Saturday 31 March 2007

AO SOM E IMAGENS DE "ALL WE ARE SAYING IS GIVE PEACE A CHANCE"...


Alguns comentarios

dos ultimos dias

sugeriram-me que

talvez fosse util e interessante

postar aqui o artigo em Anexo...


Alguns comentarios

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talvez fosse util e interessante

postar aqui o artigo em Anexo...

Thursday 29 March 2007

OUTBLOGGING @ AFRICANPATH – II


As at least some of you might have noticed, my first article at Africanpath received almost immediately a response from Dennis Matanda, one of the site’s resident bloggers.
In my second article, posted today, I seek to address some of the issues raised by Matanda in his last and previous articles. In doing so, I deal with three discrete cases from African economic history, namely Ghana, Zimbabwe and Botswana.

Again, you can read and comment it either Here or at Africanpath.

As at least some of you might have noticed, my first article at Africanpath received almost immediately a response from Dennis Matanda, one of the site’s resident bloggers.
In my second article, posted today, I seek to address some of the issues raised by Matanda in his last and previous articles. In doing so, I deal with three discrete cases from African economic history, namely Ghana, Zimbabwe and Botswana.

Again, you can read and comment it either Here or at Africanpath.

Wednesday 28 March 2007

NOVO LIVRO DE JOAO MILANDO

Colecção Sociedades Africanas

««Este livro surge na sequência de um outro, do mesmo autor, publica­do em 2005, pela Imprensa de Ciências Sociais, sobre “Cooperação sem Desenvolvimento”, no qual analisa o complexo desenvolvimen­tista e os seus objectivos declarados e não declarados, em África, as­sim como questiona a viabilidade do próprio desenvolvimento, seja em que tipo de sociedade for.

O presente livro analisa o modo como o desenvolvimento institucionalizado, levado a cabo ou apoiado pelas elites políticas angolanas, afecta as representações e práticas sociais de populações rurais de Cabinda. Por um lado, o desenvolvimento surge como uma máquina trituradora/reconstrutora de identidades e de culturas, com grande capacidade de integrar, gerir e perturbar as populações locais, levando a supor que estas estão condenadas a su­cumbir rapidamente diante dos projectos desenvolvimentistas ou a entrar em processos de desagregação, lentos mas irreversíveis.

Por outro, há sinais locais de resiliência social, que parecem exprimir processos de introversão defensiva, de regressão “tradicional” e de ulterior complexificação destas sociedades, configurando dinâmicas sociais que escapam sempre a qualquer análise linear. Assim, o desen­volvimento é analisado não como um choque de culturas, mas como um encontro de diferentes racionalidades culturais, de que resultam situações extremamente complexas e, quase sempre, imprevisíveis.

João Milando é sociólogo, Doutorado em Ciências Sociais (Es­tudos Africanos Interdisciplinares). Faz pesquisas, há vários anos, sobre processos de desenvolvimento em Angola e África em geral. É investigador do Centro de Estudos Africanos do Ins­tituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - Lisboa. »»

Texto: Transcricao da Introducao ao Livro
Colecção Sociedades Africanas

««Este livro surge na sequência de um outro, do mesmo autor, publica­do em 2005, pela Imprensa de Ciências Sociais, sobre “Cooperação sem Desenvolvimento”, no qual analisa o complexo desenvolvimen­tista e os seus objectivos declarados e não declarados, em África, as­sim como questiona a viabilidade do próprio desenvolvimento, seja em que tipo de sociedade for.

O presente livro analisa o modo como o desenvolvimento institucionalizado, levado a cabo ou apoiado pelas elites políticas angolanas, afecta as representações e práticas sociais de populações rurais de Cabinda. Por um lado, o desenvolvimento surge como uma máquina trituradora/reconstrutora de identidades e de culturas, com grande capacidade de integrar, gerir e perturbar as populações locais, levando a supor que estas estão condenadas a su­cumbir rapidamente diante dos projectos desenvolvimentistas ou a entrar em processos de desagregação, lentos mas irreversíveis.

Por outro, há sinais locais de resiliência social, que parecem exprimir processos de introversão defensiva, de regressão “tradicional” e de ulterior complexificação destas sociedades, configurando dinâmicas sociais que escapam sempre a qualquer análise linear. Assim, o desen­volvimento é analisado não como um choque de culturas, mas como um encontro de diferentes racionalidades culturais, de que resultam situações extremamente complexas e, quase sempre, imprevisíveis.

João Milando é sociólogo, Doutorado em Ciências Sociais (Es­tudos Africanos Interdisciplinares). Faz pesquisas, há vários anos, sobre processos de desenvolvimento em Angola e África em geral. É investigador do Centro de Estudos Africanos do Ins­tituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - Lisboa. »»

Texto: Transcricao da Introducao ao Livro

Friday 23 March 2007

On Women's Month, Celebrating Women's Poetry: II. Noemia de Sousa

Conheci Noemia de Sousa durante um qualquer evento literario em Lisboa nos anos 80. Desse breve, mas muito marcante encontro, lembro-me de ela me ter perguntado algo como “sera' que voces, da nova geracao de escritores, teem nocao de que os vossos livros no tempo colonial nunca seriam publicados?”. Nao me lembro exactamente da minha resposta, mas acho que lhe respondi que “sim, obviamente, temos nocao disso”.

O que sempre me impressionou e fascinou em Noemia, antes e depois de a conhecer, foi o impacto que a sua poesia teve na literatura Mocambicana e das ex-colonias Portuguesas, apesar de nunca ter publicado um unico livro ate’ quase ao fim da sua vida (isto numa era em que, cada vez mais, pelo menos em certos circulos, so' se considera poeta ou escritor a quem publique livros como quem fabrica e vende pao quente todos os dias). Ha’ quem diga que assim o foi porque ela assim o quiz. Nao sei se tera sido exactamente essa a razao, ou se ela tera tido a ver com a pergunta que me fez naquele encontro. Ou talvez Noemia se sentisse plenamente satisfeita apenas com a esparsa aparicao da sua poesia em publicacoes tais como Mensagem, Itinerário, Notícias do Bloqueio, O Brado Africano, Moçambique 58, Vértice, ou Sul.

Qualquer que tenha sido a razao, em 2001, Nelson Saute finalmente conseguiu a sua autorizacao para a edicao de uma colectanea dos seus poemas, escritos cerca de 50 anos antes, entitulada “Sangue Negro”. Sobre ela Francisco Noa, critico literario, escreveu: “Feita arma ou confissão, a poesia de Noémia de Sousa , reunida na obra “Sangue Negro”, exprime não só as inquietações de espírito de um sujeito, claramente localizado no tempo e no espaço, como também prefigura sentimentos, percepções e aspirações, onde converge toda uma nação por acontecer.”

De seu nome completo Carolina Noemia Abranches de Sousa Soares, nasceu em 1926 em Catembe (entao Lourenco Marques, hoje Maputo), Mocambique. Tambem usando o pseudonimo Vera Micaia, comecou a escrever poesia aos 22 anos de idade e nao deixou desde entao de impressionar o mundo literario Mocambicano e nao so’, sobretudo pela profunda afirmacao das suas raizes africanas. Noemia deixou Maputo com destino a Lisboa em 1951, tendo dali emigrado para Paris em 1964. Regressou a Lisboa em 1975, onde residiu e trabalhou como jornalista e tradutora ate’ ao seu falecimento em Dezembro de 2002. Com a devida venia perante a sua memoria, aqui ficam dois dos seus poemas:



NEGRA

Gentes estranhas com seus olhos cheios doutros mundos
quiseram cantar teus encantos
para elas só de mistérios profundos,
de delírios e feitiçarias...
Teus encantos profundos de Africa.

Mas não puderam.
Em seus formais e rendilhados cantos,
ausentes de emoção e sinceridade,
quedas-te longínqua, inatingível,
virgem de contactos mais fundos.

E te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual,
jarra etrusca, exotismo tropical,
demência, atracção, crueldade,
animalidade, magia...
e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias.

Em seus formais cantos rendilhados
foste tudo, negra...
menos tu.
E ainda bem.

Ainda bem que nos deixaram a nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a glória única e sentida de te cantar
com emoção verdadeira e radical,
a glória comovida de te cantar, toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE




[Fotos de Maputo: "O Sol Nasce a Oriente", por Ana Santana]


IF YOU WANT TO KNOW ME



If you want to know me
examine with careful eyes
this bit of black wood
which some unknown Makonde brother
cut and carved
with his inspired hands
in the distant lands of the North.

This is what I am
empty sockets despairing of possessing life
a mouth torn open in an anguished wound
huge hands outspread
and raised in imprecation and in threat
a body tattooed with wounds seen and unseen
from the harsh whip strokes of slavery
tortured and magnificent
proud and mysterious
Africa from head to foot
this is what I am.

If you want to understand me
come, bend over this soul of Africa
in the black dockworker's groans
the Chopez' frenzied dances
the Changanas' rebellion
in the strange sadness which flows
from an African song, through the night.

And ask no more
to know me
for I'm nothing but a shell of flesh
where Africa's revolt congealed
its cry pregnant with hope.







(Mais poesia de Noemia Aqui)










A Song To Heal - Jean 'Binta' Breeze
Conheci Noemia de Sousa durante um qualquer evento literario em Lisboa nos anos 80. Desse breve, mas muito marcante encontro, lembro-me de ela me ter perguntado algo como “sera' que voces, da nova geracao de escritores, teem nocao de que os vossos livros no tempo colonial nunca seriam publicados?”. Nao me lembro exactamente da minha resposta, mas acho que lhe respondi que “sim, obviamente, temos nocao disso”.

O que sempre me impressionou e fascinou em Noemia, antes e depois de a conhecer, foi o impacto que a sua poesia teve na literatura Mocambicana e das ex-colonias Portuguesas, apesar de nunca ter publicado um unico livro ate’ quase ao fim da sua vida (isto numa era em que, cada vez mais, pelo menos em certos circulos, so' se considera poeta ou escritor a quem publique livros como quem fabrica e vende pao quente todos os dias). Ha’ quem diga que assim o foi porque ela assim o quiz. Nao sei se tera sido exactamente essa a razao, ou se ela tera tido a ver com a pergunta que me fez naquele encontro. Ou talvez Noemia se sentisse plenamente satisfeita apenas com a esparsa aparicao da sua poesia em publicacoes tais como Mensagem, Itinerário, Notícias do Bloqueio, O Brado Africano, Moçambique 58, Vértice, ou Sul.

Qualquer que tenha sido a razao, em 2001, Nelson Saute finalmente conseguiu a sua autorizacao para a edicao de uma colectanea dos seus poemas, escritos cerca de 50 anos antes, entitulada “Sangue Negro”. Sobre ela Francisco Noa, critico literario, escreveu: “Feita arma ou confissão, a poesia de Noémia de Sousa , reunida na obra “Sangue Negro”, exprime não só as inquietações de espírito de um sujeito, claramente localizado no tempo e no espaço, como também prefigura sentimentos, percepções e aspirações, onde converge toda uma nação por acontecer.”

De seu nome completo Carolina Noemia Abranches de Sousa Soares, nasceu em 1926 em Catembe (entao Lourenco Marques, hoje Maputo), Mocambique. Tambem usando o pseudonimo Vera Micaia, comecou a escrever poesia aos 22 anos de idade e nao deixou desde entao de impressionar o mundo literario Mocambicano e nao so’, sobretudo pela profunda afirmacao das suas raizes africanas. Noemia deixou Maputo com destino a Lisboa em 1951, tendo dali emigrado para Paris em 1964. Regressou a Lisboa em 1975, onde residiu e trabalhou como jornalista e tradutora ate’ ao seu falecimento em Dezembro de 2002. Com a devida venia perante a sua memoria, aqui ficam dois dos seus poemas:



NEGRA

Gentes estranhas com seus olhos cheios doutros mundos
quiseram cantar teus encantos
para elas só de mistérios profundos,
de delírios e feitiçarias...
Teus encantos profundos de Africa.

Mas não puderam.
Em seus formais e rendilhados cantos,
ausentes de emoção e sinceridade,
quedas-te longínqua, inatingível,
virgem de contactos mais fundos.

E te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual,
jarra etrusca, exotismo tropical,
demência, atracção, crueldade,
animalidade, magia...
e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias.

Em seus formais cantos rendilhados
foste tudo, negra...
menos tu.
E ainda bem.

Ainda bem que nos deixaram a nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a glória única e sentida de te cantar
com emoção verdadeira e radical,
a glória comovida de te cantar, toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE




[Fotos de Maputo: "O Sol Nasce a Oriente", por Ana Santana]


IF YOU WANT TO KNOW ME



If you want to know me
examine with careful eyes
this bit of black wood
which some unknown Makonde brother
cut and carved
with his inspired hands
in the distant lands of the North.

This is what I am
empty sockets despairing of possessing life
a mouth torn open in an anguished wound
huge hands outspread
and raised in imprecation and in threat
a body tattooed with wounds seen and unseen
from the harsh whip strokes of slavery
tortured and magnificent
proud and mysterious
Africa from head to foot
this is what I am.

If you want to understand me
come, bend over this soul of Africa
in the black dockworker's groans
the Chopez' frenzied dances
the Changanas' rebellion
in the strange sadness which flows
from an African song, through the night.

And ask no more
to know me
for I'm nothing but a shell of flesh
where Africa's revolt congealed
its cry pregnant with hope.







