só de amigo, ou de Secretário Geral (da União dos Escritores Angolanos - UEA), são de leitor de poesia…

ANTÓNIO CARDOSO
18.08.82
(Introdução a “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)







Adeus a Hora da Largada (2006)- Ruy Mingas (Poema de Agostinho Neto)





Monangambe' (1974)- Ruy Mingas (Poema de Antonio Jacinto)



POEMAS DE ANTÓNIO JACINTO
(in “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)

SENSAÇÕES

Inebriam-me as superfícies
Mas gosto mais dos
(Oh! volúpias sênsuas!)
Volumes dos sólidos de revolução.

Êxtase
a resolução gráfica de qualquer equação

O poema é uma resolução gráfica
Uma frémita resolução gráfica

O poeta circuncentro
da presença geométrica polidimensional
- HUMANIDADE!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


AH! SE PUDÉSSEIS AQUI VER POESIA QUE NÃO HÁ!

Um rectângulo oco na parede caiada Mãe

Três barras de ferro horizontais Mãe
Na vertical oito varões Mãe
Ao todo
vinte e quatro quadrados Mãe
No aro exterior
Dois caixilhos Mãe
somam
doze rectângulos de vidro Mãe
As barras e os varões Mãe
projectam sombras nos vidros
feitos espelhos Mãe

Lá fora é noite Mãe
O campo
a povoação
a ilha
o arquipélago
O mundo que não se vê Mãe
Dum lado e doutro, a Morte, Mãe
A morte como a sombra que passa pela vidraça Mãe

A morte sem boca sem rosto sem gritos Mãe
E lá fora é o lá fora que se não vê Mãe

Cale-se o que não se vê Mãe
e veja-se o que se sente Mãe
que o poema está no que
e como se vê, Mãe
Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

Mãe
aqui não há poesia
É triste, Mãe
Já não haver poesia
Mãe, não há poesia, não há
Mãe

Num cavalo de nuvens brancas
o luar incendeia carícias
e vem, por sobre meu rosto magro
deixar teus beijos Mãe, teus beijos Mãe

Ah! se pudésseis aqui ver poesia que não há!

C.T. Chão Bom, 13.2.68


LOUCURA

“nem todos atingem a craveira de poderem ser doidos, risco inerente à verdade e ao ser”

“não é doido quem quer”
JACQUES LACAN

A loucura é uma confirmação
sangue
na coragem de ser louco
na natureza
e veios de oiro
e máscara

A loucura
é afirmação humana
crónica indiferença
da coragem-alienação
orelha de Vicente Van Gogh

Um passo em frente
iluminado o vegetal
(há clorofila no louco)
e tortura estimulante

sangue rítmico
em ondas insanas
amor-sexo-amor
mar-sal
e nada
ou noite
mitos e símbolos
loucos
e tu poesia
Tua beleza
vinho-rubi
lábios-sangue
sol lá fora
Poesia!

C.T. Chão Bom, 25.7.69


CENSURA

Deram-me o gabarit
Para edificar o poema
A área coberta e
Dos passeios a largura

Os cuidados de incêndio
Um pouco de sanidade urbana
Do compêndio
E abertos postigos às vigilâncias dos vizinhos

Tudo com reguladas vistorias
Ritos de aços e cadinhos
Irresponsabilidades frias

Mania impossível da comissão incrível
- Eia fantasmas de murquir estrelas
Poema não tem cota de nível!

C.T. Chão Bom, versão de 30.7.79

***

Caro Jacinto: Um abraço. São belíssimos os poemas. 6 vão já para Vida e Cultura. O conto e os dez serão para a Gazeta Lavra & Oficina, que sairá muito mais tarde, lá para o fim deste ano. Tens de publicar os teus inéditos: não é justo não os podermos conhecer e, até, como exemplo, na hora que passa, de qualidade e dignidade. Não são palavras só de amigo, ou de Secretário Geral (da União dos Escritores Angolanos - UEA), são de leitor de poesia…

ANTÓNIO CARDOSO
18.08.82
(Introdução a “Sobreviver Em Tarrafal de Santiago”)







Adeus a Hora da Largada (2006)- Ruy Mingas (Poema de Agostinho Neto)





