Showing posts with label COLONIALISM. Show all posts
Showing posts with label COLONIALISM. Show all posts

Monday, 3 October 2011

Memoria de Morabezza (II)





Regresso brevemente a esta memoria para marcar o recente passamento fisico de Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde.
Lembro-me de naquele simposio me ter sido dada a honra de fazer a primeira alocucao pelos participantes a seguir 'a cerimonia solene de abertura e de, depois da emocional saudacao que recebi de Mario Pinto de Andrade, Aristides Pereira, perto de quem estava sentada, tambem me ter dirigido algumas palavras de morabezza.



Nao se tratando este apontamento estritamente de um obituario, essa memoria traz consigo a de um outro protagonista da luta anti-colonial, tambem falecido ha’ relativamente pouco tempo: Luis Cabral – irmao de Amilcar Cabral e primeiro presidente da Guine’ Bissau. Conheci-o, e a sua familia, num ambiente mais informal, atravez da Lourdes e do seu marido Carlos Rubio, de quem era amigo e vizinho em Lisboa.
Aos dois ex-estadistas, ambos co-fundadores do PAIGC com Amilcar Cabral, ligava o laco fraternal que, durante algum tempo, uniu a Guine’ Bissau e Cabo Verde sob a mesma bandeira.

Paz 'as suas Almas.



[Mindjeres di Pano Preto - Jose' Carlos Swarts]





Regresso brevemente a esta memoria para marcar o recente passamento fisico de Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde.
Lembro-me de naquele simposio me ter sido dada a honra de fazer a primeira alocucao pelos participantes a seguir 'a cerimonia solene de abertura e de, depois da emocional saudacao que recebi de Mario Pinto de Andrade, Aristides Pereira, perto de quem estava sentada, tambem me ter dirigido algumas palavras de morabezza.



Nao se tratando este apontamento estritamente de um obituario, essa memoria traz consigo a de um outro protagonista da luta anti-colonial, tambem falecido ha’ relativamente pouco tempo: Luis Cabral – irmao de Amilcar Cabral e primeiro presidente da Guine’ Bissau. Conheci-o, e a sua familia, num ambiente mais informal, atravez da Lourdes e do seu marido Carlos Rubio, de quem era amigo e vizinho em Lisboa.
Aos dois ex-estadistas, ambos co-fundadores do PAIGC com Amilcar Cabral, ligava o laco fraternal que, durante algum tempo, uniu a Guine’ Bissau e Cabo Verde sob a mesma bandeira.

Paz 'as suas Almas.



[Mindjeres di Pano Preto - Jose' Carlos Swarts]

Thursday, 3 February 2011

Imperial Leather: Sexo, Raca, Genero e Poder




Continuando um pouco na senda da exploracao das relacoes de poder entre raca, genero e sexualidade, em contextos coloniais e post-coloniais (recentemente abordadas aqui e aqui), uma breve apresentacao da traducao para portugues, quinze anos depois da sua primeira edicao em ingles (... no seculo passado...), da obra Imperial Leather: Race, Gender, and Sexuality in the Colonial Context (Routledge, 1995), de Anne McClintock (Simone de Beauvoir Professor of English and Women’s and Gender Studies at UW-Madison).

O titulo em portugues, Couro Imperial: Raça, gênero e sexualidade no embate colonial (Unicamp, Brasil, 2010), apesar de traducao literalmente correcta (embora do subtitulo ja' nao se possa dizer o mesmo perante a traducao de context para embate...), infelizmente nao captura totalmente o seu sentido mais profundo em ingles (dir-se-ia que se trata aqui de um caso de lost in translation) – Imperial Leather e’ o nome de uma conhecida marca britanica de cosmeticos (especialmente sabonete) da epoca Victoriana que se continua a produzir e a comercializar ate’ hoje.



Ora, uma vertente fundamental desta obra (alias, retratada na imagem da sua capa e perspicazmente comentada aqui) e', num contexto em que a cor de pele escura e' associada a sujidade, a 'historia sexual e social da higiene corporal' (ou 'falta dela') e o 'papel civilizador do sabonete' (com um enfoque especial na sua publicidade - para uma breve historia em imagens da representacao de negros em publicidade no UK, ver aqui), aos quais a autora dedica explicitamente dois capitulos, o que da’ o titulo ao livro e um outro entitulado “Soft-Soaping Empire: Commodity Racism and Imperial Advertising.”


[Uma nota que nao posso deixar de fazer aqui, foi o quanto me impressionou, numa das sessoes de historia por literatura oral que a minha avo materna me transmitiu, ela mencionar como, nos relatos sobre os primeiros encontros com 'os brancos (portugueses)', estes "cheiravam muito mal"!... O que pode ser atribuido tanto as diferencas de percepcao sensorial do estranho ('o outro'), fenotipicas ou culturais, como ao facto de tais 'brancos' chegarem ao contacto com os 'negros' (... os hoje malfadados "indigenas", "autoctones", ou "genuinos"...) depois de longas viagens em caravelas sem condicoes aceitaveis de higiene e salubridade (sendo que o seu pais de origem 'a epoca tambem nao era particularmente conhecido pelos "mais elevados standards" sanitarios...) e, uma vez desembarcados, fazerem por vezes longas viagens por zonas nao habitadas ate' chegarem ao contacto directo com os ditos "autoctones"...]


Uma outra dimensao que esta obra coloca, sem remissao, na consciencia de todos quantos a isso se possam prestar, e' a dos direitos reprodutivos da mulher e o seu controlo do proprio corpo: e.g. deixando, de momento, de parte a (falsa?) questao do sacrossanto matrimonio, "quantas 'crias' tem uma 'femea' que parir para poder ser considerada uma 'senhora respeitavel' pela 'sociedade', ou seja, pelos 'homens respeitaveis'" e, correlativa mas cinicamente, "terao tais 'crias' que ser forcosamente do mesmo 'macho'"?

[Clique nas imagens para as ampliar]



Associada aquela dimensao, ha' uma outra abordagem que este livro nos permite: o processo de transferencia, numa sociedade escravocrato-colonial, dos deveres maternais da mulher branca para a escrava/ama-seca negra - o que nos remete, na era 'post-colonial' ou 'post-moderna', para questoes como as afloradas aqui ou aqui...

[imagem daqui]

... Ou, mais recentemente, para o decadente, deprimente, aviltante, degradante e revoltante "espectaculo contemporaneo" de uma filha da 'ex-burguesia colonial' (?), ninfa branca racista supremacista de extrema direita, retardada, ridicula, quase cinquentona, mae solteira de uma unica(?!) filha mulata (va-se la' saber de quem...), nos seus doentios, obscenos, amorais e imorais jogos de seducao de homens negros (...ou quase...), movida, na sua patologica (i)logica do p(h)oder, apenas por inveja, odio, ciume, possessividade e lascivia (veja-se, a este proposito, o seu perfil aqui...), tentando perversa, intrusiva e abusivamente impor/transferir os seus 'desejos frustrados/reprimidos de procriacao em serie' (deste tipo...) para a mulher que ela fantasia ser sua escrava: a negra!


Ou, a falta de melhor, ou mais excitante fantasia, dada a sua mais do que evidente falta de qualquer resquicio de respeitabilidade ou caracter, tentando transforma-la naquilo que ela realmente e': 'lesbica', 'homosexual' ou 'homem em corpo de mulher' (ou sera' 'mulher em corpo de homem' - afinal para que serve a mulher (especialmente a negra) senao para parir?!)...


Patetice... So'?!


[imagem daqui]

Para terminar, destaco da obra (parcialmente reproduzida no 'inserto' abaixo), que em termos metodologicos recorre fundamentalmente a psicanalise, a seguinte passagem:


"A vasta e fraturada arquitetura do imperialismo era eivada de gênero e atravessada pelo fato de que os homens brancos faziam e executavam as leis e políticas de seu próprio interesse. Ainda assim, os privilégios de raça com frequência colocavam as mulheres brancas em posição de poder - ainda que emprestado - não só sobre as mulheres colonizadas, mas também sobre os homens colonizados. Como tais, as mulheres brancas não eram as infelizes passantes do império, mas as cúmplices ambíguas, tanto como colonizadoras quanto como colonizadas, privilegiadas e restringidas, fossem passivas ou ativas."





Posts relacionados:



Continuando um pouco na senda da exploracao das relacoes de poder entre raca, genero e sexualidade, em contextos coloniais e post-coloniais (recentemente abordadas aqui e aqui), uma breve apresentacao da traducao para portugues, quinze anos depois da sua primeira edicao em ingles (... no seculo passado...), da obra Imperial Leather: Race, Gender, and Sexuality in the Colonial Context (Routledge, 1995), de Anne McClintock (Simone de Beauvoir Professor of English and Women’s and Gender Studies at UW-Madison).

O titulo em portugues, Couro Imperial: Raça, gênero e sexualidade no embate colonial (Unicamp, Brasil, 2010), apesar de traducao literalmente correcta (embora do subtitulo ja' nao se possa dizer o mesmo perante a traducao de context para embate...), infelizmente nao captura totalmente o seu sentido mais profundo em ingles (dir-se-ia que se trata aqui de um caso de lost in translation) – Imperial Leather e’ o nome de uma conhecida marca britanica de cosmeticos (especialmente sabonete) da epoca Victoriana que se continua a produzir e a comercializar ate’ hoje.



Ora, uma vertente fundamental desta obra (alias, retratada na imagem da sua capa e perspicazmente comentada aqui) e', num contexto em que a cor de pele escura e' associada a sujidade, a 'historia sexual e social da higiene corporal' (ou 'falta dela') e o 'papel civilizador do sabonete' (com um enfoque especial na sua publicidade - para uma breve historia em imagens da representacao de negros em publicidade no UK, ver aqui), aos quais a autora dedica explicitamente dois capitulos, o que da’ o titulo ao livro e um outro entitulado “Soft-Soaping Empire: Commodity Racism and Imperial Advertising.”


[Uma nota que nao posso deixar de fazer aqui, foi o quanto me impressionou, numa das sessoes de historia por literatura oral que a minha avo materna me transmitiu, ela mencionar como, nos relatos sobre os primeiros encontros com 'os brancos (portugueses)', estes "cheiravam muito mal"!... O que pode ser atribuido tanto as diferencas de percepcao sensorial do estranho ('o outro'), fenotipicas ou culturais, como ao facto de tais 'brancos' chegarem ao contacto com os 'negros' (... os hoje malfadados "indigenas", "autoctones", ou "genuinos"...) depois de longas viagens em caravelas sem condicoes aceitaveis de higiene e salubridade (sendo que o seu pais de origem 'a epoca tambem nao era particularmente conhecido pelos "mais elevados standards" sanitarios...) e, uma vez desembarcados, fazerem por vezes longas viagens por zonas nao habitadas ate' chegarem ao contacto directo com os ditos "autoctones"...]


Uma outra dimensao que esta obra coloca, sem remissao, na consciencia de todos quantos a isso se possam prestar, e' a dos direitos reprodutivos da mulher e o seu controlo do proprio corpo: e.g. deixando, de momento, de parte a (falsa?) questao do sacrossanto matrimonio, "quantas 'crias' tem uma 'femea' que parir para poder ser considerada uma 'senhora respeitavel' pela 'sociedade', ou seja, pelos 'homens respeitaveis'" e, correlativa mas cinicamente, "terao tais 'crias' que ser forcosamente do mesmo 'macho'"?

[Clique nas imagens para as ampliar]



Associada aquela dimensao, ha' uma outra abordagem que este livro nos permite: o processo de transferencia, numa sociedade escravocrato-colonial, dos deveres maternais da mulher branca para a escrava/ama-seca negra - o que nos remete, na era 'post-colonial' ou 'post-moderna', para questoes como as afloradas aqui ou aqui...

[imagem daqui]

... Ou, mais recentemente, para o decadente, deprimente, aviltante, degradante e revoltante "espectaculo contemporaneo" de uma filha da 'ex-burguesia colonial' (?), ninfa branca racista supremacista de extrema direita, retardada, ridicula, quase cinquentona, mae solteira de uma unica(?!) filha mulata (va-se la' saber de quem...), nos seus doentios, obscenos, amorais e imorais jogos de seducao de homens negros (...ou quase...), movida, na sua patologica (i)logica do p(h)oder, apenas por inveja, odio, ciume, possessividade e lascivia (veja-se, a este proposito, o seu perfil aqui...), tentando perversa, intrusiva e abusivamente impor/transferir os seus 'desejos frustrados/reprimidos de procriacao em serie' (deste tipo...) para a mulher que ela fantasia ser sua escrava: a negra!


Ou, a falta de melhor, ou mais excitante fantasia, dada a sua mais do que evidente falta de qualquer resquicio de respeitabilidade ou caracter, tentando transforma-la naquilo que ela realmente e': 'lesbica', 'homosexual' ou 'homem em corpo de mulher' (ou sera' 'mulher em corpo de homem' - afinal para que serve a mulher (especialmente a negra) senao para parir?!)...