(Mais poesia de Noemia Aqui)










A Song To Heal - Jean 'Binta' Breeze

Wednesday 21 March 2007

ANGOLA: SOBRE O ESTADO DA CULTURA NACIONAL

“Marito no Fundo do Poço”




Uma boa parte dos fundadores ou dos mais antigos integrantes dos «Kiezos», agrupamento musical que marcou a época de ouro do semba angolano, está a viver miseravelmente, em face das grandes privações por que passa, diante do olhar silencioso dos responsáveis do ministério da Cultura, que tinham a obrigação de os ajudar a reaver a dignidade, pelo contributo inestimável dado ao desenvolvimento do sector.

O Tony do órgão, que agora anda de muletas, está feito um «menino de rua», recolhido numa carcaça de automóvel no Marçal, ao lado da casa do falecido Santo António, o «Diminhê», um boémio da banda, falecido recentemente. O Marito, o maior solista angolano de todos os tempos, está a passar por uma grave crise existencial, andando por aí feito um andrajoso, ainda que limpo. Com algum apoio, se calhar para uma desintoxicação e outras recuperações, ainda podemos tê-lo por aí de cabeça erguida. Ao contrário, não deverá resistir muito tempo. E depois é que virão os reconhecimentos oficiais e os choros hipócritas de puros crocodilos de quem não perde ocasiões destas para aparecer na ribalta. E lá se vão os «Kiezos».

(Fonte: Semanário Angolense)


(Rumba 70 - Kiezos)

"Ministério da Cultura Desrespeita os Criadores"


Marcela Costa, distinguida com o Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2002, é uma mulher empreendedora que tem surpreendido o mundo cultural angolano com as suas iniciativas arrojadas, apesar das poucas receitas que tem. Proprietária da galeria Celamar, afirmou que a sua casa de cultura não tem merecido o devido reconhecimento das entidades nacionais. "O nosso projecto ainda não é valorizado, pois nunca recebemos algum valor que possibilite levar a cabo um programa anual".

Revelou que recentemente a sua galeria recebeu o equivalente a cinco mil dólares norte americanos para serem geridos em um ano, um montante insuficiente para fazer face aos projectos que tem. Fruto da forma como o seu projecto é tratado e tendo em conta a sua experiência no ramo afirmou que a verba atribuída configura um desrespeito por parte do Ministério da Cultura, sobretudo em relação a sua galeria. A responsável chamou atenção ao Ministério da Cultura, com realce para o sector de Acção Cultural, para que quando o Governo estiver a distribuir as verbas não confundir Marcela Costa com a galeria Celamar.

As bolsas de formação para os criadores não chegam ao seu destino, uma situação que também preocupa a artista, que, entretanto, não dá costas a luta, continuando a manter o intercâmbio com algumas organizações internacionais. A sua postura levou a que conseguisse trazer um grupo de formadores suecos que ministraram um curso aos criadores nacionais. A acção formativa trouxe grande experiência aos meninos que vivem em alguns lares, uma vez que tiveram a singular oportunidade de aprender novas técnicas de trabalho em artes plásticas, assim como com fotografia.

Dentre as suas vitórias consta ainda uma exposição de obras de artes plásticas, de criadoras nacionais e estrangeiras, patente na galeria Celamar, em Luanda, em alusão ao mês de Março, dedicado a mulher e enquadrado no projecto "Arte Mulher". Segundo Marcela Costa o projecto caminha na sua 4ª edição e tem como objectivo unir todas criadoras culturais, num projecto que engloba a pintura e a moda. Das obras realçam-se fotografias tiradas com máquinas feitas a base de latas de leite. As obras falam do quotidiano, de cultura e da problemática ambiental. Dentre os participantes contam-se angolanos, sul-africanos, venezuelanos, noruegueses, britânicos e suecos.

Apesar da ampla participação, Marcela Costa lamenta o facto de não contar com obras de países africanos de expressão portuguesa. "Tratando-se de um evento realizado em África, devia ser dominado por africanos", disse. Ainda assim, a mentora da exposição garante que os seus esforços visam enaltecer o talento feminino, levando em conta trabalhos de artistas consagradas na arte do belo, da poesia e da moda. As jovens e adolescentes da Associação de Apoio à Criança Abandonada (AACA) participam igualmente mostrando a sua criatividade no concernente a dança, batuque e canto, referiu.

(Fonte: Jornal Angolense)

“Marito no Fundo do Poço”




Uma boa parte dos fundadores ou dos mais antigos integrantes dos «Kiezos», agrupamento musical que marcou a época de ouro do semba angolano, está a viver miseravelmente, em face das grandes privações por que passa, diante do olhar silencioso dos responsáveis do ministério da Cultura, que tinham a obrigação de os ajudar a reaver a dignidade, pelo contributo inestimável dado ao desenvolvimento do sector.

O Tony do órgão, que agora anda de muletas, está feito um «menino de rua», recolhido numa carcaça de automóvel no Marçal, ao lado da casa do falecido Santo António, o «Diminhê», um boémio da banda, falecido recentemente. O Marito, o maior solista angolano de todos os tempos, está a passar por uma grave crise existencial, andando por aí feito um andrajoso, ainda que limpo. Com algum apoio, se calhar para uma desintoxicação e outras recuperações, ainda podemos tê-lo por aí de cabeça erguida. Ao contrário, não deverá resistir muito tempo. E depois é que virão os reconhecimentos oficiais e os choros hipócritas de puros crocodilos de quem não perde ocasiões destas para aparecer na ribalta. E lá se vão os «Kiezos».

(Fonte: Semanário Angolense)


(Rumba 70 - Kiezos)

"Ministério da Cultura Desrespeita os Criadores"


Marcela Costa, distinguida com o Prémio Nacional de Cultura e Artes em 2002, é uma mulher empreendedora que tem surpreendido o mundo cultural angolano com as suas iniciativas arrojadas, apesar das poucas receitas que tem. Proprietária da galeria Celamar, afirmou que a sua casa de cultura não tem merecido o devido reconhecimento das entidades nacionais. "O nosso projecto ainda não é valorizado, pois nunca recebemos algum valor que possibilite levar a cabo um programa anual".

Revelou que recentemente a sua galeria recebeu o equivalente a cinco mil dólares norte americanos para serem geridos em um ano, um montante insuficiente para fazer face aos projectos que tem. Fruto da forma como o seu projecto é tratado e tendo em conta a sua experiência no ramo afirmou que a verba atribuída configura um desrespeito por parte do Ministério da Cultura, sobretudo em relação a sua galeria. A responsável chamou atenção ao Ministério da Cultura, com realce para o sector de Acção Cultural, para que quando o Governo estiver a distribuir as verbas não confundir Marcela Costa com a galeria Celamar.

As bolsas de formação para os criadores não chegam ao seu destino, uma situação que também preocupa a artista, que, entretanto, não dá costas a luta, continuando a manter o intercâmbio com algumas organizações internacionais. A sua postura levou a que conseguisse trazer um grupo de formadores suecos que ministraram um curso aos criadores nacionais. A acção formativa trouxe grande experiência aos meninos que vivem em alguns lares, uma vez que tiveram a singular oportunidade de aprender novas técnicas de trabalho em artes plásticas, assim como com fotografia.

Dentre as suas vitórias consta ainda uma exposição de obras de artes plásticas, de criadoras nacionais e estrangeiras, patente na galeria Celamar, em Luanda, em alusão ao mês de Março, dedicado a mulher e enquadrado no projecto "Arte Mulher". Segundo Marcela Costa o projecto caminha na sua 4ª edição e tem como objectivo unir todas criadoras culturais, num projecto que engloba a pintura e a moda. Das obras realçam-se fotografias tiradas com máquinas feitas a base de latas de leite. As obras falam do quotidiano, de cultura e da problemática ambiental. Dentre os participantes contam-se angolanos, sul-africanos, venezuelanos, noruegueses, britânicos e suecos.

Apesar da ampla participação, Marcela Costa lamenta o facto de não contar com obras de países africanos de expressão portuguesa. "Tratando-se de um evento realizado em África, devia ser dominado por africanos", disse. Ainda assim, a mentora da exposição garante que os seus esforços visam enaltecer o talento feminino, levando em conta trabalhos de artistas consagradas na arte do belo, da poesia e da moda. As jovens e adolescentes da Associação de Apoio à Criança Abandonada (AACA) participam igualmente mostrando a sua criatividade no concernente a dança, batuque e canto, referiu.

(Fonte: Jornal Angolense)

Tuesday 20 March 2007

CORACAO DOS BOSQUES




"CORACAO DOS BOSQUES" de Jose Eduardo Agualusa EM 'BOOKS OF LIFE'


E’ assim nos bosques: ha' olhares que se espreitam por entre folhagens... bocas que se desdizem por entre o oco dos troncos... coracoes que se desdobram por entre o vazio dos corpos... maos que se tocam por entre intersticios de alma... sombras que se atropelam por entre luzes difusas... passos que se entrecruzam por entre picadas esconsas... sons que se sussurram por entre palavras indiziveis... aguas que se separam por entre caminhos do rio. Coracoes. E’ assim.
(A.S. Mar 20, 07)

Coracao dos Bosques (1991): consta da obra de Jose’ Eduardo Agualusa como o seu unico volume de poesia. Foi-me dedicado. Por isso o seu lugar em ‘Books of Life’.





“A poesia acerta mais que a ciência. Na natureza, por exemplo, a beleza é utilitária, isto é, não existe no universo fulgor sem serventia. Se os cientistas fossem à procura da beleza ao invés da funcionalidade chegariam mais depressa à funcionalidade.”

José Eduardo Agualusa
(“Discurso sobre o fulgor da língua” in “Catálogo de sombras”)


Uma Voz Que Canta Convoca A Terra Perdida

Uma voz que canta convoca a terra perdida.
Quase em surdina, evoca os secretos lugares
da infância;
o sítio onde pousavam os pássaros
o quintal cheio de estórias
e - lembras-te?- a tarde em chamas.

A voz murmura:
O exílio é onde nada se recorda de ti
Nada te diz:
sou teu/és meu




O Homem Que Vinha Ao Entardecer

(Ouvindo “Sonho de Um Camponês”, por Teta Lando)

Falava com devagar, ajeitando
as palavras. Falava com cuidado,
houvesse lume entre as palavras.

Chegava ao entardecer, os sapatos
cheios de terra vermelha e do perfume
dos matos.

Cumpria rigorosamente os rituais.

Batia primeiro as palmas (junto
ao peito)

Depois falava.
Dos bois, das lavras, das coisas
simples do seu dia-a-dia. E todavia
era tal o mistério das tardes quando
assim falava
que doía.



Os Rios Atónitos

(Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba)


Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.

Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.

Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.

E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.

E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.




"CORACAO DOS BOSQUES" de Jose Eduardo Agualusa EM 'BOOKS OF LIFE'


E’ assim nos bosques: ha' olhares que se espreitam por entre folhagens... bocas que se desdizem por entre o oco dos troncos... coracoes que se desdobram por entre o vazio dos corpos... maos que se tocam por entre intersticios de alma... sombras que se atropelam por entre luzes difusas... passos que se entrecruzam por entre picadas esconsas... sons que se sussurram por entre palavras indiziveis... aguas que se separam por entre caminhos do rio. Coracoes. E’ assim.
(A.S. Mar 20, 07)

Coracao dos Bosques (1991): consta da obra de Jose’ Eduardo Agualusa como o seu unico volume de poesia. Foi-me dedicado. Por isso o seu lugar em ‘Books of Life’.





“A poesia acerta mais que a ciência. Na natureza, por exemplo, a beleza é utilitária, isto é, não existe no universo fulgor sem serventia. Se os cientistas fossem à procura da beleza ao invés da funcionalidade chegariam mais depressa à funcionalidade.”

José Eduardo Agualusa
(“Discurso sobre o fulgor da língua” in “Catálogo de sombras”)


Uma Voz Que Canta Convoca A Terra Perdida

Uma voz que canta convoca a terra perdida.
Quase em surdina, evoca os secretos lugares
da infância;
o sítio onde pousavam os pássaros
o quintal cheio de estórias
e - lembras-te?- a tarde em chamas.

A voz murmura:
O exílio é onde nada se recorda de ti
Nada te diz:
sou teu/és meu




O Homem Que Vinha Ao Entardecer

(Ouvindo “Sonho de Um Camponês”, por Teta Lando)

Falava com devagar, ajeitando
as palavras. Falava com cuidado,
houvesse lume entre as palavras.

Chegava ao entardecer, os sapatos
cheios de terra vermelha e do perfume
dos matos.

Cumpria rigorosamente os rituais.

Batia primeiro as palmas (junto
ao peito)

Depois falava.
Dos bois, das lavras, das coisas
simples do seu dia-a-dia. E todavia
era tal o mistério das tardes quando
assim falava
que doía.



Os Rios Atónitos

(Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba)


Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.

Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.

Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.

E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.

E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.

Monday 19 March 2007

ZIMBABWE: ENTER ANGOLA...

Angolan police militia will arrive in Zimbabwe in less than a week to boost the Zimbabwe Republic Police force which has suffered massive desertions in the past few years.

Angola's Minister of Home Affairs Roberto Monteiro said on Friday Angola was sympathetic to Zimbabwe's police force and in light of recent disturbances and attacks on Zimbabwe police, Angola will be bringing in more that 3,000 police militia to help with quelling violence and maintaining law and order in Zimbabwe. Monteiro was in Zimbabwe to sign a cooperation agreement on public order and security, state radio said.