Monangambe' (1974)- Ruy Mingas (Poema de Antonio Jacinto)

Monday 7 April 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA (4)

“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre


Com algum atraso, mas ainda em tempo util, a resposta de Jose' Eduardo Agualusa as reaccoes as suas afirmacoes, publicada a 28/03/08 no A Capital:

'GOSTO UNICO'

"Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com algumas das reacções a uma entrevista que concedi recentemente ao Semanário Angolense. Atravessamos um tempo um pouco estranho, de transição de um regime de pensamento único para aquilo que, espero, venha a ser uma verdadeira democracia. O que diferencia uma ditadura de uma democracia é a pluralidade de ideias e de opiniões sobre qualquer assunto, e a forma como essas ideias são recebidas não apenas pelos governantes, mas pela generalidade da população.Os ditadores esforçam-se por estabelecer primeiro uma determinada ideologia política, mas raramente se detêm aqui – tentam a seguir impor a toda a gente os seus próprios gostos sobre música, literatura, artes plásticas, desporto, sexo, ou mesmo moda."

[Aqui]

***
O post-mortem do desabamento do edificio da DNIC dominou as headlines

no Semanario Angolense:


[Aqui e Aqui]

e no Angolense:


[Aqui]


“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”

Manuel Alegre


Com algum atraso, mas ainda em tempo util, a resposta de Jose' Eduardo Agualusa as reaccoes as suas afirmacoes, publicada a 28/03/08 no A Capital:

'GOSTO UNICO'

"Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com algumas das reacções a uma entrevista que concedi recentemente ao Semanário Angolense. Atravessamos um tempo um pouco estranho, de transição de um regime de pensamento único para aquilo que, espero, venha a ser uma verdadeira democracia. O que diferencia uma ditadura de uma democracia é a pluralidade de ideias e de opiniões sobre qualquer assunto, e a forma como essas ideias são recebidas não apenas pelos governantes, mas pela generalidade da população.Os ditadores esforçam-se por estabelecer primeiro uma determinada ideologia política, mas raramente se detêm aqui – tentam a seguir impor a toda a gente os seus próprios gostos sobre música, literatura, artes plásticas, desporto, sexo, ou mesmo moda."

[Aqui]

***
O post-mortem do desabamento do edificio da DNIC dominou as headlines

no Semanario Angolense:


[Aqui e Aqui]

e no Angolense:


[Aqui]


Sunday 6 April 2008

SUNDAY SILENCE


[Photo from Here]

[Photo from Here]

Friday 4 April 2008

STILL DREAMING AFTER ALL THESE (40) YEARS




Date: Fri, 4 Apr 2008 11:10:11 -0400
To: "Ana Santana"
From: "Michelle Obama"
Subject: Yes, they can

Ana --
Today is the 40th anniversary of the tragic assassination of Dr. Martin Luther King Jr., and I want to share a video that reveals how far we've come and how much this campaign owes to Dr. King's legacy.
Students at a high school in the Bronx, who had no real interest in their government, have found new hope. They were surprised by their own excitement and engagement, but to me, they embody so many reasons why Barack and I decided to get into this campaign.
It's truly moving to see young people inspired by a political leader -- someone who gives them hope and reminds them that they can be anything they want to be if they work hard.
Watch what these kids have to say about politics and race in this country:

http://my.barackobama.com/yestheycan

Much has changed in this country since Dr. King's death, and thanks to his life and work we have taken critical strides towards racial equality.
The simple fact that Barack is running a competitive campaign for President is a direct result of Dr. King's legacy -- and this movement for change would be impossible without the support of people of all races, ages, and backgrounds.
I remember back in December of 2006, a group of us were discussing the possibility of Barack running for President. And as you might have read, I was hesitant about the idea.
But then Barack started talking about why he really wanted to do this -- to bring people together and to change the tone of the way we talk to each other in this country. He talked about the need for people to be inspired by their leaders, and the importance of leadership to chart a different course. He talked about Dr. King and Bobby Kennedy, and their passion to challenge a new generation and provide them with role models.
Barack promised that as a candidate and as President he would do everything he could to bring new people to the table. He shared his desire to reach out to our neglected inner cities, to strive to be a role model for young people, and to connect with people who are not involved in politics -- those who feel their voices haven't been heard, those who have been left behind, and those who have been turned off by all the petty bickering in recent years.
We can change that, by standing on the shoulders of folks like Dr. King who came before us.
Watching these students who are excited about their own role in politics for the first time, and watching Barack as he strives to live up to the challenges Dr. King made possible, I am truly touched.
I hope you'll watch this video and share that feeling with your friends and family:
http://my.barackobama.com/yestheycan