Patetice... So'?!


[imagem daqui]

Para terminar, destaco da obra (parcialmente reproduzida no 'inserto' abaixo), que em termos metodologicos recorre fundamentalmente a psicanalise, a seguinte passagem:


"A vasta e fraturada arquitetura do imperialismo era eivada de gênero e atravessada pelo fato de que os homens brancos faziam e executavam as leis e políticas de seu próprio interesse. Ainda assim, os privilégios de raça com frequência colocavam as mulheres brancas em posição de poder - ainda que emprestado - não só sobre as mulheres colonizadas, mas também sobre os homens colonizados. Como tais, as mulheres brancas não eram as infelizes passantes do império, mas as cúmplices ambíguas, tanto como colonizadoras quanto como colonizadas, privilegiadas e restringidas, fossem passivas ou ativas."





Posts relacionados:

Friday, 17 September 2010

No 'Dia do Heroi Nacional'


A Renúncia Impossível









Negação


Não creio em mim
Não existo
Não quero eu não quero ser

Quero destruir-me
- Atirar-me de pontes elevadas
e deixar-me despedaçar
sobre as pedras duras das calçadas

Pulverizar o meu ser
desaparecer
não deixar sequer traço de passagem
pelo mundo.

Quero matar-me
e deixar que o não-eu
se aposse de mim.

Mais do que um simples suicídio
quero que esta minha morte
Seja uma verdadeira novidade histórica
um desaparecimento total
até mesmo nos cérebros
daqueles que me odeiam
até mesmo no tempo
e se processe a História
e o mundo continue
como se eu nunca tivesse existido
como se nenhuma obra tivesse produzido
como se nada tivesse influenciado na vida
como se em vez de valor negativo
eu fosse Zero.

Quero ascender, subir
elevar-me até atingir o Zero
e desaparecer.
Deixai-me desaparecer!

Mas antes vou gritar
com toda a força dos meus pulmões
para que o mundo oiça:

- Fui eu quem renunciou à Vida!
Podeis continuar a ocupar o meu lugar
vós os que mo roubastes

Aí tendes o mundo todo para vós
para mim nada quero
nem riqueza nem pobreza
nem alegria nem tristeza
nem vida nem morte
nada.

Não sou. Não existo. Nunca fui.
Renuncio-me
Atingi o Zero

E agora,
Vivei, cantai, chorai
casai-vos, matai-vos, embriagai-vos
dai sêmolas aos pobres.
Nada me pode interessar
que eu não sou
Atingi o Zero!

Não contem comigo
para vos servir às refeições
nem para cavar os diamantes
que vossas mulheres irão ostentar em salões
nem para cuidar das vossas plantações
de café e algodão
não contem com operários
para amamentar os vossos filhos sifilíticos
não contem com operários
de segunda categoria
para fazer o trabalho de que vos orgulhais
nem com soldados inconscientes
para gritar com o estômago vazio
vivas ao nosso trabalho de civilização
nem com lacaios
para vos tirarem os sapatos
de madrugada
quando regressardes de orgias nocturnas
nem com pretos medrosos
para vos oferecer vacas
e vender molho a tostão
nem com corpos de mulheres
para vos alimentar de prazeres
nos ócios da vossa abundância imoral.

Não contem comigo
Renuncio-me.
Eu atingi o Zero
Não existo. Nunca existi.
Não quero vida nem morte
Nada!
Podeis agora queimar
os letreiros medrosos
que às portas dos bars, hotéis e recintos públicos
gritam o vosso egoísmo
nas frases: “SÓ PARA BRANCOS” ou “ONLY TO COLOURED MEN”
Negros aqui. Brancos acolá.








Podeis acabar
com os miseráveis bairros de negros
que vos atrapalham a vaidade
Vivei satisfeitos sem “colour lines”
sem terdes que dizer aos fregueses negros
que os hotéis estão abarrotados
que não há mais mesas nos restaurantes.
Banhai-vos descansados
nas vossas praias e piscinas
que nunca houve negros no mundo
que sujassem as águas
ou os vossos nojentos preconceitos
com a sua escura presença.

Podeis transformar em toureiros
ou em magarefes
os membros da Ku-klux-klan
para que matem a sua fome sanguinária
nas feridas dos touros que descem à arena.
Não há negros para linchar!

Porque hesitais agora!
Ao menos tendes oportunidade
para proclamardes democracias
com sinceridade

Podeis inventar uma nova História.
Inclusivamente podeis atribuir-vos a criação do mundo.
Tudo foi feito por vós
Ah!
que satisfação eu sinto
por ver-vos alegres no vosso orgulho
e loucos na vossa mania de superioridade.

Nunca houve negros!
A África foi construída só por vós
A América foi colonizada só por vós
A Europa não conhece civilizações africanas
Nunca um negro beijou uma branca
nem um negro foi linchado
nunca mataram pretos a golpes de cavalomarinho
para lhes possuírem as mulheres
nunca extorquiram propriedades a pretos
não tendes, nunca tivestes filhos com sangue negro
ó racistas de desbragada lubricidade
Fartai-vos agora dentro da moral.

Que satisfação eu sinto
por não terdes que falsear os padrões morais
para salvaguardar
o prestigio, a superioridade e o estômago
dos vossos filhos.

Ah!
O meu suicídio é uma novidade histórica
é um sádico prazer
de ver-vos bem instalados no vosso mundo
sem necessidade de jogos falsos.

Eu elevado até o Zero
eu transformado no Nada-historico
Eu no inicio dos Tempos
eu-Nada a confundir-me com vós-Tudo
sou o verdadeiro Cristo da Humanidade!

Não há nas ruas de Luanda
Negros descalços e sujos
a pôr nódoas nas vossas falsidades de colonização
em Lourenço Marques
em Nova York, em Leopoldville
em Cape-Town
gritam pelas ruas
a foguetear alegria nos ares:
-Não há negros nas ruas!
Nunca houve.
Não há negros preguiçosos
a deixar os campos por cultivar
e renitentes à escravização
já não há negros para roubar.
Toda a riqueza representa agora o suor do rosto
e o suor do rosto é a poesia da vida.







Não existe música negra
Nunca houve batuques nas florestas do Congo
Quem falou em spirituals?

Vá de encher os salões
de Debussy Strauss Korsakoff.
Já não há selvagens na terra.
Viva a civilização dos homens superiores
sem manchas negróides
a perturbar-lhe a estética!

Nunca houve descobrimentos
a África foi criada com o mundo.

O que é a colonização?
O que são massacres de negros?
O que são os esbulhos de propriedade?
Coisas que ninguém conhece.

A história está errada
Nunca houve escravatura
nunca houve domínio de minorias
orgulhosas da sua força

Acabai com as cruzadas religiosas
A fé está espalhada por todo mundo
sobre a terra só há cristãos
vós sois todos cristãos.

Não há infiéis por converter
Escusai de imaginar mais infidelidades religiosas
para justificar
Repugnantes actos de barbarismo.

Não necessitais enviar mais missionários
a África
nem aos bairros de negros
Nunca houve feitiços
nem concepções religiosas diferentes
nunca houve religiosos a auxiliar a ocupação militar.

Acabai tudo, tudo
e vós sois todos irmãos.
Podeis continuar com os vossos sistemas
socialistas ou capitalista
que isso não me interessa.
Explorai o proletariado
ou dai-lhe de comer
isso é convosco.

Continuai com os vossos sistemas políticos
ditaduras democracias.
Matai-vos uns aos outros
lutai pela glória
lutai pelo poder
criai minorias fortes
que protejam os seus comp…
apadrinhai os afilhados dos vossos amigos
criai mais castas
aburguesai as ideias
e tudo sem a complicação
de verdes intrusos
imiscuir-se na vossa querida
e defendida civilização
dos homens privilegiados.







Homens irmãos
dai-vos as mãos
gritai a vossa alegria de serdes sós
SÓS!
únicos habitantes da Terra.

Eu atingi o Zero!

Isto simplifica extraordinariamente
a vossa ética.
Ao menos não percais agora
a ocasião de serdes honestos.
Se houver terramotos
Calamidades, cheias ou epidemias
ou terras a defender da invasão das águas
ou motores parados nas lamas de selvas africanas
raios partam!
já não tereis de chamar-me
para acudir ás vossas desgraças
para reparar os vossos desastres
ou para carregar com a culpa das vossas incúrias.
Ide para o diabo!

Eu não existo
Palavra de honra que nunca existi.
Atingi o Zero
o Nada.
Abençoada a Hora
do meu super-suicidio
para vós
homens que construís sistemas morais
para enquadrar imoralidades
O sol brilha só para vós
a lua reflecte luz só para vós
nunca houve esclavagistas
nem massacres
Nem ocupações da África.
Como até a história
se transforma num Tratado Moral
sem necessidade de arranjos apressados!

Não existem os pretos dos cais e do caminho de
ferro.
Nos locais de trabalho nunca se ouviram cantos
dolentes
só há chiadeira dos guindastes.
Nunca pisaram os caminhos do mato
carregados com quilos às costas
são os motores que se queimam sob as cargas
Ó pretos submissos humildes ou tímidos
Sem lugar nas cidades
ou nos escaninhos da honestidade
ou nos recantos da força
com a alma poisada no sinal menos,
polígamos declarados
dançarinos de batuques sensuais
sabei que subistes todos de valor
Atingistes o Zero
sois Nada
e salvastes o Homem.







Acabou-se o ódio de raças
e o trabalho de civilização
e a náusea de ver meninos negros
sentados na escola
ao lado dos meninos de olhos azuis
e as extorsões e compulsões
e as palmatoadas e torturas
para obrigar inocentes a confessar crimes
e os medos de revolta
e as complicadas demarches politicas
para iludir as almas simples.

Acabaram-se as complicações sociais!
Atingi o zero
Cheguei à hora do inicio do mundo
E resolvi não existir.

Cheguei ao Zero-Espaço
ao nada-tempo
ao Eu coincidente com vós-Tudo.

E o que é mais importante
Salvei o mundo.












Afirmação


Ah!

Faça-se luz no meu espírito
LUZ!

Calem–se as frases loucas
Desta renúncia impossível.


Eu–todos nunca me enganei
nunca coincidirei com o nada
não me deitarei nunca debaixo dos comboios


Não fui eu quem falou
da salvação do mundo
à custa da minha existência
da transformação do valor negativo em Zero
por meio do castigo ao inocente
em super – suicídio novidade histórica


Quem falou não fui eu
foi a minha loucura.


O meu lugar está marcado
no campo da luta
para conquista da vida perdida


Eu sou. Existo
As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
Tenho direito ao meu pedaço de pão


Sou um valor positivo
da humanidade
e não abdico,
nunca abdicarei!


Seguirei com os homens livres
O meu caminho
para a liberdade e para a Vida.
Perdoem–me os cinco minutos de loucura
que vivi.





A Renúncia Impossível









Negação


Não creio em mim
Não existo
Não quero eu não quero ser

Quero destruir-me
- Atirar-me de pontes elevadas
e deixar-me despedaçar
sobre as pedras duras das calçadas

Pulverizar o meu ser
desaparecer
não deixar sequer traço de passagem
pelo mundo.

Quero matar-me
e deixar que o não-eu
se aposse de mim.

Mais do que um simples suicídio
quero que esta minha morte
Seja uma verdadeira novidade histórica
um desaparecimento total
até mesmo nos cérebros
daqueles que me odeiam
até mesmo no tempo
e se processe a História
e o mundo continue
como se eu nunca tivesse existido
como se nenhuma obra tivesse produzido
como se nada tivesse influenciado na vida
como se em vez de valor negativo
eu fosse Zero.

Quero ascender, subir
elevar-me até atingir o Zero
e desaparecer.
Deixai-me desaparecer!

Mas antes vou gritar
com toda a força dos meus pulmões
para que o mundo oiça:

- Fui eu quem renunciou à Vida!
Podeis continuar a ocupar o meu lugar
vós os que mo roubastes

Aí tendes o mundo todo para vós
para mim nada quero
nem riqueza nem pobreza
nem alegria nem tristeza
nem vida nem morte
nada.

Não sou. Não existo. Nunca fui.
Renuncio-me
Atingi o Zero

E agora,
Vivei, cantai, chorai
casai-vos, matai-vos, embriagai-vos
dai sêmolas aos pobres.
Nada me pode interessar
que eu não sou
Atingi o Zero!

Não contem comigo
para vos servir às refeições
nem para cavar os diamantes
que vossas mulheres irão ostentar em salões
nem para cuidar das vossas plantações
de café e algodão
não contem com operários
para amamentar os vossos filhos sifilíticos
não contem com operários
de segunda categoria
para fazer o trabalho de que vos orgulhais
nem com soldados inconscientes
para gritar com o estômago vazio
vivas ao nosso trabalho de civilização
nem com lacaios
para vos tirarem os sapatos
de madrugada
quando regressardes de orgias nocturnas
nem com pretos medrosos
para vos oferecer vacas
e vender molho a tostão
nem com corpos de mulheres
para vos alimentar de prazeres
nos ócios da vossa abundância imoral.