Angola and Namibia are President Robert Mugabe's strongest allies in the region and the deal raises the possibility that Angolan police could be called in. The MPLA government has a powerful police militia that is used to quell local disorder. There have been signs of dissidence among Zimbabwe's police, who are suffering as are the rest of the population from the effects of the collapsed economy. Speaking during a visit to Harare, the Angolan minister said the police should use appropriate measures to contain cases of violence in order to maintain peace and security and "the Angolan government will help Zimbabwe in this endeavour."

He condemned subsequent attacks on police officers, saying the police are there to maintain public order. He said some of the best trained police militia will be deployed to Zimbabwe as early as Tuesday to help with the growing unrest in the country." Angola will do everything in its power to help the Zimbabwean police force and will not allow Western imperialism to take over Zimbabwe," he said." There are misleading statements coming out of independent media and opposition politicians in Zimbabwe, that have incited Zimbabweans to rebel against their own government," he said.

"President Robert Mugabe and I have agreed on a law and order maintenance agreement that will see Angolan police helping with the situation in the country," he said. It is still unclear where Angolan militia will be deployed in the country and for how long. At least six police officers have been injured in revenge attacks on the force. Meanwhile Mugabe has threatened Western diplomats with expulsion if they continue their criticism.

(Sourced from here)

N.B.: In the meantime authorities of both countries denied this news (22/03/07).
Angolan police militia will arrive in Zimbabwe in less than a week to boost the Zimbabwe Republic Police force which has suffered massive desertions in the past few years.

Angola's Minister of Home Affairs Roberto Monteiro said on Friday Angola was sympathetic to Zimbabwe's police force and in light of recent disturbances and attacks on Zimbabwe police, Angola will be bringing in more that 3,000 police militia to help with quelling violence and maintaining law and order in Zimbabwe. Monteiro was in Zimbabwe to sign a cooperation agreement on public order and security, state radio said.

Angola and Namibia are President Robert Mugabe's strongest allies in the region and the deal raises the possibility that Angolan police could be called in. The MPLA government has a powerful police militia that is used to quell local disorder. There have been signs of dissidence among Zimbabwe's police, who are suffering as are the rest of the population from the effects of the collapsed economy. Speaking during a visit to Harare, the Angolan minister said the police should use appropriate measures to contain cases of violence in order to maintain peace and security and "the Angolan government will help Zimbabwe in this endeavour."

He condemned subsequent attacks on police officers, saying the police are there to maintain public order. He said some of the best trained police militia will be deployed to Zimbabwe as early as Tuesday to help with the growing unrest in the country." Angola will do everything in its power to help the Zimbabwean police force and will not allow Western imperialism to take over Zimbabwe," he said." There are misleading statements coming out of independent media and opposition politicians in Zimbabwe, that have incited Zimbabweans to rebel against their own government," he said.

"President Robert Mugabe and I have agreed on a law and order maintenance agreement that will see Angolan police helping with the situation in the country," he said. It is still unclear where Angolan militia will be deployed in the country and for how long. At least six police officers have been injured in revenge attacks on the force. Meanwhile Mugabe has threatened Western diplomats with expulsion if they continue their criticism.

(Sourced from here)

N.B.: In the meantime authorities of both countries denied this news (22/03/07).

WHAT'S IN A NAME - II


I guess certain things are to be expected in the 'blogosphere', as in normal life, but perhaps it won't go amiss to repeat:


"It is not what you call me, but what I answer to, that matters most"
African Proverb

(in "Capitalist Nigger - The Road to Success", by Chika Onyeani)

Picture: Kongo Mask



I guess certain things are to be expected in the 'blogosphere', as in normal life, but perhaps it won't go amiss to repeat:


"It is not what you call me, but what I answer to, that matters most"
African Proverb

(in "Capitalist Nigger - The Road to Success", by Chika Onyeani)

Picture: Kongo Mask


Sunday 18 March 2007

"SUNDAY ROAST"


Moamba de galinha: a receita pode ser encontrada nos
'Sabores da Diversidade'

For some Food for Thought click Here.

Moamba de galinha: a receita pode ser encontrada nos
'Sabores da Diversidade'

For some Food for Thought click Here.

Saturday 17 March 2007

RECENT PUBLICATIONS ON ANGOLA & MOZAMBIQUE

Victor Agadjanian and Soma Sen, "Promises and Challenges of Faith-Based AIDS Care and Support in Mozambique," _American Journal of Public Health_ 97, 2 (February 2007): 362-366.

Anna Maria Gentili, "Staying Power: il Frelimo dal marxismo al liberismo: Costruzione dello stato-nazione e ruolo del movimento di liberazione nel Mozambico post-coloniale," _Afriche e Oriente_ anno 8, numero speciale 1 (2006): 5-28.

M. Cristina Ercolessi, "Stato-partito dell'MPLA e nomenklatura nell'Angola degli anni '90," _Afriche e Oriente_ anno 8, numero speciale 1 (2006): 29-48.

Ian Taylor, _China and Africa: Engagement and Compromise_ . London; New York: Routledge, 2006. Two chapters focus on Angola and Mozambique.

Zarina Maharaj, _Dancing to a Different Rhythm: A Memoir_, Cape Town: Zebra Press, 2006; includes a couple of chapters dealing with her experience in the late 1970s teaching math at the Universidade Eduardo Mondlane and living in Maputo with other South African exiles (see especially pages 86-130).

OTHER

Announcement

The Encyclopedia of Race and Racism is looking for someone to write a 3000 word (approx. 12 page) entry on race and racism in the ex-Portuguese colonies in Africa. The deadline is extremely tight -April 16, 2007. Their scope for the entry appears below. If you are interested or want further information, please write directly to Rachel Kain, Project Editor, Macmillan Reference USA at gale.encyofraceandracism@thomson.com

Africa: Portuguese Colonies
Scope:
Please describe any racial tensions which existed in the regions of Africa which were colonized by Portugal and how that situation changed with the coming of Europeans.
How did the racial situation evolve through the period of colonialism up to the independence movements of the 1950s and 60s?
What further evolution has occurred until now?
Describe groups and political parties which were organized on a racial basis.
Due Date: April 16, 2007
Assigned Words: 3000
Honorarium Amount: $390.00

Compiled by Kathleen Sheldon(UCLA/ H-Net Discussion List)

Illustration: "Encyclopedia of Pleasure" (Ghada Amer, Egypt)
Victor Agadjanian and Soma Sen, "Promises and Challenges of Faith-Based AIDS Care and Support in Mozambique," _American Journal of Public Health_ 97, 2 (February 2007): 362-366.

Anna Maria Gentili, "Staying Power: il Frelimo dal marxismo al liberismo: Costruzione dello stato-nazione e ruolo del movimento di liberazione nel Mozambico post-coloniale," _Afriche e Oriente_ anno 8, numero speciale 1 (2006): 5-28.

M. Cristina Ercolessi, "Stato-partito dell'MPLA e nomenklatura nell'Angola degli anni '90," _Afriche e Oriente_ anno 8, numero speciale 1 (2006): 29-48.

Ian Taylor, _China and Africa: Engagement and Compromise_ . London; New York: Routledge, 2006. Two chapters focus on Angola and Mozambique.

Zarina Maharaj, _Dancing to a Different Rhythm: A Memoir_, Cape Town: Zebra Press, 2006; includes a couple of chapters dealing with her experience in the late 1970s teaching math at the Universidade Eduardo Mondlane and living in Maputo with other South African exiles (see especially pages 86-130).

OTHER

Announcement

The Encyclopedia of Race and Racism is looking for someone to write a 3000 word (approx. 12 page) entry on race and racism in the ex-Portuguese colonies in Africa. The deadline is extremely tight -April 16, 2007. Their scope for the entry appears below. If you are interested or want further information, please write directly to Rachel Kain, Project Editor, Macmillan Reference USA at gale.encyofraceandracism@thomson.com

Africa: Portuguese Colonies
Scope:
Please describe any racial tensions which existed in the regions of Africa which were colonized by Portugal and how that situation changed with the coming of Europeans.
How did the racial situation evolve through the period of colonialism up to the independence movements of the 1950s and 60s?
What further evolution has occurred until now?
Describe groups and political parties which were organized on a racial basis.
Due Date: April 16, 2007
Assigned Words: 3000
Honorarium Amount: $390.00

Compiled by Kathleen Sheldon(UCLA/ H-Net Discussion List)

Illustration: "Encyclopedia of Pleasure" (Ghada Amer, Egypt)

Friday 16 March 2007

AINDA SOBRE O "DIA DA MULHER ANGOLANA"

Segundo o Semanário Angolense (edição de 10-17/03/07), «a deputada do MPLA Ruth Neto afirmou recentemente em declarações ao programa "Café da Manhã" da estação radiofónica luandense LAC que Deolinda Rodrigues, afinal, não morreu nada a 2 de Março de 1969, como sempre nos foi impingido pelo actual partido no poder. Ruth Neto disse ainda que o próprio MPLA não sabe sequer quando ela e as suas companheiras foram efectivamente mortas, devendo isso ser cobrado aos dirigentes da UPA/FNLA. Estas revelações da deputada, que pecam por tardias, podem levar ao questionamento de outras datas tidas como relevantes para a história daquele antigo movimento de libertação nacional e, por arrasto, dadas as circunstâncias, para a história do país. Mas, como esta não pode ser feita de mentiras, será necessário a coragem doutras "Ruth’s" para o questionamento em busca da verdade verdadeira, antes que ela seja escrita em definitivo.»
Segundo o Semanário Angolense (edição de 10-17/03/07), «a deputada do MPLA Ruth Neto afirmou recentemente em declarações ao programa "Café da Manhã" da estação radiofónica luandense LAC que Deolinda Rodrigues, afinal, não morreu nada a 2 de Março de 1969, como sempre nos foi impingido pelo actual partido no poder. Ruth Neto disse ainda que o próprio MPLA não sabe sequer quando ela e as suas companheiras foram efectivamente mortas, devendo isso ser cobrado aos dirigentes da UPA/FNLA. Estas revelações da deputada, que pecam por tardias, podem levar ao questionamento de outras datas tidas como relevantes para a história daquele antigo movimento de libertação nacional e, por arrasto, dadas as circunstâncias, para a história do país. Mas, como esta não pode ser feita de mentiras, será necessário a coragem doutras "Ruth’s" para o questionamento em busca da verdade verdadeira, antes que ela seja escrita em definitivo.»

A PROPÓSITO DO 15 DE MARÇO

Está agendado para hoje, em Luanda, o acto central comemorativo dos 46 anos sobre a data de 15 de Março de 1961, a ser presidido por Holden Roberto, presidente da FNLA. A propósito da efeméride, aqui fica o registo de declarações prestadas à VOA por Ngola Kabangu, um dos dirigentes daquele partido.

««Sob o nome de código "A filha do senhor Nogueira casa-se no dia 15 de Março de 1961", a União das Populações de Angola (UPA) iniciava o ataque armado de maior impacto contra o sistema de dominação colonial português em Angola. Embora a propaganda hostil lhe dê um cunho racial e tribal, na opinião de Ngola Kabangu, segundo vice-presidente da FNLA, sucedânea da UPA, na verdade o ataque tinha um objectivo bem definido e dele participaram milhares de guerrilheiros:

“A luta transbordou o norte geográfico e não o norte etno-linguístico, atingiu os arredores de Luanda ali onde está a nona esquadra junto ao Roque Santeiro, ali no Asa Branca as acções dos nossos guerrilheiros se fizeram sentir. Na parte sul as acções da guerrilha chegaram a Calulo, Quibala, Libolo e iam em direcção ao planalto. A acção do 15 de Março de 1961 atingiu uma boa parte do território que hoje é Angola e foi uma acção de grande envergadura que envolveu milhares de patriotas e, por isso é que o consideramos como o início do fim do império colonial português."

"Foi a partir dos anos 50 que a União dos Povos do Norte de Angola (UPNA, antecessora da UPA), criada em 1954, começou o trabalho de consciencialização política. O inesquecível Barros Nekaka Sidney a pretexto de ir a Luanda renovar o seu bilhete de identidade contactou grandes patriotas como Víctor de Carvalho, João Viegas, Pereira Inglês, António da Costa Kimpiololo e trouxe a semente da luta e inciou um trabalho de consciencialização, cujo impulsionador foi o cónego Manuel da Neves. Todo esse engajamento de Barros Nekaka viria a ter reflexão ainda nas acções de 4 de Janeiro e 4 de Fevereiro de 1961, conformando uma jornada de luta nacional organizada do ponto de vista político e militar."

"Por isso é que nós apelamos a consciência de todos os patriotas angolanos independentemente da sua filiação política para que o 15 de Março seja proclamado feriado nacional pela Assembleia Nacional, que só vai dignificar o povo angolano, só vai respeitar a história, só vai transmitir uma mensagem positiva às gerações vindouras".»»

(Foto: Capa de "Angola Freedom Songs - UPA Fighters", Smithonian Folkway Records, 1962)
Está agendado para hoje, em Luanda, o acto central comemorativo dos 46 anos sobre a data de 15 de Março de 1961, a ser presidido por Holden Roberto, presidente da FNLA. A propósito da efeméride, aqui fica o registo de declarações prestadas à VOA por Ngola Kabangu, um dos dirigentes daquele partido.

