Wednesday, 29 December 2010

1960-2010: "The Year of Afrika" 50 Years on [Revised]






Closing the “Year of Afrika”: The East Asian ‘Tigers’ Model in Africa? – An Appraisal


To mark the end of this year of “The African Jubilee” I bring this article in which I try to evaluate the extent to which the “most successful” economic development models followed in other parts of the developing world at the time of the first African independences – namely by the East Asian (in particular Taiwan and South Korea) and the Latin American (in particular Mexico and Brazil) Newly Industrialised Countries (NICs) - could successfully be applied by any poor nation, specifically in Africa.


[You can find the article here]





Closing the “Year of Afrika”: The East Asian ‘Tigers’ Model in Africa? – An Appraisal


To mark the end of this year of “The African Jubilee” I bring this article in which I try to evaluate the extent to which the “most successful” economic development models followed in other parts of the developing world at the time of the first African independences – namely by the East Asian (in particular Taiwan and South Korea) and the Latin American (in particular Mexico and Brazil) Newly Industrialised Countries (NICs) - could successfully be applied by any poor nation, specifically in Africa.


[You can find the article here]

Tuesday, 28 December 2010

Just Poetry (XXXVI)

Longe da Cidade


Havia a felicidade
no alto do morro,
do perfil da música

ao bico do pássaro.

Assim mesmo
como em momentos
nos guarda-jóias
buscados apenas
quando se deve

acreditar na semeadura.

Vai havendo a impotência,
que é trágica
quando não comedida,

no montar do sorriso.

Assim também
como o dente trincando
a maçã da imagem

na sacristia.

Há o mar
morrendo na praia
de felicidade,
tecendo o sonho

longe da cidade.


[A.S. in S.O.S.]

Wednesday, 22 December 2010

Just Poetry (XXXV)

NATAL

Mais um 25 de dezembro,
mais um Natal.
Mais um ano, Cristo,
que nós, teus irmãos,
comemoramos teu nascimento
de modo quase obsceno!

Porque é Natal,
em teu nome
há uma corrida louca
ao centro comercial
em busca de presentes
que trocamos com os amigos,
com os parentes.
Sendo que muita gente
o significado desse ato
desconhece.

Porque é Natal,
há também os comes e bebes,
mas nada de simples croquetes,
frango assado ou espaguete.
Pelo menos, o peru e o bacalhau
são esperados...

Mas é Natal
e nessa epifania,
católicos ou ateus,
poucos atinam
que é teu o dia.
E então é Natal.
Mais um ano, Jesus,
que nós, teus irmãos,
ao te ver na cruz,
dizemos com muito orgulho,
e pouca reflexão...
- Nasceu para salvar o mundo,
esse menino!
Mas nesse mundo sem razão,
mesmo para o Divino
é tarefa assaz difícil
comungar guerra, paz e pão.

Há um Cristo, Jesus,
em cada um de teus irmãos
que sofrem as mesmas injustiças,
maus-tratos, ciladas,
e tantos e variados enganos,
sem teto, sem nada.
Sem alimento para o corpo
ou para a alma
cada um carrega sua pesada cruz.

Mas é Natal, afinal!
Tentamos todos seguir,
sem muita convicção, devemos admitir,
Tua doutrina de ética e de redenção.

Teremos nós, teus irmãos, alguma salvação?


Veronica Benesi
NATAL

Mais um 25 de dezembro,
mais um Natal.
Mais um ano, Cristo,
que nós, teus irmãos,
comemoramos teu nascimento
de modo quase obsceno!

Porque é Natal,
em teu nome
há uma corrida louca
ao centro comercial
em busca de presentes
que trocamos com os amigos,
com os parentes.
Sendo que muita gente
o significado desse ato
desconhece.

Porque é Natal,
há também os comes e bebes,
mas nada de simples croquetes,
frango assado ou espaguete.
Pelo menos, o peru e o bacalhau
são esperados...

Mas é Natal
e nessa epifania,
católicos ou ateus,
poucos atinam
que é teu o dia.
E então é Natal.
Mais um ano, Jesus,
que nós, teus irmãos,
ao te ver na cruz,
dizemos com muito orgulho,
e pouca reflexão...
- Nasceu para salvar o mundo,
esse menino!
Mas nesse mundo sem razão,
mesmo para o Divino
é tarefa assaz difícil
comungar guerra, paz e pão.

Há um Cristo, Jesus,
em cada um de teus irmãos
que sofrem as mesmas injustiças,
maus-tratos, ciladas,
e tantos e variados enganos,
sem teto, sem nada.
Sem alimento para o corpo
ou para a alma
cada um carrega sua pesada cruz.

Mas é Natal, afinal!
Tentamos todos seguir,
sem muita convicção, devemos admitir,
Tua doutrina de ética e de redenção.

Teremos nós, teus irmãos, alguma salvação?


Veronica Benesi

Uma prenda de Natal com o selo da Amizade, Fraternidade e Solidariedade


Este selo foi-me dedicado aqui ha' tempos pelo amigo Navegador Solidario.

Ofereco-o hoje a minha amiga e irma Veronica Benesi.

Encontre a razao - principal, porque ha' outras, como a sua estimada e prestigiosa participacao neste blog o demonstra 'a saciedade... - aqui e aqui .

Este selo foi-me dedicado aqui ha' tempos pelo amigo Navegador Solidario.

Ofereco-o hoje a minha amiga e irma Veronica Benesi.

Encontre a razao - principal, porque ha' outras, como a sua estimada e prestigiosa participacao neste blog o demonstra 'a saciedade... - aqui e aqui .

Sunday, 19 December 2010

Olhares Diversos XXII



Carlinhos Zassala: «Mais de 90 por cento dos angolanos são doentes»


(…) Muitos pensam que quando se fala de saúde trata-se da ausência de sintomas de doença. Mas a Organização Mundial da Saúde definiu o conceito de saúde como o bem-estar físico, mental e social.

Na realidade angolana, nós não temos aquele espírito de prevenir. Nos países onde o sistema de saúde funciona de forma normal, quase no início do ano as pessoas recorrem para tratar da saúde física aos centros médicos ou hospitais para poderem fazer um check-up, para ver como está o nível de colesterol, de açúcar e como está a bater o coração. Porque são doenças que às vezes temos mas não estamos a sentir. É assim que muitas vezes somos surpreendidos que a pessoa que esteve connosco no dia anterior morreu repentinamente, é porque ela tinha uma doença não manifestada. No campo da saúde mental, as pessoas também fazem um check-up no sentido de saber se o indivíduo não tem, por exemplo, um nível de depressão profunda, porque quando assim acontece esta pessoa pode facilmente cometer suicídio ou auto-suicídio, que significa matar ou matar-se. É bom sempre saber qual é o nosso nível de ansiedade e de frustração. Não se pode falar da saúde se não tivermos estas três vertentes, saúde física, mental e social. É por isso que, mesmo como dizia o grande psicanalista Freud, nenhum ser humano é a 100 por cento saudável, todos nós estamos sempre doentes. Mesmo quando a pessoa não se sente bem também é um estado patológico.

Quando a pessoa sente que tem um nariz grande e procura um cirurgião plástico para mudar, também não goza de boa saúde. Quando se irrita com facilidade, que é um estímulo menor, porque temos ouvido muitos casos de filhos que são queimados por causa de cinco kwanzas, mulher que é morta por mil kwanzas, esses são comportamentos patológicos. Por isso, volto a afirmar que mais de 90 por cento da população angolana é doente.

(…) Neste momento, de acordo com algumas pesquisas existentes, a maior patologia que o angolano sofre é o stress, devido ao nível de vida que levamos, principalmente nas grandes cidades. Ora, o stress é uma doença muito perigosa porque quando atinge o ser humano, primeiramente esse ser humano já não valoriza o outro e já não tem um bom desempenho na vida profissional. E o stress diminui o nível de defesa do nosso corpo contra as doenças. É assim que muitas vezes ficamos doentes por causa do stress, porque destrói os anticorpos que temos.

A segunda doença é a frustração devido a muitos impedimentos que o angolano encontra quando pretende satisfazer as suas necessidades, principalmente as necessidades básicas, que são a alimentação, o sono (para dormir bem tem que ter uma casa), a saúde e a segurança. A maioria dos angolanos praticamente não consegue encontrar a satisfação das suas necessidades básicas.

Vem depois a depressão. É esse estado que leva as pessoas a suicidarem-se, é que nos leva a explicar o que acontece nas maternidades, porque as mulheres gestantes sofrem sempre de um estado de depressão nos períodos pré-parto e pós-parto. E o estado de depressão para aqueles que têm muitos problemas e estão no estado de desespero, são problemas de decepção amorosa, doença crónica.

Estes problemas devem ser diagnosticados antecipadamente e tratados para evitarmos o pior. Temos também a ansiedade que é uma das patologias frequentes, assim como o stress pós-traumático causado pela longa guerra que o país conheceu. Muitos indivíduos que viveram de forma directa ou indirecta os traumatismos da guerra sofrem ainda as consequências, como a insónia, pesadelo, sono perturbado, dores de cabeça, entre outras patologias como a falta de apetite. Se tivéssemos já serviços de atendimento psicológico para poder atender estes casos, evitaríamos muitos comportamentos não desejados.

(…) Os problemas que mencionei existem em Angola em grande escala. O problema da guerra causou muitos traumatismos, há pessoas que não gostam que se diga isso, mas o 27 de Maio também causou muitos traumatismos nas pessoas.

(…) Neste caso temos de trabalhar em cooperação com o Governo, no sentido de termos o centro de atendimento psicológico em todas as províncias, a fim de fazermos face a todos os problemas que se fazem sentir na sociedade angolana, como tantos casos de suicídios, delinquência juvenil, problemas de feitiçaria e algumas seitas religiosas, que praticam algumas acções até criminosas quando começam a indicar este ou aquele é feiticeiro, incentivando ódios e divisão no seio da população.

Luanda não é um meio saudável do ponto de vista mental, porque os latinos diziam que quando uma cidade destruída e o campo protegido ou salvaguardado, significa que o país não se destruiu, porque é o campo que abastece a cidade. Mas quando se destrói o campo, o interior, o país está em ruínas, é este o problema que estamos a viver em Angola. As pessoas não estão a ligar. O êxodo rural é um problema muito preocupante, porque hoje não sentimos isso porque temos muito petróleo que o país está a produzir. É assim que vivemos de importações e o petróleo quando terminar, quem vai abastecer as cidades? Será o campo.

(…) Aliás, em termos de longevidade, a esperança de vida dos angolanos é apenas de 43 anos para os homens e 46 para as mulheres, significa que não vivemos bastante devido às más condições de vida.

(…) Muitas vezes foquei este aspecto, mas gostaria de dizer que o álcool é uma droga lícita que é permitada, mas é igual às outras drogas como a liamba, haxixe, cocaína e marijuana. Cria dependência e depois destrói a resistência do nosso corpo e também estraga o nosso relacionamento com os outros.

Então o álcool consumido moderadamente e por pessoas que já têm maturidade psicológica, biológica e social, às vezes é recomendável. Não faz mal à saúde. Mas quando é consumido de forma exagerada como está a acontecer no nosso país, que até menores de idade o consomem, existem estudos em psicologia que demonstram que o consumo de bebidas alcoólicas por parte dos adolescentes e crianças atrofiam o desenvolvimento cognitivo. Significa que diminui o nosso nível de inteligência; hoje em dia se você perguntar a um professor sério, temos um problema preocupante no país, os nossos alunos praticamente têm dificuldade para poderem assimilar matérias e estudar.Pode também ser fruto não só do álcool como também dos traumatismos de guerra a que muitos foram submetidos.

(…) Estamos numa sociedade onde há muita perversão. O grande problema é que todos aqueles que são legisladores dizem que Angola tem muitas leis em termos teóricos, mas a prática é a grande questão. Nós os mais velhos temos de dar exemplos, como conhecedores da realidade profunda, temos que discutir sobre o tipo de educação que queremos no nosso país.


[Aqui]


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E Por Falar em Cegos, Surdos-Mudos e Quejandos...

Um 'Rebuke' a Wikileaks... Ou mais uma "Voz Silenciosa"?

Uma Licao Sobre Psychos...

Um Filme de Terror

Olhares Diversos VII

"Um Passo em Frente"?

Afinale?

"Perturbacoes"





Carlinhos Zassala: «Mais de 90 por cento dos angolanos são doentes»


(…) Muitos pensam que quando se fala de saúde trata-se da ausência de sintomas de doença. Mas a Organização Mundial da Saúde definiu o conceito de saúde como o bem-estar físico, mental e social.

Na realidade angolana, nós não temos aquele espírito de prevenir. Nos países onde o sistema de saúde funciona de forma normal, quase no início do ano as pessoas recorrem para tratar da saúde física aos centros médicos ou hospitais para poderem fazer um check-up, para ver como está o nível de colesterol, de açúcar e como está a bater o coração. Porque são doenças que às vezes temos mas não estamos a sentir. É assim que muitas vezes somos surpreendidos que a pessoa que esteve connosco no dia anterior morreu repentinamente, é porque ela tinha uma doença não manifestada. No campo da saúde mental, as pessoas também fazem um check-up no sentido de saber se o indivíduo não tem, por exemplo, um nível de depressão profunda, porque quando assim acontece esta pessoa pode facilmente cometer suicídio ou auto-suicídio, que significa matar ou matar-se. É bom sempre saber qual é o nosso nível de ansiedade e de frustração. Não se pode falar da saúde se não tivermos estas três vertentes, saúde física, mental e social. É por isso que, mesmo como dizia o grande psicanalista Freud, nenhum ser humano é a 100 por cento saudável, todos nós estamos sempre doentes. Mesmo quando a pessoa não se sente bem também é um estado patológico.

Quando a pessoa sente que tem um nariz grande e procura um cirurgião plástico para mudar, também não goza de boa saúde. Quando se irrita com facilidade, que é um estímulo menor, porque temos ouvido muitos casos de filhos que são queimados por causa de cinco kwanzas, mulher que é morta por mil kwanzas, esses são comportamentos patológicos. Por isso, volto a afirmar que mais de 90 por cento da população angolana é doente.

(…) Neste momento, de acordo com algumas pesquisas existentes, a maior patologia que o angolano sofre é o stress, devido ao nível de vida que levamos, principalmente nas grandes cidades. Ora, o stress é uma doença muito perigosa porque quando atinge o ser humano, primeiramente esse ser humano já não valoriza o outro e já não tem um bom desempenho na vida profissional. E o stress diminui o nível de defesa do nosso corpo contra as doenças. É assim que muitas vezes ficamos doentes por causa do stress, porque destrói os anticorpos que temos.

A segunda doença é a frustração devido a muitos impedimentos que o angolano encontra quando pretende satisfazer as suas necessidades, principalmente as necessidades básicas, que são a alimentação, o sono (para dormir bem tem que ter uma casa), a saúde e a segurança. A maioria dos angolanos praticamente não consegue encontrar a satisfação das suas necessidades básicas.