Não contem comigo
Renuncio-me.
Eu atingi o Zero
Não existo. Nunca existi.
Não quero vida nem morte
Nada!
Podeis agora queimar
os letreiros medrosos
que às portas dos bars, hotéis e recintos públicos
gritam o vosso egoísmo
nas frases: “SÓ PARA BRANCOS” ou “ONLY TO COLOURED MEN”
Negros aqui. Brancos acolá.








Podeis acabar
com os miseráveis bairros de negros
que vos atrapalham a vaidade
Vivei satisfeitos sem “colour lines”
sem terdes que dizer aos fregueses negros
que os hotéis estão abarrotados
que não há mais mesas nos restaurantes.
Banhai-vos descansados
nas vossas praias e piscinas
que nunca houve negros no mundo
que sujassem as águas
ou os vossos nojentos preconceitos
com a sua escura presença.

Podeis transformar em toureiros
ou em magarefes
os membros da Ku-klux-klan
para que matem a sua fome sanguinária
nas feridas dos touros que descem à arena.
Não há negros para linchar!

Porque hesitais agora!
Ao menos tendes oportunidade
para proclamardes democracias
com sinceridade

Podeis inventar uma nova História.
Inclusivamente podeis atribuir-vos a criação do mundo.
Tudo foi feito por vós
Ah!
que satisfação eu sinto
por ver-vos alegres no vosso orgulho
e loucos na vossa mania de superioridade.

Nunca houve negros!
A África foi construída só por vós
A América foi colonizada só por vós
A Europa não conhece civilizações africanas
Nunca um negro beijou uma branca
nem um negro foi linchado
nunca mataram pretos a golpes de cavalomarinho
para lhes possuírem as mulheres
nunca extorquiram propriedades a pretos
não tendes, nunca tivestes filhos com sangue negro
ó racistas de desbragada lubricidade
Fartai-vos agora dentro da moral.

Que satisfação eu sinto
por não terdes que falsear os padrões morais
para salvaguardar
o prestigio, a superioridade e o estômago
dos vossos filhos.

Ah!
O meu suicídio é uma novidade histórica
é um sádico prazer
de ver-vos bem instalados no vosso mundo
sem necessidade de jogos falsos.

Eu elevado até o Zero
eu transformado no Nada-historico
Eu no inicio dos Tempos
eu-Nada a confundir-me com vós-Tudo
sou o verdadeiro Cristo da Humanidade!

Não há nas ruas de Luanda
Negros descalços e sujos
a pôr nódoas nas vossas falsidades de colonização
em Lourenço Marques
em Nova York, em Leopoldville
em Cape-Town
gritam pelas ruas
a foguetear alegria nos ares:
-Não há negros nas ruas!
Nunca houve.
Não há negros preguiçosos
a deixar os campos por cultivar
e renitentes à escravização
já não há negros para roubar.
Toda a riqueza representa agora o suor do rosto
e o suor do rosto é a poesia da vida.







Não existe música negra
Nunca houve batuques nas florestas do Congo
Quem falou em spirituals?

Vá de encher os salões
de Debussy Strauss Korsakoff.
Já não há selvagens na terra.
Viva a civilização dos homens superiores
sem manchas negróides
a perturbar-lhe a estética!

Nunca houve descobrimentos
a África foi criada com o mundo.

O que é a colonização?
O que são massacres de negros?
O que são os esbulhos de propriedade?
Coisas que ninguém conhece.

A história está errada
Nunca houve escravatura
nunca houve domínio de minorias
orgulhosas da sua força

Acabai com as cruzadas religiosas
A fé está espalhada por todo mundo
sobre a terra só há cristãos
vós sois todos cristãos.

Não há infiéis por converter
Escusai de imaginar mais infidelidades religiosas
para justificar
Repugnantes actos de barbarismo.

Não necessitais enviar mais missionários
a África
nem aos bairros de negros
Nunca houve feitiços
nem concepções religiosas diferentes
nunca houve religiosos a auxiliar a ocupação militar.

Acabai tudo, tudo
e vós sois todos irmãos.
Podeis continuar com os vossos sistemas
socialistas ou capitalista
que isso não me interessa.
Explorai o proletariado
ou dai-lhe de comer
isso é convosco.

Continuai com os vossos sistemas políticos
ditaduras democracias.
Matai-vos uns aos outros
lutai pela glória
lutai pelo poder
criai minorias fortes
que protejam os seus comp…
apadrinhai os afilhados dos vossos amigos
criai mais castas
aburguesai as ideias
e tudo sem a complicação
de verdes intrusos
imiscuir-se na vossa querida
e defendida civilização
dos homens privilegiados.







Homens irmãos
dai-vos as mãos
gritai a vossa alegria de serdes sós
SÓS!
únicos habitantes da Terra.

Eu atingi o Zero!

Isto simplifica extraordinariamente
a vossa ética.
Ao menos não percais agora
a ocasião de serdes honestos.
Se houver terramotos
Calamidades, cheias ou epidemias
ou terras a defender da invasão das águas
ou motores parados nas lamas de selvas africanas
raios partam!
já não tereis de chamar-me
para acudir ás vossas desgraças
para reparar os vossos desastres
ou para carregar com a culpa das vossas incúrias.
Ide para o diabo!

Eu não existo
Palavra de honra que nunca existi.
Atingi o Zero
o Nada.
Abençoada a Hora
do meu super-suicidio
para vós
homens que construís sistemas morais
para enquadrar imoralidades
O sol brilha só para vós
a lua reflecte luz só para vós
nunca houve esclavagistas
nem massacres
Nem ocupações da África.
Como até a história
se transforma num Tratado Moral
sem necessidade de arranjos apressados!

Não existem os pretos dos cais e do caminho de
ferro.
Nos locais de trabalho nunca se ouviram cantos
dolentes
só há chiadeira dos guindastes.
Nunca pisaram os caminhos do mato
carregados com quilos às costas
são os motores que se queimam sob as cargas
Ó pretos submissos humildes ou tímidos
Sem lugar nas cidades
ou nos escaninhos da honestidade
ou nos recantos da força
com a alma poisada no sinal menos,
polígamos declarados
dançarinos de batuques sensuais
sabei que subistes todos de valor
Atingistes o Zero
sois Nada
e salvastes o Homem.







Acabou-se o ódio de raças
e o trabalho de civilização
e a náusea de ver meninos negros
sentados na escola
ao lado dos meninos de olhos azuis
e as extorsões e compulsões
e as palmatoadas e torturas
para obrigar inocentes a confessar crimes
e os medos de revolta
e as complicadas demarches politicas
para iludir as almas simples.

Acabaram-se as complicações sociais!
Atingi o zero
Cheguei à hora do inicio do mundo
E resolvi não existir.

Cheguei ao Zero-Espaço
ao nada-tempo
ao Eu coincidente com vós-Tudo.

E o que é mais importante
Salvei o mundo.












Afirmação


Ah!

Faça-se luz no meu espírito
LUZ!

Calem–se as frases loucas
Desta renúncia impossível.


Eu–todos nunca me enganei
nunca coincidirei com o nada
não me deitarei nunca debaixo dos comboios


Não fui eu quem falou
da salvação do mundo
à custa da minha existência
da transformação do valor negativo em Zero
por meio do castigo ao inocente
em super – suicídio novidade histórica


Quem falou não fui eu
foi a minha loucura.


O meu lugar está marcado
no campo da luta
para conquista da vida perdida


Eu sou. Existo
As minhas mãos colocaram pedras
nos alicerces do mundo
Tenho direito ao meu pedaço de pão


Sou um valor positivo
da humanidade
e não abdico,
nunca abdicarei!


Seguirei com os homens livres
O meu caminho
para a liberdade e para a Vida.
Perdoem–me os cinco minutos de loucura
que vivi.




Tuesday, 13 July 2010

"Direito de Resposta"

Acabo de receber, de Eugenio Monteiro Ferreira, um comentario a este post que, com a devida venia, aqui transcrevo:

Conterrânea:

Venho por este meio dizer-lhe 3 coisas:

1º é que, suponho que o sabe bem, Eugénio Ferreira (1906-1998), meu Pai, faleceu há alguns anos. Por isso, agradecia- lhe penhoradamente que não confundisse com Eugénio Monteiro Ferreira, eu, autor do artigo a que teve acesso. Por favor, não me leve a mal, mas não confunda os dois pois ele não tem nada a ver com esse artigo .

2º sobre a transcrição que faz do que escrevi, há apenas um pormenor que também lhe agradecia poder acatar, pois tem a ver com a natureza das coisas. Sobre a transição da escravatura para o capitalismo. Tenha paciência: "escravatura na produção" não é o mesmo que transcrever apenas "escravatura", pois muda tudo num texto, como tenho a certeza seguramente uma economista e poetisa sabe.

3º quanto aos comentários feitos, agradeço-os com toda a sinceridade, pois prefiro mil vezes que alguém discorde daquilo que escrevo (certamente não na forma e seja ou não por mim aceite), àquela outra gente, torpe e malabarista, pseudo-silenciosa, que vive ao longo da vida, a procurar pôr em choque cada diferença de opinião que descobre, por vezes para sobreviver na sua cultural preguicite aguda ou na sua mediocridade estrutural.

Na esperança que na nossa terra a democraticidade económica, política, social e cultural, cresça, ao mesmo tempo que os justos sejam cada vez mais fortes e que os fortes sejam mais justos, subscrevo-me

Eugénio Monteiro Ferreira , 12 Julho 2010



Caro conterraneo,

Muito obrigada pelas correccoes que, obviamente, acato. Nao lhe levo nada a mal, bem antes pelo contrario: apenas lhe posso ficar agradecida pelos esclarecimentos que tanto a mim como aos leitores deste blog so' podem enriquecer. E peco-lhe sinceras desculpas pelos equivocos que o meu post possa ter suscitado.

Um abraco no (melhor) entendimento democratico,

K.
Acabo de receber, de Eugenio Monteiro Ferreira, um comentario a este post que, com a devida venia, aqui transcrevo:

Conterrânea:

Venho por este meio dizer-lhe 3 coisas:

1º é que, suponho que o sabe bem, Eugénio Ferreira (1906-1998), meu Pai, faleceu há alguns anos. Por isso, agradecia- lhe penhoradamente que não confundisse com Eugénio Monteiro Ferreira, eu, autor do artigo a que teve acesso. Por favor, não me leve a mal, mas não confunda os dois pois ele não tem nada a ver com esse artigo .

2º sobre a transcrição que faz do que escrevi, há apenas um pormenor que também lhe agradecia poder acatar, pois tem a ver com a natureza das coisas. Sobre a transição da escravatura para o capitalismo. Tenha paciência: "escravatura na produção" não é o mesmo que transcrever apenas "escravatura", pois muda tudo num texto, como tenho a certeza seguramente uma economista e poetisa sabe.

3º quanto aos comentários feitos, agradeço-os com toda a sinceridade, pois prefiro mil vezes que alguém discorde daquilo que escrevo (certamente não na forma e seja ou não por mim aceite), àquela outra gente, torpe e malabarista, pseudo-silenciosa, que vive ao longo da vida, a procurar pôr em choque cada diferença de opinião que descobre, por vezes para sobreviver na sua cultural preguicite aguda ou na sua mediocridade estrutural.

Na esperança que na nossa terra a democraticidade económica, política, social e cultural, cresça, ao mesmo tempo que os justos sejam cada vez mais fortes e que os fortes sejam mais justos, subscrevo-me

Eugénio Monteiro Ferreira , 12 Julho 2010



Caro conterraneo,

Muito obrigada pelas correccoes que, obviamente, acato. Nao lhe levo nada a mal, bem antes pelo contrario: apenas lhe posso ficar agradecida pelos esclarecimentos que tanto a mim como aos leitores deste blog so' podem enriquecer. E peco-lhe sinceras desculpas pelos equivocos que o meu post possa ter suscitado.

Um abraco no (melhor) entendimento democratico,

K.

Monday, 21 June 2010

MARCELO CAETANO REBELO DE SOUSA FERREIRA E SARKOZY… (RECIDIVUS)*

…OU OS 4 MOMENTOS DE UM BELO DISCURSO… OU DE COMO «ISTO ANDA TUDO LIGADO»

1. Antonio de Oliveira Salazar tera’ sido recentemente eleito «O Maior Portugues de Sempre». Supostamente Marcelo Caetano nao lhe teria ficado muito longe na votacao...