««Sob o nome de código "A filha do senhor Nogueira casa-se no dia 15 de Março de 1961", a União das Populações de Angola (UPA) iniciava o ataque armado de maior impacto contra o sistema de dominação colonial português em Angola. Embora a propaganda hostil lhe dê um cunho racial e tribal, na opinião de Ngola Kabangu, segundo vice-presidente da FNLA, sucedânea da UPA, na verdade o ataque tinha um objectivo bem definido e dele participaram milhares de guerrilheiros:

“A luta transbordou o norte geográfico e não o norte etno-linguístico, atingiu os arredores de Luanda ali onde está a nona esquadra junto ao Roque Santeiro, ali no Asa Branca as acções dos nossos guerrilheiros se fizeram sentir. Na parte sul as acções da guerrilha chegaram a Calulo, Quibala, Libolo e iam em direcção ao planalto. A acção do 15 de Março de 1961 atingiu uma boa parte do território que hoje é Angola e foi uma acção de grande envergadura que envolveu milhares de patriotas e, por isso é que o consideramos como o início do fim do império colonial português."

"Foi a partir dos anos 50 que a União dos Povos do Norte de Angola (UPNA, antecessora da UPA), criada em 1954, começou o trabalho de consciencialização política. O inesquecível Barros Nekaka Sidney a pretexto de ir a Luanda renovar o seu bilhete de identidade contactou grandes patriotas como Víctor de Carvalho, João Viegas, Pereira Inglês, António da Costa Kimpiololo e trouxe a semente da luta e inciou um trabalho de consciencialização, cujo impulsionador foi o cónego Manuel da Neves. Todo esse engajamento de Barros Nekaka viria a ter reflexão ainda nas acções de 4 de Janeiro e 4 de Fevereiro de 1961, conformando uma jornada de luta nacional organizada do ponto de vista político e militar."

"Por isso é que nós apelamos a consciência de todos os patriotas angolanos independentemente da sua filiação política para que o 15 de Março seja proclamado feriado nacional pela Assembleia Nacional, que só vai dignificar o povo angolano, só vai respeitar a história, só vai transmitir uma mensagem positiva às gerações vindouras".»»

(Foto: Capa de "Angola Freedom Songs - UPA Fighters", Smithonian Folkway Records, 1962)

Thursday 15 March 2007

Tuesday 13 March 2007

MY DEBUT @ AFRICANPATH'S GUEST BLOGGER SERIES


I've gladly decided to oblige to a kind invitation by Joshua Wanyama, AfricanPath's Editor, to participate in his site as Guest Blogger. So, from now on, once in a while I will be "outblogging" there. My first post went up today and is entitled "Are We All Losing The Plot?". It can be accessed and commented both at AfricanPath and Here.


N.B.: I decided to bring back this post to the front page because it just received a most welcome and thought-provoking comment by Connie Hilliard - Professor of African History at the University of North Texas, USA.


I've gladly decided to oblige to a kind invitation by Joshua Wanyama, AfricanPath's Editor, to participate in his site as Guest Blogger. So, from now on, once in a while I will be "outblogging" there. My first post went up today and is entitled "Are We All Losing The Plot?". It can be accessed and commented both at AfricanPath and Here.


N.B.: I decided to bring back this post to the front page because it just received a most welcome and thought-provoking comment by Connie Hilliard - Professor of African History at the University of North Texas, USA.

Friday 9 March 2007

ON WOMEN'S MONTH, CELEBRATING WOMEN'S POETRY: I. MAYA ANGELOU

Maya Angelou: a poet, writer, actress, director, playwright, civil rights activist, composer, polyglot. So many different terms describing one person only. A true Renaissance woman. She went through the mill from a black little girl discriminated against in the white society to an artist respected in the whole world, from childhood marked by traumatic experiences to adulthood filled with wisdom and good. Maya Angelou impresses with her inner strength and self-awareness, and draws attention of bigger and bigger masses of readers and fans. She is author of ten best-selling books and laureate of many awards from different fields. She received fifty honorary degrees from various colleges.

Maya Angelou was born Marguerite Johnson in St. Louis, Missouri, on April 4, 1928. She grew up in St. Louis and Stamps, Arkansas. She is best known for her autobiographical books: All God's Children Need Traveling Shoes (1986), The Heart of a Woman (1981), Singin' and Swingin' and Gettin' Merry Like Christmas (1976), Gather Together in My Name (1974), and I Know Why the Caged Bird Sings (1969), which was nominated for the National Book Award.

Among her volumes of poetry are A Brave and Startling Truth (Random House, 1995), The Complete Collected Poems of Maya Angelou (1994), Wouldn't Take Nothing for My Journey Now (1993), Now Sheba Sings the Song (1987), I Shall Not Be Moved (1990), Shaker, Why Don't You Sing? (1983), Oh Pray My Wings Are Gonna Fit Me Well (1975), and Just Give Me a Cool Drink of Water 'fore I Diiie (1971), which was nominated for the Pulitzer prize.

In 1959, at the request of Dr. Martin Luther King Jr., Maya Angelou became the northern coordinator for the Southern Christian Leadership Conference. From 1961 to 1962 she was associate editor of The Arab Observer in Cairo, Egypt, the only English-language news weekly in the Middle East, and from 1964 to 1966 she was feature editor of the African Review in Accra, Ghana. She returned to the U.S. in 1974 and was appointed by Gerald Ford to the Bicentennial Commission and later by Jimmy Carter to the Commission for International Woman of the Year. She accepted a lifetime appointment in 1981 as Reynolds Professor of American Studies at Wake Forest University in Winston-Salem, North Carolina. In 1993, Angelou wrote and delivered a poem, "On The Pulse of the Morning," at the inauguration for President Bill Clinton at his request.

The first black woman director in Hollywood, Angelou has written, produced, directed, and starred in productions for stage, film, and television. In 1971, she wrote the original screenplay and musical score for the film Georgia, Georgia, and was both author and executive producer of a five-part television miniseries "Three Way Choice." She has also written and produced several prize-winning documentaries, including "Afro-Americans in the Arts," a PBS special for which she received the Golden Eagle Award. Maya Angelou was twice nominated for a Tony award for acting: once for her Broadway debut in Look Away (1973), and again for her performance in Roots (1977).

Sources: various
Maya Angelou: a poet, writer, actress, director, playwright, civil rights activist, composer, polyglot. So many different terms describing one person only. A true Renaissance woman. She went through the mill from a black little girl discriminated against in the white society to an artist respected in the whole world, from childhood marked by traumatic experiences to adulthood filled with wisdom and good. Maya Angelou impresses with her inner strength and self-awareness, and draws attention of bigger and bigger masses of readers and fans. She is author of ten best-selling books and laureate of many awards from different fields. She received fifty honorary degrees from various colleges.

Maya Angelou was born Marguerite Johnson in St. Louis, Missouri, on April 4, 1928. She grew up in St. Louis and Stamps, Arkansas. She is best known for her autobiographical books: All God's Children Need Traveling Shoes (1986), The Heart of a Woman (1981), Singin' and Swingin' and Gettin' Merry Like Christmas (1976), Gather Together in My Name (1974), and I Know Why the Caged Bird Sings (1969), which was nominated for the National Book Award.

Among her volumes of poetry are A Brave and Startling Truth (Random House, 1995), The Complete Collected Poems of Maya Angelou (1994), Wouldn't Take Nothing for My Journey Now (1993), Now Sheba Sings the Song (1987), I Shall Not Be Moved (1990), Shaker, Why Don't You Sing? (1983), Oh Pray My Wings Are Gonna Fit Me Well (1975), and Just Give Me a Cool Drink of Water 'fore I Diiie (1971), which was nominated for the Pulitzer prize.

In 1959, at the request of Dr. Martin Luther King Jr., Maya Angelou became the northern coordinator for the Southern Christian Leadership Conference. From 1961 to 1962 she was associate editor of The Arab Observer in Cairo, Egypt, the only English-language news weekly in the Middle East, and from 1964 to 1966 she was feature editor of the African Review in Accra, Ghana. She returned to the U.S. in 1974 and was appointed by Gerald Ford to the Bicentennial Commission and later by Jimmy Carter to the Commission for International Woman of the Year. She accepted a lifetime appointment in 1981 as Reynolds Professor of American Studies at Wake Forest University in Winston-Salem, North Carolina. In 1993, Angelou wrote and delivered a poem, "On The Pulse of the Morning," at the inauguration for President Bill Clinton at his request.

The first black woman director in Hollywood, Angelou has written, produced, directed, and starred in productions for stage, film, and television. In 1971, she wrote the original screenplay and musical score for the film Georgia, Georgia, and was both author and executive producer of a five-part television miniseries "Three Way Choice." She has also written and produced several prize-winning documentaries, including "Afro-Americans in the Arts," a PBS special for which she received the Golden Eagle Award. Maya Angelou was twice nominated for a Tony award for acting: once for her Broadway debut in Look Away (1973), and again for her performance in Roots (1977).

Sources: various

ANGOLA, PETROLEO E ECONOMIA POS-CONFLITO: QUE FAZER?

Prometi aqui ha tempos publicar aqui o artigo "Angola, Petroleo e Economia Pos-Conflito: Que Fazer", que escrevi em meados do ano passado e que foi inicialmente publicado no Semanario Angolense, tendo posteriormente sido reproduzido na revista Figuras e Negocios e re-publicado, numa nova versao, na Antologia de 2007 do Conselho Noruegues para Africa.
Um recente comentario, bastante bem elaborado devo dizer, de um visitante Anonimo deste blog sugeriu-me que talvez seja esta a altura mais oportuna para cumprir o prometido. O comentario, inicialmente feito aqui, e' o que se segue:


"Anonymous said...

Bato, Koluki: Obrigada pelos comentarios positivos.

E estimulante trocar este tipo de ideais, ver a vossa motivacao, os bonitos exemplos dados. No fundo quem sabe o desejo de mudanca esteja tambem a flor da pele de pessoas com que nao contamos. Os do poder?!

Como disse a mudanca para melhor e trabalho de todos e manter as coisas melhoradas sera tambem trabalho de todos, e sera um trabalho permanente.

Mudanca da Noite para o Dia. Como consegui-la?
Existe um individuo em Angola com o poder para fazer o seguinte:

1) Contractar um grupo de conselheiros e elaborar e executar um plano de desenvolvimento economico para a capital e as provincias. Incluindo construcao de hospitais, escolas, universidades, centros tecnicos e de investigacao, habitacoes, criar um sistema de financiamento e treino para pequenos investidores Angolanos, construcao e manutencao de museus, centros de recriacao, construcao de estradas e de auto-estradas, criar centros agro-pecuarios, construcao e manutencao de barragens para abastecimento electrico etc, etc.

2) Estabelecer tabelas salariais que permitam aos Angolanos viverem dos seus salarios com dignidade (incluindo todos desde o varredor de rua ao primeiro ministro).

3) Dar preferencia a profissionais e aos trabalhadores Angolanos e em areas em que nao tivermos peritos, procura-los no mercado internacional pagando apenas o necessario/o que o mercado oferece (ate certo ponto o pagamento de balurdios a certos co-operantes estrangeiros preferencialmente aos de raca branca e reflexo de um certo complexo de inferioridade que muitos lideres ainda possuem), treinarmos e incentivarmos Angolanos para obterem conhecimentos nas areas em que carecermos de peritos.

4) Criar e executar um plano para o regresso de Angolanos no exterior em condicoes de dignidade.

5) Promover progamas de educacao social com os objectivos de nos ajudar a superar o trauma do colonialismo, esclarecer a importancia da estabilidade familiar, combate ao alcolismo, prostituicao, sida, etc, etc.Acredito que Angola possua recursos naturais e humanos suficientes para terminar com o ciclo vicioso e comecar o ciclo virtuoso! E existe uma pessoa com poder de iniciar um processo desta natureza tudo o que necessitaria como caracteristicas pessoais seriam a. vontade, b. visao, c. lideranca. Se essa pessoa acordasse um dia com a vontade para o fazer (so precisa de contratar as pessoas certas e de as despedir se depois de lhes ter posto a disposicao os recursos necessarios e ter dado um periodo de tempo razoavel, os resultados nao fossem atingidos).

E claro que a reconstrucao de Angola ira levar anos, mas a beleza a qual eu chamo mudanca DA NOITE PARA O DIA esta exactamente no processo, em si. Koluki, imagine so se voce acordasse amanha e recebesse um convite para fazer parte da equipa de conselheiros economicos. E claro, o trabalho nao seria concluido num dia. Mas a mudanca ocurreria no momento em que comecasse a trabalhar com um objectivo de ajudar a criar uma Nacao digna!

Imaginem acordar pela manha e ouvir na radio em Luanda que o ministerio da construcao com a participacao ira implementar um plano de construcao de habitacoes na areas perifericas de Luanda em que cada familia que enlistasse como aprendizes de pedreiros por um ano cinco jovens por exemplo, tivesse o direito de comprar uma casa a precos acessiveis/com financiamento subsidiado se necessario. Nao so os jovens estariam ocupados a aprender algo de util mas tambem de forma pratica a ajudar a resolver problemas de habitacao.

Imagine comerciais televisivos feitos com as misses Angola de varias idades a anunciarem como e bom e saudavel ser bonita e como pode ser humilhante destruidor do amor proprio servir de objecto sexual(especialmente de homens velhos e feios!). Mostrar comerciais com varios homens com aparencias de elite a morrer de sida. Algo de bem chocante com a dor o estigma, sofrimento que o sida produz. E no final perguntar e isso que voce quer para si?Programas televisivos com estorias de preferencia reais de familias felizes demonstrando como os valores morais lhes ajudam a manter essa felicidade.