Vem depois a depressão. É esse estado que leva as pessoas a suicidarem-se, é que nos leva a explicar o que acontece nas maternidades, porque as mulheres gestantes sofrem sempre de um estado de depressão nos períodos pré-parto e pós-parto. E o estado de depressão para aqueles que têm muitos problemas e estão no estado de desespero, são problemas de decepção amorosa, doença crónica.

Estes problemas devem ser diagnosticados antecipadamente e tratados para evitarmos o pior. Temos também a ansiedade que é uma das patologias frequentes, assim como o stress pós-traumático causado pela longa guerra que o país conheceu. Muitos indivíduos que viveram de forma directa ou indirecta os traumatismos da guerra sofrem ainda as consequências, como a insónia, pesadelo, sono perturbado, dores de cabeça, entre outras patologias como a falta de apetite. Se tivéssemos já serviços de atendimento psicológico para poder atender estes casos, evitaríamos muitos comportamentos não desejados.

(…) Os problemas que mencionei existem em Angola em grande escala. O problema da guerra causou muitos traumatismos, há pessoas que não gostam que se diga isso, mas o 27 de Maio também causou muitos traumatismos nas pessoas.

(…) Neste caso temos de trabalhar em cooperação com o Governo, no sentido de termos o centro de atendimento psicológico em todas as províncias, a fim de fazermos face a todos os problemas que se fazem sentir na sociedade angolana, como tantos casos de suicídios, delinquência juvenil, problemas de feitiçaria e algumas seitas religiosas, que praticam algumas acções até criminosas quando começam a indicar este ou aquele é feiticeiro, incentivando ódios e divisão no seio da população.

Luanda não é um meio saudável do ponto de vista mental, porque os latinos diziam que quando uma cidade destruída e o campo protegido ou salvaguardado, significa que o país não se destruiu, porque é o campo que abastece a cidade. Mas quando se destrói o campo, o interior, o país está em ruínas, é este o problema que estamos a viver em Angola. As pessoas não estão a ligar. O êxodo rural é um problema muito preocupante, porque hoje não sentimos isso porque temos muito petróleo que o país está a produzir. É assim que vivemos de importações e o petróleo quando terminar, quem vai abastecer as cidades? Será o campo.

(…) Aliás, em termos de longevidade, a esperança de vida dos angolanos é apenas de 43 anos para os homens e 46 para as mulheres, significa que não vivemos bastante devido às más condições de vida.

(…) Muitas vezes foquei este aspecto, mas gostaria de dizer que o álcool é uma droga lícita que é permitada, mas é igual às outras drogas como a liamba, haxixe, cocaína e marijuana. Cria dependência e depois destrói a resistência do nosso corpo e também estraga o nosso relacionamento com os outros.

Então o álcool consumido moderadamente e por pessoas que já têm maturidade psicológica, biológica e social, às vezes é recomendável. Não faz mal à saúde. Mas quando é consumido de forma exagerada como está a acontecer no nosso país, que até menores de idade o consomem, existem estudos em psicologia que demonstram que o consumo de bebidas alcoólicas por parte dos adolescentes e crianças atrofiam o desenvolvimento cognitivo. Significa que diminui o nosso nível de inteligência; hoje em dia se você perguntar a um professor sério, temos um problema preocupante no país, os nossos alunos praticamente têm dificuldade para poderem assimilar matérias e estudar.Pode também ser fruto não só do álcool como também dos traumatismos de guerra a que muitos foram submetidos.

(…) Estamos numa sociedade onde há muita perversão. O grande problema é que todos aqueles que são legisladores dizem que Angola tem muitas leis em termos teóricos, mas a prática é a grande questão. Nós os mais velhos temos de dar exemplos, como conhecedores da realidade profunda, temos que discutir sobre o tipo de educação que queremos no nosso país.


[Aqui]


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Olhares Diversos VII

"Um Passo em Frente"?

Afinale?

"Perturbacoes"



Um 'rebuke' a Wikileaks...

Estamos em plena época natalícia. E a paz continua a ser a maior prenda que podemos dar a nós próprios. Enquanto soubermos preservar esta existência
pacífica que tanto custou a alcançar, o Natal dos angolanos é sempre feliz.
Ainda que o mundo à nossa volta continue a ser um pouco perigoso e violento.

As relações humanas estão a ser contaminadas por muita falsidade e muita
hipocrisia. O próximo é olhado como um inimigo potencial e não como um irmão.
O mundo vive de pé atrás desde que na Internet circulam mensagens que nunca
deviam ter sido pensadas, quanto mais escritas. Para tornar o nosso mundo ainda
pior, há já quem defenda a morte dos mensageiros como forma de preservar a fonte
das mensagens. E parte-se do princípio errado de que somos todos capazes de
fingir amizade e de ter duas caras.

O nosso país esteve exposto demasiados anos a este ambiente apodrecido e foi vítima destas relações espúrias. Sabemos agora como funcionam as fábricas da mentira e as produções da calúnia. Ficámos a saber como se produzem factos a partir de meras fantasias. Passamos a conhecer os fabricantes, os produtores e os vendedores.
Não é um sucesso que seja motivo de orgulho, porque ficámos a saber que as relações
internacionais estão piores do que imaginávamos. Mas é sempre bom saber até onde
podem ir os principais actores das campanhas da difamação e da calúnia.

Angola está evidentemente fora desse mundo que faz do absurdo uma rotina, da falsidade um valor inquestionável, da traição um modo de vida. Nenhum site do mundo pode publicar mensagens dos nossos diplomatas ou dos nossos governantes injuriando, caluniando ou traindo os seus pares, os povos irmãos, os países amigos ou mesmo os jurados inimigos. Temos outros princípios e fomos educados noutros valores. Aprendemos que sem amigos a vida não faz sentido e onde prospera a infâmia e a traição não há lugar para a grandeza de sentimentos que suporta a natureza humana, em todas as circunstâncias, da mais retumbante vitória à mais pesada derrota.

Aprendemos a ter boas relações com todos os países do mundo e sobretudo aprendemos a perdoar a afronta, a agressão, a imoralidade. A paz e a cordialidade merecem todos os sacrifícios pessoais, nem que esses sacrifícios passem pelo perdão sincero. Esse é o caminho e ele não tem segredos. Não há nada de secreto nas nossas relações e é transparente a relação que existe entre eleitos e eleitores, governantes e governados. Em Angola todos temos um compromisso com a paz, com o respeito mútuo, com o desenvolvimento, com a felicidade. E queremos que esses valores estejam no espírito de todos os povos do mundo e sejam as únicas marcas ostentadas pelas sociedades modernas.

(...)

Em Angola em vez de urânio enriquecido, estamos empenhados em criar riqueza para destruirmos a pobreza e a fome. Em Angola não temos armas nucleares.

(...)

Quando desejamos um feliz Natal a todos, estamos a ser sinceros. Não dizemos
belas palavras pela frente e depois disparamos pelas costas. Somos assim mesmo,
leais, sinceros e solidários. Acreditamos no Homem e temos a certeza de que a
paz e a concórdia são possíveis.


[Jose' Ribeiro Aqui]




... Ou, apenas, mais uma "Voz Silenciosa"?...


Pelo sim, pelo nao...

Wikileaks: Angolano diz que general queria vender uranio

Estamos em plena época natalícia. E a paz continua a ser a maior prenda que podemos dar a nós próprios. Enquanto soubermos preservar esta existência
pacífica que tanto custou a alcançar, o Natal dos angolanos é sempre feliz.
Ainda que o mundo à nossa volta continue a ser um pouco perigoso e violento.

As relações humanas estão a ser contaminadas por muita falsidade e muita
hipocrisia. O próximo é olhado como um inimigo potencial e não como um irmão.
O mundo vive de pé atrás desde que na Internet circulam mensagens que nunca
deviam ter sido pensadas, quanto mais escritas. Para tornar o nosso mundo ainda
pior, há já quem defenda a morte dos mensageiros como forma de preservar a fonte
das mensagens. E parte-se do princípio errado de que somos todos capazes de
fingir amizade e de ter duas caras.

O nosso país esteve exposto demasiados anos a este ambiente apodrecido e foi vítima destas relações espúrias. Sabemos agora como funcionam as fábricas da mentira e as produções da calúnia. Ficámos a saber como se produzem factos a partir de meras fantasias. Passamos a conhecer os fabricantes, os produtores e os vendedores.
Não é um sucesso que seja motivo de orgulho, porque ficámos a saber que as relações
internacionais estão piores do que imaginávamos. Mas é sempre bom saber até onde
podem ir os principais actores das campanhas da difamação e da calúnia.

Angola está evidentemente fora desse mundo que faz do absurdo uma rotina, da falsidade um valor inquestionável, da traição um modo de vida. Nenhum site do mundo pode publicar mensagens dos nossos diplomatas ou dos nossos governantes injuriando, caluniando ou traindo os seus pares, os povos irmãos, os países amigos ou mesmo os jurados inimigos. Temos outros princípios e fomos educados noutros valores. Aprendemos que sem amigos a vida não faz sentido e onde prospera a infâmia e a traição não há lugar para a grandeza de sentimentos que suporta a natureza humana, em todas as circunstâncias, da mais retumbante vitória à mais pesada derrota.

Aprendemos a ter boas relações com todos os países do mundo e sobretudo aprendemos a perdoar a afronta, a agressão, a imoralidade. A paz e a cordialidade merecem todos os sacrifícios pessoais, nem que esses sacrifícios passem pelo perdão sincero. Esse é o caminho e ele não tem segredos. Não há nada de secreto nas nossas relações e é transparente a relação que existe entre eleitos e eleitores, governantes e governados. Em Angola todos temos um compromisso com a paz, com o respeito mútuo, com o desenvolvimento, com a felicidade. E queremos que esses valores estejam no espírito de todos os povos do mundo e sejam as únicas marcas ostentadas pelas sociedades modernas.

(...)

Em Angola em vez de urânio enriquecido, estamos empenhados em criar riqueza para destruirmos a pobreza e a fome. Em Angola não temos armas nucleares.

(...)

Quando desejamos um feliz Natal a todos, estamos a ser sinceros. Não dizemos
belas palavras pela frente e depois disparamos pelas costas. Somos assim mesmo,
leais, sinceros e solidários. Acreditamos no Homem e temos a certeza de que a
paz e a concórdia são possíveis.


[Jose' Ribeiro Aqui]




... Ou, apenas, mais uma "Voz Silenciosa"?...


Pelo sim, pelo nao...

Wikileaks: Angolano diz que general queria vender uranio

Just Poetry (XXXIV)

Nos Barracos da Cidade

Nos barracos da cidade
Ninguém mais tem ilusão
No poder da autoridade
De tomar a decisão
E o poder da autoridade, se pode, não faz questão
Mas se faz questão, não
Consegue
Enfrentar o tubarão

Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita

E o governador promete,
Mas o sistema diz não
Os lucros são muito grandes,
Grandes... ie, ie
E ninguém quer abrir mão, não
Mesmo uma pequena parte
Já seria a solução
Mas a usura dessa gente
Já virou um aleijão

Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita
Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita
Ôôô , ôô
Gente estúpida
Ôôô , ôô
Gente hipócrita


Gilberto Gil

Saturday, 18 December 2010

E por falar em Cegos, Surdos-Mudos e Quejandos...



[imagem daqui]

Amigo do meu inimigo meu inimigo e' e com amigos como estes nao preciso de inimigos
[Popular]


Se bem me recordo, foi Odorico Paraguacu, protagonista da iconica telenovela brasileira O Bem Amado, quem celebrizou a frase “forcas ocultas andam conspirando contra mim!” ... Pois, e’ de “conspiracoes” que me cabe falar nesta, mais uma, altura de balancos do ano.

Tais “conspiracoes” ficaram devidamente assinaladas no balanco do ano passado, que designei “2009 – Annus Horribilis”, tendo havido quem na altura me tivesse desejado um Annus Mirabilis para 2010. Foi-o? Infelizmente nao. No que a “conspiracoes” diz respeito, este foi apenas o ano em que, com a devida licenca, “os caes (e cadelas)” (ou, se se preferir, 'a matilha') deixaram de ladrar tao alto como antes, mas passaram a morder em silencio... Foi, portanto, o ano da “conspiracao do silencio”, por forcas nao exactamente “ocultas”, como as que afligiam Odorico, mas digamos que “publicamente silenciosas”, ou, para usar as palavras deste amigo, “pseudo-silenciosas”...

Nao interessando muito para aqui o “som do seu silencio”, mesmo porque ele fez-se ouvir suficientemente alto em varios posts neste blog ao longo do ano, interessa sobretudo assinalar algo que pode ser melhor expresso atraves de um outro dito, este mais popular que o do Bem Amado: “quem te suja, ja’ nao te limpa!” E... eu fui apedrejada, vilipendiada, difamada, caluniada, ultrajada, enlameada e, obviamente, suja nessa “conspiracao”...

Alguem me limpara’?! No lo creo... E’ que as coisas atingiram niveis tais de absurdo que por vezes apanho-me a pensar que agora para regressar a Angola safe and sound tenho que mudar de nome e fazer uma cirurgia plastica... nao exactamente o “maior sonho” que uma mulher acalenta ao longo da sua vida para que se concretize no ano do seu jubileu e quando se preparava para (finalmente!) regressar definitivamente a sua terra natal!

Mas... that’s how things turn out quando se acontece ser me, myself and I!



[...auto-censurado...]


Posts relacionados:

Castelo de Areia: Atestar de Palavras o Muro de Silencio

Em Terra de Cegos...


E, por falar em "Sociedade Doente":


Carlinhos Zassala: "Mais de 90 por cento dos Angolanos sao doentes"



[imagem daqui]

Amigo do meu inimigo meu inimigo e' e com amigos como estes nao preciso de inimigos
[Popular]


Se bem me recordo, foi Odorico Paraguacu, protagonista da iconica telenovela brasileira O Bem Amado, quem celebrizou a frase “forcas ocultas andam conspirando contra mim!” ... Pois, e’ de “conspiracoes” que me cabe falar nesta, mais uma, altura de balancos do ano.

Tais “conspiracoes” ficaram devidamente assinaladas no balanco do ano passado, que designei “2009 – Annus Horribilis”, tendo havido quem na altura me tivesse desejado um Annus Mirabilis para 2010. Foi-o? Infelizmente nao. No que a “conspiracoes” diz respeito, este foi apenas o ano em que, com a devida licenca, “os caes (e cadelas)” (ou, se se preferir, 'a matilha') deixaram de ladrar tao alto como antes, mas passaram a morder em silencio... Foi, portanto, o ano da “conspiracao do silencio”, por forcas nao exactamente “ocultas”, como as que afligiam Odorico, mas digamos que “publicamente silenciosas”, ou, para usar as palavras deste amigo, “pseudo-silenciosas”...