Thank you,
Michelle Obama



Date: Fri, 4 Apr 2008 11:10:11 -0400
To: "Ana Santana"
From: "Michelle Obama"
Subject: Yes, they can

Ana --
Today is the 40th anniversary of the tragic assassination of Dr. Martin Luther King Jr., and I want to share a video that reveals how far we've come and how much this campaign owes to Dr. King's legacy.
Students at a high school in the Bronx, who had no real interest in their government, have found new hope. They were surprised by their own excitement and engagement, but to me, they embody so many reasons why Barack and I decided to get into this campaign.
It's truly moving to see young people inspired by a political leader -- someone who gives them hope and reminds them that they can be anything they want to be if they work hard.
Watch what these kids have to say about politics and race in this country:

http://my.barackobama.com/yestheycan

Much has changed in this country since Dr. King's death, and thanks to his life and work we have taken critical strides towards racial equality.
The simple fact that Barack is running a competitive campaign for President is a direct result of Dr. King's legacy -- and this movement for change would be impossible without the support of people of all races, ages, and backgrounds.
I remember back in December of 2006, a group of us were discussing the possibility of Barack running for President. And as you might have read, I was hesitant about the idea.
But then Barack started talking about why he really wanted to do this -- to bring people together and to change the tone of the way we talk to each other in this country. He talked about the need for people to be inspired by their leaders, and the importance of leadership to chart a different course. He talked about Dr. King and Bobby Kennedy, and their passion to challenge a new generation and provide them with role models.
Barack promised that as a candidate and as President he would do everything he could to bring new people to the table. He shared his desire to reach out to our neglected inner cities, to strive to be a role model for young people, and to connect with people who are not involved in politics -- those who feel their voices haven't been heard, those who have been left behind, and those who have been turned off by all the petty bickering in recent years.
We can change that, by standing on the shoulders of folks like Dr. King who came before us.
Watching these students who are excited about their own role in politics for the first time, and watching Barack as he strives to live up to the challenges Dr. King made possible, I am truly touched.
I hope you'll watch this video and share that feeling with your friends and family:
http://my.barackobama.com/yestheycan

Thank you,
Michelle Obama

Wednesday 2 April 2008

ECOS DA IMPRENSA ANGOLANA - 3

“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”


Manuel Alegre

***


A polemica sobre os supostamente “poetas mediocres” continuou e dos varios artigos de opiniao que sobre ela recebi, destaco os que se seguem.


Wilson Dada, introdu-la assim na sua Kuluna semanal:

“O ambiente começa a ficar escaldante. O ambiente já é de facto de pré-campanha eleitoral. Cruzam-se as entrevistas. Chocam-se os colunistas. Trocam-se os galhardetes. Ninguém quer levar desaforos para casa, pois todos já temos problemas domésticos mais do que suficientes para acrescentarmos mais um. Estamos no território livre da opinião para todos os gostos e feitios em nome do direito à diferença que é fundamental, que é constitucional. A liberdade de expressão. A liberdade de crítica política, social, cultural, religiosa e desportiva, sem a qual a democracia não faz qualquer sentido. Todas estas liberdades manifestam-se, como sempre, no grande berço da humanidade que é a acolhedora liberdade de imprensa, sem a qual o debate público indispensável ao projecto democrático não seria possível.”

***

Laurindo Vieira expressa a sua opiniao no Jornal de Angola:

“Julgo que a comparação entre Agostinho Neto com outros poetas, feita por Agualusa e retomada por Sousa Jamba é patológica. Patológica porque toda a comparação que visa denegrir uns e valorizar outros não é comparação. A comparação deve resultar de uma perspectiva diferencial, ou seja, compreender o que cada um tem de diferente em relação ao outro e de que forma estas diferenças podem ser construtoras de sentidos epistemológicos ou de outra natureza. Gosto da poesia de Agostinho Neto, de Viriato da Cruz, tal como gosto da poesia de Manuel Alegre. São todas poesias lindas, mas diferentes, porque se os sonhos são diferentes, por que razão Agostinho Neto há-de ser igual a Philipp Larkin, Ted Hughes ou José Craveirinha?”