Por a Bato como membro do grupo de planeamento dos programas ocupacionais para os jovens.

Acredito, sim que Angola podera mudar Da NOITE PARA O DIA, mas infelizmente nao com o lider que temos a. nao tem a vontade, b. nao tem a visao, c. nao tem a capacidade de lideranca necessaria, para tal!

Tenham um bom dia."

Proponho entao aos meus queridos amigos e amigas que por aqui passam, todos os dias ou so' de vez em quando, que considerem estas propostas em conjunto com o artigo em anexo e digam de sua justica o que acham poderiam ser as melhores, ou apenas possiveis, solucoes para os prubulemas que estamos cum eles...

Os meus agradecimentos antecipados pelos vossos comentarios.
Prometi aqui ha tempos publicar aqui o artigo "Angola, Petroleo e Economia Pos-Conflito: Que Fazer", que escrevi em meados do ano passado e que foi inicialmente publicado no Semanario Angolense, tendo posteriormente sido reproduzido na revista Figuras e Negocios e re-publicado, numa nova versao, na Antologia de 2007 do Conselho Noruegues para Africa.
Um recente comentario, bastante bem elaborado devo dizer, de um visitante Anonimo deste blog sugeriu-me que talvez seja esta a altura mais oportuna para cumprir o prometido. O comentario, inicialmente feito aqui, e' o que se segue:


"Anonymous said...

Bato, Koluki: Obrigada pelos comentarios positivos.

E estimulante trocar este tipo de ideais, ver a vossa motivacao, os bonitos exemplos dados. No fundo quem sabe o desejo de mudanca esteja tambem a flor da pele de pessoas com que nao contamos. Os do poder?!

Como disse a mudanca para melhor e trabalho de todos e manter as coisas melhoradas sera tambem trabalho de todos, e sera um trabalho permanente.

Mudanca da Noite para o Dia. Como consegui-la?
Existe um individuo em Angola com o poder para fazer o seguinte:

1) Contractar um grupo de conselheiros e elaborar e executar um plano de desenvolvimento economico para a capital e as provincias. Incluindo construcao de hospitais, escolas, universidades, centros tecnicos e de investigacao, habitacoes, criar um sistema de financiamento e treino para pequenos investidores Angolanos, construcao e manutencao de museus, centros de recriacao, construcao de estradas e de auto-estradas, criar centros agro-pecuarios, construcao e manutencao de barragens para abastecimento electrico etc, etc.

2) Estabelecer tabelas salariais que permitam aos Angolanos viverem dos seus salarios com dignidade (incluindo todos desde o varredor de rua ao primeiro ministro).

3) Dar preferencia a profissionais e aos trabalhadores Angolanos e em areas em que nao tivermos peritos, procura-los no mercado internacional pagando apenas o necessario/o que o mercado oferece (ate certo ponto o pagamento de balurdios a certos co-operantes estrangeiros preferencialmente aos de raca branca e reflexo de um certo complexo de inferioridade que muitos lideres ainda possuem), treinarmos e incentivarmos Angolanos para obterem conhecimentos nas areas em que carecermos de peritos.

4) Criar e executar um plano para o regresso de Angolanos no exterior em condicoes de dignidade.

5) Promover progamas de educacao social com os objectivos de nos ajudar a superar o trauma do colonialismo, esclarecer a importancia da estabilidade familiar, combate ao alcolismo, prostituicao, sida, etc, etc.Acredito que Angola possua recursos naturais e humanos suficientes para terminar com o ciclo vicioso e comecar o ciclo virtuoso! E existe uma pessoa com poder de iniciar um processo desta natureza tudo o que necessitaria como caracteristicas pessoais seriam a. vontade, b. visao, c. lideranca. Se essa pessoa acordasse um dia com a vontade para o fazer (so precisa de contratar as pessoas certas e de as despedir se depois de lhes ter posto a disposicao os recursos necessarios e ter dado um periodo de tempo razoavel, os resultados nao fossem atingidos).

E claro que a reconstrucao de Angola ira levar anos, mas a beleza a qual eu chamo mudanca DA NOITE PARA O DIA esta exactamente no processo, em si. Koluki, imagine so se voce acordasse amanha e recebesse um convite para fazer parte da equipa de conselheiros economicos. E claro, o trabalho nao seria concluido num dia. Mas a mudanca ocurreria no momento em que comecasse a trabalhar com um objectivo de ajudar a criar uma Nacao digna!

Imaginem acordar pela manha e ouvir na radio em Luanda que o ministerio da construcao com a participacao ira implementar um plano de construcao de habitacoes na areas perifericas de Luanda em que cada familia que enlistasse como aprendizes de pedreiros por um ano cinco jovens por exemplo, tivesse o direito de comprar uma casa a precos acessiveis/com financiamento subsidiado se necessario. Nao so os jovens estariam ocupados a aprender algo de util mas tambem de forma pratica a ajudar a resolver problemas de habitacao.

Imagine comerciais televisivos feitos com as misses Angola de varias idades a anunciarem como e bom e saudavel ser bonita e como pode ser humilhante destruidor do amor proprio servir de objecto sexual(especialmente de homens velhos e feios!). Mostrar comerciais com varios homens com aparencias de elite a morrer de sida. Algo de bem chocante com a dor o estigma, sofrimento que o sida produz. E no final perguntar e isso que voce quer para si?Programas televisivos com estorias de preferencia reais de familias felizes demonstrando como os valores morais lhes ajudam a manter essa felicidade.

Por a Bato como membro do grupo de planeamento dos programas ocupacionais para os jovens.

Acredito, sim que Angola podera mudar Da NOITE PARA O DIA, mas infelizmente nao com o lider que temos a. nao tem a vontade, b. nao tem a visao, c. nao tem a capacidade de lideranca necessaria, para tal!

Tenham um bom dia."

Proponho entao aos meus queridos amigos e amigas que por aqui passam, todos os dias ou so' de vez em quando, que considerem estas propostas em conjunto com o artigo em anexo e digam de sua justica o que acham poderiam ser as melhores, ou apenas possiveis, solucoes para os prubulemas que estamos cum eles...

Os meus agradecimentos antecipados pelos vossos comentarios.

Tuesday 6 March 2007

SONA, DESENHOS NA AREIA

Instigada pelas questoes levantadas pelo post anterior sobre os desenhos geometricos Sona, decidi fazer uma busca na internet sobre o livro "Sona, Desenhos na Areia", das Norueguesas Unni Skogen e Sonja Skaug, que tera' servido de base 'as obras desta ultima apresentadas na exposicao em curso na Galeria Celamar, 'a Ilha de Luanda, entitulada "Restituições Bantu, Versões Escandinavas". Da unica referencia que encontrei, e ainda na expectativa de mais informacoes sobre as alegacoes aqui feitas sobre o livro, reproduzo extractos de um artigo da edicao comemorativa dos 30 anos da Independencia de Angola da publicacao "Sonangol Universo", cujo link podera' encontrar mais abaixo.

As Angolans embark upon a new era of optimism, a precious part of their heritage communicating timeless realities is set for a revival

Flicking through the pages of a new book on Angola’s traditional sand drawings, the
uninitiated would never believe they were viewing an artform dating back more than 300 years. Stylish and clean cut, these mono-linear designs would surely grace the walls of any modern-day gallery or art-lover’s plush apartment. Simplistic yet stunning, they catch the eye and capture the imagination. These sand drawings, revealed in the recently published Sona - Desenhos na Areia (drawings in the sand), have gripped the artistic community and captivated those who appreciate their
straightforward charm. But perhaps more importantly, they are a key to unlocking a rich segment of Angola’s history at a time when the country is re-establishing its own identity, 30 years after its independence from Portugal.

“This is a great civilisation which we are trying to wake up,” says Unni Skogen, an anthropologist, designer and co-author of the book, sponsored by Norsk Hydro – with photographs and images beautifully recreated by ceramic artist Sonja Alvaern Skaug, which have reignited interest in this rich chapter of Angola’s culture. Sona sand drawings (Lusona) are native to the Chokwe people, of which an estimated 500,000 live in Angola’s eastern provinces of Lunda Norte and Lunda Sul. Striking in their elegance, the illustrations disclose a much deeper form of communication, encompassing traditional rituals, problem-solving techniques and ancient legends of Angola. Even today, they remain a key adjunct to Angola’s age-old tradition of storytelling and a vital tool in educating local communities of the region. The drawings themselves, according to Mrs Skogen, are not dissimilar to Celtic knot designs, the geometric algorithms used by the ancient Egyptians, the mono-linear images drawn in Mesopotamia and by the Tamils in India. But she maintains that the Sona created by the Chokwe people, regarded as the main developers of the sand drawing tradition, are some of the finest around. “I believe the Chokwe people are the best in the world at this technique,” Mrs Skogen says. “Their drawings are very sophisticated. They produce beautiful designs, but they also reveal fascinating stories. This is one of the treasures of Angolan culture and finding out about this was a fantastic journey into the country’s distant heritage.”

Americo Kwononoka, the director of the National Museum of Anthropology in Luanda, is thrilled that a new window to this ancient culture has been opened. “Many people presume that African people in the past could not read or write, but this is simply not true. Methods like Sona were their way of communicating the reality,” he explains. “The word Sona in the Chokwe language means ‘letters’ – both language and literature.” But it would be wrong to consign Sona to the history books. Even today, Sona is a means of conveying the vibrant tales, myths, sayings and proverbs of the Chokwe culture and forms a cornerstone for training young men to take up their social roles at the heart of the community.

For David Alexandre Mwa-Mudiandu, a member of the Chokwe ethnic group, this is the period of intense schooling for young boys, when they are circumcised and garner all the knowledge they must have to hand before they can truly call themselves men, which is central to the Chokwe culture. Crouching down on one knee, Mr Mwa-Mudiandu slowly and methodically creates the lusona which depicts this essential ritual, known as Mukanda. Taking care not to smudge his progress, he draws his index finger in a sweeping circular motion, never once lifting it from the sand. As the illustration takes shape, Mr Mwa-Mudiandu, who works at the anthropological museum and has spent 13 years probing the messages behind his community’s stunning art, explains the legend of Xafwanandenda, the first boy to be circumcised.

The Mukanda ritual, according to Mr Mwa-Mudiandu, remains very strong and encompasses much more than abstract ideas about circumcision and fertility. “Today, the young men go to the Mukanda school to learn about life,” says Mr Mwa-Mudiandu. “In an oral way – not written – they are taught how to dance, how to behave, how to live. The school is designed to unite youth, creating a good harmony and understanding between them, and allowing them to profit from good sources of information and education.” It is during this rigorous Mukanda schooling that the boys pick up the basics of the Sona, but the true sand drawings experts, known as the Akwa kuta sona, are members of highly-esteemed elite, practising the knowledge handed down by their fathers and grandfathers before them.

The Akwa kuta sona smooth out the ground and relay the stories – be that in response to a question, an answer to a problem, a lesson, or purely for entertainment –as they slowly draw the line. “Then, when the story is finished, it is swept away as a way to protect knowledge and maintain the monopoly of the Sona tradition,” Mrs Skogen explains. However, this mystique threatens the very existence of the Sona. “It’s a great pity that most people, even the Chokwe, don’t know too much about this great art because it was passed down mainly by memory. The sand drawing experts were part of a social elite, so a select few who practised the knowledge handed it down through generations,” she says. Yet it seems the Sona sand drawings are set for a new lease of life. Thanks in part to the book, which reproduces some 60 drawings from around 350 which are known to exist, the tradition has sparked great excitement among the country’s artists and culture-lovers, many of whom were previously unaware of this fascinating
part of their history.

“I had never before heard the word Sona, but when I saw the images I realised that I had to go deeper into African art,” says artist Capitao da Silva, known as Hypo. Barely concealing his excitement, Hypo is enjoying the new inspiration unleashed by the Sona rediscovery. “These sand drawings are the people’s culture. They speak about the reality of life in Angola. They are not created or imagined. No one is dreaming this up,” he says. “The Sona is the real life of the Chokwe people.” Hypo was one of more than 120 artists who participated in a recent Norsk Hydro sponsored competition to create works of art – paintings, sculpture, collages or photographs – using the Chokwe culture as stimulation. His painting, symbolising virginity and its loss, was one of 13 images which will be part of a calendar for 2006. “Each artist gets inspiration in his own way, but all artists agree that reality is very important. There are no lies here; no-one is imagining this culture. It is very real,” he says. “This book is very precious,” he adds, hugging it to his chest, “because it is the renovation of a culture, and a populace without culture is dead.”

Mwana Pwo e Mpovo by Hypo (Capitao da Silva) is, in fact, two pictures displayed together which charmed the judges in the recent Norsk Hydro competition to find 13 images for a 2006 calendar based on the Chokwe Sona culture. The art draws on the Chokwe values of purity and chastity with the first yellow swirl depicting a virgin. She is pure, as represented by the white dots and the yellow. But by the second image, the picture is bloodied with red
and the dots are black. “I have created here my own version of a woman, not exactly the way in which the Chokwe represent women, but a new way through my own expression,” Hypo explains. “The painting is mono-linear like the
Sona and, also like the Sona, there is an important message behind it,” he says. “I created it myself, it is my own, but the inspiration comes from the Sona. If young girls are confused, this can be used as a message, advising them to hold on to their virginity. In Chokwe culture, there is a lot of respect for virgins and it is a tremendous honour to marry a virgin,” Hypo explains.