Nao interessando muito para aqui o “som do seu silencio”, mesmo porque ele fez-se ouvir suficientemente alto em varios posts neste blog ao longo do ano, interessa sobretudo assinalar algo que pode ser melhor expresso atraves de um outro dito, este mais popular que o do Bem Amado: “quem te suja, ja’ nao te limpa!” E... eu fui apedrejada, vilipendiada, difamada, caluniada, ultrajada, enlameada e, obviamente, suja nessa “conspiracao”...

Alguem me limpara’?! No lo creo... E’ que as coisas atingiram niveis tais de absurdo que por vezes apanho-me a pensar que agora para regressar a Angola safe and sound tenho que mudar de nome e fazer uma cirurgia plastica... nao exactamente o “maior sonho” que uma mulher acalenta ao longo da sua vida para que se concretize no ano do seu jubileu e quando se preparava para (finalmente!) regressar definitivamente a sua terra natal!

Mas... that’s how things turn out quando se acontece ser me, myself and I!



[...auto-censurado...]


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Carlinhos Zassala: "Mais de 90 por cento dos Angolanos sao doentes"

Thursday, 16 December 2010

Uma estorieta infantil [actualizado]



It is not Where you live but How you live that matters most
Maya Angelou


Era uma vez...

Corriam os anos “de todas as certezas”, entre finais da decada de 60 e principios da de 70.

Era Luanda e moravamos entao nas, na altura brand new, urbanizacoes da Cuca – na verdade, aquilo era mais Precol do que Cuca, uma vez que a separar-nos havia apenas a linha ferrea. Tratava-se, para a epoca e para aquela zona da cidade, de um moderno complexo habitacional, construido por uma das entao maiores cooperativas habitacionais do pais, com casas suficientemente amenas e condignas, todas de dois andares e varios quartos, jardim com varanda a frente e quintal atras (... invocando um pouco a imagem da “batata no cu, batata na boca” dos casorios de entao...).

Os jardins eram o espaco de todas as competicoes entre os vizinhos (to 'keep up with the joneses', como dizem os ingleses): 'quem mantinha melhor a relva', 'quem tinha as plantas mais bonitas'... Mas o meu espaco de ser, estar e crescer era o quintal, onde cultivavamos uma horta e o meu pai exercia um dos seus maiores especialismos: fertilizar mamoeiros machos!




Outros dos seus especialismos eram ouvir religiosamente o Angola Combatente num radio antigo muito parecido com o da imagem, ler bastante (foi nos livros dele que bebi as minhas primeiras “leituras serias”), fumar cachimbo (para alem dos imprescindiveis ACs) e... escrever poesia!






Um dos seus poemas que ficou mais celebre na familia, escrito em elaborada caligrafia gotica, era dedicado a sua primeira filha, a quem tinha dado o nome Elinar (embora a tenham baptizado Elisa Bernarda, nomes, respectivamente das minhas avos materna e paterna - Elinar era a combinacao dos dois) de onde lhe vem o diminutivo Nanay com que e’ geralmente conhecida ate’ hoje. Poema esse que sempre associo a balada Fur Elise de Beethoven...


E havia os vizinhos: familias negras, brancas, mesticas, cabo-verdianas (estas, geralmente, apenas se distinguiam pelo seu crioulo - que entao se referia apenas a linguagem em que comunicavam entre si...), suponho que quase todos vivendo pela primeira vez a experiencia de partilhar as mesmas ruas e ruelas, becos e vielas, maximbombos e boleias, lojas e cantinas. Enfim, andavamos todos ali a negociar as nossas respectivas identidades e a ver se (... em portugues...) nos entendiamos...

Mas os desentendimentos eram frequentes entre “nos” e os “outros”... Os “nos”, no meu caso particular, eram todo/as com quem eu me entendia e que nao me faziam chorar, ou “perder a paciencia”! Os “outros” eram... os outros! Em particular uns miudos cabo-verdianos muito mais escuros do que nos, mas que quando perdiam em algum jogo ou se saiam mal em alguma brincadeira na rua, iam a correr para casa gritando: “mama, bim ka bie’ ke esta’ faze pretito”! ... Os “pretitos” eramos nos, alguns dos quais mais claros do que eles...

“Outros” eram tambem as miudas brancas da vizinhanca. Um grupinho delas, um belo dia, por entre chorrilhos de insultos racistas, comecou a atirar-nos pedras (... nao, nada parecido com “brincando na serra enquanto o lobo nao vem”...)! Mas nos nao batemos em retirada, nem lhes devolvemos os insultos (... nao sabiamos como – eramos um tanto "gentias", “matumbas” e "bantus" nesse aspecto ...), mas devolvemos-lhes as pedradas... ate’ que eu lhes atirei com uma que acertou em cheio no olho de uma delas!

Bom... a miuda viu estrelas, ficou sem saber de que terra era e... ia perdendo a vista! Por outras palavras, ia ficando aveugle que nem uma cegueta!

Mas o meu pai quando chegou a casa naquele dia e ouviu o relato dos “acontecimentos”, saiu calmamente com a sua caixa de enfermagem, foi pedir desculpas aos pais dela e, durante semanas, como bom enfermeiro que (tambem) era, tratou profissionalmente do olho da miuda ate’ recupera-lo completamente.[*]

Porem, educador firme que (tambem) era, mas tambem sempre cumplice com a minha “paciencia curta” para com racismos e injusticas outras, o meu pai em nenhum momento durante todo aquele episodio, ou depois dele, me dirigiu uma palavra de repreensao... [**]

[Aqueles eram (tambem) os tempos do Milhorro’...]

Mas pergunto, agora “afectuosamente”: o que sera’ feito de ti, oh miuda?...






For many are the pleasant forms which exist in
numerous sins,
and incontinencies,
and disgraceful passions
and fleeting pleasures,

which (men) embrace until they become
sober
and go up to their resting place

And they will find me there,
and they will live
and they will not die again.
 [Toni Morrison, introduction to Paradise]
 
***



Pai,

Aparentemente, eu matei o mulato (santo) deles.
Aparentemente, eu matei o branco (alheio) deles.
Aparentemente, so’ nao te matei a ti, pai.
Nem matei Cristo.
Mas, aparentemente, Cristo pode ressuscitar e pedir:
pai afasta de mim esse calice de vinho tinto de sangue.
Tu nao podes ressuscitar, pai.
Nao podes afastar de mim essas pedras com que me lapidam em Madalena,
nem essa lama com que tentam sujar o bom nome que me deste.
Tu nao podes pai, nunca pudeste.
Por isso nao tenho arrependimentos de Madalena,
nem sentimentos de culpa,
nem complexos de colonizado, pai…
So’ revolta e uma vontade grande de ter respostas!

P.




[*] E isto lembra-me de uma vez, muitos anos depois, em que o artista fez uma feia contusao no dedo grande do pe’ e comecou a ser tratado por uma medica amiga que era vizinha dele, mas passada mais de uma semana nao se notavam nenhumas melhoras, ate’ que eu comecei a trata-lo e... em cerca de 3 dias as melhoras eram notaveis, ate’ que o dedo sarou completamente. Ele veio depois dizer-me que a medica tinha mandado perguntar qual tinha sido o “meu segredo”... Eu na altura "fiz caixinha" so' por gozo, mas revelo-o agora: anos a fio a ver o meu pai trabalhar!


[**] O que me traz a memoria um outro episodio alguns anos antes, quando ainda moravamos na Rua de Benguela [que era separada em duas pela Rua de S. Paulo: para quem viesse da Igreja do mesmo nome - onde fui baptizada e fiz a primeira comunhao e o crisma -, a nossa Rua de Benguela ficava do lado esquerdo, ou seja, no Bairro Operario, vulgo B.O. (ou seja, o SOWETO - South West Township - Luandense), e era a ultima antes da Antonio Enes que separava o B.O. do Miramar]. O meu pai trabalhava, na altura, como enfermeiro da, tambem na altura brand new, fabrica de texteis Textang num turno das 7 da manha as 3 da tarde. Entao o almoco dele era separado e colocado na mesa a sua espera. Num certo dia, o almoco era cozido de bacalhau e eu, por fome ou apenas gulodice ou vontade de comer, fui destapar o prato dele, de onde retirei apenas o ovo, comi-o e voltei a tapar o prato.

Quando o meu pai chegou e alguem lhe disse quem e’ que tinha comido o ovo dele, ele chamou-me, mandou-me sentar a mesa e ordenou-me que comesse todo o resto do prato e que bebesse ao mesmo tempo um litro de agua!

Bem, foi um verdadeiro ordeal para mim que nao tinha estomago para tudo aquilo (especialmente para as batatas enormes!) ... mas que, por entre lagrimas, comi e bebi tudo, la’ isso comi e bebi! E nao vomitei, nem nunca mais me esqueci da licao (sem qualquer outra violencia... alias, nao me lembro de alguma vez o meu pai ter levantado uma mao para me bater!) ou me atrevi a voltar a tocar no prato do pai antes de ele regressar do trabalho.... Era assim que se educavam (algumas) criancas naqueles tempos!




It is not Where you live but How you live that matters most
Maya Angelou


Era uma vez...

Corriam os anos “de todas as certezas”, entre finais da decada de 60 e principios da de 70.

Era Luanda e moravamos entao nas, na altura brand new, urbanizacoes da Cuca – na verdade, aquilo era mais Precol do que Cuca, uma vez que a separar-nos havia apenas a linha ferrea. Tratava-se, para a epoca e para aquela zona da cidade, de um moderno complexo habitacional, construido por uma das entao maiores cooperativas habitacionais do pais, com casas suficientemente amenas e condignas, todas de dois andares e varios quartos, jardim com varanda a frente e quintal atras (... invocando um pouco a imagem da “batata no cu, batata na boca” dos casorios de entao...).

Os jardins eram o espaco de todas as competicoes entre os vizinhos (to 'keep up with the joneses', como dizem os ingleses): 'quem mantinha melhor a relva', 'quem tinha as plantas mais bonitas'... Mas o meu espaco de ser, estar e crescer era o quintal, onde cultivavamos uma horta e o meu pai exercia um dos seus maiores especialismos: fertilizar mamoeiros machos!




Outros dos seus especialismos eram ouvir religiosamente o Angola Combatente num radio antigo muito parecido com o da imagem, ler bastante (foi nos livros dele que bebi as minhas primeiras “leituras serias”), fumar cachimbo (para alem dos imprescindiveis ACs) e... escrever poesia!






Um dos seus poemas que ficou mais celebre na familia, escrito em elaborada caligrafia gotica, era dedicado a sua primeira filha, a quem tinha dado o nome Elinar (embora a tenham baptizado Elisa Bernarda, nomes, respectivamente das minhas avos materna e paterna - Elinar era a combinacao dos dois) de onde lhe vem o diminutivo Nanay com que e’ geralmente conhecida ate’ hoje. Poema esse que sempre associo a balada Fur Elise de Beethoven...


E havia os vizinhos: familias negras, brancas, mesticas, cabo-verdianas (estas, geralmente, apenas se distinguiam pelo seu crioulo - que entao se referia apenas a linguagem em que comunicavam entre si...), suponho que quase todos vivendo pela primeira vez a experiencia de partilhar as mesmas ruas e ruelas, becos e vielas, maximbombos e boleias, lojas e cantinas. Enfim, andavamos todos ali a negociar as nossas respectivas identidades e a ver se (... em portugues...) nos entendiamos...

Mas os desentendimentos eram frequentes entre “nos” e os “outros”... Os “nos”, no meu caso particular, eram todo/as com quem eu me entendia e que nao me faziam chorar, ou “perder a paciencia”! Os “outros” eram... os outros! Em particular uns miudos cabo-verdianos muito mais escuros do que nos, mas que quando perdiam em algum jogo ou se saiam mal em alguma brincadeira na rua, iam a correr para casa gritando: “mama, bim ka bie’ ke esta’ faze pretito”! ... Os “pretitos” eramos nos, alguns dos quais mais claros do que eles...

“Outros” eram tambem as miudas brancas da vizinhanca. Um grupinho delas, um belo dia, por entre chorrilhos de insultos racistas, comecou a atirar-nos pedras (... nao, nada parecido com “brincando na serra enquanto o lobo nao vem”...)! Mas nos nao batemos em retirada, nem lhes devolvemos os insultos (... nao sabiamos como – eramos um tanto "gentias", “matumbas” e "bantus" nesse aspecto ...), mas devolvemos-lhes as pedradas... ate’ que eu lhes atirei com uma que acertou em cheio no olho de uma delas!

Bom... a miuda viu estrelas, ficou sem saber de que terra era e... ia perdendo a vista! Por outras palavras, ia ficando aveugle que nem uma cegueta!

Mas o meu pai quando chegou a casa naquele dia e ouviu o relato dos “acontecimentos”, saiu calmamente com a sua caixa de enfermagem, foi pedir desculpas aos pais dela e, durante semanas, como bom enfermeiro que (tambem) era, tratou profissionalmente do olho da miuda ate’ recupera-lo completamente.[*]

Porem, educador firme que (tambem) era, mas tambem sempre cumplice com a minha “paciencia curta” para com racismos e injusticas outras, o meu pai em nenhum momento durante todo aquele episodio, ou depois dele, me dirigiu uma palavra de repreensao... [**]

[Aqueles eram (tambem) os tempos do Milhorro’...]

Mas pergunto, agora “afectuosamente”: o que sera’ feito de ti, oh miuda?...






For many are the pleasant forms which exist in
numerous sins,
and incontinencies,
and disgraceful passions
and fleeting pleasures,

which (men) embrace until they become
sober
and go up to their resting place

And they will find me there,
and they will live
and they will not die again.
 [Toni Morrison, introduction to Paradise]
 
***



Pai,

Aparentemente, eu matei o mulato (santo) deles.
Aparentemente, eu matei o branco (alheio) deles.
Aparentemente, so’ nao te matei a ti, pai.
Nem matei Cristo.
Mas, aparentemente, Cristo pode ressuscitar e pedir:
pai afasta de mim esse calice de vinho tinto de sangue.
Tu nao podes ressuscitar, pai.
Nao podes afastar de mim essas pedras com que me lapidam em Madalena,
nem essa lama com que tentam sujar o bom nome que me deste.
Tu nao podes pai, nunca pudeste.
Por isso nao tenho arrependimentos de Madalena,
nem sentimentos de culpa,
nem complexos de colonizado, pai…
So’ revolta e uma vontade grande de ter respostas!

P.




[*] E isto lembra-me de uma vez, muitos anos depois, em que o artista fez uma feia contusao no dedo grande do pe’ e comecou a ser tratado por uma medica amiga que era vizinha dele, mas passada mais de uma semana nao se notavam nenhumas melhoras, ate’ que eu comecei a trata-lo e... em cerca de 3 dias as melhoras eram notaveis, ate’ que o dedo sarou completamente. Ele veio depois dizer-me que a medica tinha mandado perguntar qual tinha sido o “meu segredo”... Eu na altura "fiz caixinha" so' por gozo, mas revelo-o agora: anos a fio a ver o meu pai trabalhar!