2. Lourenco do Rosario afirmou aqui que «Marcelo Rebelo de Sousa, esteve recentemente em Moçambique, no âmbito de cooperação académica entre as universidades portuguesas e moçambicanas. Ele escandalizou meio mundo ao, pela primeira vez, assumir a postura muitas vezes pronunciada em surdina de que havia que resgatar o lado bom do colonialismo, fazendo justiça àqueles que, embora servidores do sistema, conseguiram dar-lhe um rosto humano. E chocou, porquê? Na justa medida de que para nós, é um dado adquirido de que o colonialismo é sempre mau para quem o sofreu e é sempre bom para quem dele beneficiou»;

3. Eugenio Ferreira afirmou aqui, parafraseando acidentalmente(?) Salazar, «rapidamente e em forca», que «(…) a escravatura nao foi mais do que um processo geral da humanidade na sua transicao para o capitalismo»...

4. O Presidente Frances, Nicolas Sarkozy, esteve ha’ cerca de 2 meses no Senegal, onde proferiu na Universidade de Dakar este belissimo discurso (que continua ate’ hoje a fazer correr muita tinta), do qual extrai as seguintes perolas:

Il y a eu la traite négrière, il y a eu l'esclavage, les hommes, les femmes, les enfants achetés et vendus comme des marchandises. Et ce crime ne fut pas seulement un crime contre les Africains, ce fut un crime contre l'homme, ce fut un crime contre l'humanité toute entière. Et l'homme noir qui éternellement «entend de la cale monter les malédictions enchaînées, les hoquettements des mourants, le bruit de l'un d'entre eux qu'on jette à la mer». Cet homme noir qui ne peut s'empêcher de se répéter sans fin «Et ce pays cria pendant des siècles que nous sommes des bêtes brutes». Cet homme noir, je veux le dire ici à Dakar, a le visage de tous les hommes du monde.
Cette souffrance de l'homme noir, je ne parle pas de l'homme au sens du sexe, je parle de l'homme au sens de l'être humain et bien sûr de la femme et de l'homme dans son acceptation générale. Cette souffrance de l'homme noir, c'est la souffrance de tous les hommes. Cette blessure ouverte dans l'âme de l'homme noir est une blessure ouverte dans l'âme de tous les hommes. Jeunes d'Afrique, je ne suis pas venu vous parler de repentance. Je suis venu vous dire que je ressens la traite et l'esclavage comme des crimes envers l'humanité. Je suis venu vous dire que votre déchirure et votre souffrance sont les nôtres et sont donc les miennes.
(...)
Mais il est vrai que jadis, les Européens sont venus en Afrique en conquérants. Ils ont pris la terre de vos ancêtres. Ils ont banni les dieux, les langues, les croyances, les coutumes de vos pères. Ils ont dit à vos pères ce qu'ils devaient penser, ce qu'ils devaient croire, ce qu'ils devaient faire. Ils ont coupé vos pères de leur passé, ils leur ont arraché leur âme et leurs racines. Ils ont désenchanté l'Afrique. Ils ont eu tort. Ils n'ont pas vu la profondeur et la richesse de l'âme africaine. Ils ont cru qu'ils étaient supérieurs, qu'ils étaient plus avancés, qu'ils étaient le progrès, qu'ils étaient la civilisation. Ils ont eu tort.
Ils ont voulu convertir l'homme africain, ils ont voulu le façonner à leur image, ils ont cru qu'ils avaient tous les droits, ils ont cru qu'ils étaient tout puissants, plus puissants que les dieux de l'Afrique, plus puissants que l'âme africaine, plus puissants que les liens sacrés que les hommes avaient tissés patiemment pendant des millénaires avec le ciel et la terre d'Afrique, plus puissants que les mystères qui venaient du fond des âges. Ils ont eu tort. Ils ont abîmé un art de vivre. Ils ont abîmé un imaginaire merveilleux. Ils ont abîmé une sagesse ancestrale. Ils ont eu tort.
Ils ont créé une angoisse, un mal de vivre. Ils ont nourri la haine. Ils ont rendu plus difficile l'ouverture aux autres, l'échange, le partage parce que pour s'ouvrir, pour échanger, pour partager, il faut être assuré de son identité, de ses valeurs, de ses convictions. Face au colonisateur, le colonisé avait fini par ne plus avoir confiance en lui, par ne plus savoir qui il était, par se laisser gagner par la peur de l'autre, par la crainte de l'avenir. Le colonisateur est venu, il a pris, il s'est servi, il a exploité, il a pillé des ressources, des richesses qui ne lui appartenaient pas. Il a dépouillé le colonisé de sa personnalité, de sa liberté, de sa terre, du fruit de son travail.
(...)
Je veux vous dire, jeunes d'Afrique, que le drame de l'Afrique n'est pas dans une prétendue infériorité de son art, sa pensée, de sa culture. Car, pour ce qui est de l'art, de la pensée et de la culture, c'est l'Occident qui s'est mis à l'école de l'Afrique. L'art moderne doit presque tout à l'Afrique. L'influence de l'Afrique a contribué à changer non seulement l'idée de la beauté, non seulement le sens du rythme, de la musique, de la danse, mais même dit Senghor, la manière de marcher ou de rire du monde du XXème siècle. Je veux donc dire, à la jeunesse d'Afrique, que le drame de l'Afrique ne vient pas de ce que l'âme africaine serait imperméable à la logique et à la raison. Car l'homme africain est aussi logique et raisonnable que l'homme européen.
C'est en puisant dans l'imaginaire africain que vous ont légué vos ancêtres, c'est en puisant dans les contes, dans les proverbes, dans les mythologies, dans les rites, dans ces formes qui, depuis l'aube des temps, se transmettent et s'enrichissent de génération en génération que vous trouverez l'imagination et la force de vous inventer un avenir qui vous soit propre, un avenir singulier qui ne ressemblera à aucun autre, où vous vous sentirez enfin libres, libres, jeunes d'Afrique d'être vous-mêmes, libres de décider par vous-mêmes.
(...)
Je suis venu vous dire que vous n'avez pas à avoir honte des valeurs de la civilisation africaine, qu'elles ne vous tirent pas vers le bas mais vers le haut, qu'elles sont un antidote au matérialisme et à l'individualisme qui asservissent l'homme moderne, qu'elles sont le plus précieux des héritages face à la déshumanisation et à l'aplatissement du monde. Je suis venu vous dire que l'homme moderne qui éprouve le besoin de se réconcilier avec la nature a beaucoup à apprendre de l'homme africain qui vit en symbiose avec la nature depuis des millénaires. Je suis venu vous dire que cette déchirure entre ces deux parts de vous-mêmes est votre plus grande force, et votre plus grande faiblesse selon que vous vous efforcerez ou non d'en faire la synthèse.
N'écoutez pas jeunes d'Afrique, ceux qui veulent vous déraciner, vous priver de votre identité, faire table rase de tout ce qui est africain, de toute la mystique, la religiosité, la sensibilité, la mentalité africaine, parce que pour échanger il faut avoir quelque chose à donner, parce que pour parler aux autres, il faut avoir quelque chose à leur dire.

(...)

Pergunta: perante tao belo discurso (e digo-o sem qualquer ponta de 'sarkasmo', em face de artigos e pronunciamentos como o de Eugenio Ferreira e outros similares) porque sera’ que varios escritores Africanos, liderados pelo proeminente Historiador do colonialismo Jean-Luc Raharimanana, enderecaram a Sarkozy esta carta aberta (onde se pode ler esta passagem: «Vous avez tort de mettre sur le même pied d’égalité la responsabilité des Africains et les crimes de l’esclavage et de la colonisation, car s’il y avait des complices de notre côté, ils ne sont que les émanations de ces entreprises totalitaires initiées par l’Europe, depuis quand les systèmes totalitaires n’ont-ils pas leurs collaborateurs locaux ? Car oui, l’esclavage et la colonisation sont des systèmes totalitaires, et vous avez tort de tenter de les justifier en évoquant nos responsabilités et ce bon côté de la colonisation.») em tons pouco simpaticos, para dizer o minimo?

Desafio: descubra as 4 semelhancas.


*[First posted 26/09/07]
…OU OS 4 MOMENTOS DE UM BELO DISCURSO… OU DE COMO «ISTO ANDA TUDO LIGADO»

1. Antonio de Oliveira Salazar tera’ sido recentemente eleito «O Maior Portugues de Sempre». Supostamente Marcelo Caetano nao lhe teria ficado muito longe na votacao...

2. Lourenco do Rosario afirmou
aqui que «Marcelo Rebelo de Sousa, esteve recentemente em Moçambique, no âmbito de cooperação académica entre as universidades portuguesas e moçambicanas. Ele escandalizou meio mundo ao, pela primeira vez, assumir a postura muitas vezes pronunciada em surdina de que havia que resgatar o lado bom do colonialismo, fazendo justiça àqueles que, embora servidores do sistema, conseguiram dar-lhe um rosto humano. E chocou, porquê? Na justa medida de que para nós, é um dado adquirido de que o colonialismo é sempre mau para quem o sofreu e é sempre bom para quem dele beneficiou»;

3. Eugenio Ferreira afirmou aqui, parafraseando acidentalmente(?) Salazar, «rapidamente e em forca», que «(…) a escravatura nao foi mais do que um processo geral da humanidade na sua transicao para o capitalismo»...

4. O Presidente Frances, Nicolas Sarkozy, esteve ha’ cerca de 2 meses no Senegal, onde proferiu na Universidade de Dakar este belissimo discurso (que continua ate’ hoje a fazer correr muita tinta), do qual extrai as seguintes perolas:

Il y a eu la traite négrière, il y a eu l'esclavage, les hommes, les femmes, les enfants achetés et vendus comme des marchandises. Et ce crime ne fut pas seulement un crime contre les Africains, ce fut un crime contre l'homme, ce fut un crime contre l'humanité toute entière. Et l'homme noir qui éternellement «entend de la cale monter les malédictions enchaînées, les hoquettements des mourants, le bruit de l'un d'entre eux qu'on jette à la mer». Cet homme noir qui ne peut s'empêcher de se répéter sans fin «Et ce pays cria pendant des siècles que nous sommes des bêtes brutes». Cet homme noir, je veux le dire ici à Dakar, a le visage de tous les hommes du monde.
Cette souffrance de l'homme noir, je ne parle pas de l'homme au sens du sexe, je parle de l'homme au sens de l'être humain et bien sûr de la femme et de l'homme dans son acceptation générale. Cette souffrance de l'homme noir, c'est la souffrance de tous les hommes. Cette blessure ouverte dans l'âme de l'homme noir est une blessure ouverte dans l'âme de tous les hommes. Jeunes d'Afrique, je ne suis pas venu vous parler de repentance. Je suis venu vous dire que je ressens la traite et l'esclavage comme des crimes envers l'humanité. Je suis venu vous dire que votre déchirure et votre souffrance sont les nôtres et sont donc les miennes.
(...)
Mais il est vrai que jadis, les Européens sont venus en Afrique en conquérants. Ils ont pris la terre de vos ancêtres. Ils ont banni les dieux, les langues, les croyances, les coutumes de vos pères. Ils ont dit à vos pères ce qu'ils devaient penser, ce qu'ils devaient croire, ce qu'ils devaient faire. Ils ont coupé vos pères de leur passé, ils leur ont arraché leur âme et leurs racines. Ils ont désenchanté l'Afrique. Ils ont eu tort. Ils n'ont pas vu la profondeur et la richesse de l'âme africaine. Ils ont cru qu'ils étaient supérieurs, qu'ils étaient plus avancés, qu'ils étaient le progrès, qu'ils étaient la civilisation. Ils ont eu tort.
Ils ont voulu convertir l'homme africain, ils ont voulu le façonner à leur image, ils ont cru qu'ils avaient tous les droits, ils ont cru qu'ils étaient tout puissants, plus puissants que les dieux de l'Afrique, plus puissants que l'âme africaine, plus puissants que les liens sacrés que les hommes avaient tissés patiemment pendant des millénaires avec le ciel et la terre d'Afrique, plus puissants que les mystères qui venaient du fond des âges. Ils ont eu tort. Ils ont abîmé un art de vivre. Ils ont abîmé un imaginaire merveilleux. Ils ont abîmé une sagesse ancestrale. Ils ont eu tort.
Ils ont créé une angoisse, un mal de vivre. Ils ont nourri la haine. Ils ont rendu plus difficile l'ouverture aux autres, l'échange, le partage parce que pour s'ouvrir, pour échanger, pour partager, il faut être assuré de son identité, de ses valeurs, de ses convictions. Face au colonisateur, le colonisé avait fini par ne plus avoir confiance en lui, par ne plus savoir qui il était, par se laisser gagner par la peur de l'autre, par la crainte de l'avenir. Le colonisateur est venu, il a pris, il s'est servi, il a exploité, il a pillé des ressources, des richesses qui ne lui appartenaient pas. Il a dépouillé le colonisé de sa personnalité, de sa liberté, de sa terre, du fruit de son travail.
(...)
Je veux vous dire, jeunes d'Afrique, que le drame de l'Afrique n'est pas dans une prétendue infériorité de son art, sa pensée, de sa culture. Car, pour ce qui est de l'art, de la pensée et de la culture, c'est l'Occident qui s'est mis à l'école de l'Afrique. L'art moderne doit presque tout à l'Afrique. L'influence de l'Afrique a contribué à changer non seulement l'idée de la beauté, non seulement le sens du rythme, de la musique, de la danse, mais même dit Senghor, la manière de marcher ou de rire du monde du XXème siècle. Je veux donc dire, à la jeunesse d'Afrique, que le drame de l'Afrique ne vient pas de ce que l'âme africaine serait imperméable à la logique et à la raison. Car l'homme africain est aussi logique et raisonnable que l'homme européen.
C'est en puisant dans l'imaginaire africain que vous ont légué vos ancêtres, c'est en puisant dans les contes, dans les proverbes, dans les mythologies, dans les rites, dans ces formes qui, depuis l'aube des temps, se transmettent et s'enrichissent de génération en génération que vous trouverez l'imagination et la force de vous inventer un avenir qui vous soit propre, un avenir singulier qui ne ressemblera à aucun autre, où vous vous sentirez enfin libres, libres, jeunes d'Afrique d'être vous-mêmes, libres de décider par vous-mêmes.
(...)
Je suis venu vous dire que vous n'avez pas à avoir honte des valeurs de la civilisation africaine, qu'elles ne vous tirent pas vers le bas mais vers le haut, qu'elles sont un antidote au matérialisme et à l'individualisme qui asservissent l'homme moderne, qu'elles sont le plus précieux des héritages face à la déshumanisation et à l'aplatissement du monde. Je suis venu vous dire que l'homme moderne qui éprouve le besoin de se réconcilier avec la nature a beaucoup à apprendre de l'homme africain qui vit en symbiose avec la nature depuis des millénaires. Je suis venu vous dire que cette déchirure entre ces deux parts de vous-mêmes est votre plus grande force, et votre plus grande faiblesse selon que vous vous efforcerez ou non d'en faire la synthèse.
N'écoutez pas jeunes d'Afrique, ceux qui veulent vous déraciner, vous priver de votre identité, faire table rase de tout ce qui est africain, de toute la mystique, la religiosité, la sensibilité, la mentalité africaine, parce que pour échanger il faut avoir quelque chose à donner, parce que pour parler aux autres, il faut avoir quelque chose à leur dire.