Back at the museum, Mr Kwononoka is glad to hear that this tradition looks set to live on. Though a Luanda resident for more than 25 years, he is of Chokwe origin and can speak, read and write in his mother language. “But I can’t do the drawings,” he sighs. “The fact that these rich and varied stories are not permanent adds to their mystery, but for me personally it is important that this form of our culture continues,” he says. “This form of education and communication must not die.”

SONANGOL UNIVERSO

Other Sources of Information on Sona:

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Mirror Curves & Permutations

Exploratorium

Instigada pelas questoes levantadas pelo post anterior sobre os desenhos geometricos Sona, decidi fazer uma busca na internet sobre o livro "Sona, Desenhos na Areia", das Norueguesas Unni Skogen e Sonja Skaug, que tera' servido de base 'as obras desta ultima apresentadas na exposicao em curso na Galeria Celamar, 'a Ilha de Luanda, entitulada "Restituições Bantu, Versões Escandinavas". Da unica referencia que encontrei, e ainda na expectativa de mais informacoes sobre as alegacoes aqui feitas sobre o livro, reproduzo extractos de um artigo da edicao comemorativa dos 30 anos da Independencia de Angola da publicacao "Sonangol Universo", cujo link podera' encontrar mais abaixo.

As Angolans embark upon a new era of optimism, a precious part of their heritage communicating timeless realities is set for a revival

Flicking through the pages of a new book on Angola’s traditional sand drawings, the
uninitiated would never believe they were viewing an artform dating back more than 300 years. Stylish and clean cut, these mono-linear designs would surely grace the walls of any modern-day gallery or art-lover’s plush apartment. Simplistic yet stunning, they catch the eye and capture the imagination. These sand drawings, revealed in the recently published Sona - Desenhos na Areia (drawings in the sand), have gripped the artistic community and captivated those who appreciate their
straightforward charm. But perhaps more importantly, they are a key to unlocking a rich segment of Angola’s history at a time when the country is re-establishing its own identity, 30 years after its independence from Portugal.

“This is a great civilisation which we are trying to wake up,” says Unni Skogen, an anthropologist, designer and co-author of the book, sponsored by Norsk Hydro – with photographs and images beautifully recreated by ceramic artist Sonja Alvaern Skaug, which have reignited interest in this rich chapter of Angola’s culture. Sona sand drawings (Lusona) are native to the Chokwe people, of which an estimated 500,000 live in Angola’s eastern provinces of Lunda Norte and Lunda Sul. Striking in their elegance, the illustrations disclose a much deeper form of communication, encompassing traditional rituals, problem-solving techniques and ancient legends of Angola. Even today, they remain a key adjunct to Angola’s age-old tradition of storytelling and a vital tool in educating local communities of the region. The drawings themselves, according to Mrs Skogen, are not dissimilar to Celtic knot designs, the geometric algorithms used by the ancient Egyptians, the mono-linear images drawn in Mesopotamia and by the Tamils in India. But she maintains that the Sona created by the Chokwe people, regarded as the main developers of the sand drawing tradition, are some of the finest around. “I believe the Chokwe people are the best in the world at this technique,” Mrs Skogen says. “Their drawings are very sophisticated. They produce beautiful designs, but they also reveal fascinating stories. This is one of the treasures of Angolan culture and finding out about this was a fantastic journey into the country’s distant heritage.”

Americo Kwononoka, the director of the National Museum of Anthropology in Luanda, is thrilled that a new window to this ancient culture has been opened. “Many people presume that African people in the past could not read or write, but this is simply not true. Methods like Sona were their way of communicating the reality,” he explains. “The word Sona in the Chokwe language means ‘letters’ – both language and literature.” But it would be wrong to consign Sona to the history books. Even today, Sona is a means of conveying the vibrant tales, myths, sayings and proverbs of the Chokwe culture and forms a cornerstone for training young men to take up their social roles at the heart of the community.

For David Alexandre Mwa-Mudiandu, a member of the Chokwe ethnic group, this is the period of intense schooling for young boys, when they are circumcised and garner all the knowledge they must have to hand before they can truly call themselves men, which is central to the Chokwe culture. Crouching down on one knee, Mr Mwa-Mudiandu slowly and methodically creates the lusona which depicts this essential ritual, known as Mukanda. Taking care not to smudge his progress, he draws his index finger in a sweeping circular motion, never once lifting it from the sand. As the illustration takes shape, Mr Mwa-Mudiandu, who works at the anthropological museum and has spent 13 years probing the messages behind his community’s stunning art, explains the legend of Xafwanandenda, the first boy to be circumcised.

The Mukanda ritual, according to Mr Mwa-Mudiandu, remains very strong and encompasses much more than abstract ideas about circumcision and fertility. “Today, the young men go to the Mukanda school to learn about life,” says Mr Mwa-Mudiandu. “In an oral way – not written – they are taught how to dance, how to behave, how to live. The school is designed to unite youth, creating a good harmony and understanding between them, and allowing them to profit from good sources of information and education.” It is during this rigorous Mukanda schooling that the boys pick up the basics of the Sona, but the true sand drawings experts, known as the Akwa kuta sona, are members of highly-esteemed elite, practising the knowledge handed down by their fathers and grandfathers before them.

The Akwa kuta sona smooth out the ground and relay the stories – be that in response to a question, an answer to a problem, a lesson, or purely for entertainment –as they slowly draw the line. “Then, when the story is finished, it is swept away as a way to protect knowledge and maintain the monopoly of the Sona tradition,” Mrs Skogen explains. However, this mystique threatens the very existence of the Sona. “It’s a great pity that most people, even the Chokwe, don’t know too much about this great art because it was passed down mainly by memory. The sand drawing experts were part of a social elite, so a select few who practised the knowledge handed it down through generations,” she says. Yet it seems the Sona sand drawings are set for a new lease of life. Thanks in part to the book, which reproduces some 60 drawings from around 350 which are known to exist, the tradition has sparked great excitement among the country’s artists and culture-lovers, many of whom were previously unaware of this fascinating
part of their history.

“I had never before heard the word Sona, but when I saw the images I realised that I had to go deeper into African art,” says artist Capitao da Silva, known as Hypo. Barely concealing his excitement, Hypo is enjoying the new inspiration unleashed by the Sona rediscovery. “These sand drawings are the people’s culture. They speak about the reality of life in Angola. They are not created or imagined. No one is dreaming this up,” he says. “The Sona is the real life of the Chokwe people.” Hypo was one of more than 120 artists who participated in a recent Norsk Hydro sponsored competition to create works of art – paintings, sculpture, collages or photographs – using the Chokwe culture as stimulation. His painting, symbolising virginity and its loss, was one of 13 images which will be part of a calendar for 2006. “Each artist gets inspiration in his own way, but all artists agree that reality is very important. There are no lies here; no-one is imagining this culture. It is very real,” he says. “This book is very precious,” he adds, hugging it to his chest, “because it is the renovation of a culture, and a populace without culture is dead.”

Mwana Pwo e Mpovo by Hypo (Capitao da Silva) is, in fact, two pictures displayed together which charmed the judges in the recent Norsk Hydro competition to find 13 images for a 2006 calendar based on the Chokwe Sona culture. The art draws on the Chokwe values of purity and chastity with the first yellow swirl depicting a virgin. She is pure, as represented by the white dots and the yellow. But by the second image, the picture is bloodied with red
and the dots are black. “I have created here my own version of a woman, not exactly the way in which the Chokwe represent women, but a new way through my own expression,” Hypo explains. “The painting is mono-linear like the
Sona and, also like the Sona, there is an important message behind it,” he says. “I created it myself, it is my own, but the inspiration comes from the Sona. If young girls are confused, this can be used as a message, advising them to hold on to their virginity. In Chokwe culture, there is a lot of respect for virgins and it is a tremendous honour to marry a virgin,” Hypo explains.

Back at the museum, Mr Kwononoka is glad to hear that this tradition looks set to live on. Though a Luanda resident for more than 25 years, he is of Chokwe origin and can speak, read and write in his mother language. “But I can’t do the drawings,” he sighs. “The fact that these rich and varied stories are not permanent adds to their mystery, but for me personally it is important that this form of our culture continues,” he says. “This form of education and communication must not die.”

SONANGOL UNIVERSO

Other Sources of Information on Sona:

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Ethnomathematics

Mirror Curves & Permutations

Exploratorium

Monday 5 March 2007

MARIA HELENA


Da minha querida amiga e "mae adoptiva" Maria Helena Boavida, por quem tenho um grande carinho, admiracao e respeito, recebi ontem o novo link para a sua pagina na Net (Xiboa).
Devo notar que esta foi a primeira website de uma senhora Angolana de que tive conhecimento, ja la' vao alguns anitos. Entretanto ela esteve paralizada por algum tempo, mas foi reactivada recentemente e a Maria Helena vem-na actualizando aos poucos.
Reparei que tem coisas novas... Obrigada Maria Helena!

[Eu e a Maria Helena]

Da minha querida amiga e "mae adoptiva" Maria Helena Boavida, por quem tenho um grande carinho, admiracao e respeito, recebi ontem o novo link para a sua pagina na Net (Xiboa).
Devo notar que esta foi a primeira website de uma senhora Angolana de que tive conhecimento, ja la' vao alguns anitos. Entretanto ela esteve paralizada por algum tempo, mas foi reactivada recentemente e a Maria Helena vem-na actualizando aos poucos.
Reparei que tem coisas novas... Obrigada Maria Helena!

[Eu e a Maria Helena]

OBAMA VS. CLINTON: THE MOTHER OF ALL BATTLES? ('Take 2')

"REVISITING THE PAST"

Selma, Alabama, March 05 2007 - American Democratic presidential hopefuls Hillary Clinton and Barack Obama took to separate church pulpits in Selma on Sunday using a civil rights commemoration to battle for support among the country's crucial black electorate. The two rivals for the 2008 nomination spoke at churches located less than a block apart in Selma, where a seminal march 42 years ago helped turn the tide against racial segregation.

Obama, who hopes to become the nation's first black president, won a standing ovation as he paid homage to the "giants" who led the civil rights movement and called for a younger generation to carry on the cause. The son of a Kenyan father and a white American mother, Obama sought to answer sceptics who doubt that he understands the experience of African-Americans. Obama said the civil rights struggle had had a direct impact on his life, saying it created the circumstances to allow his parents to meet and flout racist conventions.

"Not only is my career the result of the work of the men and women who we honour here today, my very existence might not have been possible had it not been for some of the folks here today," he said at a service at Brown A.M.E. church attended by major figures from the civil rights era. "So don't tell me I don't have a claim on Selma, Alabama. I'm here because somebody marched. I'm here because you all sacrificed for me. I stand on the shoulders of giants," said Obama, as an overflow crowd listened outside.

Clinton earned a similarly enthusiastic reception at the First Baptist Church nearby, where she delivered one of the more rousing speeches of her career. Recalling the courage of those who marched in Selma in 1965 for voting rights, Clinton said that America still faced injustice and that "we have a march to finish". "How can we rest while poverty and inequality continue to rise? How can we sleep while 46 million of our fellow Americans do not have health insurance?" she said. "How can we shrug our shoulders and say this is not about me when too many of our children are ill-prepared in school for college and unable to afford it if they wish to attend?"

With the battle for African-American support heating up, a new poll showed Clinton's lead over Obama among Democratic voters slipping and Obama surging ahead of the former first lady among blacks for the first time. The ABC/Washington Post poll released on Friday showed that Clinton's once-commanding lead had narrowed to 36 percent support against 24 percent for Obama. And the poll had Obama now leading among African-Americans, 44 percent to 33 percent. Obama, who hopes to become the nation's first black president, poses a serious challenge to Clinton's front-runner status and Alabama is one of several states with large black populations that could shape the Democrats' nomination race.

Clinton chose to travel to Alabama after Obama's plans were announced, US media reported, apparently unwilling to cede ground to the Illinois senator at an event full of symbolism. To aid her cause, Clinton enlisted the last-minute help of her husband, former president Bill Clinton, who was so popular among African-Americans during his tenure at the White House that he was dubbed affectionately as the "first black president". Initially, Hillary Clinton intended to accept an award on behalf of her husband but later the ex-president changed his plans and announced he would travel to Selma to be inducted into the Voting Rights Hall of Fame. The move fed speculation in US media that the New York senator felt threatened by Obama's candidacy and was anxiously turning to her husband for political assistance.

Sunday is the anniversary of "Bloody Sunday", when state troops and police in 1965 brutally beat hundreds of demonstrators marching for voting rights for disenfranchised blacks. Nationally broadcast television footage of mounted troops attacking the peaceful demonstrators with clubs and tear gas at Selma's Edmund Pettus Bridge helped rally support for the civil rights cause. Later that year, President Lyndon Johnson signed into law the Voting Rights Act to ensure blacks were no longer prevented from voting.

MEANWHILE...


The maternal ancestors of Barack Obama, the Democrat who hopes to become America’s first black president, once owned slaves, genealogists have revealed. As the son of a white woman from Kansas and a black man from Kenya, the background of Obama, who went to a school in Indonesia, was already considered exotic. According to the genealogists, George Washington Overall, Obama’s great-great-great-great grandfather, owned two slaves, a 15-year-old girl and 25-year-old man, who were listed in the 1850 Kentucky census. Another maternal ancestor owned two older slaves.