[**] O que me traz a memoria um outro episodio alguns anos antes, quando ainda moravamos na Rua de Benguela [que era separada em duas pela Rua de S. Paulo: para quem viesse da Igreja do mesmo nome - onde fui baptizada e fiz a primeira comunhao e o crisma -, a nossa Rua de Benguela ficava do lado esquerdo, ou seja, no Bairro Operario, vulgo B.O. (ou seja, o SOWETO - South West Township - Luandense), e era a ultima antes da Antonio Enes que separava o B.O. do Miramar]. O meu pai trabalhava, na altura, como enfermeiro da, tambem na altura brand new, fabrica de texteis Textang num turno das 7 da manha as 3 da tarde. Entao o almoco dele era separado e colocado na mesa a sua espera. Num certo dia, o almoco era cozido de bacalhau e eu, por fome ou apenas gulodice ou vontade de comer, fui destapar o prato dele, de onde retirei apenas o ovo, comi-o e voltei a tapar o prato.

Quando o meu pai chegou e alguem lhe disse quem e’ que tinha comido o ovo dele, ele chamou-me, mandou-me sentar a mesa e ordenou-me que comesse todo o resto do prato e que bebesse ao mesmo tempo um litro de agua!

Bem, foi um verdadeiro ordeal para mim que nao tinha estomago para tudo aquilo (especialmente para as batatas enormes!) ... mas que, por entre lagrimas, comi e bebi tudo, la’ isso comi e bebi! E nao vomitei, nem nunca mais me esqueci da licao (sem qualquer outra violencia... alias, nao me lembro de alguma vez o meu pai ter levantado uma mao para me bater!) ou me atrevi a voltar a tocar no prato do pai antes de ele regressar do trabalho.... Era assim que se educavam (algumas) criancas naqueles tempos!


Jose' Eduardo dos Santos in South Africa

Angola and South Africa signed five bilateral agreements during Angolan President Jose Eduardo dos Santos's first state visit to South Africa on Tuesday.

"These are the Memoranda of Understanding on Public Works and Infrastructure Development, as well as Telecommunications and Information Technologies, and also a Declaration of Intent on the Utilisation of Financial Facilities," President Jacob Zuma said, according to a statement issued by the presidency.

"In this regard, we have just witnessed the signing of five memoranda of understanding."

Angola is the second largest oil producer on the continent after Nigeria.

"We have also directed our ministers to work towards the finalisation of other outstanding agreements. These include the Arts and Culture Agreement, Agreement on Education, and the Merchant Shipping Agreement." Angola assumes the Chair of the Southern African Development Community (SADC) in 2011. South Africa will take over the Chair of the SADC Organ on Politics, Defence and Security.

"Therefore, our two countries will be entrusted with responsibilities ranging from economic integration to peace, security and stability in the region."

They also discussed the need to reform the United Nations, particularly the Security Council, and the Bretton Woods Institutions, which deal with funding.


[More details here]


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"In this regard, we have just witnessed the signing of five memoranda of understanding."

Angola is the second largest oil producer on the continent after Nigeria.

"We have also directed our ministers to work towards the finalisation of other outstanding agreements. These include the Arts and Culture Agreement, Agreement on Education, and the Merchant Shipping Agreement." Angola assumes the Chair of the Southern African Development Community (SADC) in 2011. South Africa will take over the Chair of the SADC Organ on Politics, Defence and Security.

"Therefore, our two countries will be entrusted with responsibilities ranging from economic integration to peace, security and stability in the region."

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Wednesday, 15 December 2010

Parabens... aos escritores que se encontram no interior!

A União dos Escritores Angolanos (UEA) completou mais um aniversário: 35 anos! Os membros, principalmente o seu secretário-geral, Carmo Neto, não quiseram deixar passar a data em branco. É assim que, na sexta-feira passada, ao fim do dia, no Jango da União erguido recentemente, os escritores se reuniram “numa boa”, e falaram de tudo. Dos projectos da UEA, dos livros a serem editados, dos apoios a dar aos escritores que se encontram no interior. Como 35 anos é uma data para se comemorar com muita alegria, os escritores, como não podia deixar de ser, ergueram a taça de champanhe, cortaram o bolo, declamaram poesia, apreciaram os quitutes da terra e acabaram a festa com um pé de dança. Aos membros da UEA, Gente deseja sucessos nos seus projectos. Parabéns!

[Aqui]


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General History of Africa Collection in Portuguese





História Geral da África em Português

Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.


[Detalhes Aqui]

General History of Africa Collection in Portuguese

Published in eight volumes, the General History of Africa is now issued in Portuguese. Its complete edition is also available in Arabic, English and French, and its abridged edition is available in English, French and in several other languages including Hausa, Peul and Swahili. One of UNESCO's most important publishing projects in the last thirty years, the General History of Africa marks a major breakthrough in the recognition of Africa's cultural heritage for it allows the understanding of a historical development of the African people and its relationship with other civilizations from a broad, diachronic, and objective perspective obtained from the inside of theof the continent. The collection has been produced by more than 350 specialists of various areas under the coordination of the International Scientific Committee composed by 39 intellectuals, of which two thirds were African.

[Details Here]


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A Quand L'Afrique: Joseph Ki-Zerbo





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General History of Africa Collection in Portuguese

Published in eight volumes, the General History of Africa is now issued in Portuguese. Its complete edition is also available in Arabic, English and French, and its abridged edition is available in English, French and in several other languages including Hausa, Peul and Swahili. One of UNESCO's most important publishing projects in the last thirty years, the General History of Africa marks a major breakthrough in the recognition of Africa's cultural heritage for it allows the understanding of a historical development of the African people and its relationship with other civilizations from a broad, diachronic, and objective perspective obtained from the inside of theof the continent. The collection has been produced by more than 350 specialists of various areas under the coordination of the International Scientific Committee composed by 39 intellectuals, of which two thirds were African.

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Tuesday, 14 December 2010

E por falar em "representacoes"...



OTHER VIEWS: ART HISTORY IN (SOUTH) AFRICA AND THE GLOBAL SOUTH



SAVAH, the South African Visual Arts Historians, in association with the International Committee of the History of Art (CIHA), addresses in this colloquium concerns about the unequal distribution of resources around the globe and challenges from postcolonial societies to the older methods and concepts of Western art history. These challenges have relevance in South Africa, Africa and the Global South, which in this context is a cultural construct rather than a geographic term. It refers to communities and artistic production, throughout history and across nations, which, within the dominant narratives of Western art, have been ignored, marginalised, displaced and appropriated. The aim is to shift the centre of discourse and challenge received systems of thought, which are still largely positioned within Western-centred logic. The desired outcome is to complicate the history of art and the relationship between histories in the Global South and the ‘North’ or ‘West’.




The programme includes, among others, the following themes:

How might the history of art in an African context challenge the Western art canon? If so, in what way(s) is art in an African context constituted as both regional and contemporary? What is its relation to global art practice at large?

Reality Exploited: Neo-colonial Problems in Contemporary Art

Who Is Entitled to Tell the Black Artist’s Story?

‘Regardless, the Struggle Continues’: Black Consciousness is a Culture of Resistance

Blackness as a Model: Towards a New Art History

Categories of the ‘Other’

White South African Discourse and the Invention of the Modern African Primitive

Art As an Act of Decolonisation: Perspectives From and On the Global South

‘Art Africanism’, ‘Ethnic Marketing’ and ’Artistic Fakes’ in the Contemporary Arts of Africa and the Diaspora

Africa, Africanness, and Their Representation in the Contemporary Mega Exhibition

Modernist Primitivism and Indigenous Modernisms: Transnational Discourse and Local Art Histories

Memory, Creativity and First Voice: Heritage Domains and Subaltern Discourse

Conflicts in the Making of Global Contemporary Art

Functionality and Social Modernism in the Work of Untrained South African Artists

Modernist Primitivism and Modern Art in Early Post-Independence Senegal

South African Beadwork – Craft, Art, Recycling, Bricolage? Reflections on the Problem of the Conceptual Appropriation of the Art of the Global South

Renegotiating Race and Nationality: Commercial and Press-Photography in Post-Independent Mozambique, 1975-1986

Millennium Base and New Ways of Expressing in the Modern Bantu Art

The Oppression of Blacks in South Africa is to Blame for the Inequalities that Face the Art Discourses Today

Fact and Fantasy – a Life beyond the Fact: Women’s Occupational Dress and the Influence of Identity

International Esteem through Local Significance

A New Generation of Utopia: Young Artists’ Careers in the Context of the Trienal de Luanda

Contesting Imperial Narratives and Display of African Art: A Counter History from Nigeria



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The programme includes, among others, the following themes:

How might the history of art in an African context challenge the Western art canon? If so, in what way(s) is art in an African context constituted as both regional and contemporary? What is its relation to global art practice at large?

Reality Exploited: Neo-colonial Problems in Contemporary Art

Who Is Entitled to Tell the Black Artist’s Story?

‘Regardless, the Struggle Continues’: Black Consciousness is a Culture of Resistance

Blackness as a Model: Towards a New Art History

Categories of the ‘Other’

White South African Discourse and the Invention of the Modern African Primitive

Art As an Act of Decolonisation: Perspectives From and On the Global South

‘Art Africanism’, ‘Ethnic Marketing’ and ’Artistic Fakes’ in the Contemporary Arts of Africa and the Diaspora

Africa, Africanness, and Their Representation in the Contemporary Mega Exhibition

Modernist Primitivism and Indigenous Modernisms: Transnational Discourse and Local Art Histories

Memory, Creativity and First Voice: Heritage Domains and Subaltern Discourse

Conflicts in the Making of Global Contemporary Art

Functionality and Social Modernism in the Work of Untrained South African Artists

Modernist Primitivism and Modern Art in Early Post-Independence Senegal

South African Beadwork – Craft, Art, Recycling, Bricolage? Reflections on the Problem of the Conceptual Appropriation of the Art of the Global South

Renegotiating Race and Nationality: Commercial and Press-Photography in Post-Independent Mozambique, 1975-1986

Millennium Base and New Ways of Expressing in the Modern Bantu Art

The Oppression of Blacks in South Africa is to Blame for the Inequalities that Face the Art Discourses Today

Fact and Fantasy – a Life beyond the Fact: Women’s Occupational Dress and the Influence of Identity

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Sunday, 12 December 2010

Em terra de cegos... [Updated]

... O squash pode ser muito util e instrutivo:

Espectadores e jogadores podem nao ver a bola, mas sabem sempre, pelo som, quando, como e onde ela esta' a bater!

Ja' em terra de surdos-mudos, o squash pode ser fatal - nao necessariamente para o jogador, mas certamente para o seu alvo: a parede, a pedra, a abobora e/ou a terra (especialmente os seus donos) ... e', paredes, pedras, aboboras e terras duras sao surdas-mudas!


Em qualquer dos casos, a bola pode bater de tal modo, com tal intensidade e com tal frequencia, que se pode transformar no Calcanhar de Aquiles do alvo...

... ou esmaga-lo como a uma abobora!


A tal historia da "agua mole/bola preta em pedra/parede/abobora/terra dura (especialmente os seus donos) ...!"


... ou do "(cara de) pau que nao verga...!"




... ou de ... "o ultimo a rir...!"



Eh, eh, eh, eh, eh, eh!!!!!

... O squash pode ser muito util e instrutivo:

Espectadores e jogadores podem nao ver a bola, mas sabem sempre, pelo som, quando, como e onde ela esta' a bater!

Ja' em terra de surdos-mudos, o squash pode ser fatal - nao necessariamente para o jogador, mas certamente para o seu alvo: a parede, a pedra, a abobora e/ou a terra (especialmente os seus donos) ... e', paredes, pedras, aboboras e terras duras sao surdas-mudas!


Em qualquer dos casos, a bola pode bater de tal modo, com tal intensidade e com tal frequencia, que se pode transformar no Calcanhar de Aquiles do alvo...

... ou esmaga-lo como a uma abobora!


A tal historia da "agua mole/bola preta em pedra/parede/abobora/terra dura (especialmente os seus donos) ...!"


... ou do "(cara de) pau que nao verga...!"




... ou de ... "o ultimo a rir...!"



Eh, eh, eh, eh, eh, eh!!!!!

Thursday, 9 December 2010

Festival Mondial des Arts Negres [Updated]




Acaba de chegar a minha redaccao, de fonte (ainda) (in)segura, a seguinte informacao:


O musico Angolano Bonga sera’ uma das figuras de maior destaque no Festival Mundial de Artes Negras, a realizar-se no Senegal de 10 a 31 de Dezembro de 2010. Tal como o fez recentemente na Expo Mundial de Xangai (verificar aqui e aqui), Bonga representar-se-ha’ exclusivamente por merito proprio e a Angola unicamente por direito incontestavel.[*]

A mesma fonte acrescenta que, embora tenha sido anunciada por fontes (ainda nao)identificadas a presenca de alguns ballerinos negros comandados por uma prima donna classica europeia branca, mais conhecida em certos circulos "afectuosos" por vulta racista psicopata, provenientes de Angola, a sua prestacao, embora alegadamente "na qualidade de convidada especial", (ainda) nao consta do programa oficial do festival.

Mais acrescenta a fonte que nao lhe foi possivel obter junto dos organizadores do festival uma explicacao para o facto de, sendo Angola, alegadamente, "o pais que deu a luz a danca contemporanea em Africa", este nao se faca (ainda) representar nos Masterclasses e Workshops do festival dedicados a essa arte - e neste ponto, a fonte chama particularmente a atencao para as Masterclasses sobre o Hip Hop, genero que ja' aqui foi bastante discutido. Foi-lhe igualmente impossivel apurar por que razao da lista de personalidades ligadas a danca e coreografos convidados para o festival, abaixo transcrita, nao consta (ainda) nenhum nome relacionado com Angola...



Les personnalités et chorégraphes invités:

Rui Moreira (Brésil), Desmond Richardson (USA), Germaine Acogny (Sénégal), Willa Jo Zollar (USA), Werewere Linking (Côte d’Ivoire), Serge Aimé Coulibaly (Burkina Faso), Damien Zambo (Cameroun), Adafrez Bezuneh (Ethiopie), Sanjeev Bhargava (Inde), Armilinda Gomes Cabral Semedo (Cap Vert), Riyad Fghani (Algérie), Lilou (Algérie), Azdine Ben Youcef (Algérie), Efrén Marcos Suarez Torres (Cuba), Adrian Augier (St Lucie), Steven Faleni, Vusi Mdoyi, Buru Mohlabane (Afrique du Sud), Prince M. F. Lamba (Zambie)
.



[image d'ici]


[Plus d'informations: ici, ici, ici, ici, ici , ici, ici et ici]

RELATED POST:

Other Views: Art History in (South) Africa and The Global South


[*] Outra presenca assinalavel no festival e' a de Simao Souindoula, como aqui se noticia.