(...)

Pergunta: perante tao belo discurso (e digo-o sem qualquer ponta de 'sarkasmo', em face de artigos e pronunciamentos como o de Eugenio Ferreira e outros similares) porque sera’ que varios escritores Africanos, liderados pelo proeminente Historiador do colonialismo Jean-Luc Raharimanana, enderecaram a Sarkozy esta carta aberta (onde se pode ler esta passagem: «Vous avez tort de mettre sur le même pied d’égalité la responsabilité des Africains et les crimes de l’esclavage et de la colonisation, car s’il y avait des complices de notre côté, ils ne sont que les émanations de ces entreprises totalitaires initiées par l’Europe, depuis quand les systèmes totalitaires n’ont-ils pas leurs collaborateurs locaux ? Car oui, l’esclavage et la colonisation sont des systèmes totalitaires, et vous avez tort de tenter de les justifier en évoquant nos responsabilités et ce bon côté de la colonisation.») em tons pouco simpaticos, para dizer o minimo?

Desafio: descubra as 4 semelhancas.


*[First posted 26/09/07]

Saturday, 6 March 2010

Contract: Portugal's Exploitative Labor Practices in Africa


The 2010 Pan African Film Festival (PAFF) in Los Angeles featured the
world premier of Contract by Cape Verdean filmmaker Guenny K. Pires.
Contract is a documentary film that tells the story of thousands of
Cape Verdean contract workers who traveled to the Portuguese colony of
Sao Tome and Principe to work in the 19th and 20th Centuries. Cape
Verdeans, and workers from Portugal's other African colonies, were
forced or coerced into contracts obligating them to work on coffee and
cacao plantations on the islands of Sao Tome and Principe. After
decades of brutally hard labor, contract workers were often forced to
stay in Sao Tome and Principe, unable to secure passage home.

Many of the Cape Verdean contract workers featured in the film still
hold on to memories of home. Filmmaker Guenny Pires blends the stories
of Cape Verdean families affected by the contract labor system with
interviews with experts to tell this little known chapter in Africa's
history. The Cape Verdeans interviewed, including Pires' own uncle,
share that after decades in Sao Tome and Principe, many have
maintained their spiritual ties to their home. After marriages,
children, and new lives established in Sao Tome and Principe, many of
the Cape Verdean contract workers shown in the film expressed a strong
desire to return home.

At the heart of Contract is the family story of the filmmaker himself.
The film documents his journey to reunite his family after his uncle
left for Sao Tome and Principe decades earlier. The emotional journey
of Guenny Pires' family was the most salient aspect of the film. Pires
re-tells his uncle's departure for Sao Tome and Principe and the
eventual loss of contact between his uncle and his family. Pires'
speaks with various relatives and narrates the impact losing his uncle
had on the family. This deeply emotional journal to reunite the family
is one of the film's strengths.


Other aspects of the film are at times disjointed and difficult to
follow. The film often jumps from personal story to historical
documentary without warning. In addition, some of the experts
interviewed for the film gave information that was culturally
inaccurate and factually unclear. Portugal's colonial policies in
Africa have been researched by several scholars, scholars who could
have provided the insight needed to put the film in proper context.*

The film will likely inspire viewers to want to learn more about
Portugal's policy of bringing workers from its other African colonies
to Sao Tome and Principe. Portugal, one of the last European countries
to leave Africa did so in 1975, with no regard for the thousands of
workers stranded in Sao Tome and Principe. The film provided a great
opportunity to clearly outline the experiences of Cape Verdeans and
other Lusophone Africans in Sao Tome and Principe, but fell a bit
short of this.

This is one of Guenny Pires' first films and his passion for the fate
and lives of the Cape Verdeans in Sao Tome and Principe is clear. The
story of Pires' family is compelling and emotional. While Contract was
premiered at PAFF, Pires says that the film is a work in progress. The
film, even with issues of clarity and continuity, is one of the only
documentaries to deal with the exploitative experiences of contract
workers in Sao Tome and Principe.

[By Msia Kibona Clark @ AllAfrica.com]


*Reference to related work by one such scholar can be found here.


The 2010 Pan African Film Festival (PAFF) in Los Angeles featured the
world premier of Contract by Cape Verdean filmmaker Guenny K. Pires.
Contract is a documentary film that tells the story of thousands of
Cape Verdean contract workers who traveled to the Portuguese colony of
Sao Tome and Principe to work in the 19th and 20th Centuries. Cape
Verdeans, and workers from Portugal's other African colonies, were
forced or coerced into contracts obligating them to work on coffee and
cacao plantations on the islands of Sao Tome and Principe. After
decades of brutally hard labor, contract workers were often forced to
stay in Sao Tome and Principe, unable to secure passage home.

Many of the Cape Verdean contract workers featured in the film still
hold on to memories of home. Filmmaker Guenny Pires blends the stories
of Cape Verdean families affected by the contract labor system with
interviews with experts to tell this little known chapter in Africa's
history. The Cape Verdeans interviewed, including Pires' own uncle,
share that after decades in Sao Tome and Principe, many have
maintained their spiritual ties to their home. After marriages,
children, and new lives established in Sao Tome and Principe, many of
the Cape Verdean contract workers shown in the film expressed a strong
desire to return home.

At the heart of Contract is the family story of the filmmaker himself.
The film documents his journey to reunite his family after his uncle
left for Sao Tome and Principe decades earlier. The emotional journey
of Guenny Pires' family was the most salient aspect of the film. Pires
re-tells his uncle's departure for Sao Tome and Principe and the
eventual loss of contact between his uncle and his family. Pires'
speaks with various relatives and narrates the impact losing his uncle
had on the family. This deeply emotional journal to reunite the family
is one of the film's strengths.


Other aspects of the film are at times disjointed and difficult to
follow. The film often jumps from personal story to historical
documentary without warning. In addition, some of the experts
interviewed for the film gave information that was culturally
inaccurate and factually unclear. Portugal's colonial policies in
Africa have been researched by several scholars, scholars who could
have provided the insight needed to put the film in proper context.*

The film will likely inspire viewers to want to learn more about
Portugal's policy of bringing workers from its other African colonies
to Sao Tome and Principe. Portugal, one of the last European countries
to leave Africa did so in 1975, with no regard for the thousands of
workers stranded in Sao Tome and Principe. The film provided a great
opportunity to clearly outline the experiences of Cape Verdeans and
other Lusophone Africans in Sao Tome and Principe, but fell a bit
short of this.

This is one of Guenny Pires' first films and his passion for the fate
and lives of the Cape Verdeans in Sao Tome and Principe is clear. The
story of Pires' family is compelling and emotional. While Contract was
premiered at PAFF, Pires says that the film is a work in progress. The
film, even with issues of clarity and continuity, is one of the only
documentaries to deal with the exploitative experiences of contract
workers in Sao Tome and Principe.

[By Msia Kibona Clark @ AllAfrica.com]


*Reference to related work by one such scholar can be found here.

Saturday, 27 February 2010

White Negritude

OU "A IDEOLOGIA DOS (PRETENSOS) AFECTOS"

(...)

Transference of cultural practices by close contact allows whites to write "black", a move that, besides the ultimate (albeit one step removed) indigenisation of the Euro-Brazilian, enables another transfer: the disappearance of the black by way of simultaneous incorporation and erasure. Black autonomous authorship (a voice that Freyre perceives as emblematic of US segregationism) is thus disqualified through transfer, together with mixed race authorship, a voice Freyre accuses of being intrinsically incapable of genuinely representing either race: not the manor, not the subaltern periphery, yet alone a synthesis or Brazilian ineffable heterogeneity.

Isfahani-Hammond recognises this dynamic, and sees Freyre situating "himself as a seignorial figure who has equal domain in elite and marginal sites, displacing people of mixed European/African ancestry from the embodiment of hybridization and, therein, from the ability to narrate or speak about national identity" (p. 14). Freyre finally "transfers" the south of Brazil: a site of degenerative modernisation, European immigration and influence, and, ultimately, Americanization. It is an alien and unauthentic locale; a source of foreign and therefore distorting stimuli.

At the end of a succession of discursive transfers, the white master's claim is the last one standing. His proximity to black commodified bodies enables authentic linguistic and spiritual incorporation, something that is denied to everyone else. Only the specific conditions of the northeastern plantation and the intimate contact between masters and slaves could produce Brazil's exceptional "Racial Democracy": "[t]he social history of the plantation manor is the intimate history of almost every Brazilian", Freyre concludes (quoted, p. 134). Casa Grande e Senzala is therefore exactly what the title says it is: a hierarchically organised dyad constituted by seigneural manor plus the contribution that emanates from the slave quarters. Despite their contribution, indeed exactly because of their contribution, the autonomous agency of the slaves and their descendants is effaced, and the seigneural manor remains the unique site of "genuine" Brazilian culture. Once the sequence of transfers is completed, Freyre's "almost every Brazilian", ends up reading like "every Brazilian who happens to be a white male seigneur who grew up in a plantation in the northeast of the country". An exceptionally inclusive tradition is thus recast into an exceptionally selective one.

Freyre ultimately took a conservative turn and his assertion of "Lusotropicalism" and its singularity sustained Portugal's imperialism throughout the 1960s and 1970s. He travelled to the African colonies in 1951 and 1952 where he recognised a number of "little Brazils", which for him was a good thing. The colonial establishment of the Portuguese state took advantage of Freyre's rhetoric and explicit complicity (see p. 163, n. 1). However, as Isfahani-Hammond illustrates, this evolution is actually much less discontinuous than the available literature is willing to acknowledge. While Freyrean notions of "racial Democracy" have been used in various contexts and for different purposes, an underlying continuity should be emphasised: he coherently supported a seigneural subjectivity against all its enemies, while at the same time expropriating and disallowing the cultural voice of Brazilian blackness. He consistently reclaimed a right to do so.

Freyre's transferist strategy, however, is not unique. Settlers elsewhere also need to enact physical and discursive transfers against their indigenous and exogenous opponents in order to effectively claim local versions of "genuine" indigenising cultural authenticity. Freyre's "creolization/indigenization", Isfahani-Hammond concludes, "is nationalistic and anticolonial yet grounded in symbolically Africanized, white dominance" (p. 52). Settler indigenisations elsewhere are also nationalistic and anticolonial; settlers need to build independent nations and supersede their dependency on the motherland. Settler indigenisation, of course, is also grounded on an indigenised white dominance that effaces really existing indigenous peoples.