In his autobiography, Dreams from My Father, Obama referred to family rumours that his relatives had links to both sides during the civil war, but he did not know he had slaveholding ancestors. Bill Burton, a spokesman for the Illinois senator, said it showed his relatives were “representative of America”. “It is a true measure of progress that the descendant of a slave owner would come to marry a student from Kenya and produce a son who would grow up to be a candidate for president of the United States,” Burton said.

Obama’s relationship with the black community got off to a rocky start when he launched his campaign for president amid grumbling that he was not “black enough”. Debra Dickerson, a writer, commented recently that, “Blacks’, in our political and social reality, mean those descended from West African slaves,” and said Obama had acquired the “benefits of black progress” without having borne any of the burden. But, as Obama has pointed out, “If you look African-American in this society, you’re treated as an African-American.”

(Sources: Independent Online, Times Online & Parkdale Pictures)

SEE 'Take 1' HERE

"REVISITING THE PAST"

Selma, Alabama, March 05 2007 - American Democratic presidential hopefuls Hillary Clinton and Barack Obama took to separate church pulpits in Selma on Sunday using a civil rights commemoration to battle for support among the country's crucial black electorate. The two rivals for the 2008 nomination spoke at churches located less than a block apart in Selma, where a seminal march 42 years ago helped turn the tide against racial segregation.

Obama, who hopes to become the nation's first black president, won a standing ovation as he paid homage to the "giants" who led the civil rights movement and called for a younger generation to carry on the cause. The son of a Kenyan father and a white American mother, Obama sought to answer sceptics who doubt that he understands the experience of African-Americans. Obama said the civil rights struggle had had a direct impact on his life, saying it created the circumstances to allow his parents to meet and flout racist conventions.

"Not only is my career the result of the work of the men and women who we honour here today, my very existence might not have been possible had it not been for some of the folks here today," he said at a service at Brown A.M.E. church attended by major figures from the civil rights era. "So don't tell me I don't have a claim on Selma, Alabama. I'm here because somebody marched. I'm here because you all sacrificed for me. I stand on the shoulders of giants," said Obama, as an overflow crowd listened outside.

Clinton earned a similarly enthusiastic reception at the First Baptist Church nearby, where she delivered one of the more rousing speeches of her career. Recalling the courage of those who marched in Selma in 1965 for voting rights, Clinton said that America still faced injustice and that "we have a march to finish". "How can we rest while poverty and inequality continue to rise? How can we sleep while 46 million of our fellow Americans do not have health insurance?" she said. "How can we shrug our shoulders and say this is not about me when too many of our children are ill-prepared in school for college and unable to afford it if they wish to attend?"

With the battle for African-American support heating up, a new poll showed Clinton's lead over Obama among Democratic voters slipping and Obama surging ahead of the former first lady among blacks for the first time. The ABC/Washington Post poll released on Friday showed that Clinton's once-commanding lead had narrowed to 36 percent support against 24 percent for Obama. And the poll had Obama now leading among African-Americans, 44 percent to 33 percent. Obama, who hopes to become the nation's first black president, poses a serious challenge to Clinton's front-runner status and Alabama is one of several states with large black populations that could shape the Democrats' nomination race.

Clinton chose to travel to Alabama after Obama's plans were announced, US media reported, apparently unwilling to cede ground to the Illinois senator at an event full of symbolism. To aid her cause, Clinton enlisted the last-minute help of her husband, former president Bill Clinton, who was so popular among African-Americans during his tenure at the White House that he was dubbed affectionately as the "first black president". Initially, Hillary Clinton intended to accept an award on behalf of her husband but later the ex-president changed his plans and announced he would travel to Selma to be inducted into the Voting Rights Hall of Fame. The move fed speculation in US media that the New York senator felt threatened by Obama's candidacy and was anxiously turning to her husband for political assistance.

Sunday is the anniversary of "Bloody Sunday", when state troops and police in 1965 brutally beat hundreds of demonstrators marching for voting rights for disenfranchised blacks. Nationally broadcast television footage of mounted troops attacking the peaceful demonstrators with clubs and tear gas at Selma's Edmund Pettus Bridge helped rally support for the civil rights cause. Later that year, President Lyndon Johnson signed into law the Voting Rights Act to ensure blacks were no longer prevented from voting.

MEANWHILE...


The maternal ancestors of Barack Obama, the Democrat who hopes to become America’s first black president, once owned slaves, genealogists have revealed. As the son of a white woman from Kansas and a black man from Kenya, the background of Obama, who went to a school in Indonesia, was already considered exotic. According to the genealogists, George Washington Overall, Obama’s great-great-great-great grandfather, owned two slaves, a 15-year-old girl and 25-year-old man, who were listed in the 1850 Kentucky census. Another maternal ancestor owned two older slaves.

In his autobiography, Dreams from My Father, Obama referred to family rumours that his relatives had links to both sides during the civil war, but he did not know he had slaveholding ancestors. Bill Burton, a spokesman for the Illinois senator, said it showed his relatives were “representative of America”. “It is a true measure of progress that the descendant of a slave owner would come to marry a student from Kenya and produce a son who would grow up to be a candidate for president of the United States,” Burton said.

Obama’s relationship with the black community got off to a rocky start when he launched his campaign for president amid grumbling that he was not “black enough”. Debra Dickerson, a writer, commented recently that, “Blacks’, in our political and social reality, mean those descended from West African slaves,” and said Obama had acquired the “benefits of black progress” without having borne any of the burden. But, as Obama has pointed out, “If you look African-American in this society, you’re treated as an African-American.”

(Sources: Independent Online, Times Online & Parkdale Pictures)

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Sunday 4 March 2007

LUANDA: SOBRE AS RAZOES DO ESTADO DAS COISAS

UMA CENA TRISTE

Por José Kaliengue

(Originalmente publicado no Semanário Angolense - Luanda)


Regra geral, a classe média-alta ou alta angolana (há pessoas com dinheiro que as colocaria nesta posição em alguns paí­ses, mas em Angola este não é o único indicador possí­vel para assim classificar estas pessoas parcas em educação, bons hábitos, etc), é tida nos meios africanos que conheço, como uma entidade meio indefinida, em termos culturais. Explico-me:
Os angolanos são africanos quando interessa e desprezam esta condição na maior parte das vezes. Não sei até que ponto este pensamento está coberto de razão, mas há dias vi-me perante uma cena que me fez pensar um pouco sobre o assunto, fundamentalmente nos propalados respeito pelos mais velhos e solidariedade entre as pessoas. Andava eu, num dia de Domingo, entretido a olhar, já com alguma nostalgia, para as fachadas coloniais da zona baixa de Luanda, lá para os lados dos Coqueiros (não me parece que haja vontade de as poupar das máquinas e dos modernos prédios que pretendem fazer nascer do chão), quando dei com uma cena que me deixou profundamente entristecido e revoltado.

Um velhote chorava lágrimas soltas ante a indiferença dos transeuntes e dos muitos guardas das muitas lojas e instituições nas imediações. Ao aproximar-me vi que o velho tinha as calças molhadas. O pobre do velho havia pedido nas poucas lojas e bares abertos para que o deixassem usar as suas casas de banho, mas todos recusaram. O velho aguentou o máximo que pôde, resistiu ao máximo á ideia de encostar-se a uma parede ou a um qualquer carro, em pleno dia, em plena cidade, mas quando ia a ceder, já era tarde. Era Domingo. Eram onze horas e mais alguns minutos. O velho morava longe e estava, naquela zona, muito perto da casa da filha onde pretendia visitar os netos. Entendi as razões de tão amargurado choro. Os guardas explicaram-me que corriam o risco de perder os seus empregos se tivessem aberto as portas ao velhote, aliás, alguns nem sequer tinham as chaves dos estabelecimentos. Se se vissem aflitos também teriam que se desenrascar. No restaurante mais próximo o gerente disse-me que só pode usar o WC quem consome no estabelecimento, e isso quando há água.

De facto, na falta de casas de banho públicas, os estabelecimentos comerciais poderiam prestar esse serviço público, nem que para tal tivessem que negociar uma qualquer contrapartida com o estado. A falta de casas de banho públicas, em Luanda, tem levado a cenas muito pouco dignificantes para a pessoa e para a cidade. Se era frequente, há um ou dois anos, ver pessoas a aliviar-se em plena rua, encostadas aos muros ou entre automóveis estacionados, meio envergonhadas, meio escondidas, agora o descaramento é total. Rapazes e homens fazem chichi virados para a estrada num incompreensí­vel acto de exibição. E isto pode acontecer em qualquer parte da cidade, a qualquer hora e independentemente de estarem a passar senhoras ou crianças. O abandono dos valores mais elementares na sociedade angolana, é um assunto que merece muito mais debate. Não bastam as campanhas para a promoção do civismo nas rádios e na televisão e os esforços das igrejas. É urgente encontrar formas de juntar todos estes esforços e torná-lo numa acção que envolva toda a sociedade, com destaque para as crianças.

A degradação das regras de boa conduta e dos valores morais estão na base de fenômenos como a corrupção e as catorzinhas. Está também na base da atitude ambí­gua que os angolanos assumem em relação ao seu posicionamento cultural; usam roupas das marcas mais caras, alojam-se nos melhores hotéis, compram conhaque e whisky caros e nessas alturas procuram imitar os europeus, mas quando confrontados com a ignorância que sobressai da forma e dos momentos como se devem consumir os tais produtos, a resposta é: “não liga mano, nos somos africanos”. Vale tudo. É esta a regra de quem tem dinheiro em Angola, mas é um vale tudo em que o “poder” deve ser evidenciado e a “pequenez” de quem precisa lembrada. O velhote que encontrei a chorar na rua, com as calças molhadas, tinha acabado de experimentar a sua pequenez perante gerentes e donos de bar a quem importava apenas as pessoas que lhes pudessem colocar mais alguns trocos nos bolsos. Ele não passava de um velho, mesmo aflito. Alguêm explique onde ficam o respeito pelos mais velhos e a solidariedade por quem mais precisa.

(Foto daqui)
UMA CENA TRISTE

Por José Kaliengue

(Originalmente publicado no Semanário Angolense - Luanda)


Regra geral, a classe média-alta ou alta angolana (há pessoas com dinheiro que as colocaria nesta posição em alguns paí­ses, mas em Angola este não é o único indicador possí­vel para assim classificar estas pessoas parcas em educação, bons hábitos, etc), é tida nos meios africanos que conheço, como uma entidade meio indefinida, em termos culturais. Explico-me:
Os angolanos são africanos quando interessa e desprezam esta condição na maior parte das vezes. Não sei até que ponto este pensamento está coberto de razão, mas há dias vi-me perante uma cena que me fez pensar um pouco sobre o assunto, fundamentalmente nos propalados respeito pelos mais velhos e solidariedade entre as pessoas. Andava eu, num dia de Domingo, entretido a olhar, já com alguma nostalgia, para as fachadas coloniais da zona baixa de Luanda, lá para os lados dos Coqueiros (não me parece que haja vontade de as poupar das máquinas e dos modernos prédios que pretendem fazer nascer do chão), quando dei com uma cena que me deixou profundamente entristecido e revoltado.

Um velhote chorava lágrimas soltas ante a indiferença dos transeuntes e dos muitos guardas das muitas lojas e instituições nas imediações. Ao aproximar-me vi que o velho tinha as calças molhadas. O pobre do velho havia pedido nas poucas lojas e bares abertos para que o deixassem usar as suas casas de banho, mas todos recusaram. O velho aguentou o máximo que pôde, resistiu ao máximo á ideia de encostar-se a uma parede ou a um qualquer carro, em pleno dia, em plena cidade, mas quando ia a ceder, já era tarde. Era Domingo. Eram onze horas e mais alguns minutos. O velho morava longe e estava, naquela zona, muito perto da casa da filha onde pretendia visitar os netos. Entendi as razões de tão amargurado choro. Os guardas explicaram-me que corriam o risco de perder os seus empregos se tivessem aberto as portas ao velhote, aliás, alguns nem sequer tinham as chaves dos estabelecimentos. Se se vissem aflitos também teriam que se desenrascar. No restaurante mais próximo o gerente disse-me que só pode usar o WC quem consome no estabelecimento, e isso quando há água.

De facto, na falta de casas de banho públicas, os estabelecimentos comerciais poderiam prestar esse serviço público, nem que para tal tivessem que negociar uma qualquer contrapartida com o estado. A falta de casas de banho públicas, em Luanda, tem levado a cenas muito pouco dignificantes para a pessoa e para a cidade. Se era frequente, há um ou dois anos, ver pessoas a aliviar-se em plena rua, encostadas aos muros ou entre automóveis estacionados, meio envergonhadas, meio escondidas, agora o descaramento é total. Rapazes e homens fazem chichi virados para a estrada num incompreensí­vel acto de exibição. E isto pode acontecer em qualquer parte da cidade, a qualquer hora e independentemente de estarem a passar senhoras ou crianças. O abandono dos valores mais elementares na sociedade angolana, é um assunto que merece muito mais debate. Não bastam as campanhas para a promoção do civismo nas rádios e na televisão e os esforços das igrejas. É urgente encontrar formas de juntar todos estes esforços e torná-lo numa acção que envolva toda a sociedade, com destaque para as crianças.