UPDATE


A nossa fonte voltou hoje a contactar-nos para nos informar que uma dita Cie d'Angola, presumivelmente a troupe de mademoiselle acima mencionada, actuara' num certo dia do festival, porem a sua margem.

Mais acrescenta a fonte que este update do programa oficial do festival foi feito apenas na vespera do seu inicio, o que evidencia o facto de que a dita Cie d'Angola se faz representar "a pato" no festival (ou, para usar uma expressao mais familiar ao bando, "infiltraram-se num festival de peritos"...) - certamente gracas aos seus links com o p(h)oder -, porque se fosse representar oficialmente Angola, e ainda por cima como alegada "convidada especial", teria, tal como o Bonga, sido convidada com a devida antecedencia e incluida no programa com o devido destaque, como mandam as normas protocolares neste tipo de eventos.

Alias, so' o facto de ela dizer "pomposamente" que a sua companhia vai "representar Angola" em Xangai (sendo que, supostamente, todo o mundo se deveria por isso "roer de inveja" ou sentir "dor de cotovelo"...) e no Senegal, como "convidada especial" (como se uma "convidada especial" fosse apenas mencionada no programa oficial a ultima hora e relegada a uma apresentacao conjunta com outros grupos fora do centro das actividades do festival...), sem nunca mencionar os outros Angolanos que la' foram representar Angola - nao que fosse de esperar que ela sequer mencionasse o Kota Bonga, de quem apenas diz os piores "cobras e lagartos", mas pelo menos os outros que ate' sao da sua "geracao" (etaria, psicologica, emocional, cultural, social, etc.) - nao so' evidencia flagrantemente o quanto e' intelectualmente desonesta (leia-se tambem o quanto e' capaz de mentir descaradamente!), como ja' diz o quanto ela luta com unhas e dentes, a viva forca, para ser "unica" e "invejada"!!...

[Imagem d'aki]





ADENDA

[imagem daqui]


Qual a diferenca qual e' ela entre o trabalho de Maqoma (sobre cuja performance em Angola a nossa 'vamp' se manteve estranhamente silenciosa!...), bem como o de outros artistas Africanos, e o da demoiselle a que aqui nos vimos referindo?

A diferenca e' muito mais simples do que a mera imagem/composicao estetica de violinos e violoncelos (ou outros instrumentos musicais de origem europeia) "abrilhantando", ou "civilizando", dancas africanas, mas e', porem, igualmente muito mais profunda e fundamental: Maqoma investiga HONESTAMENTE a sua propria IDENTIDADE (repare-se no logo deste festival...) em relacao com a Historia, a Humanidade e a Natureza... enquanto a demoiselle em questao, nao so' demonstrou a saciedade ignorar, como abominar aberta e arrogantemente o proprio conceito de IDENTIDADE (tendo por isso dito que eu, por o defender, "deveria cometer um suicidio em grande estilo" ou ser "esquartejada a catanada"!!!) e tem advogado CINICAMENTE, juntamente com os seus acolitos (alguns dos quais ditos negros, mas que tambem dizem "nao se identificar com Africanos"...), o "white-washing" da Historia de Africa! Isto para nao mencionar o celebre abaixo-assinado que lhe foi dirigido por pratica de RACISMO CONTRA NEGROS na escola de danca que dirigia...

Put simply: ACGM e' declarada e incorrigivelmente RACISTA DE EXTREMA DIREITA E SUPREMACISTA BRANCA!!!

Maqoma NAO!

Mais: Maqoma, pelo seu natural respeito pela Humanidade e a Natureza, de acordo com a sua cultura ancestral Africana, certamente jamais se referiria, e ainda por cima em publico (!), a outro ser humano - o sagrado Ntu da cultura baNtu - muito menos um colega de profissao (... e por nenhuma outra razao aparente que nao este ter tido o atrevimento de obter destaque num jornal que o considerava "o verdadeiro icone"... ou seja, por ter tido o atrevimento de fazer sombra a prima donna!), por sinal negro, como um "item que merece ser abortado" (... o que e', alias, reminiscente de um certo "lixo de Angola" - mera coincidencia?...) e a si proprio como unico "conhecedor" da danca no seu pais - sendo certo que qualquer que seja o nivel de conhecimento academico que ele tenha das suas dancas tradicionais, ele nasceu com e no meio delas: nao teve que os ir vulturar a Culturas Africanas que nao sao originariamente as suas e que antes tivera abominado e que continua a ridicularizar apenas para fabricar "plasticamente" uma 'Companhia de Danca Contemporanea' privada a partir de uma 'Academia de Ballet Classico Europeu' estatal falida! Dito de outro modo, Maqoma chega a 'danca contemporanea' a partir das suas proprias raizes culturais ancestrais intuitiva e organicamente, nao por inseminacao artificial como e' o caso de ACGM...

Numa palavra: Maqoma, tal como Pina Bausch, tem ALMA! ... ACGM... DEFINITIVAMENTE NAO!!!

Mais ainda: Maqoma nao danca ballet classico europeu desde os 8 anos de idade... e apenas o ridiculariza!


[imagem daqui]


E to top it all up, ou, dito de outro modo, para por "o preto no branco", e certamente FACTO nao negligenciavel para um Festival Mundial de ARTES NEGRAS, Maqoma e' NEGRO! ACGM... DEFINITIVAMENTE NAO (... seja racica, etnica, tribal, identitaria, cultural, social, politica, ou ideologicamente... e por muito que cubra o corpo semi-nu, ou nu, de chocolate preto)!!!

[E... antes que comecem as mais do que habituais " ameacas e chantagens emocionais" da praxe...:
Com isto pretendendo significar apenas que se o que a sua companhia apresenta, "inspirado" numa cultura africana negra (ou, ja' agora, copiado deste blog) e protagonizado por bailarinos negros, pode passar por "artes negras", isso nao a torna ipso facto negra, nem pertencente a cultura em que se "inspirou" apenas atraves de algumas "visitas de trabalho" - e este particular pode aplicar-se igualmente aos seus bailarinos (veja-se, a este proposito, a diferenca entre tais "visitas medicas" e os longos periodos de residencia e interaccao de uma investigadora seria como Marie Louise Bastin). E este "veredicto" e' baseado nao em qualquer tipo de "preconceito ou discriminacao racial", mas tao so' nas suas atitudes e posicionamentos amplamente registados neste blog! ]


EM SUMA:


ACGM deveria ter VERGONHA de sequer contemplar a possibilidade de por os pes num Festival de Artes Negras!!!

[Mas... vergonha na cara (!), e' certamente algo que nem ela, nem os seus noirs - VULTOS, arrivistas e oportunistas, em suma CARAS DE PAU, como sempre foram - teem ou alguma vez terao. Certamente nao enquanto continuarem a ser apoiados cegamente pelo governo de Angola, em nome de uma nocao de "progresso" que nem eles proprios sao capazes de explicar coerentemente e sistematicamente em detrimento de outros grupos de danca nacionais ('tradicionais', 'patrimoniais', 'modernos', 'contemporaneos', ou 'futuristas'...) de igual, ou maior, merito no pais (quanto mais nao seja porque nao partiram de um background tao previligiado, nem contam com o apoio incondicional e continuado do poder!), evidentemente apenas porque e' branca, vem do ballet classico europeu (... "porque so' assim progrediremos"!...) desde os oito anos de idade, fruto da sua condicao de filha da previligiada (ex) burguesia colonial (condicao que, de resto, e ao contrario de outros - como este ou este -, ela nunca abdicou, repudiou, ou renegou, bien au contraire: faz muita gala e questao disso!) e... porque trabalha no Ministerio da Cultura ha' 33 anos (... e como ela faz muita questao de 'arrotar' enquanto se sente no direito de pisar tudo e todos que, como eu (a quem, a nao esquecer, ela chegou a dirigir ameacas de morte - abertas e veladas!...) , tenham "o atrevimento" sequer de se lhe dirigir com "questoes inoportunas", com o seu "mais alto galardao do estado angolano": "tenho as costas largas"!...), muito embora a companhia com que diz "representar oficialmente Angola na qualidade de convidada especial" seja sua propriedade privada!
E o certo e' que, a partir de agora, nao so' continuara' a auto-proclamar-se "Mais Angolana do que a Angolanidade" e "Mais Africana do que a Africanidade", como tambem... "MAIS NEGRA DO QUE A NEGRITUDE" e... "MAIS AUTENTICA DO QUE A AUTHENTICITE'"!!!]




[imagem daqui]

Mas ha' uma outra questao - e essa e' mais do foro politico-ideologico do que do artistico-cultural: porque que ACGM e' tratada como "vaca sagrada" pelo Ministerio da Cultura e pelo Governo de Angola? Apenas porque "trabalha para eles ha' 33 anos" e por isso pode ser considerada "prata da casa"? Talvez tambem, mas nao apenas.

Como aqui observei a proposito do conceito de "homem novo", o MPLA sempre prosseguiu a politica "assimilacionista" herdada do regime colonial - se nao de forma declarada nos seus programas, declaracoes, discursos e resolucoes, seguramente de forma implicita na sua praxis: a "proteccao" dos nao-negros, em particular os que o integraram na luta anti-colonial, e a "premiacao" daqueles que, com ou sem participacao na luta anti-colonial, ficaram no pais depois da independencia, com a sua integracao nas estruturas do poder de estado (e, no caso dos ultimos, especialmente durante o "movimento de rectificacao" que se seguiu ao 27 de Maio de 1977, a sua integracao no partido como "militantes"), ou com outras "recompensas", era condicao sine qua non para a sua qualificacao como "progressista" e factor decisivo de "diferenciacao" em relacao aos outros movimentos de libertacao, agora partidos politicos da oposicao.

Mas o que nunca esteve previsto, nem implicita, nem explicitamente - e aqui permito-me o atrevimento de falar como alguem que sempre esteve proxima do MPLA e que ate' militou nas suas estruturas (... como frequentemente se diz/ia a proposito deste tipo de questoes: ... "nao foi nada disso que a gente combinou!"...) - era que tal "proteccao" e "premiacao" viessem a significar, na pratica, que os nao-negros em causa, passassem a ser "intocaveis" como ACGM claramente e'... e se nao e', declaradamente e sem quaisquer rebucos, comporta-se como tal - e', alias, (tambem, mas nao apenas) naquela velha tradicao Mplista que o actual lider do BD aparece em publico a "defender" a sua "educacao e elegancia", como aqui fiz notar...! Sendo que, ademais, nao se lhe conhece qualquer vinculo particularmente significativo, organico ou outro, ao MPLA - a nao ser para colher os seus "beneficios", "premios" e "patrocinios"!

Mas, mais importante ainda do que isso, e' que a politica "assimilacionista" e', tambem sem quaisquer rebucos, uma politica "integracionista eurocentrica". Neste contexto, "progresso" e "progressista" significam, nada mais nada menos, do que a adopcao das normas, padroes, canones, praticas, costumes, linguas e culturas europeias - leia-se aqui portuguesas... Assim, o que ACGM vai fazer as Lundas ou ao Moxico, nao e' tentar "integrar-se" na cultura Tchokwe' (ou Cokwe, como preferirem) e adoptar as suas normas e padroes na sua praxis quotidiana de vida (... como nosotros fomos obrigados a fazer sob a politica assimilacionista colonial em relacao a cultura portuguesa!... e, como alguns europeus o fizeram em relacao a algumas das nossas culturas, como aqui se pode constatar), mas apenas ir buscar e trazer, qual kamanguista, alguns elementos daquela cultura, em particular os ligados a danca e, muito especialmente, a sexualidade das suas mulheres, para a "civilizacao" da cidade capital, despudoradamente apropriar-se deles e mescla-los com a sua cultura de origem e de matriz, a europeia/portuguesa, chamar-lhes "cultura, ou danca, contemporanea africana" e dar as suas "pecas" titulos do genero "fantastico-psicadelico-intelectualoide"... Mais nada! E se isso pode ser considerado "legitimo" artisticamente, o que ja' nao e' legitimo e' que ela se comporte como "criadora" da cultura Tchokwe' (Cokwe) ou sua "legitima representante" ou, mais ainda, kaTchokwe': a isso eu chamo, tambem sem quaisquer rebucos, "vulturismo cultural"! E muito menos entitular, como ela o faz, o que ela chama "danca contemporanea africana", como "unico" sinonimo de "qualidade" e "progresso"... porque nao e'! Ou melhor dito: nao e' necessaria nem unicamente!

Porque? Talvez a praxis de outros paises africanos, e em particular da Africa do Sul, o explique melhor: nesses paises, a "danca contemporanea africana" (um conceito que, de resto, nao e' pacifico, como este livro claramente o indica...) coexiste pacificamente com (... nao e' considerada "superior"! Embora, em termos opinativos e meramente subjectivos, qualquer um tenha o direito de o considerar, certa ou erradamente, como tal...) as outras formas de danca ou de expressao cultural.

Assim, um Maqoma na Africa do Sul (onde, convem notar-se, o ballet e a musica classica continuam a ter o seu devido lugar reservado) nao e' considerado "unico representante" da danca, das artes ou da cultura do seu pais, e a sua companhia de danca tem o mesmo status cultural que qualquer outro grupo de danca, desde que demonstrem niveis aceitaveis de qualidade e integridade dentro dos seus respectivos estilos e generos, ou de qualquer outra expressao artistica de qualquer outro grupo etno-linguistico componente do seu vasto e diverso mosaico nacional - como, alias, a sua designacao oficial, especialmente em termos de Politica Cultural, como The Rainbow Nation claramente o indica - dando significado e cor a palavra DIVERSIDADE.

Agora, imagine-se um Maqoma angolano: ficaria eternamente subalternizado a uma ACGM por nao ser herdeiro da burguesia branca do tempo do apartheid, nao andar no ballet classico europeu desde os 8 anos de idade e nao ter uma "parceria publico-privada" com o Ministerio da Cultura!

Mais: nesses paises, o uso de um violino (ou de qualquer outro instrumento musical de origem europeia), ou de um movimento de ballet classico, ou a presenca no grupo de, ou a sua direccao por, uma pessoa nao-negra, nao significa "univocamente" sinal de "qualidade e/ou progresso" - o que no caso da Angola "comandada" por ACGM significa que se esta' no "caminho certo"... para onde? Para o "padrao europeu", e' a resposta! Ou, no quadro da "neofita ideologia dos pretensos afectos" e do "movimento da recolonizacao", para a "Nacao Crioula"! E isso e' mau? - perguntar-me-ao. E eu responderei: nao necessariamente, desde que nao se advogue que esse e' o "unico caminho" valido culturalmente num pais tao diverso racial, social e etno-linguisticamente como Angola.

Os Angolanos (e a Humanidade!) ja' viram guerras e genocidios suficientes por essas razoes para nao continuarem a cometer o mesmo erro!

Tenho dito.