[Here]

Posts Relacionados:

O Dia Em Que o Leao (Nao) Comeu Pela Primeira Vez a Estrela

Jean-Baptiste Debret e a Coloracao da "Nossa" Escravidao no Brasil

"A Razao da Nossa Luta" 50 Anos Depois
OU "A IDEOLOGIA DOS (PRETENSOS) AFECTOS"

(...)

Transference of cultural practices by close contact allows whites to write "black", a move that, besides the ultimate (albeit one step removed) indigenisation of the Euro-Brazilian, enables another transfer: the disappearance of the black by way of simultaneous incorporation and erasure. Black autonomous authorship (a voice that Freyre perceives as emblematic of US segregationism) is thus disqualified through transfer, together with mixed race authorship, a voice Freyre accuses of being intrinsically incapable of genuinely representing either race: not the manor, not the subaltern periphery, yet alone a synthesis or Brazilian ineffable heterogeneity.

Isfahani-Hammond recognises this dynamic, and sees Freyre situating "himself as a seignorial figure who has equal domain in elite and marginal sites, displacing people of mixed European/African ancestry from the embodiment of hybridization and, therein, from the ability to narrate or speak about national identity" (p. 14). Freyre finally "transfers" the south of Brazil: a site of degenerative modernisation, European immigration and influence, and, ultimately, Americanization. It is an alien and unauthentic locale; a source of foreign and therefore distorting stimuli.

At the end of a succession of discursive transfers, the white master's claim is the last one standing. His proximity to black commodified bodies enables authentic linguistic and spiritual incorporation, something that is denied to everyone else. Only the specific conditions of the northeastern plantation and the intimate contact between masters and slaves could produce Brazil's exceptional "Racial Democracy": "[t]he social history of the plantation manor is the intimate history of almost every Brazilian", Freyre concludes (quoted, p. 134). Casa Grande e Senzala is therefore exactly what the title says it is: a hierarchically organised dyad constituted by seigneural manor plus the contribution that emanates from the slave quarters. Despite their contribution, indeed exactly because of their contribution, the autonomous agency of the slaves and their descendants is effaced, and the seigneural manor remains the unique site of "genuine" Brazilian culture. Once the sequence of transfers is completed, Freyre's "almost every Brazilian", ends up reading like "every Brazilian who happens to be a white male seigneur who grew up in a plantation in the northeast of the country". An exceptionally inclusive tradition is thus recast into an exceptionally selective one.

Freyre ultimately took a conservative turn and his assertion of "Lusotropicalism" and its singularity sustained Portugal's imperialism throughout the 1960s and 1970s. He travelled to the African colonies in 1951 and 1952 where he recognised a number of "little Brazils", which for him was a good thing. The colonial establishment of the Portuguese state took advantage of Freyre's rhetoric and explicit complicity (see p. 163, n. 1). However, as Isfahani-Hammond illustrates, this evolution is actually much less discontinuous than the available literature is willing to acknowledge. While Freyrean notions of "racial Democracy" have been used in various contexts and for different purposes, an underlying continuity should be emphasised: he coherently supported a seigneural subjectivity against all its enemies, while at the same time expropriating and disallowing the cultural voice of Brazilian blackness. He consistently reclaimed a right to do so.

Freyre's transferist strategy, however, is not unique. Settlers elsewhere also need to enact physical and discursive transfers against their indigenous and exogenous opponents in order to effectively claim local versions of "genuine" indigenising cultural authenticity. Freyre's "creolization/indigenization", Isfahani-Hammond concludes, "is nationalistic and anticolonial yet grounded in symbolically Africanized, white dominance" (p. 52). Settler indigenisations elsewhere are also nationalistic and anticolonial; settlers need to build independent nations and supersede their dependency on the motherland. Settler indigenisation, of course, is also grounded on an indigenised white dominance that effaces really existing indigenous peoples.

[Here]

Posts Relacionados:

O Dia Em Que o Leao (Nao) Comeu Pela Primeira Vez a Estrela

Jean-Baptiste Debret e a Coloracao da "Nossa" Escravidao no Brasil

"A Razao da Nossa Luta" 50 Anos Depois

Saturday, 9 May 2009

OLHARES DIVERSOS (II)


O texto que planeara postar neste segundo “Olhares Diversos”, encontrei-o ha’ dias, por mero acaso, num forum cujo link segui a partir da lista de “referrers” de um dos contadores deste blog – trabalho a que apenas me dou quando tais referencias indiciam uma qualquer ligacao a posts meus. Ao chegar ao tal forum, assolou-me imediatamente uma sensacao de mal-estar pelas mencoes no seu cabecalho ao “white pride world wide”...

Continuei, no entanto, a descer pela pagina abaixo a procura do que por la’ poderia haver relacionado com o meu blog. E, a medida que o fazia, pelos titulos, as imagens e, sobretudo, a referencia permanente a Declaracao da ONU sobre os Direitos dos Povos Indigenas, foi-se-me instalando a duvida sobre se realmente aquele se trataria de um forum da “extrema-direita racista”... ate’ que encontrei o que o ligava ao meu blog: este texto do meu amigo Denudado aqui publicado na serie “Be My Guest!”.

Mas, chamou-me particularmente a atencao o post imediatamente anterior, sob o titulo "Brancos, Pretos e Mulatos", que assim comecava: “Uma boa parte dos mulatos, nos tempos coloniais, não saberia quem era o pai. Os brancos entravam no caniço e tinham a negra que quisessem. A bem ou a mal. A seguir desapareciam, e como poderia alguém saber de onde eram, como se chamavam? Se os mulatos eram renegados pelos pais, não aconteceria por serem mulatos, mas por serem filhos nascidos fora do casamento. Os brancos mantinham a mulher branca algures no centro da cidade, ou na Metrópole. E para lá seguiam. As "traquinices" sexuais dos brancos com negras não assombravam o seu futuro, porque uma negra não tinha poder para reclamar qualquer paternidade. Ninguém lhe daria crédito.”

Enquanto o lia, a partir de um determinado momento comecei a ficar com a sensacao de que conhecia aquele tipo de estoria e a forma como era escrita de um blog que 'espreitei' durante algum tempo (ainda muito proximo de quando me lancei na blogosfera, qual “pata brava em mar alto”...). Cheguei mesmo a inclui-lo nos links do meu blog, mas pouco tempo depois conclui que, por “mais que perfeito” que fosse, aquele, definitivamente, nao era o meu mundo. “Deslinkei-o” entao e aos poucos fui deixando de o visitar.

Ja’ la’ nao ia ha’ um bom par de anos (e’... ja’ por aqui ando ha’ uns tempos...), ate’ hoje, quando me preparava para postar aqui o texto em questao e fui a procura do sitio onde ele tinha sido originalmente publicado, porque faco sempre questao de indicar a origem do que aqui publico e que nao e' de minha autoria, e... sim, era do “Mundo Perfeito” (MP). E se isso nao constituiu espanto para mim, espantou-me deveras acabar por descobrir que a sua autora decidiu encerra-lo em protesto pela (re)postagem de textos seus em espacos com os quais nao se identifica ideologicamente e, transcrevo, “Por outro lado, sinto que o que fui escrevendo sobre as minhas memórias coloniais, as quais considero historica e politicamente relevantes, foi sendo erradamente interpretado. Afinal, talvez não seja possível escrever sobre colonialismo três décadas após o seu término, a não ser como se espera vê-lo escrito. Talvez o colonialismo não tenha terminado ainda. Talvez seja confuso isto de uma mulher não conservadora, um pouco anarca, independente de esquerda ser simultaneamente filha de uma pesada herança colonial que não nega.”

Tendo eu tido, nestas minhas lides na blogosfera e, muito especialmente, na lusosfera, as minhas mais do que suficientes doses de abusos de toda a ordem por parte de terceiros (incluindo gente nos antipodas das minhas conviccoes ideologicas e/ou inclinacao sexual), nao posso deixar de manifestar a minha solidariedade para com a lesada. No entanto, como ficou registado pelas minhas reaccoes a tais abusos, nao sei se, no seu lugar, eu teria tomado a mesma decisao, mas... longe de mim a leviandade de pretender questiona-la e muito menos as suas razoes. E, perante tal decisao e suas razoes, mesmo nao me tendo sentido movida por quaisquer intentos eticamente reprovaveis quando pensei em postar o seu texto aqui, coibi-me imediatamente de o fazer. Contudo, nao foi fundamentalmente isso que me levou a tracar estas linhas – mesmo porque acabei por ficar tambem a saber que ela ja’ decidiu criar um outro blog. No que lhe desejo melhor sorte.

O que me trouxe a estas linhas, porem, foi o reviver da sensacao de desconforto que sentira ao ler algumas das suas “cronicas coloniais” quando inicialmente descobri o MP. Fui para elas atraida nao apenas pelo tema, obviamente, mas tambem pela forma, nua e crua (quase que diria mordaz e impiedosa), como as escrevia. Mas esse polo de atraccao acabou por ser rapidamente anulado por um outro, senao de rejeicao, pelo menos de indiferenca: porque cedo fiquei convencida de que se tratava de alguem a tentar resolver intimamente a sua relacao com os seus pais, em particular com o seu pai, usando apenas como “pano de fundo” o mundo “dos (seus) pretos” e, como pretexto, o lugar do seu pai nesse mundo (um lugar com doses nauseantes de paternalismo para com os "seus pretos"...) e, mais particularmente, o seu lugar (dela, da sua mae e do seu pai) no mundo (e, mais nua e cruamente, no lugar mais intimo) “das pretas” (n.b.: a cronica que se tornou mais popular na serie entitulava-se, e perdoem-me os leitores mais susceptiveis, "a cona das pretas"...). Nao chegou a repugnar-me, muito menos a revoltar-me, porque... simples e sinceramente nunca a cheguei a perceber (particularmente se lida simultaneamente com outras posturas por si manifestadas sobre assuntos mais correntes da Africa post-colonial), mesmo porque nao me lembro de na altura ter conseguido ler alguma daquelas cronicas ate’ ao fim. Tomei-o apenas como algo pessoal da autora que, nao sendo de modo nenhum irrelevante, tinha um impacto limitado sobre o mundo que pretendia retratar. Por isso, tambem, achei a cronica que aqui pretendi postar adequada ao espaco de “olhares diversos” – como apenas isso, um olhar diverso sobre uma realidade que todos conhecemos de modos diversos.

E, tal como tive dificuldade em percebe-la, nao percebo a que proposito o texto do Denudado publicado aqui no meu blog constitui materia de interesse e "suporte de causa" para um forum de grupos racistas de extrema-direita. Nao sei sequer se foi esse o mesmo forum que provocou o encerramento do MP. Sei apenas que esta’ longe de mim a ideia de encerrar o meu blog por causa deles, porque... pura e simplesmente nao os percebo. Nem me interessa.

O que me interessa, todavia, em toda esta estoria, e’ a ideia de olhares diversos – neste caso, respectivamente de “extrema direita” e de “extrema(?) esquerda” (ja’ se escreveu bastante sobre a “atraccao entre os opostos” e sobre como, mais frequentemente do que nao, os extremos se tocam...) – mas convergentes, sobre um mesmo mundo, sobre os mesmos “objectos”: “os pretos” e, muito especialmente, “as pretas” e a sua intimidade. Porque, em ambos os casos, mesmo se com motivacoes diferentes, “os pretos”, e especialmente “as pretas”, a quem se inventaram mulatos, parecem nao passar disso mesmo: objectos para os quais se olha a distancia mas que se evita a todo o custo ver, sobre os quais se fala mas com quem nao se comunica e muito menos interage para la’ da superficie (para la’ da pele e da sua cor... para la’ do sexo!), as quais se usa para psicanalisar as relacoes entre eles - eles “sujeitos”, eles “outros” -, perante elas ou a sua revelia, mas nao a sua relacao com elas. E’ tudo quanto julgo perceber em ambos os casos. Ah... isso, mais o que me parece infinitamente ridiculo nas disputas sobre se “os brancos em Africa eram mais ou menos racistas que os brancos da Metropole”...

Mas tudo isto me leva a um outro questionamento: o deste olhar aqui apresentado sobre o que o meu antigo (e controverso) professor de Historia de Africa no Lubango, Arlindo Barbeitos, uma das pessoas que tive a oportunidade de reencontrar durante a minha recente estada em Luanda, classifica como “identidades coloniais equivocadas” (obviamente, nao tendo ainda lido o livro, reservo melhor opiniao para quando o puder fazer): “(...) no final, essas relacoes assemelham-se a um sistema de vasos comunicantes onde, neste caso preciso, dominadores e dominados se influenciam reciprocamente e em todos os dominios desde o seu primeiro contacto registado no seculo XVI. 'A relacao com o outro e’ inscrita virtualmente na relacao consigo mesmo', escreveu o sociologo Edgar Morin.”