***

Luis Kandjimbo, no Semanario Angolense (SA), insere o debate num quadro analitico mais alargado:

“O debate sobre o cânone literário em Angola emerge pela primeira vez e ganha visibilidade pública a partir de 1997, por ocasião do Encontro Internacional sobre Literatura Angolana, realizado em Luanda, quando perante os argumentos de Pires Laranjeira, que identificava a coexistência em Angola de duas lutas por um novo cânone, rotulando-me como «fundamentalista negro» devido à minha leitura fundamentada do romance Yaka de Pepetela – no qual o autor esvazia o valor de determinada categoria de personagens referenciais – apresentei uma comunicação denunciando a existência de uma ideologia oculta na «escola de estudos literários africanos em Portugal» que faz a apologia da crioulidade e de um cânone literário de «escritores mestiços» de que dependeria o prestígio da Literatura Angolana.
(…)
No entanto, Angola não se assemelha em nada àquilo a que os luso-tropicalistas consideravam como sendo «o mundo que o português criou» de que resultariam as sobreditas «ilhas crioulas». De resto, estas não existem em Angola. As polémicas desencadeadas em torno da selecção de obras constitutivas de um conjunto a que se deu o nome de «Biblioteca da Literatura Angolana» e acerca da apreciação estética da obra poética de Agostinho Neto, António Jacinto e António Cardoso traduzem bem a existência de conflitualidade de teorias, estéticas e interpretações, revelando uma certa geopolítica do conhecimento, o lugar a partir do qual cada um produz o seu discurso.”


***

O Secretario Geral da UEA, Botelho de Vasconcelos, tambem disse de sua justica em entrevista ao SA:

"Quero deixar claro que não sou apologista de uma certa crítica publicada em certos órgãos que usaram expressões nada polidas e até sugeriam que por causa dessas declarações todos nós, principalmente o João Melo e o Mena Abrantes, o considerássemos como um «homem» sarnento. Mesmo nos actos mais graves da nossa vida social, os laços de amizade devem sempre fazer florir os gestos de solidariedade, porque é nos momentos «infelizes» que devemos contar com os ombros do próximo. Num dos textos deixaram passar respostas que utilizaram a maledicência para atingirem com pedras o confrade. Por essa via viciada, teríamos que usar mais pedras porque alguns confrades gostam desse exercício de escárnio e de falta de rigor e ética quando escrevem ou comentam os títulos dos seus confrades cujas obras sempre concorrerão para o enriquecimento da nossa literatura."

***

Para fechar com chave de ouro, tambem no SA, uma noticia ainda no dominio da cultura/literatura, um tanto agridoce pelo que evoca de saudades do Tio Aires, mas mais bonita que as anteriores, como ele certamente gostaria:

"A anciã Esperança Lima Coelho, a «Panchita», como é chamada por todos, que se diz ter sido a «musa» que, ao seu tempo, inspirou o poeta Aires de Almeida Santos a escrever o seu célebre poema «Meu Amor da Rua 11», faz 80 anos na próxima terça-feira, 25, sendo por isso alvo de uma homenagem da sociedade benguelense, onde é bem-querida, pela comemoração da data."
“Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.”


Manuel Alegre

***


A polemica sobre os supostamente “poetas mediocres” continuou e dos varios artigos de opiniao que sobre ela recebi, destaco os que se seguem.


Wilson Dada, introdu-la assim na sua Kuluna semanal:

“O ambiente começa a ficar escaldante. O ambiente já é de facto de pré-campanha eleitoral. Cruzam-se as entrevistas. Chocam-se os colunistas. Trocam-se os galhardetes. Ninguém quer levar desaforos para casa, pois todos já temos problemas domésticos mais do que suficientes para acrescentarmos mais um. Estamos no território livre da opinião para todos os gostos e feitios em nome do direito à diferença que é fundamental, que é constitucional. A liberdade de expressão. A liberdade de crítica política, social, cultural, religiosa e desportiva, sem a qual a democracia não faz qualquer sentido. Todas estas liberdades manifestam-se, como sempre, no grande berço da humanidade que é a acolhedora liberdade de imprensa, sem a qual o debate público indispensável ao projecto democrático não seria possível.”