Acaba de chegar a minha redaccao, de fonte (ainda) (in)segura, a seguinte informacao:


O musico Angolano Bonga sera’ uma das figuras de maior destaque no Festival Mundial de Artes Negras, a realizar-se no Senegal de 10 a 31 de Dezembro de 2010. Tal como o fez recentemente na Expo Mundial de Xangai (verificar aqui e aqui), Bonga representar-se-ha’ exclusivamente por merito proprio e a Angola unicamente por direito incontestavel.[*]

A mesma fonte acrescenta que, embora tenha sido anunciada por fontes (ainda nao)identificadas a presenca de alguns ballerinos negros comandados por uma prima donna classica europeia branca, mais conhecida em certos circulos "afectuosos" por vulta racista psicopata, provenientes de Angola, a sua prestacao, embora alegadamente "na qualidade de convidada especial", (ainda) nao consta do programa oficial do festival.

Mais acrescenta a fonte que nao lhe foi possivel obter junto dos organizadores do festival uma explicacao para o facto de, sendo Angola, alegadamente, "o pais que deu a luz a danca contemporanea em Africa", este nao se faca (ainda) representar nos Masterclasses e Workshops do festival dedicados a essa arte - e neste ponto, a fonte chama particularmente a atencao para as Masterclasses sobre o Hip Hop, genero que ja' aqui foi bastante discutido. Foi-lhe igualmente impossivel apurar por que razao da lista de personalidades ligadas a danca e coreografos convidados para o festival, abaixo transcrita, nao consta (ainda) nenhum nome relacionado com Angola...



Les personnalités et chorégraphes invités:

Rui Moreira (Brésil), Desmond Richardson (USA), Germaine Acogny (Sénégal), Willa Jo Zollar (USA), Werewere Linking (Côte d’Ivoire), Serge Aimé Coulibaly (Burkina Faso), Damien Zambo (Cameroun), Adafrez Bezuneh (Ethiopie), Sanjeev Bhargava (Inde), Armilinda Gomes Cabral Semedo (Cap Vert), Riyad Fghani (Algérie), Lilou (Algérie), Azdine Ben Youcef (Algérie), Efrén Marcos Suarez Torres (Cuba), Adrian Augier (St Lucie), Steven Faleni, Vusi Mdoyi, Buru Mohlabane (Afrique du Sud), Prince M. F. Lamba (Zambie)
.



[image d'ici]


[Plus d'informations: ici, ici, ici, ici, ici , ici, ici et ici]

RELATED POST:

Other Views: Art History in (South) Africa and The Global South


[*] Outra presenca assinalavel no festival e' a de Simao Souindoula, como aqui se noticia.

UPDATE


A nossa fonte voltou hoje a contactar-nos para nos informar que uma dita Cie d'Angola, presumivelmente a troupe de mademoiselle acima mencionada, actuara' num certo dia do festival, porem a sua margem.

Mais acrescenta a fonte que este update do programa oficial do festival foi feito apenas na vespera do seu inicio, o que evidencia o facto de que a dita Cie d'Angola se faz representar "a pato" no festival (ou, para usar uma expressao mais familiar ao bando, "infiltraram-se num festival de peritos"...) - certamente gracas aos seus links com o p(h)oder -, porque se fosse representar oficialmente Angola, e ainda por cima como alegada "convidada especial", teria, tal como o Bonga, sido convidada com a devida antecedencia e incluida no programa com o devido destaque, como mandam as normas protocolares neste tipo de eventos.

Alias, so' o facto de ela dizer "pomposamente" que a sua companhia vai "representar Angola" em Xangai (sendo que, supostamente, todo o mundo se deveria por isso "roer de inveja" ou sentir "dor de cotovelo"...) e no Senegal, como "convidada especial" (como se uma "convidada especial" fosse apenas mencionada no programa oficial a ultima hora e relegada a uma apresentacao conjunta com outros grupos fora do centro das actividades do festival...), sem nunca mencionar os outros Angolanos que la' foram representar Angola - nao que fosse de esperar que ela sequer mencionasse o Kota Bonga, de quem apenas diz os piores "cobras e lagartos", mas pelo menos os outros que ate' sao da sua "geracao" (etaria, psicologica, emocional, cultural, social, etc.) - nao so' evidencia flagrantemente o quanto e' intelectualmente desonesta (leia-se tambem o quanto e' capaz de mentir descaradamente!), como ja' diz o quanto ela luta com unhas e dentes, a viva forca, para ser "unica" e "invejada"!!...

[Imagem d'aki]





ADENDA

[imagem daqui]


Qual a diferenca qual e' ela entre o trabalho de Maqoma (sobre cuja performance em Angola a nossa 'vamp' se manteve estranhamente silenciosa!...), bem como o de outros artistas Africanos, e o da demoiselle a que aqui nos vimos referindo?

A diferenca e' muito mais simples do que a mera imagem/composicao estetica de violinos e violoncelos (ou outros instrumentos musicais de origem europeia) "abrilhantando", ou "civilizando", dancas africanas, mas e', porem, igualmente muito mais profunda e fundamental: Maqoma investiga HONESTAMENTE a sua propria IDENTIDADE (repare-se no logo deste festival...) em relacao com a Historia, a Humanidade e a Natureza... enquanto a demoiselle em questao, nao so' demonstrou a saciedade ignorar, como abominar aberta e arrogantemente o proprio conceito de IDENTIDADE (tendo por isso dito que eu, por o defender, "deveria cometer um suicidio em grande estilo" ou ser "esquartejada a catanada"!!!) e tem advogado CINICAMENTE, juntamente com os seus acolitos (alguns dos quais ditos negros, mas que tambem dizem "nao se identificar com Africanos"...), o "white-washing" da Historia de Africa! Isto para nao mencionar o celebre abaixo-assinado que lhe foi dirigido por pratica de RACISMO CONTRA NEGROS na escola de danca que dirigia...

Put simply: ACGM e' declarada e incorrigivelmente RACISTA DE EXTREMA DIREITA E SUPREMACISTA BRANCA!!!

Maqoma NAO!

Mais: Maqoma, pelo seu natural respeito pela Humanidade e a Natureza, de acordo com a sua cultura ancestral Africana, certamente jamais se referiria, e ainda por cima em publico (!), a outro ser humano - o sagrado Ntu da cultura baNtu - muito menos um colega de profissao (... e por nenhuma outra razao aparente que nao este ter tido o atrevimento de obter destaque num jornal que o considerava "o verdadeiro icone"... ou seja, por ter tido o atrevimento de fazer sombra a prima donna!), por sinal negro, como um "item que merece ser abortado" (... o que e', alias, reminiscente de um certo "lixo de Angola" - mera coincidencia?...) e a si proprio como unico "conhecedor" da danca no seu pais - sendo certo que qualquer que seja o nivel de conhecimento academico que ele tenha das suas dancas tradicionais, ele nasceu com e no meio delas: nao teve que os ir vulturar a Culturas Africanas que nao sao originariamente as suas e que antes tivera abominado e que continua a ridicularizar apenas para fabricar "plasticamente" uma 'Companhia de Danca Contemporanea' privada a partir de uma 'Academia de Ballet Classico Europeu' estatal falida! Dito de outro modo, Maqoma chega a 'danca contemporanea' a partir das suas proprias raizes culturais ancestrais intuitiva e organicamente, nao por inseminacao artificial como e' o caso de ACGM...

Numa palavra: Maqoma, tal como Pina Bausch, tem ALMA! ... ACGM... DEFINITIVAMENTE NAO!!!

Mais ainda: Maqoma nao danca ballet classico europeu desde os 8 anos de idade... e apenas o ridiculariza!


[imagem daqui]


E to top it all up, ou, dito de outro modo, para por "o preto no branco", e certamente FACTO nao negligenciavel para um Festival Mundial de ARTES NEGRAS, Maqoma e' NEGRO! ACGM... DEFINITIVAMENTE NAO (... seja racica, etnica, tribal, identitaria, cultural, social, politica, ou ideologicamente... e por muito que cubra o corpo semi-nu, ou nu, de chocolate preto)!!!

[E... antes que comecem as mais do que habituais " ameacas e chantagens emocionais" da praxe...:
Com isto pretendendo significar apenas que se o que a sua companhia apresenta, "inspirado" numa cultura africana negra (ou, ja' agora, copiado deste blog) e protagonizado por bailarinos negros, pode passar por "artes negras", isso nao a torna ipso facto negra, nem pertencente a cultura em que se "inspirou" apenas atraves de algumas "visitas de trabalho" - e este particular pode aplicar-se igualmente aos seus bailarinos (veja-se, a este proposito, a diferenca entre tais "visitas medicas" e os longos periodos de residencia e interaccao de uma investigadora seria como Marie Louise Bastin). E este "veredicto" e' baseado nao em qualquer tipo de "preconceito ou discriminacao racial", mas tao so' nas suas atitudes e posicionamentos amplamente registados neste blog! ]


EM SUMA:


ACGM deveria ter VERGONHA de sequer contemplar a possibilidade de por os pes num Festival de Artes Negras!!!

[Mas... vergonha na cara (!), e' certamente algo que nem ela, nem os seus noirs - VULTOS, arrivistas e oportunistas, em suma CARAS DE PAU, como sempre foram - teem ou alguma vez terao. Certamente nao enquanto continuarem a ser apoiados cegamente pelo governo de Angola, em nome de uma nocao de "progresso" que nem eles proprios sao capazes de explicar coerentemente e sistematicamente em detrimento de outros grupos de danca nacionais ('tradicionais', 'patrimoniais', 'modernos', 'contemporaneos', ou 'futuristas'...) de igual, ou maior, merito no pais (quanto mais nao seja porque nao partiram de um background tao previligiado, nem contam com o apoio incondicional e continuado do poder!), evidentemente apenas porque e' branca, vem do ballet classico europeu (... "porque so' assim progrediremos"!...) desde os oito anos de idade, fruto da sua condicao de filha da previligiada (ex) burguesia colonial (condicao que, de resto, e ao contrario de outros - como este ou este -, ela nunca abdicou, repudiou, ou renegou, bien au contraire: faz muita gala e questao disso!) e... porque trabalha no Ministerio da Cultura ha' 33 anos (... e como ela faz muita questao de 'arrotar' enquanto se sente no direito de pisar tudo e todos que, como eu (a quem, a nao esquecer, ela chegou a dirigir ameacas de morte - abertas e veladas!...) , tenham "o atrevimento" sequer de se lhe dirigir com "questoes inoportunas", com o seu "mais alto galardao do estado angolano": "tenho as costas largas"!...), muito embora a companhia com que diz "representar oficialmente Angola na qualidade de convidada especial" seja sua propriedade privada!
E o certo e' que, a partir de agora, nao so' continuara' a auto-proclamar-se "Mais Angolana do que a Angolanidade" e "Mais Africana do que a Africanidade", como tambem... "MAIS NEGRA DO QUE A NEGRITUDE" e... "MAIS AUTENTICA DO QUE A AUTHENTICITE'"!!!]




[imagem daqui]

Mas ha' uma outra questao - e essa e' mais do foro politico-ideologico do que do artistico-cultural: porque que ACGM e' tratada como "vaca sagrada" pelo Ministerio da Cultura e pelo Governo de Angola? Apenas porque "trabalha para eles ha' 33 anos" e por isso pode ser considerada "prata da casa"? Talvez tambem, mas nao apenas.

Como aqui observei a proposito do conceito de "homem novo", o MPLA sempre prosseguiu a politica "assimilacionista" herdada do regime colonial - se nao de forma declarada nos seus programas, declaracoes, discursos e resolucoes, seguramente de forma implicita na sua praxis: a "proteccao" dos nao-negros, em particular os que o integraram na luta anti-colonial, e a "premiacao" daqueles que, com ou sem participacao na luta anti-colonial, ficaram no pais depois da independencia, com a sua integracao nas estruturas do poder de estado (e, no caso dos ultimos, especialmente durante o "movimento de rectificacao" que se seguiu ao 27 de Maio de 1977, a sua integracao no partido como "militantes"), ou com outras "recompensas", era condicao sine qua non para a sua qualificacao como "progressista" e factor decisivo de "diferenciacao" em relacao aos outros movimentos de libertacao, agora partidos politicos da oposicao.

Mas o que nunca esteve previsto, nem implicita, nem explicitamente - e aqui permito-me o atrevimento de falar como alguem que sempre esteve proxima do MPLA e que ate' militou nas suas estruturas (... como frequentemente se diz/ia a proposito deste tipo de questoes: ... "nao foi nada disso que a gente combinou!"...) - era que tal "proteccao" e "premiacao" viessem a significar, na pratica, que os nao-negros em causa, passassem a ser "intocaveis" como ACGM claramente e'... e se nao e', declaradamente e sem quaisquer rebucos, comporta-se como tal - e', alias, (tambem, mas nao apenas) naquela velha tradicao Mplista que o actual lider do BD aparece em publico a "defender" a sua "educacao e elegancia", como aqui fiz notar...! Sendo que, ademais, nao se lhe conhece qualquer vinculo particularmente significativo, organico ou outro, ao MPLA - a nao ser para colher os seus "beneficios", "premios" e "patrocinios"!

Mas, mais importante ainda do que isso, e' que a politica "assimilacionista" e', tambem sem quaisquer rebucos, uma politica "integracionista eurocentrica". Neste contexto, "progresso" e "progressista" significam, nada mais nada menos, do que a adopcao das normas, padroes, canones, praticas, costumes, linguas e culturas europeias - leia-se aqui portuguesas... Assim, o que ACGM vai fazer as Lundas ou ao Moxico, nao e' tentar "integrar-se" na cultura Tchokwe' (ou Cokwe, como preferirem) e adoptar as suas normas e padroes na sua praxis quotidiana de vida (... como nosotros fomos obrigados a fazer sob a politica assimilacionista colonial em relacao a cultura portuguesa!... e, como alguns europeus o fizeram em relacao a algumas das nossas culturas, como aqui se pode constatar), mas apenas ir buscar e trazer, qual kamanguista, alguns elementos daquela cultura, em particular os ligados a danca e, muito especialmente, a sexualidade das suas mulheres, para a "civilizacao" da cidade capital, despudoradamente apropriar-se deles e mescla-los com a sua cultura de origem e de matriz, a europeia/portuguesa, chamar-lhes "cultura, ou danca, contemporanea africana" e dar as suas "pecas" titulos do genero "fantastico-psicadelico-intelectualoide"... Mais nada! E se isso pode ser considerado "legitimo" artisticamente, o que ja' nao e' legitimo e' que ela se comporte como "criadora" da cultura Tchokwe' (Cokwe) ou sua "legitima representante" ou, mais ainda, kaTchokwe': a isso eu chamo, tambem sem quaisquer rebucos, "vulturismo cultural"! E muito menos entitular, como ela o faz, o que ela chama "danca contemporanea africana", como "unico" sinonimo de "qualidade" e "progresso"... porque nao e'! Ou melhor dito: nao e' necessaria nem unicamente!