Sera’ mesmo? Bom, admitamos que sim, que “a relacao com o outro e’ inscrita virtualmente na relacao consigo mesmo”. Mas sera’ que isso conduz necessariamente a um “equivoco de identidades”? Sera’ que os “vasos” a que se alude sao efectivamente “comunicantes”? Sera’ que, de facto, “dominadores e dominados se influenciam reciprocamente”? Nao contera’ a condicao de “dominador” (seja homem ou mulher, pai ou mae, preto, branco ou mulato), isso mesmo na sua essencia: dominar, influenciar unilateralmente? Nao serao os olhares trocados entre dominados e dominadores numa relacao de poder (como a que e', sempre, a relacao colonial!) forcosamente (forcadamente) diversos? Nao sera’ o olhar do “eu” sobre o “outro” um veiculo de estabelecimento da identidade propria e de diferenciacao do “eu” em relacao a identidade do “outro”? Nao sera’ esse, precisamente, o processo de formacao e afirmacao de identidades distintas, sem (nao diria “quaisquer”, mas...) muitas margens para equivocos? O que e', afinal, isso que dizemos prezar e a que chamamos "diversidade"?

Ou, colocado de outro modo, teremos agora que passar de uma discussao sobre o “white pow(d)er” para uma discussao sobre “white washing” (... da historia colonial, quero dizer, nao "da pele dos pretos ou do sexo das pretas"...)?!

O texto que planeara postar neste segundo “Olhares Diversos”, encontrei-o ha’ dias, por mero acaso, num forum cujo link segui a partir da lista de “referrers” de um dos contadores deste blog – trabalho a que apenas me dou quando tais referencias indiciam uma qualquer ligacao a posts meus. Ao chegar ao tal forum, assolou-me imediatamente uma sensacao de mal-estar pelas mencoes no seu cabecalho ao “white pride world wide”...

Continuei, no entanto, a descer pela pagina abaixo a procura do que por la’ poderia haver relacionado com o meu blog. E, a medida que o fazia, pelos titulos, as imagens e, sobretudo, a referencia permanente a Declaracao da ONU sobre os Direitos dos Povos Indigenas, foi-se-me instalando a duvida sobre se realmente aquele se trataria de um forum da “extrema-direita racista”... ate’ que encontrei o que o ligava ao meu blog: este texto do meu amigo Denudado aqui publicado na serie “Be My Guest!”.

Mas, chamou-me particularmente a atencao o post imediatamente anterior, sob o titulo "Brancos, Pretos e Mulatos", que assim comecava: “Uma boa parte dos mulatos, nos tempos coloniais, não saberia quem era o pai. Os brancos entravam no caniço e tinham a negra que quisessem. A bem ou a mal. A seguir desapareciam, e como poderia alguém saber de onde eram, como se chamavam? Se os mulatos eram renegados pelos pais, não aconteceria por serem mulatos, mas por serem filhos nascidos fora do casamento. Os brancos mantinham a mulher branca algures no centro da cidade, ou na Metrópole. E para lá seguiam. As "traquinices" sexuais dos brancos com negras não assombravam o seu futuro, porque uma negra não tinha poder para reclamar qualquer paternidade. Ninguém lhe daria crédito.”

Enquanto o lia, a partir de um determinado momento comecei a ficar com a sensacao de que conhecia aquele tipo de estoria e a forma como era escrita de um blog que 'espreitei' durante algum tempo (ainda muito proximo de quando me lancei na blogosfera, qual “pata brava em mar alto”...). Cheguei mesmo a inclui-lo nos links do meu blog, mas pouco tempo depois conclui que, por “mais que perfeito” que fosse, aquele, definitivamente, nao era o meu mundo. “Deslinkei-o” entao e aos poucos fui deixando de o visitar.

Ja’ la’ nao ia ha’ um bom par de anos (e’... ja’ por aqui ando ha’ uns tempos...), ate’ hoje, quando me preparava para postar aqui o texto em questao e fui a procura do sitio onde ele tinha sido originalmente publicado, porque faco sempre questao de indicar a origem do que aqui publico e que nao e' de minha autoria, e... sim, era do “Mundo Perfeito” (MP). E se isso nao constituiu espanto para mim, espantou-me deveras acabar por descobrir que a sua autora decidiu encerra-lo em protesto pela (re)postagem de textos seus em espacos com os quais nao se identifica ideologicamente e, transcrevo, “Por outro lado, sinto que o que fui escrevendo sobre as minhas memórias coloniais, as quais considero historica e politicamente relevantes, foi sendo erradamente interpretado. Afinal, talvez não seja possível escrever sobre colonialismo três décadas após o seu término, a não ser como se espera vê-lo escrito. Talvez o colonialismo não tenha terminado ainda. Talvez seja confuso isto de uma mulher não conservadora, um pouco anarca, independente de esquerda ser simultaneamente filha de uma pesada herança colonial que não nega.”

Tendo eu tido, nestas minhas lides na blogosfera e, muito especialmente, na lusosfera, as minhas mais do que suficientes doses de abusos de toda a ordem por parte de terceiros (incluindo gente nos antipodas das minhas conviccoes ideologicas e/ou inclinacao sexual), nao posso deixar de manifestar a minha solidariedade para com a lesada. No entanto, como ficou registado pelas minhas reaccoes a tais abusos, nao sei se, no seu lugar, eu teria tomado a mesma decisao, mas... longe de mim a leviandade de pretender questiona-la e muito menos as suas razoes. E, perante tal decisao e suas razoes, mesmo nao me tendo sentido movida por quaisquer intentos eticamente reprovaveis quando pensei em postar o seu texto aqui, coibi-me imediatamente de o fazer. Contudo, nao foi fundamentalmente isso que me levou a tracar estas linhas – mesmo porque acabei por ficar tambem a saber que ela ja’ decidiu criar um outro blog. No que lhe desejo melhor sorte.

O que me trouxe a estas linhas, porem, foi o reviver da sensacao de desconforto que sentira ao ler algumas das suas “cronicas coloniais” quando inicialmente descobri o MP. Fui para elas atraida nao apenas pelo tema, obviamente, mas tambem pela forma, nua e crua (quase que diria mordaz e impiedosa), como as escrevia. Mas esse polo de atraccao acabou por ser rapidamente anulado por um outro, senao de rejeicao, pelo menos de indiferenca: porque cedo fiquei convencida de que se tratava de alguem a tentar resolver intimamente a sua relacao com os seus pais, em particular com o seu pai, usando apenas como “pano de fundo” o mundo “dos (seus) pretos” e, como pretexto, o lugar do seu pai nesse mundo (um lugar com doses nauseantes de paternalismo para com os "seus pretos"...) e, mais particularmente, o seu lugar (dela, da sua mae e do seu pai) no mundo (e, mais nua e cruamente, no lugar mais intimo) “das pretas” (n.b.: a cronica que se tornou mais popular na serie entitulava-se, e perdoem-me os leitores mais susceptiveis, "a cona das pretas"...). Nao chegou a repugnar-me, muito menos a revoltar-me, porque... simples e sinceramente nunca a cheguei a perceber (particularmente se lida simultaneamente com outras posturas por si manifestadas sobre assuntos mais correntes da Africa post-colonial), mesmo porque nao me lembro de na altura ter conseguido ler alguma daquelas cronicas ate’ ao fim. Tomei-o apenas como algo pessoal da autora que, nao sendo de modo nenhum irrelevante, tinha um impacto limitado sobre o mundo que pretendia retratar. Por isso, tambem, achei a cronica que aqui pretendi postar adequada ao espaco de “olhares diversos” – como apenas isso, um olhar diverso sobre uma realidade que todos conhecemos de modos diversos.

E, tal como tive dificuldade em percebe-la, nao percebo a que proposito o texto do Denudado publicado aqui no meu blog constitui materia de interesse e "suporte de causa" para um forum de grupos racistas de extrema-direita. Nao sei sequer se foi esse o mesmo forum que provocou o encerramento do MP. Sei apenas que esta’ longe de mim a ideia de encerrar o meu blog por causa deles, porque... pura e simplesmente nao os percebo. Nem me interessa.

O que me interessa, todavia, em toda esta estoria, e’ a ideia de olhares diversos – neste caso, respectivamente de “extrema direita” e de “extrema(?) esquerda” (ja’ se escreveu bastante sobre a “atraccao entre os opostos” e sobre como, mais frequentemente do que nao, os extremos se tocam...) – mas convergentes, sobre um mesmo mundo, sobre os mesmos “objectos”: “os pretos” e, muito especialmente, “as pretas” e a sua intimidade. Porque, em ambos os casos, mesmo se com motivacoes diferentes, “os pretos”, e especialmente “as pretas”, a quem se inventaram mulatos, parecem nao passar disso mesmo: objectos para os quais se olha a distancia mas que se evita a todo o custo ver, sobre os quais se fala mas com quem nao se comunica e muito menos interage para la’ da superficie (para la’ da pele e da sua cor... para la’ do sexo!), as quais se usa para psicanalisar as relacoes entre eles - eles “sujeitos”, eles “outros” -, perante elas ou a sua revelia, mas nao a sua relacao com elas. E’ tudo quanto julgo perceber em ambos os casos. Ah... isso, mais o que me parece infinitamente ridiculo nas disputas sobre se “os brancos em Africa eram mais ou menos racistas que os brancos da Metropole”...

Mas tudo isto me leva a um outro questionamento: o deste olhar aqui apresentado sobre o que o meu antigo (e controverso) professor de Historia de Africa no Lubango, Arlindo Barbeitos, uma das pessoas que tive a oportunidade de reencontrar durante a minha recente estada em Luanda, classifica como “identidades coloniais equivocadas” (obviamente, nao tendo ainda lido o livro, reservo melhor opiniao para quando o puder fazer): “(...) no final, essas relacoes assemelham-se a um sistema de vasos comunicantes onde, neste caso preciso, dominadores e dominados se influenciam reciprocamente e em todos os dominios desde o seu primeiro contacto registado no seculo XVI. 'A relacao com o outro e’ inscrita virtualmente na relacao consigo mesmo', escreveu o sociologo Edgar Morin.”

Sera’ mesmo? Bom, admitamos que sim, que “a relacao com o outro e’ inscrita virtualmente na relacao consigo mesmo”. Mas sera’ que isso conduz necessariamente a um “equivoco de identidades”? Sera’ que os “vasos” a que se alude sao efectivamente “comunicantes”? Sera’ que, de facto, “dominadores e dominados se influenciam reciprocamente”? Nao contera’ a condicao de “dominador” (seja homem ou mulher, pai ou mae, preto, branco ou mulato), isso mesmo na sua essencia: dominar, influenciar unilateralmente? Nao serao os olhares trocados entre dominados e dominadores numa relacao de poder (como a que e', sempre, a relacao colonial!) forcosamente (forcadamente) diversos? Nao sera’ o olhar do “eu” sobre o “outro” um veiculo de estabelecimento da identidade propria e de diferenciacao do “eu” em relacao a identidade do “outro”? Nao sera’ esse, precisamente, o processo de formacao e afirmacao de identidades distintas, sem (nao diria “quaisquer”, mas...) muitas margens para equivocos? O que e', afinal, isso que dizemos prezar e a que chamamos "diversidade"?

Ou, colocado de outro modo, teremos agora que passar de uma discussao sobre o “white pow(d)er” para uma discussao sobre “white washing” (... da historia colonial, quero dizer, nao "da pele dos pretos ou do sexo das pretas"...)?!

Sunday, 3 May 2009

REVISITANDO TARRAFAL DE SANTIAGO

PRIMEIRA ENTREVISTA DE LUANDINO VIEIRA SOBRE O TARRAFAL

(Ao jornal portugues "Publico")


“Os anos de cadeia foram muito bons para mim”


No Tarrafal, Luandino Vieira escreveu sobre o que tinha vivido antes. Agora vai escrever sobre o que aprendeu no Tarrafal. Será “uma história de Angola”.

Trinta e cinco anos depois de fechar como campo de presos políticos — a 1 de Maio de 1974 —, o Tarrafal ainda pode ser uma terra arável na cabeça dos homens que lá não perderam a vida. Portugal foi isto, fez isto, há sobreviventes e muito está por contar. Luandino não costuma fazê-lo.

Aceitou esta entrevista — feita segunda-feira, ao longo de uma manhã, no Grémio Literário, em Lisboa — antes de ir apanhar o avião para Cabo Verde, onde hoje está, com antigos camaradas de presídio, no simpósio sobre o Tarrafal que decorreu desde terça. Já de Cabo Verde, disse que terá ainda coisas a acrescentar sobre o Tarrafal, em sequência a esta entrevista.

Nascido português em Lagoa de Furadouro, Ourém, a 4 de Maio de 1935, José Vieira Mateus da Graça fez-se angolano “pela sua participação no movimento de libertação nacional” de Angola, diz sempre a badana dos seus livros. Foi preso antes da guerra colonial, em 1959. Voltou a ser preso, e condenado a 14 anos de prisão, por “actividades subversivas contra a segurança externa do Estado”, em 1961. Com dois camaradas poetas, António Jacinto e António Cardoso, andou de cadeia em cadeia, em Angola. Em 1964 foram transferidos para o Tarrafal, de onde Luandino saiu em liberdade condicional em 1972.