A degradação das regras de boa conduta e dos valores morais estão na base de fenômenos como a corrupção e as catorzinhas. Está também na base da atitude ambí­gua que os angolanos assumem em relação ao seu posicionamento cultural; usam roupas das marcas mais caras, alojam-se nos melhores hotéis, compram conhaque e whisky caros e nessas alturas procuram imitar os europeus, mas quando confrontados com a ignorância que sobressai da forma e dos momentos como se devem consumir os tais produtos, a resposta é: “não liga mano, nos somos africanos”. Vale tudo. É esta a regra de quem tem dinheiro em Angola, mas é um vale tudo em que o “poder” deve ser evidenciado e a “pequenez” de quem precisa lembrada. O velhote que encontrei a chorar na rua, com as calças molhadas, tinha acabado de experimentar a sua pequenez perante gerentes e donos de bar a quem importava apenas as pessoas que lhes pudessem colocar mais alguns trocos nos bolsos. Ele não passava de um velho, mesmo aflito. Alguêm explique onde ficam o respeito pelos mais velhos e a solidariedade por quem mais precisa.

(Foto daqui)

Saturday 3 March 2007

“ RESTITUIÇÕES BANTU, VERSÕES ESCANDINAVAS “

A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO (NA GALERIA CELAMAR - ILHA DE LUANDA) DE "SONA, DESENHOS NA AREIA & ESCULTURA DE KIANA"

Por Simão SOUINDOULA
Historiador e Crítico de Arte Angolano

A presente exposição é organizada na sequência das pesquisas que resultaram na publicação da obra “ Sona, Desenhos na areia “ de Unni Skogen e Sonja Skaug e do concurso de artes plásticas, organizado em 2005, do qual derivou um magnífico calendário para 2006; tendo o conjunto desses programas beneficiado do apoio da empresa petrolífera Norueguesa Hydro, por ocasião da celebração do seu centenário. Ela reagrupa, num duo feminino inesperado, as obras de uma das autoras do livro, a Escandinava Skaug e uma das laureadas do concurso, a Bantu Kiana.

Essas duas mãos hábeis recriam, naturalmente, uma e outra, as tradições Angolanas através da geométrica expressão dos famosos pictogramas do nordeste de Angola e exploram igualmente outros temas ligados a natureza, sob outras escritas plásticas.

Este encontro, ilustração do são diálogo que deve ser estabelecido entre as culturas do mundo, é, portanto, caracterizado por uma dupla complementaridade, temática, mas também, técnica. Com efeito, a artista vinda do norte da Europa propõe os seus desenhos e pinturas sobre porcelana enquanto Kiana apresenta as suas surpreendentes esculturas em cimento branco, usando como única tela de fundo as ricas tradições culturais Angolanas.

Reunidas na ilha das sereias, verdadeiras Deusas protectoras da terra dos Axiluanda, cidade das corajosas “kitandeiras “, das pacientes “ kinguilas “ e das tenazes “ zungueiras “, as obras desses dois talentos, provindos de espaços geográficamente tão distantes, contribuirão, sem dúvida, para uma evolução não marginal e identificável da arte contemporânea Angolana e para o reforço, neste domínio, da promoção do conceito de género.

(Os meus agradecimentos a Simão Souindoula por me ter enviado este texto sobre um exemplo tão eloquente de genuína partilha cultural e uma das últimas edições do 'Tantã Cultural', de onde a fotografia foi retirada)


***

Post Relacionado:

"Sona, Desenhos na Areia"


A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO (NA GALERIA CELAMAR - ILHA DE LUANDA) DE "SONA, DESENHOS NA AREIA & ESCULTURA DE KIANA"

Por Simão SOUINDOULA
Historiador e Crítico de Arte Angolano

A presente exposição é organizada na sequência das pesquisas que resultaram na publicação da obra “ Sona, Desenhos na areia “ de Unni Skogen e Sonja Skaug e do concurso de artes plásticas, organizado em 2005, do qual derivou um magnífico calendário para 2006; tendo o conjunto desses programas beneficiado do apoio da empresa petrolífera Norueguesa Hydro, por ocasião da celebração do seu centenário. Ela reagrupa, num duo feminino inesperado, as obras de uma das autoras do livro, a Escandinava Skaug e uma das laureadas do concurso, a Bantu Kiana.

Essas duas mãos hábeis recriam, naturalmente, uma e outra, as tradições Angolanas através da geométrica expressão dos famosos pictogramas do nordeste de Angola e exploram igualmente outros temas ligados a natureza, sob outras escritas plásticas.

Este encontro, ilustração do são diálogo que deve ser estabelecido entre as culturas do mundo, é, portanto, caracterizado por uma dupla complementaridade, temática, mas também, técnica. Com efeito, a artista vinda do norte da Europa propõe os seus desenhos e pinturas sobre porcelana enquanto Kiana apresenta as suas surpreendentes esculturas em cimento branco, usando como única tela de fundo as ricas tradições culturais Angolanas.

Reunidas na ilha das sereias, verdadeiras Deusas protectoras da terra dos Axiluanda, cidade das corajosas “kitandeiras “, das pacientes “ kinguilas “ e das tenazes “ zungueiras “, as obras desses dois talentos, provindos de espaços geográficamente tão distantes, contribuirão, sem dúvida, para uma evolução não marginal e identificável da arte contemporânea Angolana e para o reforço, neste domínio, da promoção do conceito de género.

(Os meus agradecimentos a Simão Souindoula por me ter enviado este texto sobre um exemplo tão eloquente de genuína partilha cultural e uma das últimas edições do 'Tantã Cultural', de onde a fotografia foi retirada)


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"Sona, Desenhos na Areia"


Thursday 1 March 2007

ON TYRANNY


“IT’S BETTER THAT A MAN SHOULD TYRANNIZE OVER HIS BANK BALANCE THAN OVER HIS FELLOW CITIZENS”

JOHN MAYNARD KEYNES

(Or a woman, I would say… but this is just me thinking outside the box of the “sisterhood of men”)

“IT’S BETTER THAT A MAN SHOULD TYRANNIZE OVER HIS BANK BALANCE THAN OVER HIS FELLOW CITIZENS”

JOHN MAYNARD KEYNES

(Or a woman, I would say… but this is just me thinking outside the box of the “sisterhood of men”)

Sabores, Odores & Sonho






«Oh sub-alimentados do sonho, a poesia é para se comer!»
Natalia Correia




«Por bem simples que seja a obra, faz,
Pois sempre é obra tua, e é mais uma...
Vale mais de alguma coisa ser capaz,
Que afinal não fazer coisa nenhuma.
E se alguém te disser que é imperfeita,
Diz-lhe que não se admire, porque é tua,
Não soubeste fazê-la mais perfeita.
Porém, que faça ele melhor a sua...»

Do poeta de Casal de Cinza
A. MONTEIRO DA FONSECA (1895-1986)
in «O Canto do Sol-Posto»


Ilustracao da capa: desenho de Luandino Vieira
Introito:

"J'ai envie de parler de la rose et du rossignol, d'une belle journee et d'une belle vie... mais la vie me tient par le poignet et je tombe comme si j'avais une pierre au cou jusqu'au fond de la realite." (Elsa Triolet)


Texto da contracapa:

"Este e' o caderno de uma estreia, o volume inicial de uma voz propria, uma oficina segura, uma inequivoca sensibilidade. O resumo de um poeta. Que esse resumo seja um inicio pode parecer paradoxal. Mas aqui estao pouco mais de vinte poemas que constituem a surpreendente revelacao de um poeta capaz de invencao no acto da escrita, de fidelidade ao real, ao nosso tempo e espaco, uma atmosfera recriada pela forca da palavra. Uma voz feminina com a coragem de penetrar areas defendidas ou minadas por palavreado e retorica anteriores. Que faz explodir e libertar para fonte de seu futuro trabalho poetico. Ou outros futuros."
Compilaçao feita por Luandino Vieira (enquanto Secretario Geral da Uniao dos Escritores Angolanos) de opinioes escritas por um painel constituido, entre outros, pelos escritores Manuel Rui Monteiro, Costa Andrade e Ruy Duarte de Carvalho.


Data de publicaçao: Agosto de 1985, Luanda; Lançamento: Lubango, 1986 (Apresentacoes feitas por Henrique Abranches e Aires de Almeida Santos); Tiragem: 10.000 exemplares.


PELA CHUVA, AS RAÍZES

Apenas agora,
tantas já as gotas
batidas na chapa
estrelas espreitadas
pelos furinhos
por sobre as cabeças
o odor da terra molhada
tornado imenso no tempero
do coxilo, o luando,
os imbondeiros ausentes,
nos trópicos,
tão ténue o travo da múcua,
o zinco tornado o último andar
alinhavando o que falta nascer,
pelo vidro quebrando a chuva,
nos damos conta da vida,
sempre lá fora,
pelo meio da gota, transbordando
da lua, nunca apontada,
tantas as estórias de encantar
rebuscadas ainda a chuva
entrava pelo zinco esburacado.
E se quebrarmos o vidro,
saltarmos do último andar
e nos enterrarmos na terra molhada
até dela sairmos
pelas raízes do imbondeiro?
Porque não nascer
e provar a múcua sobre o luando,
nem zincos, nem garras para
arranhar os céus,
seguindo a estrela
bebendo a chuva,
nos dando conta? 


AGUARDANDO LUZ VERDE

Se não me tivesses cortado a palavra, António,
satisfaria esse teu ardente desejo
e dir-te-ia do que se vê nos meus olhos
sob um olhar turvo

Só que quando o fazes, António,
está turvo o dia e nada se pode ver nos olhos
Mas, eu estou por aqui,
esperando a vida,
melhor, espero por mim
dormindo, o milagre no chão
sonhando

Não sonho já contigo
estou semeando plantas, António
espero as flores para te falar,
que com o seu desabrochar
venha a tua luz verde
para os meus olhos
venham os teus, límpidos
e atentos, António
tua boca escutando a minha voz.







«Oh sub-alimentados do sonho, a poesia é para se comer!»
Natalia Correia




«Por bem simples que seja a obra, faz,
Pois sempre é obra tua, e é mais uma...
Vale mais de alguma coisa ser capaz,
Que afinal não fazer coisa nenhuma.
E se alguém te disser que é imperfeita,
Diz-lhe que não se admire, porque é tua,
Não soubeste fazê-la mais perfeita.
Porém, que faça ele melhor a sua...»

Do poeta de Casal de Cinza
A. MONTEIRO DA FONSECA (1895-1986)
in «O Canto do Sol-Posto»


Ilustracao da capa: desenho de Luandino Vieira
Introito:

"J'ai envie de parler de la rose et du rossignol, d'une belle journee et d'une belle vie... mais la vie me tient par le poignet et je tombe comme si j'avais une pierre au cou jusqu'au fond de la realite." (Elsa Triolet)


Texto da contracapa:

"Este e' o caderno de uma estreia, o volume inicial de uma voz propria, uma oficina segura, uma inequivoca sensibilidade. O resumo de um poeta. Que esse resumo seja um inicio pode parecer paradoxal. Mas aqui estao pouco mais de vinte poemas que constituem a surpreendente revelacao de um poeta capaz de invencao no acto da escrita, de fidelidade ao real, ao nosso tempo e espaco, uma atmosfera recriada pela forca da palavra. Uma voz feminina com a coragem de penetrar areas defendidas ou minadas por palavreado e retorica anteriores. Que faz explodir e libertar para fonte de seu futuro trabalho poetico. Ou outros futuros."
Compilaçao feita por Luandino Vieira (enquanto Secretario Geral da Uniao dos Escritores Angolanos) de opinioes escritas por um painel constituido, entre outros, pelos escritores Manuel Rui Monteiro, Costa Andrade e Ruy Duarte de Carvalho.


Data de publicaçao: Agosto de 1985, Luanda; Lançamento: Lubango, 1986 (Apresentacoes feitas por Henrique Abranches e Aires de Almeida Santos); Tiragem: 10.000 exemplares.


PELA CHUVA, AS RAÍZES

Apenas agora,
tantas já as gotas
batidas na chapa
estrelas espreitadas
pelos furinhos
por sobre as cabeças
o odor da terra molhada
tornado imenso no tempero
do coxilo, o luando,
os imbondeiros ausentes,
nos trópicos,
tão ténue o travo da múcua,
o zinco tornado o último andar
alinhavando o que falta nascer,
pelo vidro quebrando a chuva,
nos damos conta da vida,
sempre lá fora,
pelo meio da gota, transbordando
da lua, nunca apontada,
tantas as estórias de encantar
rebuscadas ainda a chuva
entrava pelo zinco esburacado.
E se quebrarmos o vidro,
saltarmos do último andar
e nos enterrarmos na terra molhada
até dela sairmos
pelas raízes do imbondeiro?
Porque não nascer
e provar a múcua sobre o luando,
nem zincos, nem garras para
arranhar os céus,
seguindo a estrela
bebendo a chuva,
nos dando conta? 


AGUARDANDO LUZ VERDE

Se não me tivesses cortado a palavra, António,
satisfaria esse teu ardente desejo
e dir-te-ia do que se vê nos meus olhos
sob um olhar turvo

Só que quando o fazes, António,
está turvo o dia e nada se pode ver nos olhos
Mas, eu estou por aqui,
esperando a vida,
melhor, espero por mim
dormindo, o milagre no chão
sonhando

Não sonho já contigo
estou semeando plantas, António
espero as flores para te falar,
que com o seu desabrochar
venha a tua luz verde
para os meus olhos
venham os teus, límpidos
e atentos, António
tua boca escutando a minha voz.