Porque? Talvez a praxis de outros paises africanos, e em particular da Africa do Sul, o explique melhor: nesses paises, a "danca contemporanea africana" (um conceito que, de resto, nao e' pacifico, como este livro claramente o indica...) coexiste pacificamente com (... nao e' considerada "superior"! Embora, em termos opinativos e meramente subjectivos, qualquer um tenha o direito de o considerar, certa ou erradamente, como tal...) as outras formas de danca ou de expressao cultural.

Assim, um Maqoma na Africa do Sul (onde, convem notar-se, o ballet e a musica classica continuam a ter o seu devido lugar reservado) nao e' considerado "unico representante" da danca, das artes ou da cultura do seu pais, e a sua companhia de danca tem o mesmo status cultural que qualquer outro grupo de danca, desde que demonstrem niveis aceitaveis de qualidade e integridade dentro dos seus respectivos estilos e generos, ou de qualquer outra expressao artistica de qualquer outro grupo etno-linguistico componente do seu vasto e diverso mosaico nacional - como, alias, a sua designacao oficial, especialmente em termos de Politica Cultural, como The Rainbow Nation claramente o indica - dando significado e cor a palavra DIVERSIDADE.

Agora, imagine-se um Maqoma angolano: ficaria eternamente subalternizado a uma ACGM por nao ser herdeiro da burguesia branca do tempo do apartheid, nao andar no ballet classico europeu desde os 8 anos de idade e nao ter uma "parceria publico-privada" com o Ministerio da Cultura!

Mais: nesses paises, o uso de um violino (ou de qualquer outro instrumento musical de origem europeia), ou de um movimento de ballet classico, ou a presenca no grupo de, ou a sua direccao por, uma pessoa nao-negra, nao significa "univocamente" sinal de "qualidade e/ou progresso" - o que no caso da Angola "comandada" por ACGM significa que se esta' no "caminho certo"... para onde? Para o "padrao europeu", e' a resposta! Ou, no quadro da "neofita ideologia dos pretensos afectos" e do "movimento da recolonizacao", para a "Nacao Crioula"! E isso e' mau? - perguntar-me-ao. E eu responderei: nao necessariamente, desde que nao se advogue que esse e' o "unico caminho" valido culturalmente num pais tao diverso racial, social e etno-linguisticamente como Angola.

Os Angolanos (e a Humanidade!) ja' viram guerras e genocidios suficientes por essas razoes para nao continuarem a cometer o mesmo erro!

Tenho dito.

Wednesday, 8 December 2010

... E por falar em Poetas Angolanas...



O Amor Tem Asas de Ouro «Antologia da Poesia Feminina Angolana»

Gioveth & Seomara Santos Filomena

Assumimos que a colectânea «O Amor Tem Asas de Ouro», é um projecto parcial e divulga o lado mais lírico das mulheres angolanas poetas, para que o leitor sinta essa peculiaridade de vozes com alguma felicidade e deleite.

[Clique na imagem para aceder a Antologia]



Nota: Sendo embora questionavel o facto de a uma colectanea de Poesia Feminina Angolana se ter dado o titulo de um poema de uma escritora portuguesa, aparentemente sem qualquer ligacao conhecida com Angola, Natalia Correia, nao deixa de ser notavel o facto de que essa mesma escritora tenha sido uma das que mais se destacou na "subversao feminista" de conceitos como "patria" (que rebaptizou "matria") e "poetisa" (que preteria em favor de "poeta"). Foram tambem dela estas palavras: «Oh sub-alimentados do sonho, a poesia é para se comer!»


[Post relacionado: "Como Veias Finas na Terra"]




O Amor Tem Asas de Ouro «Antologia da Poesia Feminina Angolana»

Gioveth & Seomara Santos Filomena

Assumimos que a colectânea «O Amor Tem Asas de Ouro», é um projecto parcial e divulga o lado mais lírico das mulheres angolanas poetas, para que o leitor sinta essa peculiaridade de vozes com alguma felicidade e deleite.

[Clique na imagem para aceder a Antologia]



Nota: Sendo embora questionavel o facto de a uma colectanea de Poesia Feminina Angolana se ter dado o titulo de um poema de uma escritora portuguesa, aparentemente sem qualquer ligacao conhecida com Angola, Natalia Correia, nao deixa de ser notavel o facto de que essa mesma escritora tenha sido uma das que mais se destacou na "subversao feminista" de conceitos como "patria" (que rebaptizou "matria") e "poetisa" (que preteria em favor de "poeta"). Foram tambem dela estas palavras: «Oh sub-alimentados do sonho, a poesia é para se comer!»


[Post relacionado: "Como Veias Finas na Terra"]


Monday, 6 December 2010

Como veias finas na terra [Updated]




Novo livro de uma das poetisas mais reconhecidas de Angola. Os referentes temáticos são africanos, mas são tratados de uma forma universal e intimista, através de uma escrita delicada, depurada, imagética.


Assim publicitam os seus editores este novo livro de Ana Paula Tavares, a ser lancado amanha em Lisboa.

Trata-se de mais uma obra de uma Mulher serena, culta e madura, com personalidade e identidade proprias bem vincadas, que, recentemente, depois de longos anos sem nos vermos e sem termos tido qualquer contacto, por razoes alheias a vontade de ambas, muito profunda e agradavelmente me surpreendeu com uma mensagem por e-mail, a que se seguiu (como aqui ha' tempos referi de passagem) o retomar de uma Amizade que, malgre' tout, nunca se perdeu pelas vias finas na terra.

Aqui deixo, em sua homenagem e com a devida venia, um registo de algumas das palavras que me dirigiu nessa correspondencia:




Querida Ana,
Há muito que queria escrever-te, lembrar uma amizade antiga e
saudar-te pelo magnifico blog. Bem hajas por tão apurado trabalho e um abraço da
Ana paula tavares.
(...)
Vida de muitas voltas que terás que escrever
para os nossos filhos e para memória futura. a nossa terra tem uma tal
vitalidade que as coisas do Antigamente na vida tendem a esquecer-se depressa.
(...)
Mas acho que não andas longe da história e a tua formação será
contributo de primeira água.
(...)
Quanto a ti uma economista que gosta
e sabe a história é mais importante que o historiador preso nos seus papéis.
Acredita. Quanto à escrita entendo as tuas preocupações e sei que vai chegar o
momento. Ser contra a corrente é ser escritor a sério, é saber quando se fala e
quando se reune no silêncio a ciência certa da escrita. Um abraço da Ana paula



Enfim, como diria o Mais Velho Raul David, e eu subscreveria, "uma Mulher muito educada e que sabe estar"!


Bem Hajas, Ana Paula Tavares, porque, a seres "unica", es de facto a unica Mulher que respeito o suficiente para nao deixar de estimar e desejar todo o sucesso do mundo, mesmo quando, ocasionalmente, a natural divergencia de opinioes sobre questoes pontuais entre duas pessoas naturalmente diferentes e com trajectorias diferentes, mas com um "chao comum", nos parecem distanciar...
Ou quando quem nunca connosco partilhou esse "chao comum", por longinquo que agora possa parecer, nos tenta a todo o custo distanciar e "enclausurar-te" em seus, ainda que apenas psicopaticamente imaginarios, "circulos restritos", como aconteceu quando (... numa "estorieta infantil" que hoje, infelizmente, mais uma vez se repete...) me vi compelida a tecer este comentario (que sei que sabes bem que, em circunstancias normais, nao faria - certamente nao da forma, ou no local, em que o fiz...), muito anterior a correspondencia que hoje aqui decidi "ecoar" a bem, como referes, de uma memoria futura para os nossos filhos que seja, acima de tudo e de todos, verdadeira e saudavel.


Um abraco (sempre) amigo da (outra) Ana Paula.


[Mais detalhes sobre o lancamento do livro aqui]




ADENDA


No seguimento da minha resposta ao "Poeta Amigo", abaixo, decidi tecer aqui as seguintes observacoes adicionais:


Devo dizer que sempre aceitei TODO o tipo de criticas razoaveis ao meu trabalho, embora em alguns casos mais "duvidosos", como dizem os ingleses, “with a pinch of salt”... Isso porque, em primeiro lugar, nunca fui “auto-convencida” em relacao a minha poesia ao ponto de ignorar, ou mesmo deixar de solicitar, a opiniao de outros sobre ela e, em segundo lugar, porque, pelo menos ate’ muito recentemente, sempre me permiti ser “ingenua” o suficiente para acreditar que alguem que se de ao trabalho de ditar “sentencas lapidares” sobre algo sempre tao pessoal e delicado como a poesia, teria sensibilidade e sagacidade suficientes para nao se deixar cair no flagrante delito do ataque pessoal!

Mas a verdade e’ que, se a minha entrada na blogosfera teve algum merito, ele foi o de me abrir completa e definitivamente os olhos para o quao baixo certas pessoas sao capazes de descer, frequentemente movidas apenas pelo despeito e o ressaibo, ou pela inveja, o ciume e o odio, quando nao apenas pelo racismo puro e duro!... Ou, tao so’, para se “vingarem e ressarcirem” da sua incapacidade de defenderem coerente, congruente, racional e inteligentemente as 'suas ideias e posicionamentos' em debates abertos comigo sobre outras questoes (o tal de "convem sabermos sempre o que nos espera"!) ... E so’ tenho pena que muito desse “trash” acabe por passar por “critica construtiva e honesta”... Muita pena mesmo!

Mas, chegada a este estagio da minha vida, ja’ nao e’ por mim, nem pela minha poesia, que sinto pena, mas apenas por quem produz tal “trash” e por quem eventualmente o consuma... Ja’ para nao mencionar as outras poetas angolanas (...continuo a preferir “ignorar” aqui, em nome do conceito de “genero”, o masculino/feminino que continua a ter outra/os a tratar as mulheres que escrevem poesia como “poetisas”...) aparentemente “esquecidas” no meio de tudo isso.

Diria apenas que, quaisquer que sejam as “driving forces” por detras dos nossos respectivos processos criativos e por diversos que sejam os nossos “outputs” literarios, tanto qualitativa como quantitativamente, e quaisquer que tenham sido as motivacoes de quem decidiu publicar os nossos primeiros livros simultaneamente [*], creio ser certo e seguro que nem eu, nem a Paula Tavares, decidimos comecar (ou continuar, ou nao) a escrever para emular (certamente nao para “hostilizar” ou “eclipsar”) a outra e muito menos para que a nossa poesia fosse usada como "arma de arremesso" por outra(o)s em guerras intestinas, quentes ou frias, com motivacoes racicas que nada teem a ver com poesia (algo que, de resto, deixei aqui bem claro!) ... e mesmo que eu tambem tivesse publicado tanto quanto, ou mesmo mais do que ela, haveria sempre “gostos e desgostos para todos os gostos” em relacao a poesia de uma e de outra... e isto pressupondo um ambiente literario, cultural, social e politico circundante “sadio, calmo e tranquilo” e nao aquele que constitui o nosso “chao comum”, como aqui se pode constatar!

Anyway, creio nao valer a pena dizer muito mais sobre tudo isso, excepto talvez uma breve nota sobre a “credibilidade da critica literaria”: nos extractos que acima tomei a liberdade de transcrever, a Paula Tavares fala em “ciencia certa da escrita” – um conceito certamente nao pacifico (!), mas que aceito provisoriamente.

Pois bem, em toda a ciencia, o criterio de validacao de qualquer “veredicto” e’ estabelecido pela objectividade e racionalidade dos seus fundamentos, os quais nao podem, em nenhuma circunstancia, ser baseados apenas em criterios de subjectividade pessoal (como a afectividade ou a amizade - e, a este proposito, recordo uma conhecida doutorada em letras/ critica literaria (?) que, numa cronica publicada no SA, se declarou abertamente suspeita por, juntamente com outra proeminente sua congenere brasileira, ser "amiga da Paula Tavares"...), preferencias esteticas individuais (como a cor da pele), ou conviccoes politico-ideologicas ou religiosas e muito menos em comparacoes e ilacoes aleatorias e arbitrarias completamente abstraidas do contexto especifico e das condicoes concretas em que a "ciencia" (neste caso a "escrita") se produz, condicoes essas em que se incluem factores historicos, sociais, culturais, psicologicos e etico-morais, entre outros (como os, mais obvios, "marcadores (etno)linguisticos e/ou geograficos") ...

Assim, o estabelecimento de qualquer veredicto sobre o que, ou quem, e’ “unico”, pressupoe a existencia, ou o estabelecimento, de um padrao, ou canone, igualmente “unico”, extremamente dificil (senao impossivel!) de estabelecer “cientificamente” em literatura e muito mais ainda em poesia... - uma questao, alias, amplamente evidenciada por este kibeto.

Mas, talvez mais determinante dalguns desses "veredictos" (e aqui refiro-me apenas aqueles que podem com propriedade reclamar alguma “objectividade e isencao” e, consequentemente, alguma "credibilidade"...) e’ que, como aqui recentemente observei, o “mundo lusofono” e’, sempre foi desde Camoes, um “mundo de poetas” (veja-se, por exemplo, o sucesso que fazem os blogs de poesia na lusosfera...), em que a ciencia sempre foi “subalternizada” relativamente a literatura, e em particular a poesia, e a pratica simultanea de ambas vista como "antagonica" (...mas, veja-se a este proposito o caso de Fernando Pessoa...), sendo, em particular, disciplinas/profissoes como a economia vistas geralmente como "frias e calculistas" ou "insensiveis e a-sociais" (algo reflectido de algum modo, embora nao explicitamente, aqui e aqui) ... Mas, sobre isso, lembro-me de, ha’ ja’ varios anos, ainda em Lisboa, ter concedido uma entrevista a uma jornalista/escritora brasileira em que lhe dizia algo como isto: “Os poetas (ou pelo menos alguns) teem o sonho de mudar o mundo para melhor, os economistas (ou pelo menos alguns) tambem (e o espirito do velho Marx por ai ainda paira para o provar) ... apenas com uma diferenca: estes podem faze-lo por outros (quica mais eficazes...) meios e metodos!”

E isso sem qualquer demerito para os poetas em geral, e menos ainda para a regularidade, a proficuidade e a qualidade da producao poetica da Paula Tavares – sobre a qual, devo aqui enfatizar, nunca teci qualquer comentario menos abonatorio: a referencia a “divergencias de opiniao” que faco acima prende-se a algumas questoes pontuais emanentes de algumas das suas cronicas - duas para ser mais precisa - sobre as quais comentei noutros posts aqui neste blog. O unico comentario um tanto “mais problematico” que fiz, e foi apenas a um dos seus poemas e, acrescente-se, “forcadamente”, foi ao seu uso da “sua mascara da Pwo”, mas o contexto em que o fiz revela claramente que nao o fiz por razoes estritamente poeticas, mas por razoes mais amplamente historicas e socio-culturais - as quais podem ser identificadas aqui...