[Continue lendo aqui]

***

Leia tambem aqui, declaracoes do Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, durante o encerramento do Simposio Internacional Sobre o Campo de Concentracao do Tarrafal.
PRIMEIRA ENTREVISTA DE LUANDINO VIEIRA SOBRE O TARRAFAL

(Ao jornal portugues "Publico")


“Os anos de cadeia foram muito bons para mim”


No Tarrafal, Luandino Vieira escreveu sobre o que tinha vivido antes. Agora vai escrever sobre o que aprendeu no Tarrafal. Será “uma história de Angola”.

Trinta e cinco anos depois de fechar como campo de presos políticos — a 1 de Maio de 1974 —, o Tarrafal ainda pode ser uma terra arável na cabeça dos homens que lá não perderam a vida. Portugal foi isto, fez isto, há sobreviventes e muito está por contar. Luandino não costuma fazê-lo.

Aceitou esta entrevista — feita segunda-feira, ao longo de uma manhã, no Grémio Literário, em Lisboa — antes de ir apanhar o avião para Cabo Verde, onde hoje está, com antigos camaradas de presídio, no simpósio sobre o Tarrafal que decorreu desde terça. Já de Cabo Verde, disse que terá ainda coisas a acrescentar sobre o Tarrafal, em sequência a esta entrevista.

Nascido português em Lagoa de Furadouro, Ourém, a 4 de Maio de 1935, José Vieira Mateus da Graça fez-se angolano “pela sua participação no movimento de libertação nacional” de Angola, diz sempre a badana dos seus livros. Foi preso antes da guerra colonial, em 1959. Voltou a ser preso, e condenado a 14 anos de prisão, por “actividades subversivas contra a segurança externa do Estado”, em 1961. Com dois camaradas poetas, António Jacinto e António Cardoso, andou de cadeia em cadeia, em Angola. Em 1964 foram transferidos para o Tarrafal, de onde Luandino saiu em liberdade condicional em 1972.

[Continue lendo aqui]

***

Leia tambem aqui, declaracoes do Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, durante o encerramento do Simposio Internacional Sobre o Campo de Concentracao do Tarrafal.

Wednesday, 11 February 2009

MASEKELA AND THE SAILORMAN


In 1976 we recorded an album called “Colonial Man” for Casablanca Records with a group of musicians I had assembled from Ghana and Nigeria. This was our second album after the popular “The Boyz Doin’ It”. We were touring the USA when our producer Stewart Levine said “We need to record a second album, Neil Bogart wants it right away”. That was when I proposed that we explore the colonial theme and do songs about the European pioneers of countless expeditions that took place in the 15th, 16th and 17th centuries to establish European territories outside the continental mainland.

England, France, Portugal and Spain were obsessed with this exercise, sending people such as Stanley, Johnstone, Cecil Rhodes, Livingstone, Vasco da Gama, Henry The Navigator, Ponce De Leon, Cortez, Christopher Columbus, Sir George Grey, Sir Harry Smith, Simon Van Der Stel, Jan van Riebeeck and tens of other adventurers, pirates, geologists, bankers, financiers and historians out into Asia, The Americas, The South Pacific and Africa for the purpose of establishing new dominions for their exploitation.

Little did I know that most had never heard about the above mentioned characters and did not care much about the history, that the record industry in America did not give a hoot about the colonial past, and almost every distributor in the country would send the shipments back to the record companies because they did not understand what we were singing about. “Who the hell are all these guys Hugh is talking about and who cares?” was the general response. Needless to say, not even my friends bought the album.

Anyway, Vasco da Gama was the first navigator to establish the sea route that circumvented Africa via the Cape of Good Hope in South Africa en route to Asia. The purpose was to collect precious stones, spices and condiments prior to the opening of the shorter route via the Suez Canal.

Khaya Mahlangu pays tribute to the great Caribbean Salsa flautist such as Pacheco on the picollo and flute and John Selolwane applauds the great guitar styles of Jimmy Hendrix and Carlos Santana. Cha-Cha-Cha enthusiasts will indeed be ecstatic to hit the dance floor in memory of the style of music and we shall always be indebted to the wonderful musicians who pioneered this groove in Cuba at the beginning of the last century.

Hugh Masekela, 2000


Free file hosting by Ripway.com
Vasco da Gama (The Sailorman) - Hugh Masekela

In 1976 we recorded an album called “Colonial Man” for Casablanca Records with a group of musicians I had assembled from Ghana and Nigeria. This was our second album after the popular “The Boyz Doin’ It”. We were touring the USA when our producer Stewart Levine said “We need to record a second album, Neil Bogart wants it right away”. That was when I proposed that we explore the colonial theme and do songs about the European pioneers of countless expeditions that took place in the 15th, 16th and 17th centuries to establish European territories outside the continental mainland.

England, France, Portugal and Spain were obsessed with this exercise, sending people such as Stanley, Johnstone, Cecil Rhodes, Livingstone, Vasco da Gama, Henry The Navigator, Ponce De Leon, Cortez, Christopher Columbus, Sir George Grey, Sir Harry Smith, Simon Van Der Stel, Jan van Riebeeck and tens of other adventurers, pirates, geologists, bankers, financiers and historians out into Asia, The Americas, The South Pacific and Africa for the purpose of establishing new dominions for their exploitation.

Little did I know that most had never heard about the above mentioned characters and did not care much about the history, that the record industry in America did not give a hoot about the colonial past, and almost every distributor in the country would send the shipments back to the record companies because they did not understand what we were singing about. “Who the hell are all these guys Hugh is talking about and who cares?” was the general response. Needless to say, not even my friends bought the album.

Anyway, Vasco da Gama was the first navigator to establish the sea route that circumvented Africa via the Cape of Good Hope in South Africa en route to Asia. The purpose was to collect precious stones, spices and condiments prior to the opening of the shorter route via the Suez Canal.

Khaya Mahlangu pays tribute to the great Caribbean Salsa flautist such as Pacheco on the picollo and flute and John Selolwane applauds the great guitar styles of Jimmy Hendrix and Carlos Santana. Cha-Cha-Cha enthusiasts will indeed be ecstatic to hit the dance floor in memory of the style of music and we shall always be indebted to the wonderful musicians who pioneered this groove in Cuba at the beginning of the last century.

Hugh Masekela, 2000


Free file hosting by Ripway.com
Vasco da Gama (The Sailorman) - Hugh Masekela

Friday, 5 September 2008

A LITTLE DISCUSSION ON 'OBAMATRONICS'


There is an interesting discussion going on here about an article titled 'Obama and Black American Ethnicity', by Marian Douglas-Ungaro, where I've just posted this comment:


Speaking for myself, one of the two most disturbing facts about the U.S. presidential election of November 2008 is that so many folks - even folks who've never set foot in the United States, are not U.S. citizens, and have never suffered as 3rd, 4th & 5th class Americans on U.S. soil - are so geared up to "elect themselves a black president."

If that is the definition of a ‘Obamatron’, then I guess I fall squarely under it: I am an African who has never lived in America, is not an American citizen and has not lived the Black American historical experience, yet I have been supporting Obama with enthusiasm, and at times even assumed silliness, for most of this campaign. Except that I’ve actually set foot in the US, have close family members living there for decades (one of my sisters is actually a staunch Hillary supporter and has even worked as her campaign staff) and I’ve worked in Africa for a USAID-sponsored project as a Black African within an otherwise all-American, all-White professional team. But that’s not what makes me feel involved in this campaign and it’s not exclusively Obama’s race or ethnicity that makes me support him either.

Also speaking for myself, as the author does, I come from a country – Angola – whose political life has been shaped directly by American politics for at least most part of the last century and continues to be so to this day. And when you are a citizen of a country where politics, economics, election outcomes, war or peace and life or death are so impacted by American politics as happens to my country, as I am sure happens in not a few countries in Africa and around the world, I, willingly or not, have a stake, even if only remote (you can then call me a ‘remote-controlled automaton’ or ‘Obamatron’ if you wish) in American elections and its outcomes.

I wouldn’t, for a moment, claim that my ‘presumed stake’ in that election is bigger, more significant or even equal, than that of US citizens in general, or Black Americans in particular, not least because I am not entitled to vote there, but given a chance, as it was by this internet-cross-boundaries geared campaign, I feel entitled to have my views about it known. And that’s just what I have been doing (again, call me a ‘Obamatron’ for that if you wish – I may take offence at it, but that will not stop me from having and expressing my opinions about ‘your’ elections, at least for as long as your country politics, regardless of the particular ideologies underlying it under different administrations, has an impact on mine and on my life, even if only ‘remotely’).

I would like to, but I won’t dwell too much in this occasion on all the discussions about slavery v. colonialism, race v. ethnicity or Black Americans/African Americans v. Africans. I think brother Mzimkhulu and other discussants here already gave significant contributions to those. I would just add that slavery continued in Africa and particularly in former Portuguese colonies for most of the 20th century under other designations such as ‘contract labour’ and, in the case of Southern Africa, as ‘migrant labour’ to the South African mines. I would also like to take this opportunity to mention that in certain African societies, certainly in Angola and other former Portuguese colonies, someone like Rev. Wright, and even someone like Barack Obama, would hardly be considered or identify themselves as ‘black’ and would most certainly not take the kind of stances on race politics they take in the USA.

Finally, let me cite Mandela in his introduction to a recent publication about the relationships between Black American and Black African political movements, ‘No Easy Victories’: “We were part of a worldwide movement that continues today to redress the economic and social injustices that kill body, mind, and spirit. ‘No Easy Victories’ makes clear that our lives and fortunes around the globe are indeed linked.”

There is an interesting discussion going on here about an article titled 'Obama and Black American Ethnicity', by Marian Douglas-Ungaro, where I've just posted this comment:


Speaking for myself, one of the two most disturbing facts about the U.S. presidential election of November 2008 is that so many folks - even folks who've never set foot in the United States, are not U.S. citizens, and have never suffered as 3rd, 4th & 5th class Americans on U.S. soil - are so geared up to "elect themselves a black president."

If that is the definition of a ‘Obamatron’, then I guess I fall squarely under it: I am an African who has never lived in America, is not an American citizen and has not lived the Black American historical experience, yet I have been supporting Obama with enthusiasm, and at times even assumed silliness, for most of this campaign. Except that I’ve actually set foot in the US, have close family members living there for decades (one of my sisters is actually a staunch Hillary supporter and has even worked as her campaign staff) and I’ve worked in Africa for a USAID-sponsored project as a Black African within an otherwise all-American, all-White professional team. But that’s not what makes me feel involved in this campaign and it’s not exclusively Obama’s race or ethnicity that makes me support him either.

Also speaking for myself, as the author does, I come from a country – Angola – whose political life has been shaped directly by American politics for at least most part of the last century and continues to be so to this day. And when you are a citizen of a country where politics, economics, election outcomes, war or peace and life or death are so impacted by American politics as happens to my country, as I am sure happens in not a few countries in Africa and around the world, I, willingly or not, have a stake, even if only remote (you can then call me a ‘remote-controlled automaton’ or ‘Obamatron’ if you wish) in American elections and its outcomes.

I wouldn’t, for a moment, claim that my ‘presumed stake’ in that election is bigger, more significant or even equal, than that of US citizens in general, or Black Americans in particular, not least because I am not entitled to vote there, but given a chance, as it was by this internet-cross-boundaries geared campaign, I feel entitled to have my views about it known. And that’s just what I have been doing (again, call me a ‘Obamatron’ for that if you wish – I may take offence at it, but that will not stop me from having and expressing my opinions about ‘your’ elections, at least for as long as your country politics, regardless of the particular ideologies underlying it under different administrations, has an impact on mine and on my life, even if only ‘remotely’).

I would like to, but I won’t dwell too much in this occasion on all the discussions about slavery v. colonialism, race v. ethnicity or Black Americans/African Americans v. Africans. I think brother Mzimkhulu and other discussants here already gave significant contributions to those. I would just add that slavery continued in Africa and particularly in former Portuguese colonies for most of the 20th century under other designations such as ‘contract labour’ and, in the case of Southern Africa, as ‘migrant labour’ to the South African mines. I would also like to take this opportunity to mention that in certain African societies, certainly in Angola and other former Portuguese colonies, someone like Rev. Wright, and even someone like Barack Obama, would hardly be considered or identify themselves as ‘black’ and would most certainly not take the kind of stances on race politics they take in the USA.

Finally, let me cite Mandela in his introduction to a recent publication about the relationships between Black American and Black African political movements, ‘No Easy Victories’: “We were part of a worldwide movement that continues today to redress the economic and social injustices that kill body, mind, and spirit. ‘No Easy Victories’ makes clear that our lives and fortunes around the globe are indeed linked.”