***

Laurindo Vieira expressa a sua opiniao no Jornal de Angola:

“Julgo que a comparação entre Agostinho Neto com outros poetas, feita por Agualusa e retomada por Sousa Jamba é patológica. Patológica porque toda a comparação que visa denegrir uns e valorizar outros não é comparação. A comparação deve resultar de uma perspectiva diferencial, ou seja, compreender o que cada um tem de diferente em relação ao outro e de que forma estas diferenças podem ser construtoras de sentidos epistemológicos ou de outra natureza. Gosto da poesia de Agostinho Neto, de Viriato da Cruz, tal como gosto da poesia de Manuel Alegre. São todas poesias lindas, mas diferentes, porque se os sonhos são diferentes, por que razão Agostinho Neto há-de ser igual a Philipp Larkin, Ted Hughes ou José Craveirinha?”

***

Luis Kandjimbo, no Semanario Angolense (SA), insere o debate num quadro analitico mais alargado:

“O debate sobre o cânone literário em Angola emerge pela primeira vez e ganha visibilidade pública a partir de 1997, por ocasião do Encontro Internacional sobre Literatura Angolana, realizado em Luanda, quando perante os argumentos de Pires Laranjeira, que identificava a coexistência em Angola de duas lutas por um novo cânone, rotulando-me como «fundamentalista negro» devido à minha leitura fundamentada do romance Yaka de Pepetela – no qual o autor esvazia o valor de determinada categoria de personagens referenciais – apresentei uma comunicação denunciando a existência de uma ideologia oculta na «escola de estudos literários africanos em Portugal» que faz a apologia da crioulidade e de um cânone literário de «escritores mestiços» de que dependeria o prestígio da Literatura Angolana.
(…)
No entanto, Angola não se assemelha em nada àquilo a que os luso-tropicalistas consideravam como sendo «o mundo que o português criou» de que resultariam as sobreditas «ilhas crioulas». De resto, estas não existem em Angola. As polémicas desencadeadas em torno da selecção de obras constitutivas de um conjunto a que se deu o nome de «Biblioteca da Literatura Angolana» e acerca da apreciação estética da obra poética de Agostinho Neto, António Jacinto e António Cardoso traduzem bem a existência de conflitualidade de teorias, estéticas e interpretações, revelando uma certa geopolítica do conhecimento, o lugar a partir do qual cada um produz o seu discurso.”


***

O Secretario Geral da UEA, Botelho de Vasconcelos, tambem disse de sua justica em entrevista ao SA:

"Quero deixar claro que não sou apologista de uma certa crítica publicada em certos órgãos que usaram expressões nada polidas e até sugeriam que por causa dessas declarações todos nós, principalmente o João Melo e o Mena Abrantes, o considerássemos como um «homem» sarnento. Mesmo nos actos mais graves da nossa vida social, os laços de amizade devem sempre fazer florir os gestos de solidariedade, porque é nos momentos «infelizes» que devemos contar com os ombros do próximo. Num dos textos deixaram passar respostas que utilizaram a maledicência para atingirem com pedras o confrade. Por essa via viciada, teríamos que usar mais pedras porque alguns confrades gostam desse exercício de escárnio e de falta de rigor e ética quando escrevem ou comentam os títulos dos seus confrades cujas obras sempre concorrerão para o enriquecimento da nossa literatura."

***

Para fechar com chave de ouro, tambem no SA, uma noticia ainda no dominio da cultura/literatura, um tanto agridoce pelo que evoca de saudades do Tio Aires, mas mais bonita que as anteriores, como ele certamente gostaria:

"A anciã Esperança Lima Coelho, a «Panchita», como é chamada por todos, que se diz ter sido a «musa» que, ao seu tempo, inspirou o poeta Aires de Almeida Santos a escrever o seu célebre poema «Meu Amor da Rua 11», faz 80 anos na próxima terça-feira, 25, sendo por isso alvo de uma homenagem da sociedade benguelense, onde é bem-querida, pela comemoração da data."