Tendo dito tudo isso, resta-me apenas pedir, mais uma vez, desculpas a Ana Paula Tavares por ter assim “violado a nossa correspondencia”, que preferiria ter mantido, como deveria, privada – mas... como soi dizer-se, “para grandes males, grandes remedios!”





[*] Torna-se meu dever registar aqui que ouvi diversas vezes, por diversas pessoas e de diversas formas, que "eu so' fui 'promovida' para a UEA (... o tal "porque promover uns e nao outros?"...) e o meu livro publicado simultaneamente, numa especie de "accao afirmativa", para 'cobrir' o lancamento da Paula Tavares pela mesma UEA e 'precaver' as previsiveis acusacoes de racismo com que na altura aquela instituicao vivia cercada... Certo ou errado, o facto e' que, infelizmente, madames como esta e, mais recentemente, esta e estas, apenas teem corroborado essa versao... Mas, tambem sera' de notar que a mensagem de um dos postais, incluido aqui, que recebi de quem foi responsavel por tal lancamento simultaneo, Luandino Vieira, talvez possa sugerir algo diferente...


Uma outra nota digna de registo e' a seguinte: havia uma pessoa amiga a quem eu por vezes dava a ler os meus poemas e a reaccao dela era, quase sempre, zombar deles... ate' que no dia em que o Luandino me deu a ler os pareceres do painel que ele tinha consultado para avaliacao eu lhe contei do que tinha escrito Ndunduma ("... depois de Alda Lara, eis que surge Ana Santana...") e a reaccao imediata daquela pessoa foi: "nao... depois de Alda Lara e' a Paula Tavares"! E isso sem que ela conhecesse bem pessoalmente a Paula Tavares ou a sua poesia e muito antes de os nossos livros terem sido publicados...





ADENDA 2

Veem certamente a proposito as seguintes palavras de Paula Tavares, de que apenas tive conhecimento depois da publicacao deste post:

P- É normalmente apontada como a referência da poesia contemporânea angolana no feminino. O que significa isso, na verdade?

R - Não, não é verdade. Isso seria de uma injustiça extrema para com Ana de Santana, Liza Castel e Maria Alexandre Dáskalos, para só citar três nomes de criadoras intensas, originais no universo da poesia angolana. O número de títulos publicados não invalida outras contribuições de grande qualidade. Procuro um lugar no universo da poesia angolana, porque é de Angola a minha fala. Não sou muito dada a concursos, lugares cimeiros, comendas.

[Aqui]







Novo livro de uma das poetisas mais reconhecidas de Angola. Os referentes temáticos são africanos, mas são tratados de uma forma universal e intimista, através de uma escrita delicada, depurada, imagética.


Assim publicitam os seus editores este novo livro de Ana Paula Tavares, a ser lancado amanha em Lisboa.

Trata-se de mais uma obra de uma Mulher serena, culta e madura, com personalidade e identidade proprias bem vincadas, que, recentemente, depois de longos anos sem nos vermos e sem termos tido qualquer contacto, por razoes alheias a vontade de ambas, muito profunda e agradavelmente me surpreendeu com uma mensagem por e-mail, a que se seguiu (como aqui ha' tempos referi de passagem) o retomar de uma Amizade que, malgre' tout, nunca se perdeu pelas vias finas na terra.

Aqui deixo, em sua homenagem e com a devida venia, um registo de algumas das palavras que me dirigiu nessa correspondencia:




Querida Ana,
Há muito que queria escrever-te, lembrar uma amizade antiga e
saudar-te pelo magnifico blog. Bem hajas por tão apurado trabalho e um abraço da
Ana paula tavares.
(...)
Vida de muitas voltas que terás que escrever
para os nossos filhos e para memória futura. a nossa terra tem uma tal
vitalidade que as coisas do Antigamente na vida tendem a esquecer-se depressa.
(...)
Mas acho que não andas longe da história e a tua formação será
contributo de primeira água.
(...)
Quanto a ti uma economista que gosta
e sabe a história é mais importante que o historiador preso nos seus papéis.
Acredita. Quanto à escrita entendo as tuas preocupações e sei que vai chegar o
momento. Ser contra a corrente é ser escritor a sério, é saber quando se fala e
quando se reune no silêncio a ciência certa da escrita. Um abraço da Ana paula



Enfim, como diria o Mais Velho Raul David, e eu subscreveria, "uma Mulher muito educada e que sabe estar"!


Bem Hajas, Ana Paula Tavares, porque, a seres "unica", es de facto a unica Mulher que respeito o suficiente para nao deixar de estimar e desejar todo o sucesso do mundo, mesmo quando, ocasionalmente, a natural divergencia de opinioes sobre questoes pontuais entre duas pessoas naturalmente diferentes e com trajectorias diferentes, mas com um "chao comum", nos parecem distanciar...
Ou quando quem nunca connosco partilhou esse "chao comum", por longinquo que agora possa parecer, nos tenta a todo o custo distanciar e "enclausurar-te" em seus, ainda que apenas psicopaticamente imaginarios, "circulos restritos", como aconteceu quando (... numa "estorieta infantil" que hoje, infelizmente, mais uma vez se repete...) me vi compelida a tecer este comentario (que sei que sabes bem que, em circunstancias normais, nao faria - certamente nao da forma, ou no local, em que o fiz...), muito anterior a correspondencia que hoje aqui decidi "ecoar" a bem, como referes, de uma memoria futura para os nossos filhos que seja, acima de tudo e de todos, verdadeira e saudavel.


Um abraco (sempre) amigo da (outra) Ana Paula.


[Mais detalhes sobre o lancamento do livro aqui]




ADENDA


No seguimento da minha resposta ao "Poeta Amigo", abaixo, decidi tecer aqui as seguintes observacoes adicionais:


Devo dizer que sempre aceitei TODO o tipo de criticas razoaveis ao meu trabalho, embora em alguns casos mais "duvidosos", como dizem os ingleses, “with a pinch of salt”... Isso porque, em primeiro lugar, nunca fui “auto-convencida” em relacao a minha poesia ao ponto de ignorar, ou mesmo deixar de solicitar, a opiniao de outros sobre ela e, em segundo lugar, porque, pelo menos ate’ muito recentemente, sempre me permiti ser “ingenua” o suficiente para acreditar que alguem que se de ao trabalho de ditar “sentencas lapidares” sobre algo sempre tao pessoal e delicado como a poesia, teria sensibilidade e sagacidade suficientes para nao se deixar cair no flagrante delito do ataque pessoal!

Mas a verdade e’ que, se a minha entrada na blogosfera teve algum merito, ele foi o de me abrir completa e definitivamente os olhos para o quao baixo certas pessoas sao capazes de descer, frequentemente movidas apenas pelo despeito e o ressaibo, ou pela inveja, o ciume e o odio, quando nao apenas pelo racismo puro e duro!... Ou, tao so’, para se “vingarem e ressarcirem” da sua incapacidade de defenderem coerente, congruente, racional e inteligentemente as 'suas ideias e posicionamentos' em debates abertos comigo sobre outras questoes (o tal de "convem sabermos sempre o que nos espera"!) ... E so’ tenho pena que muito desse “trash” acabe por passar por “critica construtiva e honesta”... Muita pena mesmo!

Mas, chegada a este estagio da minha vida, ja’ nao e’ por mim, nem pela minha poesia, que sinto pena, mas apenas por quem produz tal “trash” e por quem eventualmente o consuma... Ja’ para nao mencionar as outras poetas angolanas (...continuo a preferir “ignorar” aqui, em nome do conceito de “genero”, o masculino/feminino que continua a ter outra/os a tratar as mulheres que escrevem poesia como “poetisas”...) aparentemente “esquecidas” no meio de tudo isso.

Diria apenas que, quaisquer que sejam as “driving forces” por detras dos nossos respectivos processos criativos e por diversos que sejam os nossos “outputs” literarios, tanto qualitativa como quantitativamente, e quaisquer que tenham sido as motivacoes de quem decidiu publicar os nossos primeiros livros simultaneamente [*], creio ser certo e seguro que nem eu, nem a Paula Tavares, decidimos comecar (ou continuar, ou nao) a escrever para emular (certamente nao para “hostilizar” ou “eclipsar”) a outra e muito menos para que a nossa poesia fosse usada como "arma de arremesso" por outra(o)s em guerras intestinas, quentes ou frias, com motivacoes racicas que nada teem a ver com poesia (algo que, de resto, deixei aqui bem claro!) ... e mesmo que eu tambem tivesse publicado tanto quanto, ou mesmo mais do que ela, haveria sempre “gostos e desgostos para todos os gostos” em relacao a poesia de uma e de outra... e isto pressupondo um ambiente literario, cultural, social e politico circundante “sadio, calmo e tranquilo” e nao aquele que constitui o nosso “chao comum”, como aqui se pode constatar!

Anyway, creio nao valer a pena dizer muito mais sobre tudo isso, excepto talvez uma breve nota sobre a “credibilidade da critica literaria”: nos extractos que acima tomei a liberdade de transcrever, a Paula Tavares fala em “ciencia certa da escrita” – um conceito certamente nao pacifico (!), mas que aceito provisoriamente.

Pois bem, em toda a ciencia, o criterio de validacao de qualquer “veredicto” e’ estabelecido pela objectividade e racionalidade dos seus fundamentos, os quais nao podem, em nenhuma circunstancia, ser baseados apenas em criterios de subjectividade pessoal (como a afectividade ou a amizade - e, a este proposito, recordo uma conhecida doutorada em letras/ critica literaria (?) que, numa cronica publicada no SA, se declarou abertamente suspeita por, juntamente com outra proeminente sua congenere brasileira, ser "amiga da Paula Tavares"...), preferencias esteticas individuais (como a cor da pele), ou conviccoes politico-ideologicas ou religiosas e muito menos em comparacoes e ilacoes aleatorias e arbitrarias completamente abstraidas do contexto especifico e das condicoes concretas em que a "ciencia" (neste caso a "escrita") se produz, condicoes essas em que se incluem factores historicos, sociais, culturais, psicologicos e etico-morais, entre outros (como os, mais obvios, "marcadores (etno)linguisticos e/ou geograficos") ...

Assim, o estabelecimento de qualquer veredicto sobre o que, ou quem, e’ “unico”, pressupoe a existencia, ou o estabelecimento, de um padrao, ou canone, igualmente “unico”, extremamente dificil (senao impossivel!) de estabelecer “cientificamente” em literatura e muito mais ainda em poesia... - uma questao, alias, amplamente evidenciada por este kibeto.

Mas, talvez mais determinante dalguns desses "veredictos" (e aqui refiro-me apenas aqueles que podem com propriedade reclamar alguma “objectividade e isencao” e, consequentemente, alguma "credibilidade"...) e’ que, como aqui recentemente observei, o “mundo lusofono” e’, sempre foi desde Camoes, um “mundo de poetas” (veja-se, por exemplo, o sucesso que fazem os blogs de poesia na lusosfera...), em que a ciencia sempre foi “subalternizada” relativamente a literatura, e em particular a poesia, e a pratica simultanea de ambas vista como "antagonica" (...mas, veja-se a este proposito o caso de Fernando Pessoa...), sendo, em particular, disciplinas/profissoes como a economia vistas geralmente como "frias e calculistas" ou "insensiveis e a-sociais" (algo reflectido de algum modo, embora nao explicitamente, aqui e aqui) ... Mas, sobre isso, lembro-me de, ha’ ja’ varios anos, ainda em Lisboa, ter concedido uma entrevista a uma jornalista/escritora brasileira em que lhe dizia algo como isto: “Os poetas (ou pelo menos alguns) teem o sonho de mudar o mundo para melhor, os economistas (ou pelo menos alguns) tambem (e o espirito do velho Marx por ai ainda paira para o provar) ... apenas com uma diferenca: estes podem faze-lo por outros (quica mais eficazes...) meios e metodos!”

E isso sem qualquer demerito para os poetas em geral, e menos ainda para a regularidade, a proficuidade e a qualidade da producao poetica da Paula Tavares – sobre a qual, devo aqui enfatizar, nunca teci qualquer comentario menos abonatorio: a referencia a “divergencias de opiniao” que faco acima prende-se a algumas questoes pontuais emanentes de algumas das suas cronicas - duas para ser mais precisa - sobre as quais comentei noutros posts aqui neste blog. O unico comentario um tanto “mais problematico” que fiz, e foi apenas a um dos seus poemas e, acrescente-se, “forcadamente”, foi ao seu uso da “sua mascara da Pwo”, mas o contexto em que o fiz revela claramente que nao o fiz por razoes estritamente poeticas, mas por razoes mais amplamente historicas e socio-culturais - as quais podem ser identificadas aqui...

Tendo dito tudo isso, resta-me apenas pedir, mais uma vez, desculpas a Ana Paula Tavares por ter assim “violado a nossa correspondencia”, que preferiria ter mantido, como deveria, privada – mas... como soi dizer-se, “para grandes males, grandes remedios!”





[*] Torna-se meu dever registar aqui que ouvi diversas vezes, por diversas pessoas e de diversas formas, que "eu so' fui 'promovida' para a UEA (... o tal "porque promover uns e nao outros?"...) e o meu livro publicado simultaneamente, numa especie de "accao afirmativa", para 'cobrir' o lancamento da Paula Tavares pela mesma UEA e 'precaver' as previsiveis acusacoes de racismo com que na altura aquela instituicao vivia cercada... Certo ou errado, o facto e' que, infelizmente, madames como esta e, mais recentemente, esta e estas, apenas teem corroborado essa versao... Mas, tambem sera' de notar que a mensagem de um dos postais, incluido aqui, que recebi de quem foi responsavel por tal lancamento simultaneo, Luandino Vieira, talvez possa sugerir algo diferente...


Uma outra nota digna de registo e' a seguinte: havia uma pessoa amiga a quem eu por vezes dava a ler os meus poemas e a reaccao dela era, quase sempre, zombar deles... ate' que no dia em que o Luandino me deu a ler os pareceres do painel que ele tinha consultado para avaliacao eu lhe contei do que tinha escrito Ndunduma ("... depois de Alda Lara, eis que surge Ana Santana...") e a reaccao imediata daquela pessoa foi: "nao... depois de Alda Lara e' a Paula Tavares"! E isso sem que ela conhecesse bem pessoalmente a Paula Tavares ou a sua poesia e muito antes de os nossos livros terem sido publicados...





ADENDA 2

Veem certamente a proposito as seguintes palavras de Paula Tavares, de que apenas tive conhecimento depois da publicacao deste post:

P- É normalmente apontada como a referência da poesia contemporânea angolana no feminino. O que significa isso, na verdade?

R - Não, não é verdade. Isso seria de uma injustiça extrema para com Ana de Santana, Liza Castel e Maria Alexandre Dáskalos, para só citar três nomes de criadoras intensas, originais no universo da poesia angolana. O número de títulos publicados não invalida outras contribuições de grande qualidade. Procuro um lugar no universo da poesia angolana, porque é de Angola a minha fala. Não sou muito dada a concursos, lugares cimeiros, comendas.

[Aqui]